segunda-feira, 25 de abril de 2022

E agora? Três textos para quem ama, protesta, mas não consegue incidir na realidade como gostaria.


Romero Venâncio 

POR ENQUANTO

Parto de um fato estratégico: por si só, eleição alguma desemboca em revolução. Até hoje não vimos isto em lugar nenhum. Logo, eleições democráticas em forma burguesa tem limites sérios. Nunca tive dúvidas disto. Só que, também, temos visto na história várias eleições que polarizam debates, mobilizam massas e avançam em processos de formação da consciência. Vi de perto na Venezuela, Bolívia, México, Uruguai e aqui no Brasil em 1989, por exemplo. Mas vemos, também, que mobilização eleitoral não significa política econômica contra o neoliberalismo, anticapitalista ou que favoreça efetivamente os mais pobres. Não vejo na maioria dos grupos que participo uma crença cega em eleições, salvo uma “ala petista messiânica” (que não representa todo o PT). Agora, estamos diante de uma realidade que temos que encarar: o “fora Bolsonaro” passa pelas eleições. tirar Bolsonaro é tirar bolsonaro do governo. Mesmo que o bolsonarismo continue com seu fascismo correlato. A extrema direita no Brasil tá ainda forte e atinge mais de vinte milhões de pessoas (apesar de saber que não existe no Brasil exatos 20 milhões de fascistas!).

Agora, tenho que dizer uma coisa por razões de honestidade intelectual: a esquerda mais à esquerda que conheço e tenho identidade por estas bandas, não consegue mobilizar os mais pobres. Não tem (nesta quadra histórica) poder de mobilização popular. Falo aqui de PCB, PSTU, PSOL, UP, CONLUTAS e algumas outras organizações menores ainda. Só um “militante messiânico” de alguma dessas organizações não percebe isto... E ainda falta nessas esquerdas que convivo, caracterizar bolsonaro e sua estratégia para além da caricatura. Estou impressionado como a formação nestas organizações caiu assustadoramente. Confesso que não sei o que estes militantes estão lendo, mas o que estão lendo reflete um discurso ruim, vanguardista e descolado completamente do povo. As manifestações deste ano e do ano passado era nós com nós mesmos e olhe lá. Desmerecer o potencial de Lula nestas eleições é um erro e que será cobrado historicamente mais na frente. Nenhum partido de esquerda no Brasil e na América Latina tem um quadro de massa como Lula (e com todas as contradições eleitorais e econômicas do PT).

A minha posição e meta neste ano: calibrar as análises de conjuntura, evitar o sectarismo eleitoral, não ser messiânico na espera das eleições e nem acreditar que as grandes questões desse país em termos econômicos e culturais mudará imediatamente após as eleições e com a possível vitória de Lula. Passando as eleições, terei que me refazer e retomar as análises que fiz, que li e o que escutei atentamente. Não tenho dúvidas mais de uma coisa: estas eleições no Brasil neste ano serão atípicas. Terão grande importância para o Brasil e para o mundo. Estamos em guerra. Esse processo eleitoral será um dos mais importantes da história do Brasil. E ainda arrisco dizer: esse primeiro de maio próximo será demonstrativo do que digo e penso aqui. Atentemos.

https://www.youtube.com/watch?v=gqMqK6Supww


O colapso da esquerda à esquerda em Portugal (por Boaventura de Souza Santos).

Com direito a réplica e link de entrevista com um representante do Bloco de Esquerda.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

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