O livro permaneceu na estante mal lido, a não ser pelo velho e bom jornalista João Oliva (à época era ele um jovem jornalista) que ao levar para a estante os escritores sergipanos nos conduziu ao gosto e ao pertencimento daquilo que hoje chamamos sergipanidade. Haveria também o neologismo “aracajuanidade”?
Recentemente recebi da diretora da Galeria de Arte Álvaro Santos, a produtora cultural Jaci Rosa Cruz, o convite para uma Roda de Conversa na programação de comemoração dos 170 anos de Aracaju: “Cajuístas, somos cajus em terra cajueiro? ”. Logo me ocorreu o velho livro do Garcia Moreno, para entender mais profundamente o que ele dizia da etimologia da palavra Aracaju. Por empréstimos o livro já não foi mais encontrado na estante ainda existente do meu pai. Recorri então ao site “Estante Virtual” e num sebo em São Paulo havia um único exemplar do almejado livro. Nem pensei duas vezes: adquiri.
De cara, assim que me chegou a preciosidade, logo depois da “página de rosto” uma frase explicava “a melhor hipótese etimológica” para dizer o significado de Aracaju: “na língua dos primitivos donos da terra” Aracaju significa “Cajueiro dos Papagaios”. Nada mais que isso a não ser um punhado de deliciosas crônicas de uma Aracaju bucólica passando por Santos, Paris, Laranjeiras, Maruim, Itabaiana, Lisboa, Dakar.... Note-se que Garcia Moreno reconhece já nos anos 50 os hoje dizimados “primitivos donos da terra”. Valeu o livro mais pela leitura e menos pela já conhecida informação.
A rigor os estudos que apontam para o significado do nome de Aracaju vem do escritor baiano de Santo Amaro, Teodoro Sampaio (1855-1037). É na sua monumental obra “O Tupi na Geografia Nacional” (1901) no capítulo “Vocabulário Geográfico Brasileiro” que está a definição da palavra “Aracaju”. Lá a grafia da palavra está acentuada na última sílaba “ARACAJÚ”. A definição é lacônica: “Ará-acayú, o cajueiro dos papagaios. Sergipe”, nada mais. Ao buscar, no mesmo dicionário, a palavra “Ara” encontra-se acentuada: “Ará: nome dos papagaios grandes (Psittacus) ”, ou sem acento “Ara: o fruto; o que nasce; o que se colhe” e no “Acaju” encontra-se o “Acã-yú, o pomo amarelo, o caju”. Logo a junção de “ara” com “caju” de fato significa “Cajueiro dos Papagaios”.
Há inclusive, uma explicação da razão do nome da cidade, que no 17 de março de 1855 Inácio Barbosa elevou-a à condição de capital, no mais lacônico dos decretos (dois artigos apenas) um dos quais determinante: “Fica elevado à categoria de cidade, o povoado do Santo Antônio do Aracaju na barra do Cotinguiba com a denominação de cidade do Aracaju”.
Conta-se que os primeiros moradores viam, no lugar onde hoje é a Avenida Ivo do Prado, antiga Rua da Aurora e carinhosamente chamada de “Rua da Frente” vários cajueiros em toda a sua extensão e alguns papagaios e araras pousavam nos galhos para comer e descansar. Daí o nome que une araras e papagaios ao delicioso fruto do caju: “Cajueiro dos Papagaios”. Somos seus frutos, “cajuístas”, nessa cidade que nos abriga e nos acolhe e que faz 170 anos nesse 17 de março. Como diz a poesia, “Ameríndios, europeus, africanos/Filhos e filhas do mar, do sertão, filhos baldios/Aracajuanos, matutos praianos/Astutos, ousados, arredios! ”
(*) Artigo Publicado no Jornal da Cidade/SE, edição nº 15.302 de 15 a 18 de março de 2025.
terça-feira, 18 de março de 2025
https://acaoculturalse.blogspot.com/2025/03/poema-aracaju-quem-te-amou-no-passado.html
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