segunda-feira, 19 de junho de 2023

UMA NOTA SOBRE UMA PALESTRA DE CLODOVIS BOFF




Ainda impactado negativamente com a conferência dada por Frei Clodovis Boff na noite de lançamento do livro "A crise da Igreja Católica e a Teologia da Libertação", em 2 de maio de 2023 em São Paulo. A palestra pode ser vista na integra no canal do Padre Leandro Rasera. Pretendo escrever uma crítica mais rigorosa mais na frente com calma, agora não é possível. Ver o Clodovis Boff ao lado do pe. José Eduardo da diocese de Osasco (o mesmo que nas redes digitais se apresenta como doutor em teologia moral e especialista em ideologia da gênero, aborto...). Para se saber quem é esse padre, ver o texto do Intercept Brasil: "O CRIADOR. Radical católico da Espanha treinou extrema direita brasileira em 2013 com táticas que elegeram Bolsonaro" (Leandro Demori, 2021). O comentário do pe. José Eduardo, sem comentários. Deprimente. Mas o palestra do Clodovis merece uma resposta ou uma refutação (que não me sinto em condições de fazer aqui). Apenas resumi a fala dele em três pontos (tirado dele mesmo) que explicaria a tal crise da Igreja e no final indica uma saída.

Primeiro. Falta fé na Igreja. Não é a fé em Deus não que aparece nos atuais documentos da Igreja e nem na vida pública eclesial. É o núcleo central do argumento do frade. A modernização e  a secularização levou a uma Igreja sem fé. A igreja só se preocupa com sinodalidade, participação das mulheres, questões ambientais, a paz... Tudo isto sem a raiz da fé;

Segundo. As preocupações ecológicas e com os pobres. A igreja virou uma "ONG" (cita descontextualizado o Papa Francisco). O irônico neste ponto, é que foi o Clodovis em outra época que escreveu um livro importante sobre a "opção pelo pobres" na história da teologia cristã. Os pobres e o planeta não são mais importante que Deus e não podem tomar o lugar de Deus/Jesus, afirma o frade. Onde ou como isto acontece, nada de concreto é dito. Pura generalidade;

Terceiro. A fé não é uma ideologia. Logo, não somos feitos para este mundo. Mas para o céu, para a transcendência. A teologia da libertação errou aqui. Ele criticou a Igreja aparecer no meio de organizações sociais como se não fosse Igreja. Falta uma "teologia profunda", "sacramental". É preciso "descontaminar a fé da ideologia". 

Não li o livro do frei Clodovis. Apenas escutei a palestra para um grupo de paulistas de direita e ligados a editora Ecclesia (ver o catálogo desta editora ajuda a entender o porque da publicação do livro por lá). Sei que ele mudou e já faz tempo. Ouvi muita gente falando isto. Mas esta palestra foi sua declaração pública direta. Clodovis recuou do Concílio Vaticano II para o Vaticano I; de João XXIII a Pio IX. A linguagem usada, não deixa dúvidas.

Por fim, o frei foi categórico: tudo foi um erro nesta modernização da Igreja. O concílio Vaticano II; As conferências episcopais de Medellin, Puebla, Santo Domingo, Aparecida... Teologia da libertação, opção pelos pobres, luta pela justiça... Todo um trabalho da de uma Igreja popular foi para o ralo. Tudo destruiu a fé.  A igreja vive de fé e não destas coisas, definiu o frei. O final da conferência é melancólica e triste para um teólogo na condição de Clodovis e com o histórico que ele acumulou. A saída: "se falta Deus, rezemos o terço". Sem mais. Espero que não façamos como uma certa "esquerda ingênua" depois de 2013, sempre a subestimar o que a direita faz e como faz... Este livro de Clodovis terá desdobramentos imprevisíveis e uma audiência dentro da Igreja que terá seu impacto e fará seu estrago. Pretendo escrever algo mais crítico sobre o livro e suas teses, depois da emoção do impacto negativo inicial.

Romero Venâncio (UFS)

Os ventos às vezes mudam a direção, o que pode ser direções erradas, a partir do lugar onde pisamos e da direção de nosso olhar. Dom  Hélder, por exemplo,  passou do integralismo para a Teologia da Libertação sem deixar de ser um homem místico de fé profunda..

Dom Oscar Romero, um dos mártires da Teologia da Libertação na América Latina também fez uma inflexão do campo mais tradicional, mais conservador, para um compromisso radical com a justiça, o que provocou o seu assassinato em plena missa, justamente no momento da consagração do pão e do vinho. Assim, o sangue de São Romero se misturou ao sangue de Cristo..

Tristão de Athayde . pseudônimo do intelectual católico Alceu Amoroso Lima , também fez uma inflexão do pensamento conservador católico para o pensamento progressista católico..

Enfim, a disputa continua, não para e nem acabará. Como abri o presente comentário com o verso de uma canção, concluo da mesma forma, bem ao estilo de um existencialista cristão..

Existimos, a que será que se destina?

Zezito de Oliveira

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