ASSIM NA MORTE COMO NA VIDA
Em um gesto que reflete o próprio legado do Pontífice, pobres e sem-teto serão os primeiros a prestar homenagens ao Papa Francisco durante seu sepultamento. De acordo com apuração da vaticanista Mirticeli Medeiros, eles estarão posicionados nas escadarias da Basílica de Santa Maria Maior, onde aguardarão, em reverência, a chegada do cortejo fúnebre que partirá da Basílica de São Pedro. O corpo do Santo Padre será sepultado em um local dentro da Basílica que antes era utilizado para guardar candelabros, reforçando a simplicidade que marcou seu pontificado. É preciso que se diga: num raro momento da história do catolicismo romano, o Papa foi melhor do que a Igreja. O que não é comum na história da Igreja. Atentemos!
O CARDEAL NO METRÔ. SOBRE UMA FOTO
O Papa Francisco foi Cardeal um dia. Morou em Buenos Aires e foi importante sem se preocupar com a importância (afinal, o que é a glória deste mundo???). O Ser mais importante que ele, entrou triunfante em Jerusalém num jumento e acolhido por galhos de mato. Pode ser vista nestas redes digitais uma foto marcante do Cardeal Bergoglio na sua Argentina sentado num banco de metrô como qualquer argentino. A direita católica adora condenar esta foto. Para estas boquinhas de hóstia, um cardeal deveria ter carro oficial e ser bajulado como os poderosos de plantão. A direita católica não suporta cristão. Ela só tolera fascista egocêntrico. Paciência. O cardeal Bergoglio se tornou Papa. Francisco de nome público. Combateu o bom combate, guardou a fé no pobre de Nazaré e seguiu sua Páscoa. Sem mais.
Romero Venâncio (UFS)Choro e beijo enviado com a mão, irmã Geneviève saúda Francisco: "Ele era um irmão"
Pela quarta vez, a religiosa irmãzinha de Jesus, pessoa querida do Pontífice, voltou a prestar homenagem ao Papa, cuja foto viralizou no dia da trasladação com suas lágrimas. "Muitas pessoas me disseram: quando você for ver o Papa, leve-nos com você. Eu chorei por elas também."
Salvatore Cernuzio – Vatican News
«Ele era um pai, um irmão, um amigo. Ele fará falta a todos.»
Com sua mochila verde, sapatos gastos e o véu azul na cabeça combinando com seus intensos olhos azuis, a irmã Geneviève Jeanningros entrou na fila na manhã desta quinta-feira, 25 de abril, na Via della Conciliazione entre 128 mil fiéis e peregrinos que se dirigiam à Basílica Vaticana para prestar homenagem ao Papa. Ao seu lado estava a exuberante e muito simpática Laura Esquibel, do Paraguai: «Fui a primeira transexual a apertar a mão do Papa Francisco. Eu o vi sete vezes, almoçamos juntos. "O Papa, aliás, lembrava-se dela de vez em quando e elogiava os pastéis que fazia: "Ah, sim, claro, de vez em quando eu os fazia e enviava a ele. Gostava muito dele."
Os telefonemas, as ajudas, as brincadeiras
A irmã Geneviève, religiosa das Irmãzinhas de Jesus, anjo dos circenses e dos ciganos, pobres e transgêneros, em Óstia, ouve, acena e sorri. Ela, a “boa menina”, o “enfant terrible” de quase 82 anos, era uma pessoa querida de Francisco, que lhe telefonava, a ajudava e, por vezes, até brincava carinhosamente com ela. Como daquela vez, durante a visita de 31 de julho ao Luna Park, em Óstia, onde a religiosa passou anos e anos do seu trabalho pastoral, quando o Pontífice perguntou aos circenses: "Expliquem-me uma coisa: o que é que a irmã Geneviève faz aqui? Ela doma leões?" Ou ainda quando - durante uma das muitas audiências gerais em que a religiosa estava na primeira fila, levando ao Papa grupos daquela humanidade sofredora da qual ela cuida, Francisco, ao vê-la com uma faixa no braço, lhe perguntou: "O que a senhora fez?", "Santo Padre, eu caí". Ele respondeu: "E o chão se machucou?". Uma brincadeira que se refere ao espírito forte dessa mulher de pouco mais de um metro e meio de altura, maneiras gentis e um coração simples.
O choro diante do caixão
A imagem dela que viralizou, no entanto, é a de quarta-feira, dia da trasladação do corpo do Papa para a Basílica, quando, quebrando todo o protocolo, ela se desvencilhou da fila e foi até um canto chorar. Braços cruzados, lenço nos olhos, olhar voltado para o Papa, "amigo e irmão".
Irmã Geneviève não quer comentar sobre esse momento: "Não aguento", disse ela do lado de fora da Basílica de São Pedro, com os olhos ainda brilhando. Esta é a quarta vez que ela vai ver o Papa, mas ele sempre tem a mesma reação. Hoje, todos a procuraram para uma entrevista ou uma lembrança: "Não, não aguento. Não quero falar com ninguém, peço desculpas", repete ela com seu forte sotaque francês. As irmãs divulgaram um depoimento em vídeo de um minuto em sites, rádio e TV.
"Eu gostava muito dele"
A religiosa concorda em compartilhar uma breve lembrança com a mídia vaticana, não para se gabar de uma relação especial, mas apenas - ressalta ela - para prestar homenagem a um "grande" Papa. «Não consigo fazer isso porque é demais, sabe? Eu gostava muito dele. É assim."
A irmãzinha disse que sentirá falta de Jorge Mario Bergoglio "de seus olhos, do seu olhar", de "quando me dizia para ir em frente. E também da ajuda", disse ela. "Tivemos muita ajuda. Sim, sim. Mas talvez mais uma ajuda moral, veja bem, nós viemos muitas vezes, sua acolhida não tinha limites. E também muita esperança".
Pai, irmão, amigo
"Eu sempre digo que ele era um pai, um irmão, um amigo. Sentiremos sua falta. Isso é evidente!" "Fico emocionada ao ver tanta gente", diz ela, afirmando que sua comunidade está “triste”: “Viemos ontem à noite, hoje Laura está aqui. Espero os outros também.”
Na manhã desta sexta-feira, a irmã Geneviève rezou em frente ao caixão do Papa Francisco e, no final, mandou-lhe um beijo. Outro gesto de ternura depois das lágrimas de três dias atrás: "Muitos me disseram: quando você for ver o Papa Francisco, leve-nos com você. Então, confiei todos a ele." https://www.vaticannews.va/.../irma-genevieve-jeanningros...
O papa bom
Para Marília Fiorillo, apenas o papa João XXIII superou o papa Francisco em popularidade e afeição.
A edição desta coluna da professora Marília Fiorillo é, toda ela, dedicada ao papa Francisco, cujo velório acontece em Roma. Ela abre sua coluna observando que a comoção provocada pela morte do papa Francisco “foi, para devotos e até não devotos, o luto pela morte de um verdadeiro cristão preocupado com a injustiça social, com a segregação dos imigrantes, a matança na Palestina, a guerra na Ucrânia”. Para a colunista, só um outro papa o superou em popularidade e afeição por motivos parecidos: o italiano Angelo Giuseppe Roncalli, que passou para a história com o nome de João XXIII.
“Reformistas moderados, tanto o argentino Bergoglio como o italiano Roncalli não davam muita bola para a pompa do cargo, para as intrigas da Cúria ou para o galardão de chefe da instituição mais longeva e influente do mundo. Nenhum partido ou ideologia usufruiu de tamanho inabalável poder durante 2000 anos, só a Igreja Católica. Esse aspecto tem sido comentado à exaustão, mas há outra afinidade entre Bergoglio e Roncalli: o bom humor. Vale ler o ensaio de Hannah Arendt sobre João XXIII, na coletânea Homens em Tempos Sombrios, título, aliás, emprestado de um poema de Brecht. Arendt discorre sobre os diários espirituais de Roncalli, que define como um livro didático sobre como fazer o bem e evitar o mal. Simples assim.”
“Muitas anedotas corriam na época de João XXIII sobre ele e que mostram o que as pessoas comuns pensavam a seu respeito. Uma delas é sobre um grupo de encanadores que fazia consertos no Vaticano. Um dos encanadores não parava de praguejar, usando os nomes de toda Sagrada Família. Roncalli foi até o ‘boca suja’ e delicadamente perguntou: ‘Você tem de fazer isso? Não pode apenas dizer merda, como nós?’ Como Bergoglio, e mais atrevido, Roncalli escreveu, em 1948, dez anos antes do seu pontificado, ‘a descortesia com os humildes me faz contorcer de dor’ e investia contra ‘os sabichões deste mundo e mentes astutas’, inclusive as da diplomacia do Vaticano, que fazem má figura diante da graça e singeleza de Jesus.”
“Outra história sobre sua audiência com Pio XII, quando ele era um núncio recém-indicado, em 1944; Pio XII estava com pressa e avisou que só tinha sete minutos para ele. Roncalli não se abalou – ‘nesse caso, os seis minutos restantes são supérfluos’. João XXIII desprezava algumas convenções, para desespero dos conservadores. Comenta-se que tentaram proibi-lo de passear à vista do público pelos jardins do Vaticano. Ele ironizou: ‘Mas por que as pessoas não deveriam me ver? Eu não me comporto mal, comporto?’ A melhor das histórias aconteceu num banquete do corpo diplomático. Um dos convivas, um certo senhor N, para deixá-lo embaraçado, passou pela mesa a foto de uma mulher nua. Roncalli não titubeou. Ao receber a foto, comentou polidamente: ‘Ah, é a senhora N, suponho’. Esse era il papa buono. Como é buono o Francisco de agora, um papa bom e um papa que sabe rir”, finaliza Marília.
https://jornal.usp.br/radio-usp/o-papa-bom/
Luxo, heresia e guerra: reforma de Francisco será testada no conclave
Jamil Chade, UOL
Assim que tomou posse em 2013, o papa Francisco convocou nove cardeais e lhes deu uma tarefa: limpar o lugar. Eles teriam a missão de identificar tudo o que existia de exagero, corrupto ou que desviasse da missão da Igreja. Mas, acima de tudo, desenhar uma nova constituição para a Santa Sé e transferir poder e responsabilidades da Curia Romana para as conferências locais de bispos. Seria um verdadeiro terremoto.
Ele assumia no lugar de Bento 16, que ganhou o apelido de "Papa Prada" por seu gosto por itens de luxo e sapatos de pele. Dois meses depois, Francisco decidiu fazer uma "inspeção" de surpresa a sua própria garagem e teria ficado impressionado com o valor e luxo da frota. Sua ordem foi para que os carros fossem vendidos e trocados por modelos mais baratos.
Sete meses depois de assumir o trono de São Pedro, o pontífice decidiu que, pela primeira vez em 125 anos, o mundo saberia o que estava nos cofres do Vaticano e ordenou a instituição a publicar seu primeiro balanço. Outro terremoto.
Em encontros privados e públicos, Francisco não disfarçou seu desprezo pela Cúria. Num encontro com freiras, ainda no final de 2013, ele admitiu que não concordava com o grupo que administrava a Santa Sé e que, por séculos, acumularam direitos e luxo.
"Os chefes da igreja sempre foram narcisistas, lisonjeados e emocionados por seus cortesãos. A corte é a lepra do papado", disse.
O momento mais crítico de sua luta contra esses privilégios ocorreu em dezembro de 2015. Ao se reunir com a Cúria para a mensagem de Natal, o papa os acusou de "hipocrisia".
Havia outro fato que Francisco considerava como intolerável: a existência de mendigos nos arcos do Vaticano, repleto de ouro e arte. Depois de instalar chuveiros, banheiros e de ordenar a distribuição de comida e roupas para as centenas de mendigos e sem-teto que dormem todas as noites sob as pilastras do Vaticano e por Roma, o papa abriu uma barbearia gratuita para os mais miseráveis.
Quando a iniciativa foi anunciada, cabeleireiros e voluntários de Roma deram à Santa Sé dezenas de tesouras, pentes, espelhos e cadeiras para que os novos clientes pudessem ser atendidos. Francisco ainda comemorou seu aniversário distribuindo 400 sacos de dormir para os mendigos e sem-teto, e convidou 200 deles para jantar no Vaticano.
O vendaval que causava Francisco parecia não ter fim. Quatro meses depois de sua posse, ele quebrou um tabu - mas não alterou dogmas - quando disse: "quem sou eu para julgar os homossexuais?". Ele continuou causando indignação das alas mais radicais da Igreja ao lavar os pés de uma refugiada muçulmana. Sua missão, dizia ele, era acolher e usava a imagem da Igreja como um hospital de campanha, que atendia a todos, sem perguntar.
O centro de sua reforma era simples: a Igreja deveria servir aos fiéis e ao mundo. E não a ela mesma, sob o risco de ser irrelevante.
A guerra interna
Os gestos foram amplamente aplaudidos fora de Roma. Mas houve quem tenha resistido. "Um palhaço". Foi assim que uma ala mais tradicional da Santa Sé começou a chamar Jorge Bergoglio.
