sábado, 8 de março de 2025

José Ignacio González Faus, o teólogo do povo, sempre brilhante, humano e valente

 "Nosso Chalo, o jesuíta irreverente, o mestre dos teólogos, nos deixou"



Publicado em Religião Digital AQUI

"Chalo era, acima de tudo, humano, acessível, falante. Um amigo. Um guia. Um profeta do nosso tempo. Um verdadeiro. Um desses que são cada vez menos."

"Chalo desceu à lama, ao ritmo da vida, ao clamor dos pobres, ao sussurro daqueles que buscam sentido em um mundo quebrado ou às reformas da Igreja, pelas quais ele lutou tanto durante toda a sua vida"

“Ele nos deixa uma obra teológica consolidada, robusta, que continuará sendo um farol para as gerações, porque suas palavras não expiram: elas têm a força do eterno e a ternura do cotidiano.”

"Chalo sempre foi um jesuíta apaixonado pela Companhia e, portanto, pelo discernimento, pela causa dos últimos e por aquela Igreja viva que ele sonhou e pela qual lutou até o fim."

06.03.2025 Texto  de José Manuel Vidal

Seus amigos o chamavam de Chalo . Por causa da amizade e porque seu nome era muito longo. E ele gostava do calor da amizade. Eu o conheci de perto, lidei com ele, bebi de sua teologia, fui educado com ela nos anos posteriores ao Concílio, quando ele era professor de teologia e, durante o período de involução, quando era mal visto citá-lo. Porque ele sempre foi o professor de muitas gerações de clérigos e leigos. Mestre na vida e na hora da morte. E lúcido até o último momento!

Uma morte que ele sentia que estava se aproximando . É por isso que, há alguns dias, especificamente no dia 27 de fevereiro, ele me escreveu um e-mail para me enviar um artigo sobre o Papa Francisco, do qual extraio algumas frases:

“Você deve conhecer o ditado que diz que quando ameaça chover e você tem que sair, a melhor maneira de evitar que chova é levar um guarda-chuva. Digamos que esse anexo seja uma tentativa de impedir a morte de Francisco...Faça o que quiser e perdoe o longo post."

Deixou-nos o nosso Chalo, o jesuíta irreverente, o mestre dos teólogos , o homem que nunca se casou com ninguém porque o seu único compromisso era a verdade, essa verdade incômoda que agita as consciências e abala as estruturas. Daí a sua crítica sempre cortante, mas sempre amorosa, às estruturas da Igreja, que ele tanto amava e, por isso mesmo, pelas quais tanto sofria.

Ele nos deixou em silêncio, como quem acaba de terminar uma dessas longas e profundas palestras de que tanto gostava ou uma de suas aulas nas quais encantava seus alunos. Porque Chalo era, acima de tudo, humano, próximo, falante. Um amigo. Um guia. Um profeta do nosso tempo. Dos verdadeiros. Dos que restam, menos .



Ele não era daqueles que se fechavam em torres de marfim ou faziam teologia de gabinete, dessas que se escrevem com pena fina, repetem o que já se sabe, não interessam a ninguém e, por isso, ficam esquecidas nas prateleiras. Não. Chalo desceu à lama, ao ritmo da vida, ao clamor dos pobres, ao sussurro daqueles que buscam sentido em um mundo quebrado ou às reformas da Igreja, pelas quais ele lutou tanto durante toda a sua vida .

Sua teologia não era um exercício intelectual estéril; Foi um ato de amor, um diálogo vivo com o Deus que se encarna e com os homens que tropeçam. E, no entanto, ele nos deixa uma obra teológica consolidada, robusta, que continuará a ser um farol para as gerações, porque suas palavras não expiram: elas têm a força do eterno e a ternura do cotidiano .

Livro de Faus

Corajoso, sempre corajoso. Ele não se curvou aos poderosos nem se deixou seduzir pelos aplausos fáceis da hierarquia da Igreja. E, da sua sabedoria, gritou no título de um dos seus livros: 'Nenhum bispo imposto'. Ele dizia o que precisava ser dito, quando tocava e como tocava, com aquela mistura de rigor e calor que só os grandes mestres sabem combinar.

Ele não buscava medalhas ou reconhecimento; Sua recompensa estava nos rostos de quem o ouvia, nas dúvidas que ele semeava em seus alunos, nas certezas que ele desmanchava.

Chalo sempre foi um jesuíta apaixonado pela Companhia e, portanto, pelo discernimento, pela causa dos últimos e por aquela Igreja viva que ele sonhou e pela qual lutou até o fim .

É por isso que seu sangue ferveu, especialmente durante os papados de Wojtyla e Ratzinger. E, como não era de medir palavras, escreveu coisas como estas:

“Durante os primeiros treze séculos, os papas eram chamados apenas de vigários de Pedro. Foi no século XIII, quando Inocêncio III (numa época em que os papas eram monarcas terrenos e competiam pelo poder com outros monarcas), reservou para si o título de Vigário de Cristo. Ao fazê-lo, ele rompeu com uma tradição muito antiga, na qual a expressão “vigário de Cristo” era aplicada a pessoas e situações que encarnam a interpelação do que hoje chamamos de alteridade. Isso poderia ser usado para se referir a padres e bispos, mas também a estrangeiros, hóspedes e, acima de tudo, aos pobres, segundo a expressão de Pierre de Blois ("pauper Christi vicarius est"). Um Papa que devolvesse esse título aos pobres, abrindo mão dele, seria um Papa profético.

                  Um Papa que dispensaria oficialmente o título obsequioso e usado em demasia de "Santo Padre". Em memória daquele que disse: "A ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus" (Mateus 23:9). E acrescentou: “Por que me chamas bom? Só Deus é bom” (Marcos 10, 18).

Um Papa que devolveria às igrejas locais algo que lhes pertenceu durante o primeiro milênio: a nomeação (ou pelo menos a participação na nomeação) de seus pastores. Os teólogos concordam que essa era a tradição da Igreja primitiva e que, de acordo com São Cipriano, essa tradição "vem dos Apóstolos e é a vontade de Deus". Somente razões excepcionais fizeram com que esse direito das igrejas cessasse. Especificamente, pela necessidade de evitar que a nomeação de bispos fosse monopolizada por monarcas e senhores feudais. Os papas reservaram suas nomeações apenas como um "estado de exceção" em resposta aos protestos das igrejas locais sobre abusos cometidos por senhores feudais e para defender a liberdade da Igreja. Faz sentido um estado de emergência que dura sete séculos?

Um Papa que renunciaria ao cargo de "Chefe de Estado". Embora o Estado do Vaticano seja um dos menores do mundo. E mesmo que não tenha divisões, pelo menos não da forma como Stalin as entendia, ainda é um Estado e, consequentemente, seu Chefe, o Papa, deve ser tratado como tal, comportar-se como tal e viajar como tal, mesmo que não queira. Mesmo que suas viagens sejam disfarçadas de "pastorais", ainda são viagens de um Chefe de Estado. Existe alguma maneira de renunciar ao cargo de Chefe de Estado? Muitos. Alguns propõem doar o Vaticano à ONU e que o Papa vá morar em um lugar mais discreto. Os mais conciliadores acreditam que o Papa poderia deixar a liderança do Estado do Vaticano nas mãos de um leigo católico e permanecer lá como um cidadão que também é Bispo de Roma.

