domingo, 17 de junho de 2018

É preciso cultura para cuspir na estrutura, já dizia Raul Seixas.



Há cerca de cinco anos atrás, reencontro nos corredores do Sebrae Aracaju, Edilson Nascimento,  um dos mais importantes consultores na minha formação  como agente/produtor cultural, bem como de outras pessoas que participaram de uma iniciativa que ficou conhecido como Consórcio Cultural, realização dos tempos em que fui diretor do Complexo Cultural “O Gonzagão”,  no período compreendido entre 2007 e 2009.

Ao perguntar-lhes sobre o que estava fazendo,  ele me disse que estava trabalhando na consultoria em um projeto no formato “consórcio de municípios”  voltado para o incremento das potencialidades culturais e econômicas do local, na região do baixo  São Francisco, iniciativa que contava com recursos vultosos por parte do governo federal, mas que ele  temia a  continuidade nos termos como estava desenhado. Perguntei as razões e ele repetiu palavras de uma conversa que tivemos  quando nos conhecemos:

- Percebo um grande déficit de formação educacional e cultural da parte dos agentes dos municípios envolvidos, mesmo àqueles ligados ao poder público. Temos um grande nó ou gargalo para o avanço de iniciativas socioeconômicas e socioculturais em nosso estado, as limitações do capital humano.

Estas palavras,  me vem  a lembrança nestes dias que correm, quando  recebemos os ventos negativos do noticiário que sopra de Brasilia, como se não bastasse a situação local. Trata-se da drástica redução dos recursos da loteria destinados ao Fundo Nacional de Cultura. O  que me fez imediatamente  parafrasear   o bordão do então candidato a deputado federal Tiririca, “pior que está, fica!”, quando comentei com um amigo a respeito da noticia.

Por outro lado, o diagnóstico de Edilson Nascimento, lança um desafio, que é antigo, para todos àqueles que estão envolvidas com a cadeia produtiva da cultura em Sergipe. O quanto estamos maduros e conscientes,  para compreendermos a necessidade de somarmos com outros agentes/produtores culturais, tanto individualmente, como coletivamente, para  conseguirmos ultrapassar uma série de barreiras e limitações no campo dos recursos humanos, materiais e financeiros?

Assim também, o  quanto temos clareza da necessidade de investirmos tempo e recursos financeiros para aprimorarmos as nossas competências e habilidades, não apenas àquelas ligadas ao caráter estritamente técnico, como também ao campo das humanidades, aqui entendido como o universo do que trata a arte, a história, a antropologia, a sociologia, a filosofia, a literatura e etc.? 

Neste sentido, lembro  uma inciativa recente que estamos batalhando junto com outras pessoas, as produtoras culturais colaborativas, uma ação para tempos de vacas magras, como o que estamos vivendo, como para àqueles de vacas gordas, que esperamos viver novamente , quando passar esse temporal ou tempestade, o que esperamos não demore muito.

Oxalá! Essa compreensão já esteja sendo alcançada por nossos pares.  Do contrário, é prosseguir repetindo o ciclo da cultura de relacionamentos e convivência, muito  bem descrito na canção “Bomfim”, do grupo Naurêa.

Zezito de Oliveira - Educador e Agente/Produtor Cultural.



Bomfim

É muito chão, é muito sol
Muito sinal, muito desdém
É muito mais além
É muito santo e proteção
Muito trabalho e oração
É muita perdição
É muita dor, muito suor
Muito swing e carnaval
É música afinal
É muito frio, muito calor
Muito pedir, tanto favor
Bondade mata, meu senhor, iô iô iô
No fim a gente ganha
Bomfim a gente ganha
Sim senhor 2x
Minha menina
Estrela matutina
Brinco sem dinheiro
Como é bom ser brasileiro
Minha menina
Estrela matutina
Vivo só brincando
Como é bom ser sergipano

Não Fosse o Cabral


Raul Seixas






Tudo aqui me falta
A taxa é muito alta
Dane-se quem não gostar...

Miséria é supérfluo
O resto é que tá certo
Assovia que é prá disfarçar...

Falta de cultura
Ninguém chega à sua altura
Oh Deus!

Não fosse o Cabral...Por fora é só filó
Dentro é mulambo só
E o Cristo já não güenta mais
Cheira fecaloma
E canta La Paloma
Deixa meu nariz em paz...

Falta de cultura
Ninguém chega à sua altura
Oh Deus!
Não fosse o Cabral...

E dá-lhe ignorância
Em toda circunstância
Não tenho de que me orgulhar
Nós não temos história
É uma vida sem vitórias
Eu duvido que isso vai mudar...

Falta de cultura
Prá cuspir na estrutura
Falta de cultura
Prá cuspir na estrutura
Falta de cultura
Prá cuspir na estrutura
E que culpa tem Cabral?...

Nenhum comentário: