quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Opinião - A cultura não tem o lugar que merece nas propostas dos candidatos ao Governo de Sergipe

 16 de Ago de  2022, 21h50

 [*] Francisco Diemerson



A leitura dos planos de governo dos candidatos sergipanos é algo sempre interessante. Do documento, se desdobram os referenciais que teoricamente irão nortear a gestão do eleito, mas também evidencia os referencias e paradigmas que cada candidato entende sobre o conjunto de questões envolvendo a administração do Estado.

Um tema que parece nunca ter um lugar próprio é o da cultura. Em todas as eleições, a maioria dos candidatos ao Executivo não sabe o que fazer com essa área e fica numa valsa sem harmonia, com invenções não executáveis ou ideias sem qualquer praticidade, poucas ou nenhuma proposta de políticas estatais a longo prazo ou de estruturação dos movimentos culturais e das cadeias de produção artísticas.

Pelos programas dele, parece que cultura é algo sem rumo. Os candidatos ao Governo de Sergipe, nesta campanha, seguem essa tradição. A maioria não sabe o que propor sobre cultura e recorre aos mais variados meios discursivos.

O candidato Alessandro Vieira, PSDB, de imediato coloca a cultura como um processo econômico, vinculado à geração de emprego e renda.

Aponta a economia criativa como um referencial necessário, mas aborda propostas importantes como a efetivação de um Plano Estadual de Cultura, o fortalecimento do Fundo de Desenvolvimento Cultural e Artístico - Funcart -, cita a necessidade de Programa de interiorização e diz que irá criar uma Lei Estadual de Incentivo à Cultura além da interação do Mapa da Cultura e Economia Criativa de Sergipe com outras áreas do serviço público.

O dele é o plano mais completo no que tange a uma estruturação de políticas de Estado para o setor cultural.

O candidato Fábio Mitidieri, PSD, também evoca a questão da economia criativa como um elemento condutor das políticas culturais, cita a importância de fortalecimento das ações de financiamento cultural, tanto com o uso dos recursos estaduais - a exemplo da Loteria e do Funcart -, mas também um alinhamento com a Lei Aldir Blanc 2, aponta o retorno da Secretaria de Estado da Cultura e o fortalecimento da Fundação Aperipê e reforça a necessidade da relação entre cultura e turismo.

O candidato do PT, Rogério Carvalho, apresenta apenas uma linha: “Dimensão cultural: respeito ao equilíbrio entre tradição e inovação, pluralismo, respeito e valorização da cultura local”.

E não aponta mais nada sobre quais seriam suas visões e propostas de políticas, nem quais ações e estruturas envolvidas. É estranho, pois foi um dos primeiros candidatos a se reunir com artistas e agentes culturais.

O candidato Elinos, PSTU, coloca a cultura no pacote junto com os eixos educação, esporte e lazer, defendendo a necessidade de locais públicos, gratuitos e de qualidade para todos e a abertura de novos teatros e espaços culturais, mas sem qualquer apontamento sobre as demais dimensões relacionadas a pauta cultural.

Valmir de Francisquinho, candidato do PL, aponta que a cultura é dependente do turismo e da economia criativa, discutindo essa relação com as ações de lazer e economia digital. Não discorre sobre como se daria essa funcionalidade e não apresenta um panorama de sua aplicabilidade.

Niully Campos, PSOL, volta para a tradicional vinculação educação e cultural. Aponta o objetivo de dar acesso para a classe trabalhadora em museus, teatros, cinemas, e a valorização dos artistas e grupos culturais para além dos festivais. Não há definição de políticas públicas, de estruturação da gestão cultural ou quais os encaminhamentos neste eixo.

Dr Antonio Cláudio Geriatra, do Democracia Cristã, fala que a cultura deve estar relacionada aos espaços de lazer e apresenta a proposta curta de um projeto Mais Cultura, para valorizar cultura local com preferência para participação de artistas sergipanos nas atividades governamentais. Divulgação dos valores culturais sergipanos nas atividades de divulgação turísticas.

Por fim, Aroldo Felix, UP, associa a cultura com a juventude e cita a importância da valorização da cultura periférica e do reconhecimento das produções culturais das periferias como patrimônio imaterial.

Coloca a garantia do direito à livre expressão dessas manifestações culturais e implementação de uma política de fomento à cultura periférica, através da divulgação de editais e da garantia da utilização e expansão dos aparelhos culturais.

Este breve panorama evidencia que algumas candidaturas apontam a estruturação da pasta cultural com políticas públicas e a importância das ações de financiamento e fomento público para ações.

Mas fica claro que a maioria faz um apanhamento generalista e coloca a cultura como eixo acessório ou dependente da educação ou do turismo. Foram ignoradas questões como proteção ao patrimônio histórico, ao cuidado com movimentos folclóricos e tradicionais do interior sergipano, fortalecimento de fóruns e conselhos, diálogo com os municípios e quais prioridades para a gestão central.

Esperamos que estes tópicos se tornem ponto de reflexão durante a campanha. De maneira gritante, a pandemia evidenciou as fragilidades e a potencialidade do setor cultural no Brasil e em Sergipe. São questões que não podem ser ignoradas e que devem ser tratadas como políticas prioritárias para o desenvolvimento humano de nossa sociedade.

[*] É presidente do Conselho Estadual de Cultura de Sergipe, presidente da Academia de Letras de Aracaju, membro do Movimento Cultural Antonio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras e doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 Fonte: https://jlpolitica.com.br/colunas/aparte/posts/somos-a-unica-democracia-que-divulga-resultados-eleitorais-no-mesmo-dia-com-seguranca-e-transparencia/notas/opiniao-a-cultura-nao-tem-o-lugar-que-merece-nas-propostas-dos-candidatos-ao-governo-de-sergipe

Leia também:

sábado, 13 de agosto de 2022

A presença da Cultura nas diretrizes programáticas dos principais candidatos a governador de Sergipe em 2022.

E não se esqueça:

1 - O que você pensa a respeito de cada uma das diretrizes programáticas  como agente cultural ou pessoa interessada no tema cultura? Deixe a sua opiniao nos comentários.  Não é necessário se identificar...

2 - Qual diretriz representa melhor seus anseios?

3- Se você puder  montar uma diretriz  programática,    reunindo o que acha de mais importante de cada uma delas, como ficará?

As diretrizes gerais de cada um dos candidatos na segunda postagem acima em anexo está  em PDF no grupo facebook - Rede de Pontos de Cultura de Sergipe  Procure a aba arquivos....

Para consultar as propostas dos demais candidatos consulte o site do TRE-SE.



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