Talvez Francisco esteja chegando perto, embora não tanto, do Papa dos sonhos de Faus?

Lembro-me dele conversando sem pressa, com aquele brilho nos olhos, aquela voz melodiosa com um sotaque entre o valenciano e o catalão, aquela risada franca que te envolvia e te fazia sentir em casa. Um falador, sim, mas não de palavras vazias: cada uma de suas frases era um dardo, uma carícia, um convite a pensar mais profundamente, a viver mais plenamente. Ele era um daqueles que olhavam nos seus olhos e desnudavam sua alma, mas sem julgá-lo, apenas para ajudá-lo a ser melhor . Este era o nosso Chalo, o amigo que todos queríamos ter por perto.

José Ignacio González Faus, nosso Chalo, não morreu completamente . Sua voz continuará a ressoar em seus livros (dezenas de livros que nunca saem de moda), em seus discípulos, naquela legião de teólogos e crentes que ele formou com seu exemplo e sua palavra. Ele nos deixa órfãos, mas não desamparados, porque seu legado é uma tocha que nunca se apaga.

Do céu, ele certamente continuará a discutir com Deus, com aquela paixão que o caracterizou, pedindo-lhe contas deste mundo desigual e lembrando-lhe que ainda há muito a fazer para alcançar um mundo melhor e aquela Igreja sinodal com que sonhou, seguindo os passos do Papa Francisco, seu irmão na fé.

Descanse em paz, Chalo. Professor. Irmão. Obrigado por ser tão humano, tão próximo, tão nosso .



sexta-feira, 7 de março de 2025

Música em "Ainda Estou Aqui"

 



Trilha completa:

“A Festa Do Santo Reis” – Tim Maia

“Jimmy, Renda-Se” – Tom Zé

“É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” – Erasmo Carlos

“Acaua” – Gal Costa

“Je T’aime Moi Non Plus” – Serge Gainsbourg Et Jnae Birkin

“Alexander” – Philip May, Alan Walker, Richard Taylor Clifford, John Povey

“Take Me Back To Piaui” – Juca Chaves

“Baby” – Os Mutantes

“Agoniza Mas Não Morre” – Nelson Sargento

“As Curvas Da Estrada De Santos” – Roberto Carlos

“Como Dois E Dois” – Roberto Carlos

‘The Ghetto” – Donny Hathaway

“The Fight” – Johann Johannsson

“Fora Da Ordem” – Caetano

“Petit Pays”- Cesaria Evora

“Um Indio Live In Brazil” – Caetano

“Falsa Baiana” – Gal Costa

Roberto Carlos - Filme Ainda Estou Aqui

TOM ZÉ E AINDA ESTOU AQUI - JIMMY RENDA-SE



Silvio Almeida se defende e Anielle Franco reitera as acusações. Independente das conclusões da investigação policial a luta por igualdade racial no Brasil fica fragilizada.

Mário Resende (UFS) [*]

Foto: Duda Rodrigues/MDHC
 O escândalo Sílvio Almeida e Anielle Franco volta à tona como tragédia que parece não acabar. Em um longo depoimento na Revista Piauí, sugiro a leitura, Anielle narra sua versão do episódio e expõe frases e fatos, imputados ao Sílvio. O negócio desce abaixo do solo. Nelson Rodrigues e Cassandra Rios, dois escritores que tratam dos desejos e sexualidade humana, perdem feio.

Na entrevista, a imagem do ministro sexualizado ao extremo, quase um doente, um "predador sexual", impera. Vou poupar todos e todas aqui dos detalhes. 

Decididamente, não discutimos isso, o Movimento por Igualdade Racial perdeu o rumo. Nós, povo negro, também perdemos. Anielle e Silvio, os dois, deviam continuar suas brigas na justiça, longe dos ministérios. Não o fizeram.

A entrevista de Anielle é reveladora. E muito triste também. Os ministérios de igualdade racial e de direitos humanos, ocupados por duas personalidades negras, com práticas de assédio e violência sexual, por parte de uma das cabeças, é estarrecedor.

 Mas também e principalmente é reveladora de um problema dos dois ministros a época: alçados ao poder sem a militância e a responsabilidade devida para com o povo negro, apegaram ao poder e fragilizaram, da pior forma, a luta por igualdade racial no Brasil.

[*] É professor da UFS e integrante da equipe do PAAF/UFS, ex-secretário nacional do Conselho Nacional de Promoção e Igualdade Racial- CNPIR.

Nota do editor

A última declaração pública de Silvio de Almeida acerca das acusações no canal UOL Aqui

quinta-feira, 6 de março de 2025

E o Lula? E o PT? (análise histórica) Governo Lula não conversa com a 'dona Maria' que o elegeu, diz sociólogo Rudá Ricci. (análise de conjuntura). E 2026?


Lincoln Secco

Professor livre docente da Universidade de São Paulo. Formou-se nas escolas públicas Santos Dumont e Nossa Senhora da Penha e realizou toda a sua formação acadêmica na USP, onde ingressou em 1987 como aluno e em 2003 como docente. É bacharel e licenciado em História e mestre e doutor em História Econômica.


O sociólogo e cientista político Rudá Ricci deixou o PT na década de 1990, quando, segundo ele, o partido começou a se aproximar do "centrão" e a priorizar os interesses do mercado financeiro. Em 2014, ele publicou o livro "Lulismo: Da era dos movimentos sociais à ascensão da nova classe média brasileira", no qual analisa as mudanças na sigla… 

Laila Nery. Do UOL, em São Paulo

06/03/2025 05h30… - Veja mais Aqui 

PT e campo lulista discutem candidatos da sociedade civil para disputa Senado contra bolsonaristas

Já tem muita gente preocupada com 2026 e é preciso ficar de olho no Senado, que terá renovação de 54 das 81 cadeiras. O bolsonarismo tem base forte na Casa e, se fizerem maioria, poderão votar o impeachment de um ministro do STF, por exemplo. O PT e partidos de esquerda têm pensado no lançamento de candidaturas alternativas, da sociedade civil, como Raí, Drauzio Varella e Felipe Neto. Montar chapas de fora da política tradicional pode movimentar muito a política em 2026. As próximas eleições serão, talvez, um grito do nacionalismo à esquerda.


45 anos do PT: uma análise cronológica | RUDÁ ANALISA #04





quarta-feira, 5 de março de 2025

O filme "Eu estou aqui" sob o olhar de pesquisadores acadêmicos especializados no tema golpe de 1964 e ditadura e a janela de oportunidades aberta pelo filme..

 #Falas 1 - Marcos Napolitano (USP) sobre Ainda Estou Aqui, memória e a ditadura brasileira

A DUPLA IMPORTÂNCIA DO OSCAR PARA AINDA ESTOU AQUI. NOTA. Por Romero Venâncio (Universidade  Federal de Sergipe)

Independente das polêmicas ou os limites políticos ou estéticos do filme "Ainda estou aqui", o Oscar de melhor filme estrangeiro/internacional veio em boa hora. As polêmicas ocorreram nas redes digitais e algumas foram sérias e nos ajudaram a pensar no real valor do filme. De Chavoso da USP a Jones Manoel; de Marcelo Ikeda a Wesley P. de Castro, o filme virou uma boa polêmica nas redes... Acompanhei todas essas e participei até certo ponto. Mas reconheço uma coisa: as polêmicas não apagaram em nada a importância do filme e nem os autores da polêmica queriam isto. 

