quarta-feira, 8 de abril de 2020

O tempo nos dá, o tempo nos tira.. O que será o amanhã? O que fizemos ontem para chegarmos até esse ponto?


Lembram do tempo em que se dizia: “políticos é tudo igual” e “ tanto faz esquerda e direita”?

Lembram do tempo: "Não me meto em politica". Resultado: Bozonazi

Lembram do tempo em que estudantes e professores da UFS só se preocupavam com o curriculo Lattes?

Lembram do tempo em que estudante e professor diziam: Não tenho tempo para me envolver em politica estudantil ou sindical?

Lembram do tempo da canção da Rita Lee? "Eu vou é cuidar mais de mim."
      
Lembram da tentativa de implantação do SUS da Cultura ou SNC ? Onde estavam muitos artistas?




 A persistência da memória - Salvador Dali
QUARENTENA E ANCESTRALIDADE: A DESCOLONIZAÇÃO DO TEMPO
Por Padre Gegê



Proponho nesta segunda-feira da "Semana Maior" - Semana Santa - que possamos neste desafiador tempo de quarentena/quaresma repensarmos, sob as lentes da ancestralidade africana, o sentido mesmo do TEMPO. Reivindico a necessitade de nos reconcilarmos com o TEMPO a fim de construirmos uma nova humanidade. 

Nesse horizonte, é indispensável reconectarmos com o legado ancestral africano para o qual o TEMPO não aceita a ditadura do relógio. O tempo, nessa acepção não é dinheiro; tempo é sagrado, é vida, é fruição divina. 

Para a gestação de um novo TEMPO é preciso ir além do tempo cronológico, do tempo do relógico que mede, regula e mata. É preciso escapar e romper, quanto possível, com a lógica inumana e diabólica do "tempo é dinheiro" do capitalismo sempre selvagem. 

O colonialismo produziu a colonização do TEMPO. O contexto de pandemia, e a consequente necessidade de quarentena, nos remete, inevitavelmente, a uma vivência com o tempo. "De repente, não mais que de repente", agendas são abolidas, compromissos desmarcados, relógios são postos de lado e somos obrigados a fazer brotar outros ritmos e cadências. 

Não é esse um tempo oportuno para se pensar no TEMPO? A propósito, qual é a sua concepção de tempo? Como você o vivencia? Há quanto tempo você não se dá um TEMPO?. O sociólogo e escritor Reginaldo Prandi em ser seu artigo intitulado " CANDOMBLÉ E O TEMPO: concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras" escreve: "As religiões afro-brasileiras constituídas a partir de tradições africanas trazidas pelos escravos, cultivam ate hoje uma noção de tempo que é muito diferente do 'nosso' tempo, o tempo do Ocidente e do capitalismo"

Afirma o teólogo John Mbit: "O homem africano não é escravo do tempo". Também não o é os povos originários. Há, pois, povos e culturas cujos tempos são mais vivenciados que medidos. A trajetória de Jesus foi conduzida por uma noção de tempo ancorada na "HORA". O catolicismo profundo conhece a potência do Tempo Litúgico". Os gregos conhecem o tempo material marcado no relógio (chronos) e o tempo espiritual ou tempo da sagrada oportunidade (kairós"). A Escritura Sagrada ensina: "Para tudo tem um tempo debaixo do sol".

A ancestralidade africana e diaspórica, por sua vez, sabe bem que " todo tempo tem seu Tempo" e que "antes do Tempo não há tempo". "O tempo tem o tempo que o Tempo tem". Há um provérbio africano que diz: "o tempo não gosta de nada que se faça sem o tempo". Roberto Ribeiro no samba "Tempo ê" deixa oportuna e valiosa lição: "Mil exemplo tem o mundo sobre o tempo, minha gente/no amor do dia-a-dia, na saudade, no batente/veja a fruta que madura por processos não normais/ não tem a cor nem o cheiro nem sabor das naturais.../ Tempo me disse que só com o tempo a gente chega lá".

Proponho, pois, em tempo de quarentena, que, pelo menos nalgum momente, tiremos transgressoramente os relógios dos pulsos ou de nossas vistas e dialoguemos com outras concepções de Tempo. "Ficar em casa" pode se transformar num convite a ficar num outro tipo de Tempo, acessar outras lógicas. Segundo o calendário imposto, hoje é segunda-feira, dia 06 de Abril de 2020. Mas essa datação não dá conta do Tempo do universo e nem da maturação de todas as coisas.

A necessária quarentena (sabe Deus quando findará em definitivo) bole com o tempo; e porque mexe com o tempo, mexe com o ser humano. Penso que muitos quadros de ansiedade e pânico resultam de um desacordo com o Tempo. Quantos não param de olhar o relógio a fim de cronometrar o tempo de quarentena? Esses estão sob a regência do chronos... São devorados por cada segundo do ponteiro. Muitos, por exemplo, poderão sair da quatentena esquartejados pelo tempo, pelo chronos - deus devorador.

Da minha parte, confessadamente, preciso me reconectar com o Tempo do mundo - o meu Tempo original. Sei que o relógio tem pouco a me ajudar; tampouco o calendário. Minha "formação" (escola, seminário e universidade) foi muito mais uma deformação. O tempo de brancura colonial e capitalista estuprou e maculou o Tempo fecundo, o Tempo do ser original, o Tempo Maior... 

Desejo em quarentena acessar o Tempo(sem tempo) que meu pai fruia ao cozinhar o feijão à lenha, o Tempo que minha mãe fruia nas contações de histórias e cantigas em torno da fogueira, o Tempo que fez e faz de meu povo uma nação mais que vivente. Minh' alma reivindica, pois, o Tempo da sagrada potência. Nesse Tempo nos movemos, existimos e somos! Hoje não estamos em 2020; estamos noutro tempo. E esse Tempo exigirá de nós vivências de tempos que não cabem nos cronômetros. 

A terra conhece esse tempo...é o tempo propício das gestações! Tempo que exige sensibilidade e contato; tempo que reclama a paciência e a calma de um Preto Velho; tempo que pede o saber das sementes que não hesitam morrer porque sabem que renascerão. Eu, por exemplo, já morri tantas vezes... Morri hoje, ressuscitei ontem. E todos e todas somos assim... Por isso, agora, por mais que queiram me acelerar em nome de um futuro incerto, resistirei. Quero amar de amor o tempo vagabundo das sementes, o Tempo da terra, o Tempo da natureza, o Tempo sagrado de Deus.

Hoje faço de minha quarentena uma liturgia, um culto, um louvor ao TEMPO.

Escrevo agora, sem relógio no pulso, para me reconectar ao Tempo vagabundo, amante ancestral das flores.
"Tempo, Tempo, Tempo" - lembra Caetano Veloso na "Oração ao Tempo". E afirma Caetano em prece cantada: "compositor dos destinos/ tambor de todos os ritmos/Tempo, Tempo, Tempo, Tempo/entro em acordo contigo... O que usaremos pra isso fica guardado em sigilo (Tempo/Tempo/Tempo/Tempo)
Apenas contigo e migo".



O tempo na Biblia - Livro Eclesiastes....

Eclesiastes 3 

1 Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu:
2 tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
3 tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir,
4 tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar,
5 tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter,
6 tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora,
7 tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar,
8 tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz.

Na Wikipédia





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