Francisco tinha pressa. Desde o início de seu pontificado, ele confessava a pessoas próximas a ele que temia que seu percurso seria curto. Precisava, assim, agir em dois sentidos: abrir o debate sobre temas sensíveis dentro da Igreja e, ao mesmo tempo, nomear cardeais progressistas para que sua obra não terminasse com o fim de seu pontificado.
Francisco, assim, acelerou a escolha desse novo governo da Santa Sé, proliferando nomeações de mais de cem religiosos de um total de 71 países, algo jamais visto na história do Vaticano.
O papa ainda usou um documento publicado por João Paulo 2º, Donum Veritatis, como base de um processo de demissões. O texto, que pedia a submissão da vontade e do intelecto e impedia que teólogos discordassem em público de seus superiores, tinha sido elaborado para permitir ao polonês uma ação contra dissidentes.
Alguns dos herdeiros de João Paulo 2º descobriram que a arma tinha, agora, se virado contra eles. Num dos gestos mais enfáticos, o papa argentino excomungou uma comunidade de franciscanos, acusados de manipulação do evangelho, de ensaiar uma aliança com a extrema direita e que promovia missas apenas em latim.
Mas fez muitos inimigos quando iniciou o debate sobre temas de fundo. Atacou o capitalismo, saiu em defesa de imigrantes e questionou toda a teoria econômica pela qual a liberdade do mercado garantiria que a pobreza fosse combatida. Ele ainda montou uma intensa campanha pela defesa do meio ambiente, acolheu e abraçou o cacique Raoní e transformou seu gabinete num espaço de diálogo com outras religiões.
Em 2019, ao organizar o Sínodo da Amazônia, permitiu que os documentos trouxessem a ideia de flexibilizar protocolos.
Algumas das propostas aprovadas pelos bispos chacoalharam a praça São Pedro: a avaliação de uma eventual participação das mulheres na liturgia, a criação de um pecado ecológico e a possibilidade de que homens casados possam ser ordenados padres.
Tudo isso para que a Igreja volte a ter um papel na Amazônia. Se não bastasse, a presença de pessoas de pele escura, com outras tradições e vestimentas pelas salas do Vaticano deixaram os mais conservadores incomodados, e a crise entre tradicionalistas e reformistas ainda mais explícita. Uma estátua indígena que representava a fertilidade e que fora usada numa igreja de Roma ainda foi roubada e jogada num rio.
As propostas não vingaram. Mas, pela primeira vez, entraram nas discussões oficiais.
O argentino deixou claro que não aceitaria ser "prisioneiro de um seleto grupo", classificando seus adversários de "elite católica". Para questionar esse grupo, o papa citou os trabalhos de Charles Péguy que, há um século, escreveu "Nota Conjunta sobre Descartes e Filosofia Cartesiana".
"Por que lhes falta a coragem de assumir assuntos terrenos, eles acreditam que estão assumindo os de Deus. Por que têm medo de fazer parte da humanidade, pensam que são parte de Deus. Por que não amam ninguém, iludem-se pensando que amam a Deus", disse.
Divórcio dividiu a Igreja
Foi, acima de tudo, sua exortação apostólica Amoris Laetitia que causou uma rebelião. No documento, estrategicamente ambíguo, a nota de rodapé 351 deixa uma sugestão de que pessoas divorciadas e casais que tenham se casado de novo possam comungar.
Nela, o papa afirma que algumas pessoas vivendo num segundo casamento "podem estar vivendo na graça de Deus, podem amar e também podem crescer na vida de graça e caridade, enquanto recebem a ajuda da Igreja para esse fim".
"Em certos casos, isso pode incluir a ajuda dos sacramentos. Por isso, quero lembrar aos sacerdotes que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas sim um encontro com a misericórdia do Senhor. Eu também gostaria de salientar que a Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um poderoso remédio e alimento para os fracos", completou. "Ao pensar que tudo é preto e branco", acrescenta Francisco, "às vezes fechamos o caminho da graça e do crescimento", alertou.
Não demorou para que os grupos se organizassem. O mal-estar era de tal dimensão que, ainda em 2015, a revista Newsweek estampou em sua capa uma manchete que causou um profundo mal-estar no Vaticano. A publicação americana trazia uma foto do papa com uma pergunta. "Francisco é mesmo católico?".
A reportagem mostrava quanto ele e seus dissidentes estavam distantes nas ações públicas sobre tantos temas. Não era possível, segundo a revista, que ambos os grupos fossem da mesma religião.
Papa herético?