A vitória no Oscar só não foi completa porque Fernanda Torres não ganhou a estatueta de melhor atriz. Merecida, inclusive. A atriz é a peça chave do filme. Interpretação singular. Não ganhou. Uma pena. Mas o filme tornou-se o melhor filme estrangeiro/internacional neste 2025. E isto é importante. Na América Latina, a Argentina ja levou mais de um vez o prêmio, o Chile já ganhou também. Cuba não ganhou esse titulo pelas razões políticas de sempre. Por exemplo, em 1969 o genial "Memória do subdesenvolvimento" (Tomás Gutiérrez Alea) ganharia tranquilamente o titulo de melhor filme estrangeiro, mas nos EUA dos anos 60 jamais um filme cubano ganharia algo no Oscar.

Em tempo. "Ainda estou aqui" trouxe o primeiro Oscar para o cinema brasileiro. Ganhou reconhecidamente com  a estatueta de melhor filme estrangeiro/internacional e este prêmio tem uma dupla importância:

Primeiro. No âmbito da história do cinema brasileiro. Foi um titulo que honra a brava e acidentada história do cinema brasileiro. Desde o cinema novo, não vibrávamos tanto com um filme numa concorrência fora do país. Importante lembrar "O Quatrilho" ou "Central do Brasil". Confesso: não vibrei tanto com eles. Por exemplo, esse "O Quatrilho" ganhar o titulo de melhor filme estrangeiro nos anos 90 no lugar de "A excêntrica família de Antonia" (filme holandês) seria uma profunda injustiça. Mesmo depois da chamada "Retomada" do cinema brasileiro na segunda metade dos anos 90, não produziu filmes com força dentro e fora do país para concorrer a altura com outros filmes "estrangeiros". Foi um momento importante do cinema brasileiro e preparou o caminho para se chegar ao "Ainda estou aqui". E vou mais além: cria ânimo para avançarmos na produção cinematográfica nativa. Temos diretores/diretoras muito bons. Temos atrizes/atores muito bons. Mas oscilamos demais em governos e ministérios da cultura. Cinema é arte cara e precisa de apoio estatal. Precisa de boas escolas. Precisa de pesquisa  e produção. E ainda de grande importância, precisa de público. Uma luta histórica nossa. 

Segundo. A importância política do Oscar. "Ainda estou aqui" é o triunfo de uma memória. Nunca podemos esquecer: tivemos um golpe civil/militar em 1964. Deste golpe, seguiu-se uma brutal ditadura com consequências graves para os rumos do Brasil. Prisões arbitrárias, exílios, tortura, corpos desaparecidos, sufocamento da democracia, políticas econômicas concentradoras de renda e grande empobrecimento do país. Resumo da história: tivemos governos militares desqualificados para o cargo. O filme de Walter Salles é uma vitória (simbólica) sobre esta turma das casernas. O filme é sobre um homem perseguido pela ditadura. Tem sua prisão fora da lei. É torturado e assassinado. Seu corpo é tornado desaparecido e sua mulher fica sem chão com filhos para criar. Uma família foi destruída por uma ditadura militar. Este fato é necessário que se diga sempre. Depois de 60 anos do golpe de 1964, um filme brasileiro sobre a ditadura e do ponto de vista dos torturados ganha um prêmio internacional e um reconhecimento mundial. Depois de uma tentativa de mais um golpe civil/militar em 2023 e um ex-presidente na liderança e ainda sem punição merecida. Temos que guardar este dia em que "Ainda estou aqui" honrou nossa memória democrática e deixar para a memória das futuras gerações. Memória para uso diário.

Ainda Estou Aqui' e as camadas de esquecimento da ditadura | Entrevista com LUCAS PEDRETTI


Nos últimos meses, o debate público voltou a ser tomado por disputas em torno da memória da ditadura militar, uma questão-chave na política desde a redemocratização e intensificada com o surgimento do bolsonarismo. O gatilho dessa nova discussão é o sucesso do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que conta a história real do desaparecimento do deputado Rubens Paiva, assassinado pelo regime.

O longa foi celebrado por recolocar o tema em evidência e alcançar reconhecimento internacional, mas também recebeu críticas por abordar a violência do período, mais uma vez, sob a ótica da classe média. Essa limitação, de fato, não é nova: o próprio Relatório Final da Comissão da Verdade foi alvo de questionamentos semelhantes por parte de familiares de vítimas e de setores do movimento negro e indígena.

Para aprofundar esse debate, CartaCapital recebe o historiador Lucas Pedretti. Doutor em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ (Iesp/UERJ), ele é membro da Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia e autor dos livros Dançando na mira da ditadura – bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970  e  A transição inacabada: violência de Estado e direitos humanos na redemocratização.

'Ainda Estou Aqui' vencendo Oscar ajuda a exumar crimes da ditadura militar | Toledo e Thais Bilenky


#Memórias 19 - 1964: Nunca mais! - Abertura - O golpe militar e a universidade


Informações da fita

Título: 1964: Nunca mais! - Abertura - O golpe militar e a universidade 

Participantes: István Jancsó, Maria Helena Rolim Capelato, Alberto Carvalho da Silva, Isaias Raw, Sebastião Baeta Henriques, José Sebastião Witter, Alberto Luiz da Rocha Barros

Data: 11 abr. 1994

Descrição:  Na Abertura: O golpe militar e a universidade, do evento 1964: Nunca Mais!, realizada no dia 11 abr. 1994, os participantes falam sobre suas experiências de vida como acadêmicos na ditadura, ressaltando o papel da universidade na repressão e no enfrentamento do regime. Eles abordam vários eventos e discursam também sobre colegas perseguidos e o contexto internacional e nacional do golpe.

Palavras-chave: universidades e instituições de ensino, elitismo e classismo, intervenção militar, anticomunismo, contribuição civil para o golpe, disputas de poder, Inquéritos Policiais Militares (IPM), políticas reacionárias, ensino da História, contexto internacional, Guerra Fria, reformas sociais, governo João Goulart, fascismo, repressão, Holocausto, Doutrina de Segurança Nacional, Ato Institucional No 5 (AI-5), Atos Institucionais, anistia

