segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO ONDE CAIBAM MUITOS MUNDOS: A EXPERIÊNCIA ZAPATISTA

 


Resumo

O pensamento zapatista é traduzido em um Brasil assolado pelo fascismo e por um contexto de genocídio e atrocidades contra os povos indígenas. Assim, A experiência zapatista: rebeldia, resistência e autonomia, escrito pelo historiador Jérôme Baschet (2021), é também fruto de uma coletânea de obras sobre a insurgência do movimento zapatista. Esta resenha apresenta o livro de Baschet (2021) no diálogo com o pensamento zapatista, desde seu surgimento como movimento armado, com o “já basta!” (1994), aos dias atuais, no sentido de compreender como os povos têm reescrito o seu protagonismo na História, sobretudo em contextos marcados por conflitos e lutas que procuram definir e delimitar o lugar, histórico e social, para o desenvolvimento de outras formas de vida e libertação.

Iago Porfirio - UFMS

DOI: https://doi.org/10.55028/th.v11i22.15413

Palavras-chave: EZLN. Zapatismo. Indígenas. Autonomia. Luta anticapitalista. México

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Rudá Ricci

@rudaricci

·28 de jan

1) O livro tem quase 400 páginas e é muito bonito e muito bem editado. O primeiro capítulo retoma o percurso do EZLN, começando pelo levante de 1994, explora os princípios neozapatistas e chega às políticas de saúde e educação adotada nos territórios autônomos

2) Como ainda não terminei a leitura, vou postar alguma coisa sobre a história e estrutura das comunidades autônomas zapatistas. Começando pela história.

3) No final de 1993, 4.500 combatentes indígenas se prepararam para tomar quatro cidades do Estado mexicano de Chiapas. Logo no início de 1994, avançam sobre essas cidades e publicam uma declaração de guerra ao governo federal.

4) A declaração convoca os mexicanos a eleger livremente novas autoridades públicas e se aliar a um "basta" à pobreza do país. É publicada uma "lei revolucionária das mulheres". As mulheres terão um papel relevante na evolução zapatista. No dia 2 de janeiro, as tropas recuam.

5) Depois de onze dias de combates, o governo Salinas de Gortari anuncia um cessar-fogo, o mesmo anúncio feito pelo comando do EZLN. Começa, a partir daí, um ziguezague de negociações e a fase do que os zapatistas denominam de "zapatismo civil".

·6) é formado o Conselho Estatal de Organizações Indígenas e Campesinas que, em seguida, se unem aos sindicatos independentes, associações civis e á Convenção das Mulheres para formarem a Assembleia Estatal Democrática do Povo Chiapaneco.

7) No final de 1994, 30 municípios são declarados rebeldes, provocando nova ofensiva militar contra os zapatistas. Contudo, o comando do EZLN se embrenha na selva, obrigando o exército a suspender a ocupação militar. São instaladas, em seguida, mesas de negociação de San Andrés

8) Acordos são firmados entre governo e zapatistas e, em fevereiro de 1996, um documento oficial reconhece os direitos dos povos indígenas à autonomia e às suas próprias formas de governo.

9) Embora este acordo não tenha sido respeitado pelas autoridades públicas nos anos seguintes, a declaração acabou por orientar a organização civil territorial liderada pelos zapatistas. A partir de 2003 são anunciadas 5 Juntas de Bom governo, uma para cada das áreas zapatistas

10) Nesse momento, nascem os "Caracóis", centros político-culturais e sede das Juntas de Bom Governo, absolutamente autônomas. É importante entender que essas estruturas não participam dos processos eleitorais e organizações oficiais da política mexicana.

11) Pulo para o projeto educacional zapatista. Os territórios zapatistas possuem seu próprio sistema educacional e escolar. Em 2013, em Los Altos (uma das áreas livres zapatistas), existiam 157 escolas autônomas, 496 professores (que denominam promotores) e 4,886 alunos.

12) Por ser uma educação comunitária (a estrutura social básica indígena), os professores necessariamente se integram às assembleias comunitárias de cada território autônomo.

13) O currículo adotado não rompe totalmente com os modelos escolares convencionais. A grande diferença é justamente a articulação com a organização e cultura comunitária indígena. Se aproxima muito do que no Brasil se denomina de Pedagogia da Alternância.

14) Ocorreu, nos últimos anos, um aprimoramento das suas formas de organização. O subcomandante Marcos - originalmente estudante de filosofia - foi se afastando gradativamente do comando do EZLN e substituído por um indígena. Há informações que as mulheres assumirão o comando

15) Também se fala numa nova estrutura da autonomia zapatista. A base é, agora, o Governo Autônomo Local, GAL. São coordenados pelos agentes e comissários autônomos e estão sujeitos à assembleia do povo. Cada GAL controla suas escolas e clínicas e a relação com povos vizinhos.
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16) Os Municípios Autônomos Rebeldes foram substituídos por GALs.  Um GAL pode estruturar Coletivos de Governos Autônomos Zapatistas, CGAZ, onde se discute e se decide sobre múltiplos assuntos comunitários (Saúde, Educação, Agroecologia, Justiça, Comércio) em assembleias

17) Um GAL articula campanhas de medicina preventiva e vacinação, campanhas para doenças endêmicas, cursos e capacitação especializada (como técnicos em laboratório, raios-X, ultrassom, mamografias e o que mais aprendermos), de alfabetização, encontros esportivos e culturais.

18) As Assembleias de Coletivos de Governos Autônomos (ACGAZ) não têm autoridade e dependem dos CGAZ. Reorganizaram a estrutura para aumentar a defesa e segurança das comunidades frente às agressões, ataques, epidemias, invasão de empresas predatórias da natureza, militares.

19) Foram dez anos de planejamento para definirem esta nova estrutura. Para quem desejar acessar um breve informativo a respeito dessas mudanças, aqui vai o link, já finalizando este fio:


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