domingo, 3 de abril de 2022

A BARCA SEGUE O SEU RUMO LENTO, MAS SEGUE...

Hoje, 03 de abril de 2022,  a barca dos navegadores/educadores que seguem a corrente da educação popular e participação cidadã se encontraram na Comunidade Bom Pastor em Aracaju para  ancorar em porto seguro e alegre, bem como para renovar as energias, o ar, o espirito...

Leva no teu bumbá , me leva

Leva que quero ver meu pai

Caminho bordado à fé

Caminho das águas

Me leva que quero ver meu pai

A barca segue seu rumo lenta

Como quem já não quer mais chegar

Como quem se acostumou no canto das águas

Como quem já não quer mais voltar

Os olhos da morena bonita

Aguenta que tô chegando já

Na roda cantar com "ocê"

Ouvir a zabumba

Me leva que quero ver meu pai

Caminho das Águas: Rodrigo Maranhao

 A primeira vista quem olhar as fotos do encontro não verá muita gente, isso para os padrões de encontros de formação realizados pela união  CEBs, CEBI e Pastoral da Juventude, cuja participação máxima  chega ao número de vinte e cinco pessoas.



Mas houve algumas situações que nem sempre podem ser captadas pelas lentes fotográficas, são questões que estão no campo do imaterial, do intangível, do subjetivo, como é o caso das aprendizagens adquiridas com acontecimentos positivos e negativos da própria vida dos atores ou agentes que se reuniram e partilharam um pouco de suas histórias neste final de semana.

São acontecimento alegres e tristes relacionados a vida nas famílias,  comunidades eclesiais, escolas, coletivos e organizações socias de diversos tipos.

Há que ressaltar a presenças de algumas pessoas que nunca participaram de encontros de formação promovidos pela união em destaque, assim como pessoas que participaram do primeiro encontro sobre formação da Campanha da Fraternidade realizado em fevereiro último, e  estas pessoas trouxeram uma bagagem importante e enriqueceram-se  reciprocamente a partir das experiências vividas e compartilhadas por cada um e por cada uma, dos mais velhos aos mais jovens, dos antigos frequentadores aos novos.

Outro aspecto importante foi o encaixe dos diversos momentos por meio das ligas da espiritualidade libertadora,  da educação popular, do clima (nem choveu e nem esquentou muito) e da tecnologia.

Começando por esta última, com o cancelamento de última hora da participação do responsável pela análise de conjuntura, o nosso socorro foi  realizado de forma virtual pelo professor Penildon Silva Filho  da UFBA, o qual esteve presente no lançamento virtual da Campanha da Fraternidade promovida pela Arquidiocese de Salvador. 

Dessa maneira, a noite de sexta-feira depois de um excelente momento orante conectado com  o magistério do Papa Francisco, foi preenchida  pela também excelente análise de conjuntura produzida  pelo Professor Penildon, complementado por observações pertinentes realizado por alguns presentes e pela professora e vereadora Ângela Melo, a qual informou lamentar não poder retornar no sábado e no domingo por motivo de compromisso com demandas de outras comunidade de Aracaju.

E dessa maneira, aconteceu o inverso do que poderia ser um fator de esmorecimento e de enfraquecimento da moral de quem esteve na sexta-feira, a ausência do assessor politico do SINTESE, o qual não pode se fazer presente por razõs urgentes de natureza profissional, considerando o período das eleições do SINTESE que estão na iminência de acontecer. 

E assim,  tivemos o inicio da programação do sábado, como planejado e publicizado, com um trabalho em grupo com um resultado bem satisfatório, em seguida a apresentação de slides sobre as Campanhas da Fraternidade de 1982 e 1998, as quais trataram do tema Educação.

Sobre o porque de trabalhar com estes textos trouxe a lembrança um meme que circula afirmando três coisas que salvariam o Brasil: Memória histórica, interpretação de texto e consciência de classe..

E essa necessidade de memória histórica da Campanha da Fraternidade se deu pelo fato de ter acessado o livreto direcionado a juventude produzido pela CNBB, a despeito de ser um material  bem fundamentado quanto ao  conteúdo, considerei-o denso, ou seja,  com muito texto e com um certo excesso de abstração, além de não ter uma produção gráfica atraente para o público alvo a que é destinado, como foi realizado em anos anteriores.

Daí comprei o texto base, este repete  as mesmas limitações, até porque os subsídios destinados aos diversos públicos são baseados no mesmo. 

E aí fiquei com curiosidade aguçada, o que diz os textos base de 1982 e 1998, sobre educação popular e participação social cidadã no chão da escola? Isso em razão do trabalho de educação popular que realizo,  com sujeitos ligados a  educação formal e não formal, além da preocupação e dedicação ao trabalho de base,  utilizando principalmente a mediação da  ação cultural.

E como quem procura acha, consegui os textos base em sebos via internet e comecei a realizar um trabalho de estudo comparativo, o qual ainda não está concluído, portanto a apresentação que fizemos foi parcial, mas rendeu uma bom debate e alguns insights...

Um dos momentos que guardo deste debate,  foi após a apresentação de um dos slides que trata de metodologia da educação popular ou do trabalho social educativo que consta no texto base de 1998.

