domingo, 15 de janeiro de 2023

O que aconteceu no infame 08 de janeiro de 2023 em Brasilia? O papel dos militares e outros atores politicos importantes.

 Audiências de presos no 8 de Janeiro e no QG seguem até 2ª Mutirão realizado por juízes federais e estaduais começou em 11 de janeiro; processo foi determinado por Alexandre de Moraes ...


Entre os principais acontecimentos desencadeados pelos ataques bolsonaristas estão a intervenção em Brasília decretada por Lula e a prisão do ex-ministro Anderson Torres


Xadrez do Exército e da tentativa de golpe, por Luis Nassif

Leniência com baderneiros permitiu que a serpente colocasse a cabeça para fora. Expôs de maneira inédita militares golpistas

Peça 1 – a estrutura do golpe
O golpe foi meticulosamente armado, porque com extensão nacional e mantendo o mesmo modelo em todos os estados. O golpe consistiu no seguinte:

Cooptação de militares – Montagem de acampamentos golpistas em áreas do Exército, com participação de famílias, idosos e aposentados. A seleção se deu por duas razões objetivas: oferecer blindagem da ocupação contra eventuais ações das prefeituras municipais, já que eram áreas militares; facilitar a participação de familiares de militares, sensibilizando os militares a aderir ao golpe – típica manobra de guerra híbrida. Militares atuaram também nos edifícios invadidos, para impedir a captura dos baderneiros e a entrada da Polícia Militar nos acampamentos, ou orientando os invasores do Palácio a fugirem. Em São Paulo, o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas segurou a remoção do acampamento em frente aos quartéis, até que os integrantes pudessem sair sem serem fichados.
Militares bolsonaristas – Várias manifestações de militares bolsonaristas, visando manter a vigília até o momento do golpe. Há vídeos mostrando o general Braga Netto e o próprio Bolsonaro criando expectativas.
Empresários – Financiamento das ocupações. De cidades do interior às capitais, o modelo era o mesmo, com banheiros químicos e esquemas de alimentação. As investigações certamente irão bater na barra pesada dos ruralistas, dos Clubes de Atiradores e Caça (CACs), mineradores clandestinos e empresários municipais. Enfim, os atores do que se sabia ser um governo de milicianos.
Acampados – Convocaram-se famílias, aposentados, idosos em geral, familiares de militares, visando sensibilizar as tropas nos quartéis. Manteve-se esse clima até a invasão, com a intenção de quebrar as noções de hierarquia e conseguir a adesão para o golpe. Típica manobra de guerra híbrida.
Invasores – Houve uma mescla covarde de famílias, com idosos e crianças, servindo de blindagem a baderneiros, o lumpen de várias cidades, todos confiando que o Exército iria garantir a invasão. Some-se a articulação do Secretário de Segurança do GDF, Anderson Torres, com o governador Ibaneis Rocha. Torres viajou de férias. Como poderia ter férias se havia assumido o cargo há poucos dias sem cumprir o interstício legal de 360 dias para gozar o direito? Chama atenção a completa irresponsabilidade de alguns militares com seus próprios familiares, colocando-os nas linhas de frente, correndo o risco de serem marcados como terroristas. Depois, quando chegou a PM, houve a ação desesperada de coronéis, tentando evacuar os baderneiros.

Os guardiões dos templos – Finalmente, a cooptação dos militares incumbidos da defesa do Palácio do Planalto, deixando-o totalmente desguarnecido.
Os estrategistas – É evidente que o planejamento foi militar, a começar da montagem nacional de acampamentos em áreas militares, com familiares chamando os parentes para o golpe, a concatenação da invasão com o desmonte da PM de Brasília e da defesa do Palácio do Planalto.





Peça 2 – a resistência democrática
A leniência com os baderneiros permitiu que a serpente do golpismo colocasse a cabeça para fora da toca. Inclusive expôs de maneira inédita parte dos militares golpistas. Inaugura, também, uma nova era política – que alguns analistas estão batizando de governo Lula 4.

Nosso colunista Luiz Alberto Melchert levanta um ponto relevante para organizar a política dos novos tempos:

“Assim como a direita usa a figura do comunismo para catalisar a população em torno dos seus interesses, nós temos de usar a destruição para catalisar a população contra a extrema-direita. Assumir um inimigo é que tem mantido os Estados Unidos coesos. Primeiro foi a União Soviética, depois os árabes, hoje a China. 

Sem um inimigo real ou imaginário, o sistema não se sustenta. A tentativa de golpe e a destruição devem estar sempre na argumentação dos democratas para servir de vacina, que não dura mais de um ano. Os escândalos a serem descobertos precisam ser servidos um a um, sempre com 8 de janeiro como molho”.

