Romero Venâncio
Estava eu nesta manhã de quina (26/1) ensolarada no Nordeste rezando meu terço matinal e escutando o jornal do DCM (Dário Centro do Mundo) quando o jornalista Leandro Fortes coloca um vídeo de uma moça que soube depois ser de Santa Catarina, disparando uns dois ou três impropérios preconceituosos contra as pessoas da cidade de João Pessoa. A distinta acompanha o noivo que joga no time do Botafogo da Paraíba. A moça afirma categoricamente que os pessoenses arrastam a chinela todo o tempo (não sabem levantar os pés para andar, disse ela); tem um sotaque feio e que sentia falta de alguém para debochar de tudo isto. Esquece a bobinha que sotaque é o próprio Brasil. Não existe Brasil sem sotaque. Só os jornais ou as novelas da rede globo acreditavam nisto.
Morei uma década na cidade de João Pessoa. Conheço bem o Botafogo da Paraíba e ainda morei próximo à “maravilha do contorno”, como se diz por lá. Sempre trarei boas recordações de João Pessoa e de sua população (obviamente, a que conheci). Não acredito em “povo perfeito”, mas existem povos mais acolhedores que outros com os que não são “nativos”. João Pessoa é uma destas cidades acolhedoras.Esta distinta catarinense poderia, por exemplo, ao invés de viver falando merda em rede (dita) social, muito bem frequentar uma praia paraibana das melhores do nordeste chamada Tambaba. Lugar belíssimo e que se pode encontrar um peixe frito dos bons. Poderia ainda tomar um sol maravilhoso, contemplar a natureza (remédio natural para quem fala bobagem em rede social). Poderia ainda sair um pouco mais inteligente da praia. Acontece. Tambaba é tão massa que pode tornar alguém um pouco mais inteligente ou menos estúpido.
Mas o que preferiu a moça? Colocar em risco a carreira esportiva do noivo. Disparou uma animosidade contra ela e ele, sem tamanho e ainda veio na mesma rede social pedir desculpas pela desgraça feita e com aquele triste começo: “quem me conhece, sabe...”. Depois desta clássica frase de preconceituoso vem mais porcaria. Uma pena.
Culpa do bolsonarismo que assola este país desde 2016, 2017, 2018 e segue? Em boa parte, sim. Bolsonaro, Olavo de Carvalho e sua turma potencializaram estas coisas: uma divisão infeliz no Brasil, um ódio generalizado, um orgulho de ser preconceituoso e idiota, uma capacidade incrível de ser antipático e arrogante. Tudo isto já deveria existir no Brasil em proporções diferenciadas, mas o bolsonarismo concedeu régua e compasso a toda essa gente ressentida e careta e que precisava destilar estas desgraças em redes sociais e ainda acreditar que ficará sem punição alguma. A certeza da impunidade é o que sempre foi característica desta gangue.
Voltei a rezar meu terço depois de ter visto e pensado na triste cena. E coloquei esta moça nas mãos do demônio.
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