"vem cá, a lua tá cheia
vamos contar histórias
falar de coisa boa
vem cá olhar para as estrelas
vamos criar memórias
elogiar pessoas"
Canção "Lua Cheia" do grupo 5 a Seco
Irene Smith via Instagram
Quero falar de saudade, gratidão, aprendizado.... esses dois anos foram intensos, exatamente como és inteira em tudo que fizestes na vida.
A melhor mãe para os filhos, A melhor avó para os netos, A melhor amiga e companheira na vida, nas lutas, nas ruas..
Lembranças da parada lgbtqiapn+ de 2022 que fiz a tua roupa e a distribuição de comida no dia de Natal para os moradores em situação de rua, dentre um montão de outras lembranças.
Acompanhei de perto esses três últimos meses da tua vida, sendo testemunha da tua vontade de ficar bem, de voltar pra casa, de voltar para a Câmara, para a militância... de como ficou feliz com o vídeo que Ana Júlia fez da tua casa, mostrando que tudo estava do mesmo jeitinho que havia deixado... de como querias saber de tudo o que estava se passando no gabinete, sempre perguntando como estava cada um e cada uma... sempre forte!
E agora concluiu a tua passagem por aqui, vai nos deixar saudades da tua presença física, mas te encontraremos sempre no legado histórico de luta construído incansavelmente com muito amor, dor e alegria.
Um brinde a VIDA sempre!!!!
Paulo Victor via InstagramUma carta para a "minha verea"
Quando eu conteique mudaria para Portugal, ela soltou logo: "negão, você é foda, vai me abandonar é?". Ela estava no primeiro ano de mandato parlamentar. Já nos conhecíamos há uns bons anos. Fui jornalista da Revista Paulo Freire, do SINTESE, quando ela presidia o sindicato. Coordenei a comunicação de sua candidatura a deputada federal em 2018.
Não ganhamos aquela (que foi a sua primeira disputa eleitoral), mas foram muitas as noites e finais de semana em estúdio, acompanhando a gravação e edição dos seus vídeos.
"Bora, minha candidata, tem que decorar esse texto para não passar o tempo", eu dizia. Já era a terceira ou quarta gravação de vídeo para TV. A resposta dela, na frente do pessoal do estúdio, era: "negão, vá se arrombar!". A gargalhada que vinha na sequência era certeira: a próxima gravação dava certo. Decorar, definitivamente, não era a dela. Ainda bem.
Pronto. De lá, era comum pararmos num boteco para uma cerveja gelada. Ela era chegada numa Heineken, mas o critério primeiro era: "tem que estar gelada!". Eu até brincava dizendo que os alemães bebem cerveja "natural", ao que ela respondia com um "e eu sou alemã, seu porra?". Já estávamos gargalhando novamente. E, provavelmente, com as bocas cheias de farofa que acompanhava algum espetinho. O melhor era o de Roberto, ao lado da Assembleia Legislativa de Sergipe (da última vez em que fui ao Brasil, lá "batemos o ponto" rapidamente).
Quando a resenha era em sua casa, costumava ser uma garrafa de vinho, e não de cerveja, no centro da mesa. Ela gostava dos chilenos e argentinos. E não me refiro só ao vinho. Hahaha. Fazíamos piada disso também. Como era maravilhosa a risada de Ângela...
Numa das vezes em que estive no Brasil desde que mudei para Portugal, fui com ela até o Centro de Aracaju. Fiz registros em foto do seu diálogo com pessoas em situação de rua. Já passava das 20h e ela lá, conversando, ouvindo aquelas pessoas, sem qualquer pressa, com um profundo respeito. Como Ângela se sentia bem ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras... Afinal, ela era uma, nunca deixou de ser, nunca abandonou o seu lado na história. A sua atuação na Câmara de Aracaju foi prova disso!
A Ângela que xinga, a Ângela espontânea, a Ângela que brinca, a Ângela que faz piada, a Ângela que se revolta com o que causa revolta, a Ângela que ama, a Ângela que sorri, a Ângela que enfrenta o poder e os poderosos. Serão tantas expressões de Ângela para lembrar...
Que privilegiado eu fui por conviver - e aprender tanto - com você, "minha verea" (como passei a chamá-la a partir de 2021). Te agradeço muito por isso!
