sábado, 11 de março de 2023

Nota de Repúdio à Programação do Aniversário de Aracaju


Sabemos que é por meio da cultura que identificamos e celebramos o nosso povo. É no encontro promovido pelas linguagens artísticas que conseguimos nos reconhecer como parte do mesmo organismo, como membros de um mesmo local. Mais do que isso, a cultura promove conhecimentos múltiplos é cúmplice na efetivação de ações sociais, movimenta a economia. A nossa cultura sergipana é o nosso legado identitário, social e político e merece ser cultuada todos os dias e em eventos que promovam a nossa sergipanidade, deve ser presença obrigatória e não apenas cumprir uma pequena cota.

É com insatisfação que vemos o anúncio da programação do aniversário da cidade de Aracaju ser composta de forma a desconsiderar as diversas linguagens que existem e mantém viva as manifestações de nossa gente. Uma programação que, assim como as incipientes ações da Funcaju, não dialoga com os fazedores de arte do município e  nos mostra que a cultura não tem sido uma pauta de governo, nem recebe o protagonismo merecido sequer nas raras ocasiões em que se utiliza dela para promover EVENTO.  É revoltante perceber que mesmo nos é-ventos – ações pontuais, que passam como o vento como já está inscrito na palavra, ao contrário de políticas públicas que promovem a manutenção de uma sociedade – a parte que cabe à nossa arte é minimizada.

Repudiamos a programação de aniversário de Aracaju porque não lança um olhar para a nossa produção, nem conclama a sociedade civil a se identificar nas suas diversas linguagens, como o teatro, a dança,  o audiovisual, o circo, as artes visuais,  o artesanato, as manifestações populares, a literatura, entre outros. A  programação de aniversário da nossa cidade deve e merece ser múltipla, valorizando todos os setores, movimentando os fazedores e, também – embora os gestores parecem não saber – movimentam a economia. 

Repudiamos a falta de representatividade da nossa cultura, mesmo nas janelas que nos cabem nessas  programações e que são oferecidas como esmola, sem que sejamos os protagonistas como deveria ser. É o que acontece com o setor musical, que embora presente na programação lançada não faz jus à diversidade e potência da cena local.

Repudiamos a falta de conhecimento da nossa arte e de seus fazedores por parte dos gestores, inclusive daqueles que deveriam dialogar conosco e promover nosso trabalho, garantindo a perpetuação de nossas práticas. Precisamos que a atual gestão da Funcaju cumpra com seu papel, promova políticas públicas efetivas, cuide dos aparelhos de cultura abandonados - ou nos conclame para gestar  junto -, convoque os artistas para a construção coletiva, promova editais para seus é-ventos, escute e trabalhe para as nossas demandas. 

Faltam alguns dias para o aniversário da cidade de Aracaju e ainda é tempo de repensar a programação lançada, ainda é tempo de convidar de fato os artistas para a celebração, ainda há tempo de escutar aqueles que merecem estar presentes na festa. Esperamos que seja a última vez que precisamos demandar energia para repudiar atos que deveriam promover encontros, mobilizar pessoas e difundir nossa cultura. Esperamos que as nossas práticas sejam valorizadas para além dos discursos, que estejamos PRESENTES na atual gestão do município, pois sabemos da nossa importância.

Ainda há tempo!

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