domingo, 28 de maio de 2023

O SOPRO DIVINO EM NÓS! A maravilhosa crônica dominical do Chico Alencar acrescido com canções e missa do Pe.Júlio Lancellotti

Chico Alencar

Escritor, professor e deputado federal eleito com 115.023 votos (PSOL-RJ)

(Breve reflexão para crentes ou não)
Hoje celebra-se a festa de Pentecostes. A palavra vem do grego e quer dizer "quinquagésimo". Estamos no 50º dia após a Páscoa, cujo ciclo se encerra hoje, no calendário litúrgico das maiores igrejas cristãs.
O Antigo Testamento relata comemorações de Pentecostes (ou Dia das Primícias dos Frutos) relacionadas ao fim da colheita (em gratidão pela comida que sustenta) e também por Moisés receber, após a travessia do deserto, saindo da escravidão dos faraós do Egito, as Tábuas da Lei (Dez Mandamentos).
No Brasil, a tradição popular, vinda da colonização portuguesa, celebra a Festa do Divino Espírito Santo, que se encerra hoje. É um festejo, em diversas cidades, cheio de cores, tambores, canções, barraquinhas de comes e bebes e orações. Em louvor ao Espírito Santo, simbolizado pela pomba branca da Paz.
Importa muito, porém, sabermos como temos recebido o dom divino que nos habita - e, tantas vezes, fica embotado, escondido, abafado.
João conta, no seu Evangelho (20, 19-23), a chegada de Jesus entre os discípulos (amedrontados, com as portas fechadas), "no anoitecer do primeiro dia da semana". O Ressuscitado lhes saúda com o terno desejo de Paz e sopra sobre eles: "recebam o Espírito Santo".
Trata-se do Espírito da Vida: a inspiração, o entusiasmo (Deus dentro de nós), a luz, o êxtase com o dom maravilhoso de existir, o imanente encharcado do transcendente, "a eternidade penetrando nas artérias do tempo" (Emmanuel Mounier, 1905-1950). Espírito da percepção do "universo num grão de areia" (Walt Whitman, 1819-1892).
Somos todos... pentecostais, isto é, aptos a receber o Espírito que arrebata, anima, nos convoca a viver em plenitude - como a formiguinha do caminho, como a flor que, em botão ou desabrochada, se oferece, como a estrela no céu.
Espírito da integridade: "para ser grande, sê inteiro, nada teu exagera ou exclui. Põe o quanto és no mínimo que fazes" (Fernando Pessoa, 1888-1935).
Deixa o Espírito entrar, parceira(o)! São as línguas de fogo que nos dão o dom das línguas, da compreensão, da comunicação com o diferente - dons não para acumular, entesourar, mas para distribuir!
Dons da paciência, da generosidade, da fome e sede de Justiça! Da mística que nos conduz à ânsia de igualdade!
Espírito (ânima, alma) que nos coloca na luta em defesa dos pequeninos (como nossos irmãos indígenas atacados em seu direito de ser o que são em suas terras - cf site www.pl490nao.com.br) e dos biomas ameaçados (como, agora, a Mata Atlântica). Por direitos e trabalho digno para tod@s!
Recebamos os dons do Espírito: sabedoria, entendimento, fortaleza, conselho (discernimento), ciência, piedade (humildade e solidariedade) e amor a Deus - indissociável do amor ao próximo.
Deixemo-nos invadir pelo que dá alegria e sentido à vida! Charles Beaudelaire (1821-1867), propondo a "heroicização da vida cotidiana", na sua boemia e na inspiração de sua poesia, recomenda: "Perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que roda, a tudo o que canta e fala (...) e eles vos responderão: 'é hora de vos embriagardes! Para que não sejais os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, ao vosso gosto!' ".
Viva o espírito do Divino Espírito Santo em nós! Saiamos em missão, por um mundo transformado "em festa, trabalho e pão"!











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