183. Educação popular

São numerosas as iniciativas neste campo, brotadas no meio do povo e que lhe garantem organização, promoção, defesa. A CF-98 é importante ocasião para estimular serviços populares, bem concretos, de voluntariado para formação e educação das questões de higiene, saúde, nutrição, prevenção e tratamento de doenças, campanha para vacinação, cuidado com a água e o esgoto, mutirão para hortas comunitárias e construção de moradia, grupos para alfabetização, casa de acolhida para crianças enquanto as mães estão no emprego, cursos vários para melhoria da renda familiar.... Em todas estas iniciativas populares, junto com a ação aconteçam momentos de reflexão sobre a realidade, a cidadania, a importância da vizinhança, a organização para a defesa dos direitos humanos, assim como momentos de oração, confraternização e celebrações.

A discussão gerada a partir do texto acima ,levantou o questionamento sobre como promover trabalho assistencial necessário,  com o também necessário trabalho de formação humana integral, incluindo a educação para participar de movimentos sociais, de conselhos de gestão e controle social e etc...

Como o tempo foi curto, a sugestão é a promoção futura de uma ou várias rodas de conversa  para troca de experiências com quem realiza ou realizou trabalhos de base, afim de colaborar com quem está presente no “olho do furacão” em tempos de retrocesso do Brasil de volta as décadas perdidas de 1980 e 1990.


A proposta é juntar neste debate, as lideranças egressas dos movimentos sindical e estudantil que faz ou pensa em fazer trabalho de base, partindo da critica e combate as politicas neoliberais que investem pesadamente na captura dos recursos da escola pública,  e do projeto para a formação de uma mentalidade  individualista, alienada e consumista da parte dos alunos e alunos da escola pública. Estas lideranças sociais se preocupam em incorporar os pobres em atos políticos e manifestações públicas em defesa da educação, da saúde, da moradia e etc...

De outro lado, temos àqueles que fazem trabalho de base na linha da caridade, do assistencialismo... Estes se preocupam em ajudar  os pobres de forma urgente e imediata.

A outra proposta que penso ser importante é a discussão do “amor pelo poder” em nossas entidades/organização, inclusive no campo eclesial.

Essa proposta surgiu da fala potente de uma companheira que não considera isso  ser profissão, ou seja,  não é possível um dirigente sindical ficar décadas nas direções, apenas mudando de cargos. O que se repete no contexto de muitas CEBs, movimentos religiosos,  pastorais, conselhos paroquiais  e etc...

A sugestão neste caso,  é um encontro de formação para estudar o que propõe Jesus Cristo e como o poder era exercido nas primeiras comunidades cristãs, assim como nos dias atuais, o poder é exercido em nossas entidades e organizações, exercicio do poder carregado de virtudes e vícios 

O que posso dizer para quem não foi, uma ótima oportunidade de trocar saberes e fazeres sobre igreja em saída ao encontro das periferias geográficas e existenciais e igreja no caminho da sinodalidade.

E para quem não é tão  “igrejeiro” foi um bom momento de aprendizagem sobre educação popular e trabalho de base com comunidades e com a juventude..

Por outro lado, uma pergunta realizada neste Conversão.  O que dizem de nós?  inclusive com as nossas presenças e com ou por causa de nossas ausências...

E com isso não quero dizer que devamos estar juntos e misturados o tempo todo, mas com sensibilidade, espero, em meio a tantas demandas de encontros, reuniões, eventos, serviços e etc., ser possível nos encontrarmos em alguns momento fortes ,  onde possamos reciprocamente crescermos e evoluirmos no rumo desejado pelo Papa Francisco. O rumo de uma sociedade pautada pela solidariedade na base,  justiça social no plano macro politico e econômico, assim como cuidado com a terra, nossa casa comum.

O que vale não apenas para liderança de comunidades, movimentos ou pastorais ligadas as igrejas.

E já que começamos com boa música, vamos terminar com outras duas em forma de  convite...

Chimarruts - Do Lado de Cá

MILTON NASCIMENTO - NOS BAILES DA VIDA


3 comentários:

Unknown disse...

A força da presença de jovens e professoras e senhoras e pastorais enfim, a PJ e as CEBs, fazendo história.
Obrigado ZEZITO pelo texto e não esqueçamos que o lastro é a ESPIRITUALIDADE: seguir o caminho de Jesus de Nazaré!
Obrigado

Sandra Beiju disse...

Um texto cheio de " boniteza" político pedagógica. Penso que o caminho para o fortalecimento das lutas coletivas que levantam as pautas da Classe Trabalhadora, das famílias empobrecida e excluídas é a gente se juntar cada vez mais, é construírmos ações e atos educativos juntos e juntas. O encontro deste final de semana me trouxe alimento para a minha alma inquieta com as injustiças sociais e eu quero mais. Muito agradecida Prof Zezito pelo convite.

Isabel Rodrigues disse...

Estar junto a esse grupo - em local tão singular, com uma acolhida generosa - foi muito gratificante e fortalecedor. Navegamos e aportamos, tornamos a partir e a desbravar outras terras. Tão bom quando temos um porto fraterno como foi esse encontro!...