domingo, 22 de outubro de 2023

A defesa dos palestinos pela lente de artistas e escritores. Do lado de lá e do lado de cá

 Bombardeio de Israel mata a prosadora e poeta palestina Heba Abu Nada

Esse texto sobre a Palestina e os sionistas, escrito pelo escritor Galeano, você vai querer ler até o final.

Galeano morreu alguns anos atrás,  mas parece que escreveu esse texto hoje.

Eduardo Hughes Galeano foi um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de 40 livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. Dos seus livros traduzidos para o Brasil  se destaca, " As veias abertas da América Latina

 Pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está apagando-a do mapa

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria e as suas terras. 

Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou legitimamente as eleições em 2006. Algo parecido tinha ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.

Banhados em sangue, os habitantes de El Salvador expiaram a sua má conduta e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem. São filhos da impotência os rockets caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desleixada pontaria sobre as terras que tinham sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à orla da loucura suicida, é a mãe das ameaças que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há muitos anos, o direito à existência da Palestina. Já pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está a apagá-la do mapa.

Os colonos invadem, e, depois deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. O repasto justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita. Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que escarnece das leis internacionais, e é também o único país que tem legalizado a tortura de prisioneiros.

Quem lhe presenteou o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança em Gaza? O governo espanhol não pôde bombardear impunemente o País Basco para acabar com a ETA, nem o governo britânico pôde arrasar Irlanda para liquidar a IRA. Talvez a tragédia do Holocausto implique uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde vem da potência ‘manda chuva’ que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos? O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais

Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são meninos. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica. E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelita. Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a achar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinianas. E esses meios também nos convidam a achar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro? Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial destaca-se uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade. Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão a pagar, em sangue uma conta contante e sonante de outrem.

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OLHO NO LANCE, OLHOS DE LINCE!
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Coluna semanal do sociólogo Leo Lince apresentada pelo professor, historiador, escritor e deputado federal Chico Alencar..
É A MESMA DANÇA, MEU BOI
Enquanto não for detida a indústria milionária e mais poderosa do planeta – a de armas, expressão acabada da ganância – a violência contra o ser humano não terá fim. Seja no Oriente Médio, seja no Brasil.
Aqui, aliada à corrupção e ao tráfico de entorpecentes, tem produzido episódios escabrosos: o assassinato do cantor Evaldo, por oficiais e recrutas do Exército, numa avenida movimentada do Rio de Janeiro; cocaína transportada por militares em avião presidencial; armas pesadas do Arsenal de Guerra fornecidas para milícias criminosas.
Lá, a poderosa indústria bélica alimenta o conflito, matando civis e crianças indefesas. Aviões de guerra lançam bombas em aglomerados populacionais. Pontos de controle com portões de ferro impedem a circulação de moradores. Templos religiosos, hospitais e aldeias são atacados por militares, que bloqueiam a chegada de comida e remédios aos famintos e doentes.
Um porta-voz das forças de defesa de Israel afirmou: “precisamos assassinar os assassinos”. Ou seja, propõe seguir a lei de Talião, das culturas humanas primitivas. Fosse assim, seria a derrota completa da civilização, seria enterrar de vez as ideias de Estado social e da justiça baseada em leis.
Diante da explosão de brutalidade em curso, partiu de rabinos ortodoxos residentes em Israel um esclarecimento conceitual decisivo para entender a natureza e as causas do morticínio. Uma coisa é o judaísmo dos que professam ou se identificam com a religião e a cultura judaicas. Outra coisa é o sionismo, segundo eles, uma política de estímulo à migração de judeus voltada para objetivos do poder meramente material.
As vitimas do preconceito, violência e exclusão variam ao longo da história: negros, judeus, palestinos, refugiados de países com tenebrosos conflitos internos. Ganham sempre os donos da indústria de armas. A identidade excluída é construção ideológica que serve ao acúmulo de dinheiro e de poder. No Brasil e no Oriente Médio, como em toda parte, a sinfonia fúnebre do militarismo amontoa vítimas. “Ano que vem, mês que foi, é a mesma dança, meu boi”.

Há 6 anos! Mulheres israelitas e palestinas sobem a colina, cantam e dançam, juntas; descem a colina e fazem passeata pelas ruas de Jerusalém. Contra a violência e a guerra. Pela Paz.



Nos dias 21, 22, 23, 25 e 26 de outubro o Circuito Saladearte promoverá a primeira Mostra de Cinema Palestino. Neste momento histórico importante, serão exibidos 5 filmes de renomados diretores palestinos: Elia Suleiman, Hany Abu-Assad e Annemarie Jacir. A Mostra acontecerá no Cinema do Museu, localizado no Corredor da Vitória, com ingressos a preço único de R$10, os quais podem ser adquiridos na bilheteria ou através do Whatsapp 71 99315-7956, via pix. Todas as sessões contarão com a presença do Curador Muntaser Khalil e da Organizadora Nádia Husein, e o bate-papo pós filme é garantido. Muntaser Khalil possui ascendência palestina e é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integrante do Centro de Pesquisa em Estudos Culturais e Transformações na Comunicação (TRACC). Tem como área de atuação a pesquisa em Audiovisual sobre Oriente Médio e Estudos Culturais. Nádia Husein é advogada, empresária e produtora cultural. Toda a sua família paterna, incluindo os seus cinco irmãos e seu pai, vivem na Palestina Ocupada. "Toda a história da luta palestina tem a ver com o desejo de ser visível" Edward Said Estamos esperando por você!





Abaixo-assinado: Globo e grande mídia, parem de desumanizar civis palestinos

Assine essa carta se você quiser paz!

Estamos conclamando que a mídia brasileira — a GloboNews, O Globo e a Globo, em particular — reconsidere sua legitimação editorial de crimes de guerra e crimes contra a humanidade perpetrados pelo governo de Israel em Gaza. As declarações desumanizantes de Jorge Pontual, Guga Chacra e outros que rejeitam o cessar imediato dos ataques militares têm consequências e não têm lugar em um debate que respeite os direitos.

Pedimos à mídia brasileira que seja mais responsável e acabe com essa loucura. Assim como durante a crise da Covid-19, este momento excepcional de calamidade exige que a imprensa se levante em nome da vida e da dignidade humana.

É hora de deixar de lado as lealdades políticas, cessar o apoio acrítico ao assassinato em massa de civis e exigir o fim imediato da violência. Essa posição não é pró-Israel ou pró-Palestina — é pró-Humanidade.

Diga à grande mídia que o Brasil deve defender a paz.

Leia a carta na íntegra aqui



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