Eduardo Lôbo Costa :
"-- Sei que um confinamento prolongado será vivido como um impedimento. Os vídeos não podem a longo prazo substituir a ida ao cinema, os tablets não podem substituir a ida à livraria. Os Skype e Zoom não possibilitam o contato carnal, o tim-tim das taças num brinde. A comida doméstica, mesmo excelente, não suprime o desejo de ir ao restaurante. Os documentários não suprimirão a vontade de conhecer de perto as paisagens, as cidades e os museus. A redução ao indispensável desperta a sede do supérfluo.
-- Essa epidemia nos traz um festival de incertezas. Não temos certeza da origem do vírus: mercado insalubre de Wuhan ou laboratório vizinho. Não sabemos quando regredirá e nem se o vírus se tornará endêmico. Não sabemos as consequências políticas, econômicas, nacionais e planetárias das restrições impostas pelos confinamentos. Não sabemos se devemos esperar o pior, ou o melhor, ou uma mistura dos dois: vamos rumo a novas incertezas.
-- A ciência não é um repertório de verdades absolutas e suas teorias são biodegradáveis sob o efeito de descobertas novas. Na ciência, foram os "desviantes", de Pasteur a Einstein, passando por Darwin, que as fizeram progredir. Agora há muitas ideias "desviantes" e marginalizadas se espalhando: retorno à soberania, Estado Providência, defesa do serviço público contra as privatizações, repatriamento de indústrias, desglobalização, anti-neoliberalismo.
-- Como crise econômica, a pandemia sacode todos os dogmas que governam a economia, e ameaça agravar as penúrias de nosso futuro. Como crise nacional, revela as carências de uma política que favoreceu o capital em detrimento do trabalho, e sacrificou prevenção e precaução ao aumento de rentabilidade e competitividade. Como crise civilizacional, nos leva a perceber as carências de solidariedade e a intoxicação consumista que nossa civilização desenvolveu.
-- Os desconfinamentos serão o começo da saída da mega-crise ou seu agravamento? Boom ou depressão? Enorme crise econômica? Crise alimentar mundial?
-- Todos os futurologistas que previam o futuro a partir das correntes do presente desmoronaram. Continuamos a prever 2025 e 2050, mas somos incapazes de compreender 2020."
-- A ciência não é um repertório de verdades absolutas e suas teorias são biodegradáveis sob o efeito de descobertas novas. Na ciência, foram os "desviantes", de Pasteur a Einstein, passando por Darwin, que as fizeram progredir. Agora há muitas ideias "desviantes" e marginalizadas se espalhando: retorno à soberania, Estado Providência, defesa do serviço público contra as privatizações, repatriamento de indústrias, desglobalização, anti-neoliberalismo.
-- Como crise econômica, a pandemia sacode todos os dogmas que governam a economia, e ameaça agravar as penúrias de nosso futuro. Como crise nacional, revela as carências de uma política que favoreceu o capital em detrimento do trabalho, e sacrificou prevenção e precaução ao aumento de rentabilidade e competitividade. Como crise civilizacional, nos leva a perceber as carências de solidariedade e a intoxicação consumista que nossa civilização desenvolveu.
-- Os desconfinamentos serão o começo da saída da mega-crise ou seu agravamento? Boom ou depressão? Enorme crise econômica? Crise alimentar mundial?
-- Todos os futurologistas que previam o futuro a partir das correntes do presente desmoronaram. Continuamos a prever 2025 e 2050, mas somos incapazes de compreender 2020."
Notável Morin.
Via Vandevaldo Nogueira
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