Pessoas e entidades mencionadas: István Jancsó, Maria Helena Rolim Capelato, Alberto Carvalho da Silva, Isaias Raw, Sebastião Baeta Henriques, José Sebastião Witter, Alberto Luiz da Rocha Barros, Humberto de Alencar Castello Branco, Darcy Ribeiro, João Belchior Marques Goulart, Luís Antônio da Gama e Silva, Getúlio Vargas, Jânio da Silva Quadros, Samuel Barnsley Pessoa, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, Adhemar Pereira de Barros, Mário Schenberg, Kusno Sosrodihardjo (Sukarno), Luis Carlos Prestes, Getúlio Vargas, Filinto Muller, Augusto José Ramón Pinochet, Fernando Henrique Cardoso, Vladimir Herzog, Antônio Delfim Netto, Crodowaldo Pavan, Carolina Bori, Simão Mathias, Domingos Valente, Caio Prado Junior, Olga Baeta Henriques, Arthur da Costa e Silva, Antonio Carlos Pacheco e Silva, Philip Morrison, César Lattes, José Leite Lopes, Adolf Hitler (Adolfo Hitler), Zilda Marcia Grícoli Iokoi, Olga Gutmann Benário Prestes, Hélio Lourenço, Marcos Lindenberg, Emílio Garrastazu Médici, João Cruz Costa, Sérgio Buarque de Holanda, Warwick Estevam Kerr, FM-USP, Fundação Ford, IEA-USP, FAPESP, Escola de Medicina Paulista (EPM), IF-USP, ADUSP, UNESCO, Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), Comissão Nacional da UNESCO no Brasil (IBECC), EDUSP, Universidade de Brasília (UnB), Editora Universidade de Brasília (Editora da UnB, EDU), TV Tupi, Fundação Carlos Chagas (FCC), FUNBEC, EA/FE-USP, Revista Veja, SBPC, USP, Instituto Adolfo Lutz, Fundação Oswaldo Cruz, Polícia Militar (PM), CRUSP, CNPQ, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Fundação CAPES), UNIFESP, Faculdade de Ciências Médias e Biológicas de Botucatu (FCMBB, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP), FFCL-USP, Institutos Isolados do Ensino Superior, Universidade Estadual Paulista (Júlio de Mesquita Filho, UNESP), PCB, ESG, National War College dos Estados Unidos da América, forças armadas, CCC, Universidade Presbiteriana Mackenzie, DOI-CODI, Associação de Auxiliares de Ensino da Universidade de São Paulo (USP), Comitê Brasileiro pela Anistia, Universidade de Princeton, Institute for Advanced Study da Universidade de Princeton (IAS)



DITADURA MILITAR INTERCEPTOU CARTA PARA RUBENS PAIVA, DE AINDA ESTOU AQUI | PLANTÃO

1964 - PRIMEIRO EPISÓDIO - O ANO MAIS LONGO DA HISTÓRIA BRASILEIRA


As cartas que a ditadura escondeu

Em 2021, recebi um lote de correspondências escritas por exilados que nunca chegaram aos destinatários – entre eles, Rubens Paiva. Desde então, venho tentando entregá-las.  

https://piaui.folha.uol.com.br/cartas-ditadura-rubens-paiva-almino-affonso/

Oscar do Brasil: Ida do brasileiro ao cinema cresce, mas não chega ao nível pré-pandemia | Toledo


ELENIRA VILELA RELEMBRA FILMES NACIONAIS SOBRE DITADURA


CONHEÇA A HISTÓRIA DE DONA LILA, VÍTIMA DA DITADURA MILITAR





terça-feira, 4 de março de 2025

Orfeu Negro: O filme brasileiro que ganhou um Oscar para a França


 Em 1960, "Orfeu Negro" ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro - Jornal Futura - Canal Futura



A história de "Orfeu Negro", Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960 - 26/02/2016 - Jornal Futura - Canal Futura

Muitos brasileiros não têm conhecimento, mas o Oscar de melhor filme estrangeiro de 1960 foi concedido a uma produção ítalo-fraco-brasileira: "Orfeu negro" ou "Orfeu do Carnaval", em que todos os atores eram negros, com direção do francês Marcel Camus. O roteiro foi baseado numa peça de Vinicius de Moraes, "Orfeu da Conceição", que adaptou o mito grego de Orfeu e Eurídice ao Carnaval e aos morros cariocas e teve a contribuição cenográfica de Oscar Niemeyer, além de contar com um elenco inteiramente formado por atores negros, uma novidade na época. No mito grego, Orfeu é um músico e poeta excepcional, que comove até as feras com a sua arte. Segue a amada mesmo depois da morte dela. Filmado no Rio de Janeiro e falado em português, Orfeu contou com artistas brasileiros, com uma única exceção, a protagonista, a atriz norte-americana Marpessa Dawn, mulher do diretor Marcel Camus. Para formar o elenco, o diretor contou com a ajuda do jornal "O Globo", que realizou um concurso com a participação de mais de mil candidatos. O na época bi-campeão olimpíco do salto triplo, Adhemar Ferreira da Silva, participou como ator tanto da peça como do filme. E o então jogador de futebol Breno Mello interpretou Orfeu no cinema. Um dos destaques do filme é a trilha sonora composta por Tom Jobim, Luís Bonfá, Vinicius de Moraes e Antônio Maria, quatro dos mais importantes compositores brasileiros da época. Muitos pesquisadores e críticos musicais consideram a trilha sonora de Orfeu uma espécie de marco zero da bossa nova.

Interview – Breno Mello, star of Black Orpheus (2005, English subtitles)



O grande sucesso internacional 'Orfeu Negro', que ganhou Oscar em 1960, se passa no Rio de Janeiro, é em português e tem músicas de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e outros brasileiros. Leia mais: https://bbc.in/4bmYIIO

Sobre os críticos de “Ainda estou aqui”

 03/03/2025



Por LÚCIO VERÇOZA*

A capacidade do cinema de Walter Salles de adentrar os raquíticos fios do debate público no Brasil – ou da opinião publicada

O filme Ainda estou aqui circula. Prossegue circulando. E sua circulação não é como a de um ventilador de padaria: que gira, gira e permanece no mesmo lugar – soprando pouco vento. O começo da circulação da película se deu, sobretudo, na pele e nos pelos das pessoas que saíram de casa para ir ao cinema.

O segundo circuito de circulação, que é um desdobramento do primeiro, está na capacidade do cinema de Walter Salles de adentrar os raquíticos fios do debate público no Brasil – ou da opinião publicada. Logo, nessa segunda esfera da circulação, não tardou para que os autores de resenhas alimentassem os blogs, YouTube, Instagram, TikTok e páginas da grande mídia – tanto com análises elogiosas, quanto implacáveis.

Dentre as críticas mais duras, gostaria de sublinhar o texto de Raul Arthuso, divulgado recentemente no jornal Folha de S. Paulo. O escrito tem sua relevância, pois desloca a discussão para o campo da estética. Porém, no afã de sustentar a tese na qual o filme de Walter Salles seria um passo atrás no contexto do cinema nacional contemporâneo, o autor contorce o argumento, rebaixando o peso político de Ainda Estou Aqui.

Numa rápida análise, é possível destacar trechos nos quais Raul Arthuso carrega excessivamente nas tintas – fazendo com que o filme analisado pareça outro: “sua ênfase está na narrativa íntima, na memória, nas relações pessoais em detrimento da história e da realidade social, mesmo que isso esteja presente como pano de fundo difuso.” “[…] a realidade política é só um detalhe na trama.” “[…] não consegue construir um mundo ficcional que diga algo para a nossa realidade.” “[…] produzir efeitos de emoções, sem agredir ou tensionar questões locais”.