De fato, o vandalismo produziu uma união inédita entre todos os poderes, partidos políticos e mídia, desmontou o esquema de acampamentos, enfraqueceu eventuais propósitos golpistas das Forças Armadas e transformou o bolsonarismo, definitivamente, em inimigo da democracia. A ordem de prisão de Anderson Torres – por causa mais que justificada – abre espaço para uma ofensiva sem precedentes contra a estrutura miliciana montada pelos Bolsonaros.

Haverá farto material, tanto nos celulares dos invasores quanto nos dos 8 baderneiros que provocaram incêndios em Brasília anteriormente. Alexandre Morais autorizou a Polícia Federal a quebrar o sigilo telefônico não apenas deles, mas de todas as pessoas que mantiveram contato telefônico com os terroristas. Dificilmente o Gabinete do Òdio e a família Bolsonaro escaparão desse escrutínio.

Em suma, foi uma operação tão Tabajara que suscitou em alguns adeptos da teoria da conspiração a tese de que houve uma Revolução Colorida às avessas visando desmontar a ultra-direita brasileira. Bolsonaro é tão sem-noção que chegou a publicar um tuite questionando novamente as eleições, apagando-a em seguida.

Peça 3 – os rachas na frente
Passado o impacto do episódio, se entrará no mundo real, com as diferenças que marcam o grande arco de alianças, especialmente em relação aos temas econômicos.

De qualquer modo, os episódios reforçam a necessidade de Lula assumir medidas que aliviem o peso da crise econômica sobre a população.

Ainda é cedo para saber quando e como serão recebidas as propostas de incluir os ricos no Imposto de Renda e os pobres no orçamento.







Lula fala sobre eleições, Forças Armadas e Bolsonaro em café com jornalistas






Fascismo: os tentáculos do golpe na PM e Exército
Novos fatos indicam que redes de ultradireita veem no Brasil laboratório para tomada de poder por meios brutais. Imagens e vídeos apontam: havia atitude clara – inclusive no Batalhão de Guarda Presidencial – de permitir o caos

Três enormes torres de transmissão de energia foram derrubadas entre domingo e segunda-feira – duas em Rondônia e uma no Paraná. Esta última conduz eletricidade gerada na hidrelétrica de Itaiupu, a segunda maior do planeta. O objetivo, não concretizado, era provocar um apagão que sugerisse um país descontrolado e ajudasse a criar ambiente para a “intervenção militar”. Além disso, a Advocacia Geral da União (AGU) pediu ontem ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que tome providências para impedir novas ações golpistas, que estariam planejadas para esta quarta-feira. Falta, à tentativa de golpe no Brasil, capacidade de mobilização popular. Mas, como alertou ontem Boaventura Santos, a ultradireita pode ter visto no país um novo laboratório onde testará estratégias de tomada do poder por meios antidemocráticos e brutais. Três matérias publicadas hoje na imprensa apontam as conexões deste experimento nas Polícias Militares e no Exército.

As repórteres Amanda Rossi e Lúcia Valentim Rodrigues revelam, em reportagem no portal UOL, que a ação do último domingo foi planejada em detalhes e – detalhe essencial – previa eclosão de violência. As jornalistas tiveram acesso a grupos formados no Instagram para orientar a ação de grupos golpistas que se deslocaram de várias partes do país. Havia inclusive mapa atualizado em tempo real para coordená-los. Atos como a “ocupação” e vandalização do Congresso Nacional estavam claramente desenhados. Detalhe crucial: a mobilização popular fracassou. As mensagens imaginam, de modo delirante, “milhões” em Brasília. As fotos sugerem que havia em torno de 5 mil pessoas, mas é possível imaginar o que ocorreria se o plano se concretizasse.

Ontem, Ricardo Capelli, o interventor nomeado por Lula para comandar a segurança pública no Distrito Federal, deu detalhes sobre a participação destacada do ex-secretário de Segurança Pública do DF na trama. Anderson Torres exonerou, no dia 2 de janeiro, toda a linha de comando da PM. Em seguida, viajou à Flórida, onde teria se encontrado com Jair Bolsonaro. E foi no dia 7, horas antes da chegada das hordas golpistas a Brasília, que o governo do DF alterou, sem aviso prévio, o esquema de segurança da Esplanada dos Ministérios, permitindo a entrada de supostos “manifestantes”. Torres, cuja prisão preventiva está decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, segue foragido nos EUA até a manhã desta quarta-feira (11/1).

Deve-se aos jornalistas Dimitrius Dantas e Katlen Barbosa o detalhamento, em matéria publicada hoje no Globo, do que suas ordens significaram na prática, na tarde fatídica do domingo. Depois de analisar dezenas de vídeos e fotos, os repórteres demonstram que o governo do DF tinha informação plena sobre o que se preparava em Brasília. Ainda assim (ou exatamente por isso…), um policial subiu no palanque golpista montado diante do QG do Exército para dizer que a tropa iria “colaborar, ajudar e fazer segurança”. Dito e feito: os bloqueios policiais que teriam impedido o saque da Praça dos Três Poderes nada fizeram. E as imagens demonstram que, após consumarem a invasão dos prédios públicos, os criminosos são orientados pelos PMs sobre que direções tomar. Os “agentes da lei” sorriem e fazem sinais de positivo.

Mas a matéria mais devastadora é do colunista Guilherme Amado, no site Metrópoles. Ela documenta a atitude passiva-atônita adotada, diante da tentativa de golpe, pelo Batalhão de Guarda Presidencial, a tropa formada há 200 anos por D. Pedro I com a missão específica de proteger a sede do governo. Amado obteve um vídeo gravado no meio da tarde, quando a atitude da PM havia mudado: após o decreto de intervenção de Lula, Ricardo Capelli articulava a retirada dos invasores. Mas o batalhão do exército mantinha-se inoperante. Dá-se, então, uma cena insólita. Um oficial da PM, ainda não identificado, vê-se obrigado a comandar, ele próprio, um grupo de cerca de vinte soldados que até então estava prostrado. “Comanda tua tropa, porra”, ordena o PM ao chefe dos militares, e detalha: “Bora, Exército, faz a linha, porra, fecha a linha aí! Para de frouxura, caralho!”. Só então, mostra o vídeo, os soldados começam a agir.

Um fato intriga, desde domingo, os que analisam os acontecimentos daquele dia. Por que autoridades com mandato, como o governador do DF, Ibaneis Rocha, atreveram-se a ser cúmplices de um atentado na aparência patético, praticado em grande parte por senhores em terceira idade? As novas revelações e a derrubada das torres elétricas confirmam a hipótese de Boaventura: o Brasil pode ser hoje o laboratório de horrores do fascismo. A situação dramática do país – onde há clara percepção de que o sistema político volta as costas à maioria – contribui para a trama. O esforço de reconstrução será imenso e, para se defender, a democracia precisará reinventar-se . Mas há muitas razões para celebrar a primeira vitória.


O ministro da Justiça, Flávio Dino, em entrevista à TV 247, contou os bastidores da reação do governo Lula à tentativa de golpe bolsonarista no dia 8 de janeiro, quando terroristas invadiram as sedes dos três poderes e depredaram o patrimônio público.


Dino conta ao 247 como reagiu ao golpe: "fizemos a intervenção pelo WhatsApp"
Segundo o ministro da Justiça, o golpe bolsonarisa só foi evitado por conta "da rápida decisão de decretar intervenção federal"
12 de janeiro de 2023, 19:46 h Atualizado em 12 de janeiro de 2023, 20:27

247 - O ministro da Justiça, Flávio Dino, em entrevista à TV 247, contou os bastidores da reação do governo Lula à tentativa de golpe bolsonarista no último domingo (8), quando terroristas invadiram as sedes dos três poderes e depredaram o patrimônio público.

Segundo Dino, faticamente, houve um golpe de Estado, mas juridicamente não. "Eles tomaram conta simultaneamente das sedes dos três poderes", disse Dino. "Juridicamente, em face de alguns elementos o golpe não se viabilizou". 
 
Dino acrescentou que o golpe só foi evitado por conta "da rápida decisão de decretar intervenção federal e assumir o comando da segurança do DF". 

"Isso foi enviado por WhatsApp ao presidente Lula, e ele me perguntou: 'Flávio, como eu assino?'. Eu disse: 'Presidente, assine e me mande a foto, porque decreto no meio de uma emergência dessa vale'", contou Dino. "Não tinha nem lugar para numerar o decreto. Vai assinar eletronicamente como?". 

"Havia WhatsApp. Em 1964 não havia. Nós fizemos uma intervenção federal por WhatsApp, mas era o que tinha no momento. Ou era assim ou não era", complementou. 

Documentos da Assembleia Constituinte revelam que deputados discutiram e descartaram papel moderador Forças Armadas
Adriana Cecilio Marco dos Santos
Pesquisamos estes arquivos a fim de encontrar o animus legis do artigo 142 da Constituição Federal Brasileira, com o intuito de dissipar eventuais dúvidas interpretativas em relação à competência atribuída às forças armadas.
sexta-feira, 5 de junho de 2020


Eles se recusam a viver juntos: o sentido do golpe demente. Por Leonardo Boff

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