terça-feira, 28 de abril de 2020

Opinião - Diante da pandemia do Coronavírus, como está ação dos governantes de Sergipe?




[*] Carlos Barbalho
É ato de sabedoria aprendermos com a experiência acumulada por aqueles que nos antecedem. O coronavírus surgiu em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, que foi o epicentro da epidemia na China, com quase 50 mil enfermos e mais de dois mil mortos.
Já se passaram quatro meses e vários outros países e cidades do mundo já foram atingidos pela pandemia. Portanto já temos uma experiência acumulada, tanto positiva quanto negativa, acerca das medidas a serem adotadas, ou evitadas, para que possamos reduzir ao máximo os danos a serem causados pelo coronavírus.
Uma das medidas mais importantes vem a ser a adoção da quarentena. Seu objetivo é reduzir a curva de contágio e, com isso, evitar o colapso do sistema de saúde. Ou seja, a meta é evitar que a quantidade de pessoas que procurem a rede hospitalar não seja maior que a capacidade que as mesmas têm de atendimento.
Cientes disso, os governantes tomam como medidas preventivas o aumento do número de leitos de UTIs, e de leitos clínicos, a ampliação da quantidade de equipamento, sobretudo de respiradores. Como também a ampliação e preparo do quadro de profissionais da área de saúde.
Alguns governantes estão cientes do limite do seu estado/município para o atendimento de uma grande quantidade de pacientes de forma simultânea. Visando, portanto, proteger vidas e evitar a todo custo o colapso do sistema de saúde, adotaram, de forma antecipada e radical, dentre outras medidas o fechamento das repartições públicas e do comércio, limitação do atendimento da rede bancária, funcionamento apenas dos serviços considerados essenciais.
São adotadas, ainda, com o mesmo objetivo o isolamento social para toda a população, exceto trabalhadores de serviços essenciais; medidas socioeducativas, sobretudo de higienização, regras para o atendimento público da população como o uso de máscaras, a adoção de filas, o distanciamento social e limitação do número de atendimentos.
Alguns Estados chegam a fechar espaços públicos e adotar multas, além de uma rigorosa fiscalização e policiamento para evitar aglomerações e o descumprimento das medidas de proteção determinadas pelo Governo.
Houveram ainda medidas e ações que visaram proteger as empresas, o emprego e renda dos trabalhadores formais e informais. Assim como ações de assistência e proteção às populações periféricas e em situação de rua.
Considerando o tempo que tivemos para o preparo do nosso sistema de saúde, como também da nossa população para enfrentar a pandemia do coronavírus, a população sergipana continua com uma série de dúvidas acerca das medidas que foram e estão sendo adotadas pelos Governos Municipais e Estadual para evitar o colapso do nosso sistema de saúde. E, consequentemente, não venhamos a passar por situações como as ocorridas na Itália, Espanha, Equador e a que está acontecendo aqui no Brasil na cidade de Manaus. Questões a serem respondidas:
  1. Como é possível manter uma curva de contágio achatada com apenas 50 leitos de UTI e 80 leitos clínicos para uma população de 571 mil habitantes na capital e 2,2 milhões em todo o Estado? Com apenas 10 leitos de UTI em Itabaiana e mais 10 na cidade de Lagarto? O Governo pretende ampliar essa capacidade de atendimento? A construção do Hospital de Campanha é uma medida de retaguarda importante, porém não é fundamental que essa medida se faça acompanhar pela ampliação do número de leitos de UTI?
  2. A imprensa divulgou que os deputados sergipanos destinaram cerca de R$ 57 milhões para o combate ao coronavírus, sendo cerca de R$ 10 milhões para a capital. Nosso Estado possui royalties de petróleo e naturalmente outros recursos. O governo estadual e municipal está utilizando, ou pretende utilizar esses recursos para ampliar nossa capacidade de atendimento? Em caso positivo, em quanto tempo?
  3. Já foram, ou serão adquiridos equipamentos e EPIs adicionais, sobretudo respiradores para o enfrentamento da crise?
  4. Os testes são fundamentais para que os profissionais de saúde e os governantes adotem estratégias para melhor combater a pandemia, considerando-se que trabalhar sem testes é trabalhar às cegas. Nosso Estado/Capital dispõe de testes suficientes? Pretende ampliar a aquisição dos mesmos para que tenhamos essa capacidade de avaliação e planejamento? Existe uma rede descentralizada para a realização dos mesmos?
  5. Romper com a quarentena é uma medida altamente desaconselhada pela Organização Mundial de Saúde. A orientação é que essas medidas só sejam tomadas depois do pico de contágio e quando o número de casos tenha sido reduzido de forma drástica. Com uma capacidade de atendimento tão reduzida. Aliar a liberação das Feiras Livres à abertura do comércio, ainda que de forma parcial, não é uma medida altamente temerária visto que ainda não chegamos sequer ao nosso pico de contágio? Essas medidas não tendem a provocar o alastramento da pandemia por todo o Estado, uma vez que as feiras recebem pessoas de vários municípios e se realizam dentro dos nossos bairros?
  6. Quanto menor a capacidade de atendimento da sua rede de saúde, mais radicais são as medidas restritivas que os governantes adotam, quanto as que exigem da sua população. À medida que o tempo passa a população de Aracaju tem relaxado no que diz respeito ao isolamento social, a adoção das filas, o distanciamento social, uso de máscaras. O que o governo tem feito, ou planeja fazer para coibir esse relaxamento por parte da população?
  7. Qual tem sido as medidas de contenção adotadas pelos governos, quando são detectados casos de contaminação? As pessoas que estavam no entorno do contaminado estão sendo monitoradas para que se evite o alastramento dos contágios?
  8. O Governo do Estado tomou a louvável iniciativa de garantir o acesso à segurança alimentar de famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional. Para o período em que durar as medidas de restrição preventivas à transmissão do coronavírus. Serão atendidas cerca de 25 mil pessoas com um benefício mensal de R$ 100,00. Considerando que segundo dados do Dieese de janeiro/20 a cesta básica de Aracaju equivalia a R$ 368,69 e que a mesma já foi seguramente majorada. O Governo estuda a possibilidade de aumento do valor desse benefício e ampliar a quantidade de beneficiários a fim de proporcionar a quarentena para os moradores de periferia, para a população em situação de rua e para garantia de renda para os trabalhadores informais?
  9. Ao contrário do que muitos propagam a adoção de uma quarentena radical é a melhor medida para a defesa da vida e da economia. Está provado que os países que assim o fizeram saíram mais cedo do isolamento social e, por conseguinte, tiveram uma melhor capacidade de recuperação econômica. Que medidas foram, ou estão sendo adotadas para a proteção das empresas sergipanas e dos seus respectivos trabalhadores?
Alguns governadores e prefeitos tem liderado à luta como verdadeiros pastores do seu povo, tomando à frente de batalha contra à pandemia. Daí, por essa razão, questionamos ao nosso governador e prefeito o seguinte: quando tudo isso passar e o povo fizer a inevitável comparação entre o modo como eles e os outros governantes enfrentaram a situação, como é que eles esperam ser vistos pela população? Poderão dizer que colocaram a vida acima de todos os demais interesses?
[*] É pedagogo, educador popular, pai de família, cristão. Atuou como formador e educador popular por cerca de 15 anos na Comunidade do Coqueiral/Porto Dantas.

2 comentários:

Unknown disse...

Espetacular. Sem alerdes e soberba, Barbalho se antecipou no diagnóstico. Seria trágico se o comércio continuasse aberto.

AÇÃO CULTURAL disse...

Sem dúvida!!! Grato pela participação.