Toda essa linha argumentativa leva à construção de um retrato de filme que seria politicamente minúsculo e quase irrelevante: “que pouco tem a dizer sobre a nossa realidade”; no entanto, se trata do inverso: pela via da estética do detalhe íntimo, Walter Salles conseguiu atar um nó que liga o passado ao presente – fazendo o espectador sentir o passado como algo que diz respeito ao que está em nossa frente. E esse traço, de conseguir reavivar a memória por meio da arte, tem uma enorme potência política.

 Tanto os críticos que gostariam que o filme fosse algo próximo de um panfleto (a exemplo das análises de viés excessivamente programático de Jones Manoel, ou do Chavoso da USP), quanto os que exigem uma estética de vanguarda, desconsideram que o forte impacto político do longa decorre de uma abordagem que toca na grande política pela chave da sutileza do detalhe e da micro-história.

A obra forma uma espécie de nó artístico – sem adotar uma linguagem explicitamente herdeira do Cinema Novo dos anos 1960, nem das vanguardas recentes do mangue ou dos sertões nordestinos –; um nó que não escreve um tratado da política econômica dos governos da ditadura militar, nem da luta sindical (como reivindicaram os críticos programáticos).

Todavia, é um nó ainda mais arguto, pois liga a ponta do passado à do presente em frente aos olhos e ouvidos do grande público: dando um tapa simbólico no rosto e na máscara do bolsonarismo. E, faz isso, sem dizer explicitamente o que faz. E faz isso construindo uma estética que sintoniza muito bem a forma ao conteúdo – sem pertencer às vanguardas da forma, e sem conceder a patrulha estreita dos que exigiram um filme-panfleto.

Talvez o grande acerto do filme esteja justamente nisso: em captar uma forma de pertencer a um tempo pelo 3×4 de uma família. E o faz sem a pretensão de lançar um tratado. E o faz demonstrando que uma linguagem aparentemente simples (em termos de inovação) pode ser sutil e profunda. A plateia, por diferentes caminhos, sacou o que estava na tela e sentiu, por alguns minutos, o sentimento do mundo. E o sentimento do mundo é ambíguo: carregado de choro, fúria, esperança, aplauso e memória.

*Lúcio Verçoza é professor de sociologia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Referência

Ainda estou aqui

Brasil, 2024, 135 minutos.

Direção: Walter Salles.

Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega.

Direção de Fotografia: Adrian Teijido.

Montagem: Affonso Gonçalves.

Direção de Arte: Carlos Conti

Música: Warren Ellis

Elenco: Fernanda Torres; Fernanda Montenegro; Selton Mello; Valentina Herszage, Luiza Kosovski, Bárbara Luz, Guilherme Silveira e Cora Ramalho, Olivia Torres, Antonio Saboia, Marjorie Estiano, Maria Manoella e Gabriela Carneiro da Cunha.

publicado em "A terra é redonda"

https://aterraeredonda.com.br/sobre-os-criticos-de-ainda-estou-aqui/

WALTER SALLES SER RICO IMPORTA SOBRE O FILME?


A meia verdade é a pior forma de mentira. 

É por aí que caminha um texto, que viralizou, apresentando o cineasta Walter Salles – do filme “Ainda estamos aqui” – como um beneficiário da ditadura que matou o deputado Rubens Paiva.

Walter Salles é herdeiro do banqueiro Walther Moreira Salles. No texto, o pai é apresentado como financiador do IPES, o Instituto de Pesquisas Econômico Sociais que teve papel fundamental no financiamento midiático em favor do golpe de 1964. Falso!

Eu escrevi a biografia de Moreira Salles. Não foi uma biografia autorizada, apesar do acesso que tive ao próprio embaixador, em dezenas de entrevistas, à parte do seu acervo e aos seus primeiros sócios. O livro descontentou os filhos por mencionar episódios delicados, como seus embates com Roberto Marinho, de quem foi sócio no Parque Lage, ou seus negócios com dívida externa brasileira. Foi um livro que homenageou a grande estatura pública dele, mas sem ocultar as fraquezas.

Walther Moreira Salles fazia parte de um grupo de empresários que apoiou Getúlio Vargas e seu sucessor João Goulart. Foi sua indicação para Ministro da Fazenda de Jango que viabilizou o parlamentarismo contra o golpismo das Forças Armadas, que queriam impedir Jango de assumir a presidência, com a renúncia de Jânio.

Aliás, pouco antes de renunciar, Jânio foi procurado pelos três comandantes militares oferecendo seu apoio para o caso de pretender dar um golpe. Jânio recusou apostando em outra saída: ele renunciando, saindo do país em um cruzeiro marítimo e, na volta, sendo consagrado pelo povo que exigiria sua volta. Na volta do cruzeiro, o povo não compareceu.

Há um conjunto de informações inéditas no livro. A história dos militares me foi relatada por Rafael de Almeida Magalhães. A do cruzeiro, pelo próprio Walther, que contou que foi planejado meses antes da renúncia.

Para viabilizar a posse de Jango, foi armada uma operação sigilosa para levar Walther até Porto Alegre, onde ele testemunhou a enorme coragem de Leonel Brizola, comandando a resistência – conforme me relatou. Walther foi o avalista do parlamentarismo justamente por suas relações estreitas com o sistema financeiro norte-americano – era amigo íntimo de Nelson Rockefeller – e com os grandes grupos de comunicação dos EUA.

Acertado o parlamentarismo, teve que voltar escondido, indo a Buenos Aires e voltando para São Paulo com carteira de identidade falsa.

O texto diz que sua ligação com Rockefeller foi fundamental para evitar sua cassação. Tem razão, mas não significa, em nenhum momento, adesão ao golpe.

Não se deve esquecer que a primeira grande denúncia contra as torturas praticadas pelo regime foi feita a Nelson Rockefeller em um evento no Museu de Arte Moderna que, possivelmente, foi a causa do assassinato de Zuzu Angel.

Para se contrapor à enorme frente midiática contra Vargas, Moreira Salles chegou a negociar uma grande editora, fundindo a Érica (que publicava a revista Sombra) com a Última Hora, de Samuel Wainer. Por conta disso, foi alvo da CPI da Última Hora. Como afirmar que ele financiava o IPES?

Walther foi salvo da cassação por duas circunstâncias. A primeira, no governo Castello Branco, por uma circunstância familiar: dona Argentina, esposa de Castello, tinha relações de parentesco com a família de Elisinha, esposa de Walther.

A segunda tentativa foi com Costa e Silva. José Carlos Marcondes Ferraz, conhecido playboy do Rio de Janeiro dos anos 60, me contou que passou uma noite na casa de Walther, com a ameaça de, a qualquer momento, a casa ser invadida por militares. Telefonemas de autoridades norte-americanas influentes – cuja amizade Walther cultivara como embaixador de Vargas e de JK – seguraram a cassação. E Delfim Neto foi essencial, a partir de uma conversa que teve com Costa e Silva – que me foi relatada pelo próprio Delfim.

Costa e Silva o procurou e perguntou o que aconteceria se cassasse Moreira Salles. E Delfim:

Pouca coisa, general. Nos indisporíamos com os banqueiros norte-americanos e europeus, e também com as grandes redes de comunicação dos Estados Unidos. Mas apenas isso.
Mesmo assim, a família Moreira Salles saiu do país e mudou-se para a França, por receio de ter o mesmo fim de Rubens Paiva.

