quarta-feira, 21 de junho de 2023

Sobre construção de sentidos para a vida e a morte do casal de namorados na Escola Helena Kolody

Zezito de Oliveira

 Simbólico e diabólico são duas palavras de origem grega. A primeira significa o que une, o que aproxima. A segunda  o que divide, o que separa..

 O simbólico e o diabólico estão dentro e fora de nós.  Há quem considere muito mais dentro do que supõe a nossa vontade e direção.

Esse bem e mal que caminha dentro de nós está muito bem expresso na canção:

“Deus me proteja de mim

E da maldade de gente boa

Da bondade da pessoa ruim

Deus me governe e guarde

Ilumine e zele assim.”

E já que falamos de vontade e sentido, há quem considere haver um sentido pré definido para todos nós, aquilo que em filosofia é chamado de essência, na linguagem popular isso é explicado como destino, todos nascemos com um destino, todos estamos destinados a ser o que Deus determinou para cada um de nós.

Isso também é conhecido como predestinação, conforme a interpretação bíblica de João Calvino, a relação que isso tem com as palavras gregas que inicio esse texto, deixo por conta de quem nos lê.

“A ideia de predestinação de João Calvino se baseia  na crença de que Deus determinara quem seria salvo e quem seria condenado. Para ele, a morte de Jesus Cristo na cruz não teria sido para toda a humanidade, mas apenas para os escolhidos por Deus.”

Seguindo esse raciocínio o espaço de liberdade humana para construção ou invenção de sentido não existe...

Mas há cristãos que pensam diferente e não poucos. No século XIX,  “ Kierkegaard, filósofo dinamarquês  propôs que cada pessoa deve fazer escolhas independentes, que compreendem, em seguida, a sua existência. Nenhuma estrutura imposta - mesmo os mandamentos bíblicos - pode alterar a responsabilidade de cada indivíduo em procurar agradar a Deus de qualquer forma pessoal e paradoxal, Deus escolhe estar satisfeito. Cada pessoa sofre a angústia da indecisão até que ela faça um "salto de fé", e comprometa-se a uma escolha particular. Cada ser humano é confrontado pela primeira vez com a responsabilidade de saber de sua própria vontade, e depois com o fato de que uma escolha, mesmo que errada, deve ser feita a fim de viver autenticamente.”

E como seguimos essa linha de pensamento também nos apoiamos em canções, fllmes e na literatura,  além da filosofia, e em outra teologia, diferente da teologia marginalizadora  e excludente de João Calvino e outros líderes cristãos.

Duas canções que tratam de construção ou invenção de sentido me  vem a mente neste momento..

Você me abre os braços e a gente faz um país” e O nosso amor a gente inventa”.

A primeira é um verso da canção Fullgás da autoria de Marina Lima e Antônio Cicero e na Carta Capital podemos ler um belo texto sobre o contexto histórico e filosófico de criação da canção.

Já o segundo  verso é também  nome de uma canção da autoria de Cazuza.

Esta conversa inicial dá prosseguimento a que  que realizei na noite de ontem com um amigo artista e gestor cultural,  a propósito das possibilidades da arte-educação e da ação cultural para lidar com uma cultura predominante que dissemina a cultura do ódio “diabólica”, como no exemplo de um pseudo pastor, dentre muitos que fazem pregações quase diárias com mais ou menos força estimulando a  divisão, a exclusão, o culto a violência, a cultura de morte... Em nome de Deus!!

“Falta essas orações imprecatórias dos salmistas: ‘Senhor mata-me os inimigos, quebra os dentes dos meus inimigos’. Falta a gente orar assim: ‘Senhor arrebenta a mandíbula do Lula. Senhor, prostra enfermos os ministros do STF, para que eles te conheçam na enfermidade” 

E fechando esse texto com duas outras palavras gregas trago Eros e Thanato,conforme a wikipédia.

 “Na psicologia freudiana, eros, equivalente ao conceito de libido, não é exclusivamente o desejo sexual, mas nossa força vital, a vontade de viver. É o desejo de criar vida e favorece a produtividade e a construção. Nos primeiros escritos psicanalíticos, os instintos do eros eram opostos por forças do ego. Mas na teoria psicanalítica posterior, eros é oposto ao instinto destrutivo de morte de Thanatos (instinto de morte ou pulsão de morte).”

Portanto, mais Eros e Simbólico e menos Thanato e Diabólico..

Em termos nominais, mais Padres como  Francisco de Roma e Pastor Henrique Vieira  e menos Padre Paulo Ricardo e Pastores como Malafaia e Marcos Feliciano..

Mais Lula e Pepe Mujica, menos Bolsonaro e Donald Trump.

Menos barbárie e mais civilização com florestania.

Menos capitalismo e mais socialismo....

 Leia também: 

Helena Kolody. A poesia da matrona da escola paranaense alvo do último ataque.



 Vista antes como conservadora e burguesa, ela pode criar sensibilidades criativas e antissitêmicas — e ser chave para o bem viver e a cooperação. Diante de um mundo gris (1), é preciso novos vínculos afetivos e eróticos; nem repressores, nem coisificante

por Amador Fernández-Savater

Ouça/assista também:

Play list - A arte de viver da arte.

Chico Alencar  

ROMEU E JULIETA DOS TEMPOS DE ÓDIO 

O estudante Luan Augusto, de 16 anos, não resistiu e faleceu após ser baleado, no Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé, no Paraná. 

Tal qual um "Romeu e Julieta" trágico dos nossos tempos de ódio e armas de fogo, ele vai se juntar à sua namorada, Karoline Alves, 17  morta ontem pelo mesmo assassino de 21 anos, que não os conhecia e deu tiros a esmo. 

Só que a tragédia shakespereana, do século XVI, foi fruto do destino, do acaso, do azar. Essa, do século XXI no Brasil, resulta de ação humana, desvairada, letal, evitável...

Quanta dor de pais, colegas e amigos! De uma cidade inteira! Quanta violência, estimulada pelos últimos anos de armamentismo, tão exaltado pela extrema direita! Quanta doença social!



2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada por tudo que li.
Paz e Bem

AÇÃO CULTURAL disse...

Estamos unidos pelo simbólico.. Grato também....