Ainda estou chorando, mas a primeira cerveja - gelada! - será em sua homenagem. Tome uma por nós também, viu?
_Um abraço do negão (Paulo Victor Melo), 06.10.2023_
Narcizo Machado
Morte de Ângela é a passagem da militante fiel com efeitos na representação feminina
A perda de uma figura pública como Ângela Melo tem impactos em diversas dimensões. Militante da esquerda do PT, Ângela tinha por característica a combatividade e a dureza da sinceridade. Mas elas eram unidas à leveza de um ser humano que, efetivamente, amava a vida e a viveu com intensidade.
Certa feita, ela me fez, em particular, duras críticas por análises que emiti sobre o que por vezes considero um endeusamento de Lula. O fim do papo foi com um doce abraço. Bem ao seu estilo, dura sem perder a ternura.
Ângela, assim como muitas mulheres, era o esteio da família. As palavras da neta, Ana Carolina, em entrevista ao Jornal da Fan, transfiguram sua importância para os seus. (Confira matéria)
Nos movimentos sindicais ela ocupou espaços estratégicos, o que mostra sua capacidade de atuação e empoderamento. Ângela era respeitada nacionalmente e fez parte da direção nacional da Central Única dos Trabalhadores, a CUT.
Trago um exemplo para mostrar sua fidelidade ao mundo sindical e aos seus companheiros. Busquei Ângela para uma entrevista, mas ela estava evitando a imprensa. Era momento de um rompimento na direção do Sintese. Ela seguiu com Ana Lúcia e o grupo dissidente e evitou debates públicos. Em off, ou seja, com pedido de não publicação, ela chegou a revelar suas impressões dos erros cometidos e justificou a negativa da publicação.
Segundo a professora, não era prudente expor as fragilidades para não enfraquecer a luta e a classe trabalhadora. Com essa ponderação, ela evitou os holofotes da crise para preservar a instituição que um dia presidiu.
Sua trajetória lhe levou à Câmara de Vereadores de Aracaju. O presidente decretou luto de cinco dias após a sua morte. Para se eleger, ela enfrentou dura eleição em 2020. No seu campo de militância, havia vários candidatos líderes sindicais que tinham força. Ela foi a mais votada entre eles, vencendo Adelmo, que presidiu o Sindipema, e Joel, que assim como ela presidiu o Sintese, todos no PT. Sem contar Sônia Meire pelo PSOL.
A partida de Ângela afeta de cheio a já diminuta representação feminina em Aracaju. Agora ficarão apenas três: Emília Corrêa, Sônia Meire e Sheyla Galba.
Que sua história inspire outras mulheres e que um dia, quem sabe, a representação de gênero seja igualitária nos espaços de poder. Independente do campo ideológico.
A matéria no portal FAN AQUI
SINTESE
É com infinito pesar que o SINTESE informa o falecimento da professora Ângela Maria de Melo. A morte foi confirmada no início da manhã desta sexta, dia 06, de parada cardíaca. Ângela tinha, há poucos dias, tido alta hospitalar onde passou três meses em tratamento contra uma pneumonia.
Professora de História aposentada da rede estadual e rede municipal de Aracaju, Ângela integrou o movimento sindical e partidário desde os anos 80. Integrante de diversas gestões do SINTESE, presidiu o sindicato em dois mandatos, atuou também como dirigente estadual e nacional da Central Única dos Trabalhadores.
Quem conviveu com Ângela sabe que ela sempre tinha uma palavra de ensinamento, de conforto, de acolhimento, de encorajamento para cada um e cada uma.
Seu jeito assertivo de viver e fazer a luta pela classe trabalhadora por muitas vezes não era compreendido, mas isso não a impedia de seguir em frente, de assumir as tarefas, de ser acolhedora. A última como vereadora pela cidade de Aracaju, integrando as comissões de Ética e de Educação, Cultura e Esportes.
Sua presença física fará falta, muita falta, mas a sua história e a sua luta ficarão para sempre em nossos corações e mentes.
A direção do sindicato, as coordenações das subsedes e os funcionários do SINTESE se solidarizam com a família da professora Ângela.
Ângela Melo, PRESENTE!
Ângela Melo, PRESENTE!
Ângela Melo, PRESENTE!
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