Pe. Gedeon
Porém, o que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço a mó de um moinho, e que o lançassem ao fundo do mar (Mt, 180).
Com o escândalo, inicialmente envolvendo a administração do Padre Zé, e se estendendo como teia de aranha, ligando comunidade de vida, padres e seminário, isto é, as estruturas que compõe a diocese, o escândalo mostra um modelo de igreja que nos últimos anos vem sendo implementado. Como se não bastasse, os escândalos afetivos vêm crescendo significamente nos últimos anos. Não se trata de eventos isolados, mas de uma proposta que vem sendo implementada sem critérios objetivos. De forma bem clara e evidente, a Diocese assumiu as novas comunidades como um novo modo de ser igreja em João Pessoa. Os seminaristas são formados para fundar comunidades, serem ricos o suficiente para ter paramentos finos, carros de luxo e adotar o falecido Joao Paulo II como mestre espiritual. Sem objeções, se algum seminarista expulso da opus dei, pedir asilo no seminário, é acolhido. Não por ser de tal seita, mas por que a opus dei é um grupo que se opõe ao modelo de igreja do Papa Francisco. Os escândalos envolvendo lideres dessas novas comunidades estão em todo o nordeste do Brasil. Desvio de dinheiro, enriquecimento ilícito, assédio moral e sexual, pedofilia etc.
O que aconteceu com o modelo de igreja implementado por Dom José Maria Pires? Tinha problemas? Certamente. Mas era uma igreja voltada para as causas do Reino de Deus. Lembro-me, que o seminário adotava quatro eixos formativos. Vida afetiva, vida comunitária, vida de oração e a pastoral como eixo integrador dessas dimensões. A formação, nas palavras do Pe. Luiz Antônio, era para nos humanizarmos, pois sem nos humanizarmos, não seriamos bons padres e, caso alguém deixasse o ministério, com tal formação, seria um bom cidadão, um bom marido. Etc. Paulo Freire, fala em hominização, como fim de todo processo formativo. Trata-se de uma formação para transformar o mundo desde os empobrecidos. Onde está essa utopia? Deixamos a igreja nas mãos de lobos.
As congregações femininas que moravam nas periferias abandonaram, em parte, tal projeto. Certamente, os padres e as freiras que optam pelo empobrecidos são ignorados. Qualquer grupo de leigos que se organizam para um trabalho social, são ignorados pelo novo modelo de igreja.
Hospital Padre Zé: entenda operação que investiga desvio de verbas e tem padre como principal suspeito
UMA LEMBRANÇA QUE AINDA QUEIMA e UMA DESGRAÇA QUE NOS INVADE
Romero Venâncio (UFS)
Havia internamente na Igreja católica no Brasil nos anos 80 o "burburinho" contra a teologia da libertação. Sempre se falava em "exageros" (políticos, em geral). Sempre se dizia a boca miúda que o Papa João Paulo II e seu Cardeal Ratzinger não gostavam e estavam agindo de maneira pragmática para enterrar na Igreja essa "forma de teologia". Escutava muito essas coisas. A Teologia da libertação que conhci tinha muito de figuras como René Guerre, Arturo Paoli, Segundo Galilea, o monge João Batista, frei Aloísio Fragoso, Irmã Agostinha Vieira de Melo, Irmã Ione Buyst, pe. Geraldo Leite ou Pe. Reginaldo Veloso...
Pregadores de retiros, pessoas provocadoras em suas orações e liturgias e profundamente ligados a Igreja. Adaptações litúrgicas, meditações bíblicas, Ofícios divinos de comunidades ou mártires, etc. Gente simples e de modos discretos e sempre orientados pela vida popular. A ideia de que "ninguém se salva sozinho, mas nos salvamos em comunão" - escutei muito... Logo após a publicação e divulgação do documento "Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação" assinado pelo então Cardeal Ratzinger, vi desancar uma chuva de criticas à teologia da libertação em tudo. Agora, legitimados pela teologia de um grande teólogo e cardeal. Lembro de um desses bispos arrumadinhos falando das vestes de padres e religiosos e ainda dizendo que era de mal gosto e contra testemunho. Esses religisos criticados pelo bispo vestiam roupas e calçados modestos. Na teologia da libertação ninguém rezava, só se falava em lutas, pobres, fome, educação popular...
Os religiosos que queriam um motivo para justificar sua ira e ódio a teologia da libertação tinham agora no documento cardinalício seu álibi. Essa gente tomou conta da igreja com suas orações de cura e libertação espiritual; com suas igrejas ricas, com sua bajulação às oligarquias locais para receber seus benefícios mensais, suas batinas arrumadas, seu discurso empolado e suas manias de classe média covarde e fetichista. Acusavam Pedro Casaldáliga de viver num "muquifo" enquanto eles buscavam os "palácios episcopais" para viverem o que mereciam. Deram a Igreja no Brasil esse perfil de classe média com seu discurso sacramentalista. Aceitaram as regras de Olavo de Carvalho, pe. Paulo Ricardo et caterva. O resultado já estamos vendo e engolindo amargamente. Padre de academia, padre de rodeio, padre da rede globo, padre das saunas, padres dos louvores das madrugadas inúteis, padres medíocres, padres bobocas e infantilizados...
E depois se perguntam e choram as pitangas de porque tanta gente deixar o catolicismo... Deve ser por culpa da teologia da libertação, né!!!. Imaginação fértil desses senhores. Essa gente tão piedosa e "boquinhas de hóstias" mergulhada nos seus escândalos morais e tantos outros que sabemos bem... Escandalizados com "sinodalidade" e "neutros" perante a fome ou o horror vividos por pobres no Brasil ou por palestinos (vários católicos, inclusive na faixa de Gaza). Que testemunho deixa essa turma.
Outra igreja é possível
https://www.cnbb.org.br/comissao-sociotransformadora-da-cnbb-lanca-subsidios-para-jornada-mundial-dos-pobres-2023/?fbclid=IwAR0CzvoJOIHY8UmtybXl09IhUh_Jqm22L00TpSDgSYmWtyUyQWFSguubsjo
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