Maíra Magno
Ontem eu presenciei um dos momentos mais sublimes de minha vida, o show de Emicida não é só um espetáculo musical, é quase uma experiência mística coletiva. Dezenas de milhares de pessoas reunidas para ouvir poesia, poesia que nasceu marginal, mas que agora é universal. Adolescentes de periferia, gente da zona rural, idosos, crianças, sim crianças, ao meu lado havia um casal com uma garotinha de 10 anos, que segundo os pais implorou para ver o ídolo de perto, uma multidão recitava em coro cruz e Souza, poeta simbolista.
Eu chorei, as pessoas ao meu lado choraram, no fim do show pessoas se abraçavam aos prantos. O rap que nasce como uma musica /poesia de protesto, falando de violência, com letras agressivas, em Emicida se transforma em amor, afeto e esperança, sem romantizar ou esconder a dureza da vida nas periferias.
Recentemente eu vi o documentário dos Racionais onde eles dizem que suspenderam a carreira musical por anos devido a quantidade de violência e mortes nos shows, inclusive um cadáver foi jogado no palco durante um show do grupo. Emicida transforma esse mesmo gênero musical num espetáculo de amor, se outrora o RAP cheirava à violência, agora a mesma linguagem faz desconhecidos se abraçarem e chorarem de emoção juntos.
Emicida é quase uma entidade, um oxalá lufã de alma velha num corpo jovem, um novo modelo de masculinidade que não desconhece a violência mas prefere o amor. Calmo, tranquilo com letras que falam do cotidiano, das pequenas alegrias da vida adulta e também da brutalidade de ser pobre e negro nesse país injusto que vivemos. O próprio oxalá veio prestigiar seu filho, fazendo cair uma chuva leve no momento mais emocionante do show. TUDO QUE NOIS TEM É NOIS! TUDO, TUDO, TUDO QUE NÓIS TEM É NOIS!
Que presente, que escolha mais acertada encerrar as atividades dos 50 anos do FASC com esse momento tão sublime. Obrigada FASC, obrigada Emicida, Obrigada hip hop, todos nós necessitamos desse tipo de comunhão, especialmente num momento que temos todos de reconstruir as ruínas de uma nação.
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