sábado, 30 de maio de 2020

5ª live da Ação Cultural em 04 de Junho. Memória como resistência. Histórias do Bairro América.



A 5ª live de quinta da Ação Cultural, 04 de junho, a partir das 20 horas,   trará o inicio da abordagem memória como  resistência, com o tema: Histórias do Bairro América,   com base nas pesquisas e no texto escrito pelos historiadores  Antônio Wanderley e Emanuel Rocha para o livro Bairro América, a saga de uma comunidade. 

Para essa conversa semana online, contaremos com a presença de Antônio Wanderley. O historiador Emanuel Rocha não poderá participar em virtude de problemas com a rede de internet do local onde mora.


A live será realizada através da página da Açao Cultural no facebook.

https://www.facebook.com/acaocultur/


Para quem não assistiu ou para quem quer rever... 

América, um bairro que nasceu com sinal de grandeza.

Um bairro que herdou  seu nome a partir da fazenda América, nome que um  judeu de origem russa e  provável fugitivo do nazifascismo, o Sr. José Zulkman,  deu as terras onde resolveu se estabelecer no Brasil, por volta dos anos de 1940,  depois de residir em alguns países da América,  como Uruguai, Chile e Argentina.

Terras que começaram a ser habitadas por uma maioria de pessoas vindas do interior, em muitos casos familiares de presos da penintenciária estadual, inaugurado em 1926 e  com situações peculiares como presos que,   em função do bom comportamento,  poderiam sair da prisão para comprar pão e voltar, isso até a década de 1970. 

Já na década de 1980 em razão do tráfico de drogas,  surgimento de facções, rebeliões e fugas,  a relação com a comunidade passou a ser mais  tensa e grande razão para a imagem negativa do bairro e desvalorização das residências e terrenos localizado no bairro américa, em especial das área do entorno.

Bairro América que recebeu uma missão de  frades  capuchinhos, os quais adquiriram  no inicio da década de 1960,  o terreno  onde foi construído um belo conjunto religioso, educacional e social.  A Igreja São Judas Tadeu ou Igreja dos Capuchinhos, um templo de características modernistas e confortável, cujo desenho arquitetônico foi realizado por um arquiteto italiano que nunca pisou os pés no local.

Bairro América que  tem no Abassá São Jorge, um dos mais representativos locais de culto dos orixás em Sergipe. Fora uma série de terreiros que outrora existiram e cuja memória se esvai, com o falecimento de seus antigos frequentadores,  e  em razão do fechamento por conta do intensa disputa com o pentecostalismo e neo-pentecostalismo evangélico e católico.

Bairro América com diversos arraiais ou casas de forró que permaneceram resistindo até o  inicio  da década de 1980, fruto da constituição de uma população até essa época,  marcada fortemente pelos memórias afetivas e culturais do tempo em que morou no interior do estado. 

Bairro América que recebeu a  fábrica de cimento em 1967 como promessa de progresso e de  geração de empregos, mas que se  tornou  um estorvo por causa da poluição, em especial para os residentes no entorno, coincidentemente  próximo a penitenciária estadual.  Ao mesmo tempo um dos ´principais  símbolos de  luta da comunidade .

Bairro América que teve uma associação de moradores fundada no inicio da década de 1980, considerada uma das pioneiras em Aracaju e marcada pela combatividade, presença nas lutas de outras associações e categorias profissionais, inserção na comunidade, diversidade  de filiações/preferências politica, porém marcadamente progressista e autônoma com relação a partidos e igrejas, a despeito do apoio da Igreja São Judas Tadeu e dos recursos financeiros recebido de organizações ecumênicas  de cooperação, além de ter sido uma associação que priorizou os recursos financeiros recebidos na realizaçãó do  trabalho social-educativo com linguagens artísticas.

Por último, a principal organização de cooperação com a AMABA foi fundada e tem sede nos Estados Unidos da América, a World Vision, ou Visão Mundial.

Vale ressaltar também a colaboração pontual da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE).

Um bairro singular pela quantidade de pesquisas acadêmicas acerca das origens, problemas sociais, organização e etc.. Além de dois livros produzidos sobre a sua história. Sendo o que mais repercutiu  produzido por dois jovens historiadores que   vivenciaram a realidade do bairro desde criança, década de 1970 em diante.

"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz."
Ferreira Gullar






Antônio Wanderley de Melo Corrêa

É natural de Japaratuba/SE, residiu em Propriá na infância e parte da adolescência e reside em Aracaju há cerca de 40 anos. 
É licenciado em História pela UFS. É professor há 35 anos, iniciando sua carreira no magistério em 1986. Trabalha nas redes públicas estadual (SEED) e municipal de Aracaju (SEMED). 
Contribui na imprensa sergipana desde 1991, tendo escrito cerca de 60 artigos sobre educação, história, cultura e meio ambiente. 
É coautor dos livros “História de Sergipe para Vestibulares e Concursos” (2003), “Sergipe Sociedade e Cultura” (2007 e 2ª edição em 2009), “Bairro América: A Saga de uma Comunidade” (2009), “Sergipe Nosso Estado: História – Geografia – Cultura” (2011 e 2ª edição em 2014) e “História de Aracaju para a Criança” (2018).
Seus folhetos de Cordel publicados são:  “Jabotiana: O Último Bairro Verde de Aracaju” (2013)“Memórias do Bairro América” (2013), “Lendas Sergipanas em Literatura de Cordel” (2014), “O Homem e a Mulher de Bem” (2014), “A Luta do Bairro América Contra a Fábrica de Cimento” (2014), “Recicle Óleo Jabotiana” (2015), “O Coco e o Coqueiro na Cultura Sergipana” (2015), “A Lenda das Lágrimas” (2015), “A Flor Mulher” (2015) e “O Natal é de Jesus” (2017).
Foi sócio militante da Associação dos Moradores do Bairro América/AMABA nos anos 1980 e do Centro Sergipano de Educação Popular/CESEP entre 1988 2008. É fundador e atual presidente do Movimento Ambientalista Jabotiana Viva.

Email: wanderleyjba@gmail.com
 Facebook: antonio wanderley correa 9

Instagram: antoniowanderley_aju



Origem do Bairro América em Cordel
Antônio Wanderley de Melo Corrêa
A história que eu vou contar
É pra todo mundo saber
Como surgiu o Bairro América
Vocês estudantes devem ler
Informações sobre o seu bairro
Pra todo o mundo é um dever.

Meu Bairro América querido
Nasceu ao redor da Penitenciária
Inaugurada em vinte e seis
Pra guardar gente ordinária.
Mas foi pra lá gente muito boa
Do interior, da roça, da pecuária.

O estrangeiro José Zuckerman
Fugindo da Guerra Mundial
Dos flagelos do nazismo
Achou o lugar ideal
Um sítio no Aracaju
Com barreiros, cajueiros e areal.

José Zuckerman gostou tanto
Do continente americano
Que batizou de ‘América’
Seu sítio belo e bacano
Construiu casa de alpendre
Quando o filho Isaac tinha um ano.

A casa que ali foi construída
Era de pedra, tijolo e telha vã
Tinha pitombeira e pé de pinha
Mangueira, coqueiro e caju anã
Hoje na esquina da Rua Venezuela
Com a Penitenciária é irmã.

Depois que José Zuckerman morreu
Isaac ficou como herdeiro
Não quis tomar conta do sítio
Pois morava no Rio de Janeiro
Resolveu lotear o terreno
E vender por qualquer dinheiro.

A Prefeitura do Aracaju
Fez o projeto do loteamento
Era novembro de quarenta e quatro
A capital ganhava um aumento
1610 lotes de chão
Ruas e praças em prolongamento.

No ano de quarenta e sete
Foi assinado um decreto importante
Pelo prefeito Oliveira Neto
Que num gesto retumbante
Batizou de ‘Bairro América’
Aquela zona distante.

Manoel Lucas e Oscar Euzébio
Os lotes foram vendendo
Pouco a pouco aquele sítio
Suas ruelas foram se estendendo
Entre as baixadas e os altos
De casas de taipa se enchendo.

Ganharam nomes de países
As ruas e avenidas do B.A.
Costa Rica, Cuba e Groelândia
Brasil, Haiti e Panamá
Uruguai, Chile e Equador
Bolívia, México e Canadá.

Um dos primeiros a se instalar
Foi o Terreiro de Nanã
Depois vieram os Capuchinhos
Já pensando no amanhã
Construíram igreja e convento
Pra falarem da fé cristã.

Pra abastecer todo o povo
Um mercado foi construído
Seu nome foi ‘Roberto Silveira’
Por José Conrado instituído
Vende tanta coisa boa e barata
Que até hoje não foi substituído.

Vou terminando essa história
Tinha muito mais que contar
Sobre as lutas e as escolas
As festas, um nunca acabar
Nas lindas noites de lua cheia
E eu aos beijos, pelas ruas do B.A. 


A canção tema da 5ª live


As referências abaixo também servem para esta 5ª live...

As referências bibliográficas da 4ª Live da Ação Cultural - Projeto Reculturarte e Projeto Ecarte




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