domingo, 14 de janeiro de 2024

O QUE PROCURAMOS?

 Chico Alencar

(Breve reflexão para cristãos ou não)

Jesus e seu seguimento (Ricardo Resende) 

Quando ainda não tinha sido criada a denominação "cristãos", os primeiros discípulos de Jesus eram chamados de "seguidores do caminho". Essa linda expressão está nos Atos dos Apóstolos.

O Evangelho lido hoje em milhares de comunidades de fé pelo mundo (João 1, 35-42) trata  disso: Jesus estava passando, e duas outras pessoas (ou três, incluindo o narrador), alertadas sobre seus dons ("É o cordeiro de Deus", símbolo, para os judeus, da libertação do cativeiro do Egito), o seguem.

Não é um seguimento fanático, uma adesão sem razões, uma subordinação a um "mito". Pois logo Jesus lhes faz uma indagação fundamental para a vida de qualquer ser humano: "o que vocês procuram?". 

Para fugir da indagação incômoda, eles respondem com outra pergunta: "Mestre, onde você mora?". E o Mestre os desafia outra vez: "venham ver". Quantas vezes deixamos de ver a realidade, criamos camadas de autoproteção para nos alienarmos da vida concreta e suas exigências? Quantas vezes nos perdemos numa procura ansiosa, pela confusão de desejos artificiais que nos são impostos pela sociedade do consumo e aparências?

Mais do que fazer da fé um momento de oração em algum templo suntuoso, deslocado da nossa existência cotidiana, a proposta de Jesus é... "caminharmos". Não como "rês desgarrada na multidão boiada caminhando a esmo" (Gil e Dominguinhos), mas como quem diariamente se indaga sobre o que procura. E caminha!

O que, peregrinos, procuramos, nesta vida breve? A orientação do cristianismo autêntico não é a da busca do bem individual, da fartura pessoal, da satisfação burguesa de necessidades inventadas. Tem gente que faz da sua própria religiosidade um meio de obter vantagens para si mesmo.

Ser caminhante é saber que a estrada de quem procura não tem fim. Cada conquista não devia nos levar à saciedade 😊 ficar saciado), mas à continuada busca da plenitude: "luz, quero luz, sei que além das cortinas são palcos azuis, de infinitas cortinas com palcos atrás" (Chico Buarque).

Nessa passagem do Evangelho, Jesus também diz a Simão que ele passará a se chamar Pedro. O simbolismo dessa mudança de nome é claro: quem procura os valores maiores precisa mudar de atitude na vida, realizar sua conversão. Caminhar e ver é irmos nascendo e renascendo sempre, morrendo (com nossos equívocos e perdas) e ressuscitando permanentemente.

Nossa procura é pelo bem comum. É impossível ser feliz sozinho, É pela partilha, pela comunhão. Estar pacificado espiritualmente é ser generoso, é sonhar alto (por uma nova sociedade, igualitária e fraterna) com os pés no chão. 

Essa responsabilidade social caminhante nos permite rejuvenescer e até rezar como Adélia Prado: "Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande".

Assim sejamos: procuradore(a)s gerais do bom, do belo e do justo. Na maturidade amorosa da fé, do bem viver, que nos recupera a alegria da infância.

João 1

35 No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos;

36 E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus.

37 E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.

38 E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras?

39 Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima.

40 Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido.

41 Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).

42 E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).

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