O texto não informa que Waltinho, o filho, frequentava a casa de Rubens Paiva, era amigo de suas filhas. Fugia do ambiente pesado da sua própria casa – devido aos embates constantes do casal Moreira Salles – e ia buscar a leveza da família Paiva.

O Unibanco, de fato, foi beneficiado pela política econômica de Castello Branco, como outros bancos nacionais, a partir das reformas conduzidas por Roberto Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. O texto não consegue entender que, por baixo da política, havia uma estrutura empresarial e uma elite econômica carioca que orientava o país desde Vargas.

Roberto Campos foi assessor de Café Filho, de JK, participou da fundação do BNDES e, assim como Gouvea de Bulhões, transitava pelo alto mundo financeiro e empresarial do Rio de Janeiro.

É essa elite carioca – que se frequentava desde os anos 40, quando o Rio era apenas uma cidade que ainda não se internacionalizara -. além das ligações ultramarinas, que impediu Moreira Salles de ter o mesmo destino de grupos paulistas destruídos pela ditadura pelo apoio a Jango – como os Wallace Simonsen.

Mesmo no ambiente opressivo da ditadura, Moreira Salles ajudou JK e o próprio Jango, em seu exílio no Uruguai. Na ocasião, entrou em contato com banqueiros uruguaios, garantindo operações de financiamento das atividades de Jango.

Publicado no GGN

NÃO ENTENDEU A PERGUNTA

A treta entre Sandra Annenberg e a Folha por causa de Ainda Estou Aqui

Âncora da TV Globo fez questionamento direto ao jornal paulista após a publicação de uma matéria descabida que tentou colocar o longa de Walter Salles numa posição delicada

segunda-feira, 3 de março de 2025

O Carnaval em meio ao ataque dos fundamentalistas religiosos e da violência do mercado capitalista



 Obs. Quando nos referimos a religiosos fundamentalistas não estamos nos referindo a Frei Almir, abaixo,  nos pouparemos de trazê-lo para cá, Os discursos de discriminação e preconceitos da parte deles são bastantes conhecidos. O que não é o caso de Frei Almir, o qual   tem opinião que converge com o que estamos dizendo anos seguidos, partindo da fala conhecida de Dom Hélder em 1975, mas refletindo a relação dela com os tempos atuais... 


terça, 05 de fevereiro de 2013
Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Estive recordando sambas e frevos, do disco do Baile da Saudade: ô jardineira por que estas tão triste? Mas o que foi que aconteceu....Tú és muito mais bonita que a camélia que morreu. BRINQUE MEU POVO POVO QUERIDO! MINHA GENTE QUERIDÍSSIMA. É VERDADE QUE 4a FEIRA A LUTA RECOMEÇA. MAS, AO MENOS, SE PÔS UM POUCO DE SONHO NA REALIDADE DURA DA VIDA!" Dom Helder Câmara, 01 de fevereiro de 1975 durante sua crônica radiofônica "um olhar sobre a cidade"da Rádio Olinda AM.


Quando Dom Hélder escreveu o  texto acima,  a realidade do carnaval era bastante diferente daquilo que em regra temos hoje. Nestes idos de 1975,  o mercado  não tinha se apropriado das festas e dos corpos na proporção como acontece nos dias atuais.
Quando digo em "regra", quero acreditar  que ainda existam espaços ou ambientes em que o carnaval seja comemorado de forma aproximada ao  exemplo citado por  Dom Hélder.
Não me refiro aqui, as caricaturas de carnavais das "antigas" promovidas por escolas e grupos de idosos.
Nas propostas para uma gestão cultural transformadora, inclusiva e saudável elaborada como complemento a Carta Cultural da Periferia(2005), foram formuladas algumas sugestões na perspectiva proposta por Dom Hélder. 
Leia mais aqui




Há quem pense que o Brasil de hoje, do modo como está organizado e com a sociedade dividida em polaridades opostas,  não está para Carnaval. A desigualdade social aumenta de forma escandalosa. A violência toma conta de nossas cidades. A maioria da classe política se comporta de forma insensata e oportunista. Apesar disso tudo, nesses dias, em todo o Brasil, já se respira o clima de Carnaval. No Rio de Janeiro, Olinda, Salvador e outras cidades tradicionais, os blocos estão nas ruas e as pessoas superam as dores e angústias do cotidiano através da dança, das brincadeiras e da alegria do Carnaval.

Alguns grupos religiosos condenam o que consideram mundanismo. Julgam o Carnaval como produto do diabo. Trata-se de um julgamento moral que olha a vida de forma dualista, opõe o material ao espiritual, o corpo ao espírito e faz um julgamento moralista do clima de liberdade que reina em muitos ambientes do Carnaval. O senso crítico é importante, mas ele nos leva a olhar não apenas os frutos da árvore, mas a raiz. É preciso compreender que, por trás de toda essa imensa iniciativa do Carnaval há enormes estruturas econômicas que estão por trás e que favorecem empresas e grupos sociais. O Capitalismo intenta transformar a vida e as relações humanas em mercadoria e explora um erotismo meramente comercial. Fomenta o uso exagerado de bebidas e mesmo de drogas. Isso cria um circulo vicioso com a violência urbana que explode em alguns fenômenos de massa não bem canalizados. No entanto, apesar de todos esses problemas, toda festa, mesmo a mais aparentemente mundana, pelo fato de congregar as pessoas em uma expressão de alegria já é positiva. Tem uma dimensão nobre e, podemos dizer: espiritual.

Em geral, as culturas antigas valorizam a festa como sinal e antecipação do pleno e definitivo encontro com a Divindade. No evangelho, Jesus afirmou que o reinado divino vem ao mundo, qual música deliciosa que convida todos a dançarem. Ele se queixa de sua geração que parece com pessoas que, mesmo ao som da música, não reagem e ficam indiferentes (Lc 7, 31- 32). Ninguém deveria ficar apático diante dos sinais do amor e da comunhão humana que tornam a vida, mesmo sofrida, festa de alegria, inspirada pelo Espírito. Jesus começou a anunciar o reinado divino no mundo, transformando água em vinho simplesmente para que não faltasse alegria em uma festa de casamento (Jo 2).

As pessoas e comunidades marcam a vida pela cadência das festas. Cada ano, o aniversário natalício recorda o dom da vida. Conquistas importantes, como conclusão de um curso, obtenção de novo trabalho e casamentos são celebrados com festas. Todo país tem festas cívicas e cada religião, festividades litúrgicas. O que caracteriza a festa é a liberdade de brincar, o direito de subverter a rotina e de expressar alegria e comunhão, através de uma comida gostosa, a música contagiante e a dança que unifica corpo e espírito.

A fé faz parte da vida e da cultura do povo. Por isso, é normal que nos símbolos escolhidos como temas de desfile carnavalesco e mesmo nas letras dos sambas-enredos de escolas de samba, apareçam composições que tragam mensagens de caráter religioso. Neste 2025, várias Escolas de Samba do Rio de Janeiro, assim como blocos importantes de outras cidades tomam como tema elementos das culturas religiosas afrodescendentes, em nossos dias, ainda discriminadas, injustamente atacadas e vítimas de racismo religioso.

