Roberto Ploeg
Toda Sexta-feira Santa sigo, ritualisticamente, um roteiro.
De manhã escuto a ópera rock Jesus Christ Superstar de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice. Boa música dos anos '70. Um texto inusitado pois acompanha os três últimos dias de vida de Jesus de Nazaré sob a perspectiva de Judas Iscariotes. Uma excelente crítica à celebridade. Bem atual!
Segue um almoço em família diferente. Lembra em certos aspectos o Seder da Páscoa judaica. Toda a comida preparada com côco, o feijão, o peixe, o quibebe de jerimum que adoro, o bredo que só neste dia a gente come. Regado a vinho. Até nos botecos e bares do bairro o pessoal só bebe vinho nesse dia. Um dia de tristeza e luto pela paixão e morte de Jesus, no finalzinho da Quaresma, tempo de jejum, e haja bebida e comida. Parece-me que a gente bebe o morto, no caso Jesus de Nazaré, como se fosse um parente próximo.
À tarde, mais para o final da tarde, sigo a Via Sacra nas ruas de Olinda. É um festival de cores.
As roupas coloridas das diversas irmandades seculares. O pálio roxo acima do Senhor Morto. As flores que cobrem seu corpo e que enfeitam os andares dos santos. Uma multidão acompanhando a procissão, irmanados, de certa maneira aflitos e, ao mesmo tempo, felizes de se encontrar em vida.
É tempo de chupar pitomba entre uma e outra reza de Ave Maria. Até algodão doce é vendido. Acima dessa multidão vão os Santos João, Madalena e Verônica, santos de roca, com vestimentas e cabelos que balançam ao vento. Eles me lembram os bonecos gigantes do Carnaval.
Uma sexta-feira da paixão assim me diz que a humanidade deve caminhar por aí, um acolhendo o outro, compartilhando a comida, solidários na resistência à opressão, festejando a Vida.
Feliz Páscoa!
Roberto van der Ploeg, nasceu em Valkenburg aan de Geul na Holanda em 1955. Em 1979 veio para o Brasil no contexto de um estudo de mestrado em Teologia Latino- americana. Desde 1982 reside no Nordeste brasileiro.
A mudança da teologia para a pintura não foi muito radical para Roberto Ploeg. Segundo ele, teologia e arte são de essência metafórica, porque as duas procuram apresentar de maneira pessoal, experiências universais em imagens literárias e visuais. Neste sentido, o teólogo é um artista da palavra. O caminho pessoal de Ploeg foi da palavra à imagem visual.
Ele fez sua formação artística através de vários cursos em instâncias culturais em Olinda e Recife (MAC, Oficina Guaianases, Escolinha da Arte, UFPE, IAC, Fundaj). Após anos de atividades como teólogo da libertação no Nordeste Brasileiro, ele opta em 1995 definitivamente pela arte.
Roberto Ploeg se considera um pintor figurativo. Sua técnica é tradicional: óleo sobre tela. Motivos e temas da sua caminhada pessoal desafiam sua criatividade. Sua arte é engajada sem querer ser ideológica ou transformadora. Ele quer simplesmente testemunhar e analisar seu próprio tempo. Sua preferência é a figura humana, para ele “a primeira paisagem”.
Sua última exposição individual, “Pretextos”, foi em 2014 aqui na Arte Plural Galeria, evidenciou o teólogo-pintor, quando mostrou narrativas bíblicas em surpreendentes imagens contemporâneas.
Para saber mais sobre Roberto Ploeg AQUI
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