A partir de 2016, essa oposição decidiu ir ao ataque. Numa carta naquele ano, um grupo de teólogos denunciava Francisco por "heresia" no documento Amoris Laetitia.
Em 2019, uma segunda carta surgiu, acusando o papa por uma "rejeição abrangente do ensino católico sobre o casamento e a atividade sexual, sobre a lei moral e sobre a graça e o perdão dos pecados". Assinada por mais de mil teólogos e religiosos, ela insistia que Francisco teria cometido o "delito canônico de heresia", definido como o ato de alguém agir contrariamente a um ensinamento revelado por Deus.
Se Francisco não se arrependesse publicamente, a carta pedia que os bispos declarassem que ele cometeu heresia e deveria "sofrer as consequências canônicas desse crime". Essas consequências deveriam incluir a destituição do cargo.
Meses depois, surgiu nas livrarias romanas o livro Papa Ditador, escrito por um pseudônimo que escolheu um nome renascentista: Marcantonio Colonna. A obra, supostamente de um detrator, contava uma suposta ditadura imposta por Francisco, sem provas ou evidências.
A acusação de heresia também foi costurada por um cardeal que se transformou, na primeira metade do pontificado de Francisco, como seu adversário mais vocal. Raymund Burk havia sido demitido pelo papa do sistema de cortes do Vaticano e foi colocado no conselho de uma obscura entidade de caridade. Mesmo em seu novo cargo, Burke voltou a se chocar com o papa e teve seus poderes ainda mais reduzidos.
Sua retaliação foi publicar uma lista de perguntas e abrir o debate sobre Amoris Laetitia e se o papa estava violando as escrituras sagradas.
Ultraconservador, Burke mantinha uma relação de amizade com Steve Bannon, articulador de Donald Trump. Foi o cardeal quem convidou o estrategista americano de extrema direita a proferir um discurso no Vaticano, em 2014.
Quatro anos depois de assumir, o papa vinha ainda sofrendo uma campanha de desinformação e de ataques públicos. Numa certa manhã de 2017, postes e muros da cidade de Roma acordaram com cartazes criticando o pontífice.
Escritos em dialeto romano local, os pôsteres acusavam o papa de ter "removido padres; decapitado os Cavaleiros de Malta e ignorado os cardeais". Dias depois, o argentino rebateu: "Não perco o sono por isso".
Ao longo de seu percurso, Francisco manteve seu plano de reforma. Não realizou todas as transformações que desejava. Os escândalos não desaparecem por completo, com casos de corrupção envolvendo um prédio comprado pelo Vaticano em Roma avaliado em 140 milhões de euros, suspeitas de abusos sexuais persistentes e o uso de recursos para renovações milionárias de residências de cadeias.
Ainda assim, Francisco rompeu com uma estrutura de poder, de luxo e de privilégios que marcaram a Santa Sé nas últimas décadas.
"É isso que está em jogo no Conclave, uma vez mais", admitiu um cardeal latino-americano, na condição de anonimato.
Janja chora ao falar do papa e diz que ele ajudou Lula a superar desesperança na prisão
Bergoglio não foi, é claro, um papa marxista. Mas a encíclica Laudato si’ é uma contribuição preciosa e inestimável diante da catástrofe socioambiental. Papa foi lúcido, ao questionar elites e a “ecologia de mercado”. Cabe à esquerda completar seus diagnósticos com propostas radicais.
O artigo é de Michael Löwy, diretor de pesquisa em sociologia no Centre nationale de la recherche scientifique (CNRS), publicado por A Terra é Redonda, 23-04-2025.
https://www.ihu.unisinos.br/651096-francisco-contra-a-idolatria-do-capital-artigo-de-michael-loewy
"O axé recebe o amor"
Hoje, nossa ancestralidade se emociona com essa imagem simbólica: o Papa Francisco sendo recebido no Orum por Oxalá — Orixá da criação, da paz e da sabedoria.
Vestidos de branco, em respeito, luz e espiritualidade, eles se encontram além da matéria, onde o sagrado é união e não separação.
Francisco, um homem de fé que estendeu a mão ao diferente, que falou de amor, justiça e humildade — foi recebido como se recebe um irmão de luz.
Porque o axé reconhece o amor.
E o amor reconhece o axé.
Que essa imagem inspire mais respeito entre as religiões, mais pontes e menos muros.
Saravá,
Axé, Papa Francisco.
Paz e Bem #2347 - Francisco, Papa amado e cercado de inimigos (Mauro Lopes e Pedro Vasconcellos)
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