Nos anos 70, Chico Buarque compôs a melodia para o filme “Quando o Carnaval chegar”. Essa comédia musical de Cacá Diegues tomava o Carnaval como parábola da festa da libertação. Hoje, vivemos uma democracia formal, mas ainda falta muito para alcançarmos igualdade social e uma justiça que signifique verdadeira libertação para todo o povo. Por isso, continua válida a esperança proposta na música que, no filme, Chico canta junto com Maria Bethânia e Nara Leão: “Quem me vê assim, tão parado e distante, parece que eu nem sei sambar. Tou me guardando pra quando o Carnaval chegar”.

Nesses Carnavais que passam, é importante que não deixemos de esperar e nos preparar para o Carnaval definitivo, mais profundo e transformador da vida.

Irmão Marcelo Barros

A repercussão das conquistas de "Eu Estou Aqui". De Sergipe e Aracaju até Xangai. Passando por Pernambuco, Brasília, Rio, São Paulo, Ceará e Nova York. .

 A DUPLA IMPORTÂNCIA DO OSCAR PARA AINDA ESTOU AQUI. NOTA. Por Romero Venâncio (Universidade  Federal de Sergipe)


Independente das polêmicas ou os limites políticos ou estéticos do filme "Ainda estou aqui", o Oscar de melhor filme estrangeiro/internacional veio em boa hora. As polêmicas ocorreram nas redes digitais e algumas foram sérias e nos ajudaram a pensar no real valor do filme. De Chavoso da USP a Jones Manoel; de Marcelo Ikeda a Wesley P. de Castro, o filme virou uma boa polêmica nas redes... Acompanhei todas essas e participei até certo ponto. Mas reconheço uma coisa: as polêmicas não apagaram em nada a importância do filme e nem os autores da polêmica queriam isto. 

A vitória no Oscar só não foi completa porque Fernanda Torres não ganhou a estatueta de melhor atriz. Merecida, inclusive. A atriz é a peça chave do filme. Interpretação singular. Não ganhou. Uma pena. Mas o filme tornou-se o melhor filme estrangeiro/internacional neste 2025. E isto é importante. Na América Latina, a Argentina ja levou mais de um vez o prêmio, o Chile já ganhou também. Cuba não ganhou esse titulo pelas razões políticas de sempre. Por exemplo, em 1969 o genial "Memória do subdesenvolvimento" (Tomás Gutiérrez Alea) ganharia tranquilamente o titulo de melhor filme estrangeiro, mas nos EUA dos anos 60 jamais um filme cubano ganharia algo no Oscar.

Em tempo. "Ainda estou aqui" trouxe o primeiro Oscar para o cinema brasileiro. Ganhou reconhecidamente com  a estatueta de melhor filme estrangeiro/internacional e este prêmio tem uma dupla importância:

Primeiro. No âmbito da história do cinema brasileiro. Foi um titulo que honra a brava e acidentada história do cinema brasileiro. Desde o cinema novo, não vibrávamos tanto com um filme numa concorrência fora do país. Importante lembrar "O Quatrilho" ou "Central do Brasil". Confesso: não vibrei tanto com eles. Por exemplo, esse "O Quatrilho" ganhar o titulo de melhor filme estrangeiro nos anos 90 no lugar de "A excêntrica família de Antonia" (filme holandês) seria uma profunda injustiça. Mesmo depois da chamada "Retomada" do cinema brasileiro na segunda metade dos anos 90, não produziu filmes com força dentro e fora do país para concorrer a altura com outros filmes "estrangeiros". Foi um momento importante do cinema brasileiro e preparou o caminho para se chegar ao "Ainda estou aqui". E vou mais além: cria ânimo para avançarmos na produção cinematográfica nativa. Temos diretores/diretoras muito bons. Temos atrizes/atores muito bons. Mas oscilamos demais em governos e ministérios da cultura. Cinema é arte cara e precisa de apoio estatal. Precisa de boas escolas. Precisa de pesquisa  e produção. E ainda de grande importância, precisa de público. Uma luta histórica nossa. 

Segundo. A importância política do Oscar. "Ainda estou aqui" é o triunfo de uma memória. Nunca podemos esquecer: tivemos um golpe civil/militar em 1964. Deste golpe, seguiu-se uma brutal ditadura com consequências graves para os rumos do Brasil. Prisões arbitrárias, exílios, tortura, corpos desaparecidos, sufocamento da democracia, políticas econômicas concentradoras de renda e grande empobrecimento do país. Resumo da história: tivemos governos militares desqualificados para o cargo. O filme de Walter Salles é uma vitória (simbólica) sobre esta turma das casernas. O filme é sobre um homem perseguido pela ditadura. Tem sua prisão fora da lei. É torturado e assassinado. Seu corpo é tornado desaparecido e sua mulher fica sem chão com filhos para criar. Uma família foi destruída por uma ditadura militar. Este fato é necessário que se diga sempre. Depois de 60 anos do golpe de 1964, um filme brasileiro sobre a ditadura e do ponto de vista dos torturados ganha um prêmio internacional e um reconhecimento mundial. Depois de uma tentativa de mais um golpe civil/militar em 2023 e um ex-presidente na liderança e ainda sem punição merecida. Temos que guardar este dia em que "Ainda estou aqui" honrou nossa memória democrática e deixar para a memória das futuras gerações. Memória para uso diário.

📌🎬 A atriz Fernanda Torres usou as redes sociais na madrugada desta segunda-feira (3) para deixar uma mensagem após a conquista de "Ainda estou aqui", na categoria Melhor Filme Internacional do Oscar®. "Nós vamos sorrir. Sorriam", escreveu a atriz, em frase que faz referência a uma cena do longa.

Presidente Lula no Instagram

Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e @janjalula estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo.

O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de @oficialfernandatorres e @fernandamontenegrooficial , @seltonmello , do @marcelorubenspaiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo. Parabéns! Viva o cinema brasileiro, viva Ainda Estou Aqui.
Pedro Paulo de São Paulo no grupo politica e religião no whatsapp


"Foi uma vitória que parou o Carnaval na madrugada. Parecia uma final de copa do mundo dos bons tempos. Inclusive, a Globo teve que mostrar uma aldeia do Amazonas que se preparou para essa festa, pq a Eunice Paiva é tb uma grande defensora dos povos originários. Teve que mostrar ainda, na madrugada, as comemorações e manifestações de "sem anistia". Foi muito bom."

Sen. Humberto Costa (PT) - PE
O dia em que o Carnaval do Recife parou para celebrar o cinema nacional. É lindo, é histórico, é emocionante! Viva a nossa cultura! 🏆🇧🇷🙌Vídeo: @recifeordinario

Da prefeitura de Aracaju que tem a frente uma prefeita do PL


É DO BRASIL, MINHA GENTE! 🫶🏼🇧🇷 Era o que faltava para o nosso Carnaval ficar perfeito: “Ainda Estou Aqui” foi premiado como MELHOR FILME INTERNACIONAL do Oscar 2025, em Los Angeles. É tanto orgulho que não cabe no coração! A maior vitória do povo brasileiro é poder ser tão bem representado lá fora e isso nos enche de inspiração para continuar lutando pelos nossos objetivos! Em nome de toda a cidade de Aracaju, muito obrigada 🥰🤩

Publicado no instagram AQUI

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Dilma Roussef , presidenta do Banco dos BRICS no facebook, aqui

Parabéns, @waltersalles_oficial, @oficialfernandatorres, @seltonmello e toda a equipe de @aindaestouaqui












Chico Alencar - Historiador, escritor e deputado federal (PSOL-RJ) no facebook, aqui 

QUEM GANHOU O OSCAR?

