terça-feira, 20 de junho de 2023

Helena Kolody. A poesia da matrona da escola paranaense alvo do último ataque.

 As 7 melhores poesias de Helena Kolody

"A morte desgoverna a vida

Hoje sou mais velha

Que meu pai"

"Trêmula gota de orvalho

Presa na teia de aranha

Rebrilhando como Estrela"

(Helena Kolody)

Helena Kolody é o nome da escola estadual de Cambé, Paraná, em que o assassino matou o casal de namorados.  (Celio Turino) 

Helena Kolody foi uma poeta brasileira de Curitiba. Nasceu em 1912 e faleceu em 2004. A poeta escreveu vários tipos de poesias, como o haicai. Em sua obra, observa-se a busca por um sentido da vida a partir do cotidiano. Conheça abaixo uma seleção com as 7 melhores poesias de Helena Kolody.

1.Antes

Antes que desça a noite,

imprimir na retina

os rostos amados,

o sol

as cores,

o céu de outono

e os jardins da primavera.


Inundar de sons

de vozes

e de música eterna

os ouvidos

antes que os atinja

a maré do silêncio.


Conquistar

os pontos culminantes

da vida,

antes que se esgote

o prazo de permanência

em seu território sagrado.


2. Pânico

Não há mais lugar no mundo.

Não há mais lugar.


Aranhas do medo

fiam ciladas no escuro


Nos longes, pesam tormentas.

Rolam soturnos ribombos.



Súbito,

precipita-se nos desfiladeiros

a vida em pânico.


3. Sonhar

Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço

Aos páramos azuis da luz e da harmonia;

É ambicionar o céu; é dominar o espaço,

Num vôo poderoso e audaz da fantasia.


Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,

Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;

Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço

De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.


É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,

Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;

É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.


Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:

Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,

Tão puro que não vive em plagas deste mundo.


4. Abismal

Meus olhos estão olhando

De muito longe, de muito longe,

Das infinitas distâncias

Dos abismos interiores.

Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo

Para você que está diante de mim.

Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.


5. Maquinomem

O homem esposou a máquina

e gerou um híbrido estranho:

um cronômetro no peito

e um dínamo no crânio.

As hemácias de seu sangue

são redondos algarismos.


Crescem cactos estatísticos

em seus abstratos jardins.


Exato planejamento,

a vida do maquinomem.

Trepidam as engrenagens

no esforço das realizações.


Em seu íntimo ignorado,

há uma estranha prisioneira,

cujos gritos estremecem

a metálica estrutura;

há reflexos flamejantes

de uma luz imponderável

que perturbam a frieza

do blindado maquinomem.


6. Jovem

Suporta o peso do mundo.

E resiste.


Protesta na praça.

Contesta.

Explode em aplausos.


Escreve recados

nos muros do tempo.

E assina.


Compete

no jogo incerto da vida.


Existe.


7. Voo cego

Em voo cego,

singro o nevoeiro.

Onde o radar que me guie?


Perco-me em labirintos interiores.

Que mistérios defendem

tantas portas seladas?


Quem me cifrou em enigmas?

Fonte: https://livroecafe.com/2022/07/as-7-melhores-poesias-de-helena-kolody/

Como a poesia e as artes em geral podem se tornar  antídoto ou vacina contra a cultura do ódio, contra o fascismo?


Mais textos sobre ataque as escolas no blog da Ação Cultural. AQUI



Conversa com um leitor do blog acerca da postagem acima:

Terrível essa violência. Um contraste enorme  com o trabalho  da educadora.

Foi assim como me respondeu um amigo querido, artista e gestor cultural, a postagem Helena Kolody. A poesia da matrona da escola paranaense alvo do último ataque.

 Respondi: Sem dúvida! O desafio é enorme e só pode ser eficazmente enfrentado de forma integrada , inclusive com arte e cultura..

Temos uma sociedade violenta como  reflexo ações  violentas também dentro  da comunidade  escolar, respondeu o amigo

Seguindo o raciocínio afirmei: O que penso é como a escola pode influenciar em sentido contrário, mesmo que não resolva, mas como um meio de colaboração e para isso temos um grande pensador que é Paulo Freire. Infelizmente não levado a sério como deveria  no próprio país onde nasceu e onde vivenciou e formulou seu pensamento, hoje universal...

A arte  e a Cultura, com certeza pode ajudar,  mas não  resolve. Respondeu ele..

Prosseguindo, eu disse: Sim! Defendo que arte e cultura esteja mais presente como produção de sentido, ainda que insuficiente. É como a preservação de  áreas verdes, não resolve por completo ou em definitivo , mas colabora.

Como resposta disse o meu interlocutor: Isso  eu tenho claro,   como todos  nós que  trabalhamos na área da arte e da cultura,  porém  não  gosto e não  acredito  quando  querem  justificar essa realidade  da violência  nas escolas  simplesmente  por causa da  falta  de  ações  artísticas.  É  preciso  um trabalho efetivo e amplo dentro  e fora da escola

Prossegui... Na verdade , para essa juventude perdida ou levada por mentes perversas e pervertidas para caminhos destrutivos ou caminhos de Thanatos ao contrário do caminho de Eros, precisamos defender quatro fontes de construção de sentido.

1- A produção e fruição do simbólico, do que está no campo da imaginação, da criatividade.

2 - A preservação de mais áreas verdes ou revitalização de áreas  degradadas com convivência e fruição nestes locais..

 3 - O incentivo as práticas esportivas não competitivas..

4- Incentivo para a  organização de crianças e jovens em torno de iniciativas de convivência e mobilização comunitária...

O meu amigo conclui: É  discussão  de um tema  tão  importante  que fico assustado   que a gente  não   assuma  de frente  e diariamente.

Essa questão  vem a tona  na verdade  quando  a tragédia  já  aconteceu.

No meu caso finalizo: Exatamente! E de forma limitada, reduzida em termos de horizonte...

As quatro fontes de construção de sentido que formulei acima, o amigo acrescenta:

5 - A escola  trabalhar  conjuntamente  com as famílias  e a comunidade  em que está  inserida.


Para aprofundar a reflexão acima, recomendamos:

Um sentido para a vida

"É preciso não perder o contato com a fonte, com a raiz, que é Deus"

Palestra de Frei Betto no Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, proferida em 20 de novembro de 1997



domingo, 7 de maio de 2023

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Nenhum comentário: