Silvaney Silva Santos
O objetivo deste artigo é mostrar aspectos da política adotada por Inácio Joaquim Barbosa desde a sua chegada em 1853, até a mudança da capital sergipana em 1855. Este texto toma como referências o livro “Aracaju e outros temas sergipanos” de José Calazans Brandão da Silva, publicações do jornal CINFORM de 2003, a obra "Esboço Biográfico de Inácio Barbosa" do santamarense Pe. Aurélio Vasconcelos de Almeida e o livro “Destino da província” de José Augusto Garcez, 1954. A discussão gira em torno dos seguintes questionamentos: Quem teria sido o pai da criança? O presidente nomeado? Ou este teria sido marionete de um barão?
O fato é que em 1853 o Brasil passava por mudanças. A indústria começava a dar um sinal de animação. Vivíamos a "era Mauá". A locomotiva era um sinal significativo dessa era. Antes da chegada do presidente Inácio Joaquim Barbosa em terras tupiniquins, os partidos políticos, Liberal e Conservador, eram verdadeiras facções em busca do poder. Logo, o governo precisava adotar uma política conciliadora, que pudesse apagar rancores. Esta política chegou a Sergipe através do então presidente, um homem que “possuía muita literatura”, dominava os idiomas francês, inglês, latino e italiano.
Inácio foi nomeado presidente da Província sergipana no dia 7 de outubro de 1853 tomando posse em 17 de março do mesmo ano. O recente presidente mostrou-se um grande articulador político; conservou a tranquilidade pública, estabeleceu a segurança individual e de propriedade, diminuiu o número de crimes, apelou para o governo o aumento de verbas para as despesas e aumentou o número de policiais. Desta forma Inácio Barbosa procurava resolver os problemas da Província usando a inteligência de um homem que sabia o que queria.
Após acalmar os ânimos dos partidos, Inácio Barbosa procurou organizar a política econômica de Sergipe. Na expressão de Calazans (1992), Sergipe “era o açúcar”. Porém, o presidente estudou o problema deste produto no contexto brasileiro, que na ocasião estava em crise, perdendo para a Inglaterra na concorrência e a carência de braços devido à abolição do tráfico negreiro em 1850 contribuiu para isso. Para solucionar o problema do açúcar, Inácio reduziu o imposto sobre o produto, junto a isso, se preocupou com o fabrico do açúcar tentando modernizar os engenhos com máquinas trazidas da Europa. O presidente Inácio Joaquim Barbosa via Sergipe totalmente preso economicamente à Bahia. Primeiro, havia uma submissão dos senhores de engenhos sergipanos aos trapicheiros baianos. Segundo, a inexistência de um comércio com os estrangeiros. O sistema econômico com a Bahia era desvantajoso, sendo os produtores sergipanos lesados na pesagem do açúcar.
Diante disso, o então presidente provincial procurava melhorar as barras para atrair os navios estrangeiros e comercializar de forma mais vantajosa com o estrangeiro. O presidente tentando satisfazer a gregos e troianos, organizou uma Companhia de Reboque a Vapor, chamando pessoas influentes de todos os partidos; nomeou-se uma comissão provisória composta pelo Barão de Maruim, coronel Cardoso de Araújo Maciel e Antônio Freire de Matos Barreto. Logo, ficou acertado que o local ideal era a Barra do Cotinguiba por ser a mais movimentada e de mais prosperidade econômica, nesta localidade ficava o povoado Santo Antônio do Aracaju. O topônimo "Aracaju” devido à presença de grande quantidade de papagaios e cajueiros, daí, na língua indígena, Aracaju. Nessa região havia a presença francesa os quais vinham explorar o pau-brasil, a pimenta e o algodão através do trabalho indígena. Os traficantes só deixaram de explorar a barra do rio Sergipe, depois que Cristóvão de Barros venceu os índios de Baepeba e fundou a cidade de São Cristóvão em 1590.
Existem controvérsias a respeito da localidade escolhida pelos vencedores. Alguns defendem a tese de que as cidades eram localizadas em locais mais afastados do mar devido ao medo de ataques dos piratas e de contrair a febre, doença comum na época. Devido a isso as cidades brasileiras eram edificadas na parte mais alta para defender-se dos inimigos. Mas em fins de 1854, a povoação de Santo Antônio do Aracaju já possuía centenas de moradores, gente humilde, pescadores e oleiros que moravam em casas de palha, a localidade, próxima à Barra do Cotinguiba, era privilegiada para o escoamento do produto mais importante da época, o açúcar.
O tema da mudança da de São Cristóvão para Aracaju em 17 de março de 1855, é um dos mais explorados pelos historiadores. São vários posicionamentos sobre a dita mudança, o historiador e político Felisbelo Freire defende a tese de que a mudança da capital não foi uma iniciativa de Inácio, mas sim, de interesses políticos e individuais. Contrário a tal argumento, o primeiro historiador de Sergipe, Antônio José da Silva Travassos, defende que o presidente Inácio Barbosa influenciou o Barão de Maruim a ser favorável à mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju. Segundo Calazans fica claro, com as declarações de Travassos, a verdadeira autoria da remoção.
A tese de que Inácio foi influenciado pelo Barão de Maruim, segundo Calazans é injusta. Conforme o autor, o Barão era um homem generoso e não seria capaz de levar a frente um plano de tão sérias consequências, visando unicamente valorizar terrenos que possuía em Aracaju. O supracitado autor afirma que João Gomes de Melo já era um homem de recursos, na época o mesmo estava gastando muito na construção da igreja Matriz de Maruim.
O plano da mudança foi previamente traçado e estudado por Inácio Barbosa. O momento histórico que o Brasil passava era favorável para isso, como já foi evidenciado, vivíamos na era Mauá, tempo de progresso, desenvolvimento e conciliação, estas foram características marcantes da década de 50.
Há vinte anos antes da mudança da capital passávamos por um momento conturbado da nossa história, o Período Regencial, que foi marcado pelo derramamento de sangue e grandes agitações políticas. Em Sergipe tivemos a Insurreição de Santo Amaro, filha da ganância de grandes proprietários de terras e
das frequentes fraudes eleitorais, processo que levou à decadência da próspera Vila de Santo Amaro das Brotas. Um outro ângulo que deve ser observado para entendermos a mudança da capital são as localizações das cidades no século XIX. Estas passaram de cidades-fortalezas para cidades-portos devido à abertura cada vez maior dos mercados com a intensificação do capitalismo. Como exemplos de tais mudanças tivemos, de São Cristóvão para Aracaju, de Olinda para Recife e de São Vicente para São Paulo.
Partindo para aspectos mais locais, São Cristóvão encontrava-se em uma situação decadente. A antiga capital dependia de marés, tendo muita dificuldade para navegação, sua posição geográfica não favorecia a Província, sendo imprópria naquele momento como capital de Sergipe. Segundo Calazans era impossível São Cristóvão acompanhar as ideias da época.
Conforme o autor, a ideia da mudança era antiga, tal medida já havia sido pensada em 1832 por Gaspar de Almeida Boto, o qual defendia Laranjeiras como o local propício para ser a capital da Província. Em 1846, o engenheiro João Bloem apresentou ao presidente da Província a planta do Porto das Redes para a futura edificação da nova capital. Essa localidade correspondia, e ainda corresponde, a Vila de Santo Amaro (hoje cidade!). Tínhamos, com isso, as principais regiões para que fosse instalada a nova capital, Laranjeiras e Santo Amaro, ambas do vale produtor de cana de açúcar, o Cotinguiba. Mas o presidente Inácio Barbosa transferiu a capital para o lado do povoado do Aracaju, por suas boas águas, pelo bom ambiente e principalmente, por estar mais próxima da Barra do Cotinguiba, localidade ideal para a exportação do açúcar para o estrangeiro, libertando-se das amarras da Bahia.
Calazans faz, de maneira contextualizada, uma análise das causas da mudança que vão de encontro com a tese do professor Dênio Azevedo, o qual publicou no CINFORM, em 17 de março de 2003, nos 148 anos de Aracaju, uma matéria, que dizia que a mudança foi um simples “capricho do Barão” , fato contestado pela historiadora Maria Thétis Nunes, a qual publicou para o mesmo jornal, na mesma data, que Inácio Barbosa era um progressista e “não foi ele um aventureiro ou um inconsequente, uma manivela do Barão de Maruim”.
Diante de todo este contexto, pode-se concluir que a partir da chegada de Inácio Barbosa, Sergipe não foi mais o mesmo, passou de uma economia dependente para uma independente; de uma Província conturbada para uma apaziguada; de uma época atrasada para uma desenvolvida. Em suma, não se pode deixar de reconhecer
a importância da figura de Inácio Joaquim Barbosa para o desenvolvimento econômico e político de Sergipe. Os seus feitos lhe renderam um monumento nas imediações do Cotinguiba e do Iate Clube de Aracaju, na avenida Ivo do Prado. Teria Inácio sido colocado no ostracismo propositalmente? Parte da historiografia sergipana leva a crer que sim.
Parabéns Aracaju pelos seus 168 anos!!!
SANTOS, Silvaney Silva. Inácio Joaquim Barbosa, da chegada à mudança. Disponível em: http://infonet.com.br/blogs/alcool-velocidade-e-direcao-nao-e-fatalidade/. 2014.
ALMEIDA, Aurélio Vasconcelos de. Esboço Biográfico de Inácio Barbosa. Aracaju: J Andrade, 2003.
GARCEZ, José Augusto. O Destino da província. Aracaju: MCS, 1954.
JORNAL CINFORM, 17/03/2003.
SILVA, José Calazans Brandão da. Aracaju e outros temas sergipanos. Aracaju: Governo de Sergipe: FUNDESC, 1992.
https://www.youtube.com/watch?v=fdMqa1Kkz1w
https://www.youtube.com/watch?v=wyIWpq3n_ec
https://www.youtube.com/watch?v=wJoin4J9vr4
https://www.youtube.com/watch?v=RP91PKdv5eU
https://www.youtube.com/watch?v=f0WdL3FhDYM
https://www.youtube.com/watch?v=f_tBWh398xc
https://www.youtube.com/watch?v=eGa1Zt877FU
https://www.youtube.com/watch?v=JcAy2tFXoXg
https://www.youtube.com/watch?v=HZzGO4MmTbM
https://www.youtube.com/watch?v=MOSO5eij1B4
Aracaju nos seus 150 anos e a cultura que fica.
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
Para resumir o motivo pelo qual o texto está sendo reeditado na íntegra, aqui no Overmundo, podemos lembrar da frase de uma composição do Legião Urbana: “Mudaram as estações e nada (ou quase nada) mudou” na área da ação cultural transformadora e inclusiva.
O que nos deixa perplexos é o fato de que a cidade, sendo governada desde o ano 2000 por uma aliança de partidos de esquerda, ainda não atendeu aos anseios de quem tanto esperou e espera do grupo.
Afinal, a expectativa era de que o segmento artístico/cultural fosse considerado prioridade no governo da mudança. Mas o que se percebe é que na área da cultura quase tudo está por fazer.
Esperamos que nos próximos aniversários, possamos registrar o melhor e mais duradouro presente, que são as políticas públicas de cultura à altura da importância que a área requer no atual momento histórico nacional e mundial.
Enquanto isso não acontece, continuaremos como propõe o ditado popular jogando “água mole em pedra dura, que tanto bate até que fura.”
Esperamos que muito mais gente se some, para que nos transformemos em uma forte correnteza que provoque uma real mudança de atitude, muito além da retórica, por parte dos nossos companheiros e camaradas.
Eis o texto. Que também pode se chamar:
Aracaju nos seus 152 anos e a cultura que fica.
Os casais sabem que nas relações de amor um dos aspectos mais importantes, e que deixam marcas muito fortes na memória, é o entrosamento do casal na cama. Existe até um ditado que se refere a isto como o ‘amor que fica...’.
Como cultura é uma palavra feminina, e Aracaju também, tanto que nas peças publicitárias referentes ao aniversário dos 150 anos a nossa cidade é apresentada como uma bela menina, penso que o referido dito popular, nesse caso, pode ser aplicado à cultura também.
Concordo com o prefeito Marcelo Déda, no estilo dado às comemorações do aniversário da nossa cidade, com as tradicionais entrega de medalhas, alvoradas, corridas e shows musicais. Eu não faria diferente, afinal este tipo de programação me lembra as declarações de amor, as flores, os bombons e os bichos de pelúcia que quase toda mulher gosta de receber. O problema é que apenas isso não sustenta uma relação que se quer firme, duradoura e inteira.
Mas e a cultura que fica? Como nas coisas do amor , vai muito além dos eventos que o Governo do Estado ou Prefeitura estão oferecendo para celebrar o aniversário da nossa bela menina.
A cultura que fica é aquela que garante um orçamento digno para o crescimento e sustentabilidade deste setor no município. A cultura que fica é aquela que coloca em prática leis de fomento aprovadas pela Câmara Municipal, como à de incentivo à cultura e a que institui o ‘Programa VAI’ que apóiam, respectivamente, as iniciativas dos artístas profissionais e dos artistas e/ou grupos culturais emergentes da periferia.
A política cultural que fica prepara agentes culturais, incluindo gestores municipais, para melhor planejar e administrar o setor na cidade. A política cultural que fica se propõe a construir um teatro municipal.
E, principalmente, a política cultural que se quer firme, duradoura e inteira consulta os artistas, produtores culturais, intelectuais e as lideranças comunitárias para ouvir e atender as suas demandas, utilizando como pressuposto que cultura não é gasto, e sim investimento que resulta na melhoria da qualidade de vida da nossa população e daqueles que nos visitam.
A política cultural que fica é tarefa dos vereadores, que precisam discutir e aprovar a proposta de lei encaminhada pela ECOS - Entidades Culturais Organizadas - no ano de 2003, instituindo o Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, conhecido no meio artístico de nossa cidade pela sigla FICA.
Do contrário, é alimentar, em relação à cidade, uma opinião/atitude do machão brasileiro, que vem desde os tempos do Brasil-Colônia, ao afirmar a existência de dois tipos ideais de relação com as mulheres: a de um casamento formal com uma e as relações extraconjugais com outras. As primeiras são as esposas que cuidam da casa e dos filhos. As outras para todo o prazer que houver nessa vida.
Trazendo o exemplo para Aracaju, moramos, trabalhamos, descansamos e, de vez em quando, namoramos com a nossa menina. Já com as outras (Salvador, Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo) nos divertimos, nos esbaldamos e nos deliciamos pra valer. E, neste caso, vale tanto para quem gosta de lixo cultural como para quem gosta da “papa fina”, do “biscoito fino”, da cultura brasileira e universal.
Se no campo das relações conjugais muitos homens e mulheres estão conseguindo ser completos e viver juntos com plenitude, contribuindo para um novo modo de relacionamento que pode dispensar a necessidade de amantes, penso que o mesmo vale para a nossa capital.
Neste sentido, queremos Aracaju por inteira, dando e recebendo tudo do bom e do melhor nos dois planos: afetivo/sexual e cultural.
TE AMO MUITO ARACAJU.
P.S.: O prefeito atual de Aracaju é Edvaldo Nogueira do PC do B, que foi reeleito em 2004, como vice-prefeito na coligação PT-PC do B. O prefeito na época em que esse texto foi escrito, Marcelo Déda (PT), atualmente é o nosso governador.
O Programa VAI de Aracaju, inspirado em proposta do mesmo nome do município de São Paulo, foi tranformado em lei através da Câmara Municipal no ano de 2003 e aguarda ser retirado da gaveta pela Fundação Municipal de Cultura (Funcaju).
O FICA ficou parado em uma das comissões na Câmara Municipal, espera-se que com a posse de um suplente de vereador, Chico Buchinho, identificado com as demandas do meio artistico/cultural, o projeto possa andar.
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