Todos nós, brasileir@s! Pois "Ainda Estou Aqui" reafirma, com arte, que nossa cultura é pujante e de valor universal. E que a memória é arma indispensável na formação da identidade de um povo, contra o autoritarismo e a mediocridade individualista. 

Esse prêmio é para todas as famílias que tiveram suas vidas atravessadas pela violência do Estado. Para quem luta por verdade, justiça e reparação. 

É também a demonstração de que nosso cinema tem força singular - tantas vezes negada, inclusive no "In Memoriam" da Academia hollywoodiana, que "esqueceu" Cacá Diegues.

Esse Oscar - que, pelas regras, é recebido pelo diretor do filme vencedor mas fica no acervo da República - vai para Fernanda Torres, Selton, elenco e a equipe inteira dirigida por Walter Salles. Todo filme só se viabiliza com imenso trabalho coletivo, da faxineira e do motorista ao diretor.

O prêmio de Melhor Filme Internacional para "Ainda Estou Aqui" é vitória da democracia,  para um país que até pouco tempo tinha um presidente que fazia o elogio da tortura - dos algozes de Eunice e Rubens Paiva! - e um (des)governo inimigo da cultura.  

(Aliás, o apresentador Conan O'Brien fez brincadeira ridícula com nosso filme, nessa linha da estupidez direitista).

O Brasil resiste. O Brasil lembra. O Brasil não se cala. O Brasil cria, reinventa a vida. Que, apesar de tudo, presta. Ditadura nunca mais!

 🇧🇷  E #SemAnistiaPraGolpista 

Celebremos!

As duas imagens abaix0 publicadas por Chico Alencar


Zé Vicente, Ceará, via whatsapp
Em 80 anos de Academia, um filme que faz arder a memória  da humanidade sobre os horrores das Ditaduras, recebe o Oscar de melhor filme estrangeiro. 
É  mais que um prêmio. 
É um alerta: Eles, os violentos estão querendo destruir o Planeta e a nossa frágil Democracia!
E nós estamos realmente Aqui, unidos e prontos pra Amar e Lutar? Parabéns ao Walter Sales, Fernanda Torres, Selton Melo e toda equipe. Vocês elevam a auto-estima do Brasil. #zevicente
Zé Vicente - Eis nós aqui de novo

A imagem abaixo republicada por Zé Vicente. A canção é escolha do editor do blog. ZdO

Walter Salles extraiu alegria dos escombros da ditadura militar com 'Ainda Estou Aqui', diz Josias. UOL São Paulo



Lua Cheia, bela canção sobre a importância da memória e bem viver, da banda 5 a seco, criada e difundida nos tristes tempos de Temer presidente e o que seguiu.


Relembrando o desconforto inicial que causou o começo do sucesso de Ainda Estou Aqui

‘Ainda Estou Aqui’ fez história ao conquistar três grandes indicações no Oscar 2025: o filme concorre nas categorias de melhor filme e melhor filme internacional. Fernanda Torres está indicada como melhor atriz.

➡️ Para @leosakamoto, a indicação pode gerar um ranger de dentes entre aqueles ao redor do mundo que tem “ranço da democracia”. Com a onda ultraconservadora e autoritária, “há tantas outras famílias Paiva”.

🗣️ No Brasil, muitos se dizem patriotas, mas torcem contra o sucesso do filme. “Não por terem assistido e não gostado. Mas por não quererem que a história nele relembrada ganhe o mundo”.


Vitória de 'Ainda Estou Aqui' causa ranger de dentes em golpistas nas redes, analisa Sakamoto









Com filme brasileiro, Oscar manda recado poderoso de defesa da democracia
Jamil Chade - Colunista do UOL, em Nova York
02/03/2025 23h57

Sob o enredo da liberdade, a premiação do Oscar ao filme brasileiro é uma resposta política enfática diante de uma ameaça real do desmonte da democracia na maior potência mundial, os EUA, assim como em tantos outros países.

Hollywood sabe de seu poder. Ao longo da história, sua produção tem tido um papel decisivo na transformação de sociedades. Sem qualquer segredo ou constrangimento, a indústria do cinema nos EUA foi uma arma da construção da ideia da "excepcionalidade" americana, com um profundo impacto numa nação que foi orientada a acreditar que tem uma suposta missão no planeta.

Também foi, com produções extraordinárias, uma plataforma para denunciar o nazismo e outros crimes.

Desta vez, o Oscar foi para a democracia, justamente quando americanos, mas também europeus, brasileiros e tantos outros descobrem que ela está sob seu maior ataque em quase cem anos.

Nos EUA, a premiação ocorre num momento de choque por parte da sociedade ao descobrir como o impensável está sendo implementado: o colapso das instituições e dos direitos fundamentais.

A mensagem do filme, portanto, ecoa. É universal e colocou no centro da sala o debate sobre o que ocorre com uma família quando a arbitrariedade do autoritarismo vinga.

E, hoje, isso dispensa tradução em línguas estrangeiras. Aquelas cenas de uma família atravessada pela suspensão das garantias mais fundamentais e do direito à vida poderiam ocorrer em qualquer lugar. Inclusive nos EUA.

Num mundo onde a extrema direita avança, onde a desinformação passou a ser um instrumento legítimo de poder e o espaço cívico encolhe, "Ainda estou aqui" é uma declaração de amor à resistência e à construção da democracia por cada um de nós.

A resistência é a insistência de Eunice Paiva em fazer com que, diante do fotógrafo, todos estejam sorrindo. Algo insuportável aos movimentos autoritários.

A resistência é o intransigente dever de memória, inclusive como homenagem a quem a perdeu.

A premiação também é um recado poderoso de que, numa democracia, a anistia não é o caminho para a paz social. No Brasil, os criminosos estão vivos, assim como a impunidade. Um dos torturadores chegou a receber 26 medalhas ao longo de sua carreira militar. O outro foi condecorado com a Medalha do Pacificador. Juntos, os responsáveis por aqueles atos custam aos cofres públicos mais de R$ 1 milhão por ano em pensões.

Nos EUA, foi Donald Trump quem anistiou mais de mil pessoas, responsáveis pelos ataques ao Capitólio e tenta apagar a data da conspiração contra a democracia americana.

Por todos esses motivos, premiar o filme brasileiro vai além da constatação de sua qualidade como arte. Antídoto à onda autoritária, ele confronta populistas, charlatães e vendedores de ilusão do século 21 ao afirmar que a democracia ainda está aqui. E que a sociedade não abrirá mão dela.

Walter Salles, ao aceitar a estatueta, resumiu ao citar a atitude de Eunice Paiva diante da ditadura: "não se dobrou".




Imprensa mundial destaca vitória de "Ainda estou aqui" no Oscar. AQUI


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