https://www.youtube.com/watch?v=QQD_mYIV_oA
A Bahia e seu Futuro
Juca Ferreira
A Bahia, ou melhor, Salvador e a região do Recôncavo está se transformando em um balneário de segunda…
A cidade da Bahia vem perdendo densidade cultural e se apequenando.
Daqueles balneários mal administrados, tudo mais ou menos, nada funcionando direito. Sufocando o lado mais profundo, mais bonito, mais perene, mais atraente.
Sofro com isso.
Não foi sempre assim..
Escrevendo esse comentário me lembrei do amor e do afeto que Salvador e sua cultura despertava em muita gente boa. Lina Bardi, Pablo Neruda, Sartre e Simone, Einstein, Charles Darvin, Mick Jagger, Jimmy Cliff, Caribé, Verger… Tudo na Bahia parecia singular e significativo, divino e maravilhoso. E, de certa maneira, até a década de 60, era. Conheci na década de 80 um líder religioso da Índia que me disse que, se o corpo da terra tem meridianos e pontos de energia como o corpo humano, Salvador seria um desses pontos de energia do planeta.
A cultura vem aos poucos se banalizando no pior sentido da banalização.
Quase tudo está virando mercadoria sem qualidade, bugiganga, quinquilharia.
Esse processo não é uma fatalidade. Não precisava ser assim, nem é necessário continuar nessa pegada.
Falta um olhar carinhoso, qualificado, atento, que seja sensível e reverente ao que temos de melhor e mais profundo. Um olhar que veja e valorize o belo, o que é culturalmente significativo e que esteja à altura do legado cultural dos nossos antepassados. Não é todo lugar que tem uma cultura popular tão sofisticada e diversificada.
Poetas, cineastas, escritores, dançarinos, pintores, escultores…
O Recôncavo certamente é um dos territórios mais densos culturalmente do Brasil. O Recôncavo poderia ser considerado patrimônio da humanidade.
Salvador, Cachoeira, São Francisco do Conde, Sto Amaro, São Félix, Maragogipe etc.. fazem parte de um patrimônio ao relento, sem o devido cuidado.
Teríamos que pensar em políticas articuladas, viabilizando um desenvolvimento potente, socialmente comprometido com esse povo lindo, como diz a música de Lazzo e Jorge Portugal, impregnado de justiça social.
Capaz de promover um turismo e toda uma economia capaz de viabilizar e fortalecer essa cultura afro-brasileira com elementos lusitanos e indígenas que herdamos da trágica e complexa experiência do período colonial.
Teríamos que aprender a preservar as infinitas belezas naturais e transfomá-las em ativos econômicos sem degradar nem privatizar.
A economia cultural e criativa tem um potencial enorme de alavancar toda a região, associada a uma educação de qualidade para todos.
E, um investimento pesado na cultura, epicentro desse projeto, associada a uma educação de qualidade para todos.
Toda vez que vou pegar o ferry, me lembro da música de Zé Ramalho que fala da vida de gado, vida feliz.
E não estou convencido que essa ponte que querem construir seja a saída…
A Bahia de Todos os Santos, a maior baía e mais bela do Brasil, física e historicamente articuladora em todos os sentidos desse ecossistema sociocultural do Recôncavo, vai virar uma poça d’água, apenas um obstáculo natural a ser transposto pela ponte.
Desde a época dos governos militares, quando optamos em substituir o Recôncavo como unidade de planejamento pelo conceito abstrato, anódino e tecnocrático de região metropolitana, abrimos as portas para que o nossos maiores tesouros fossem desconsiderados e virassem uma externalidade.
Salvador e todo o Recôncavo não é um simples entroncamento.
É o coração, o epicentro da formação do Brasil, é onde o Brasil é mais Brasil, é aí que a porca torceu o rabo, que o Brasil virou o que é, o Brasil.
A importância dessa estrutura cultural amalgamada com seu território e toda a natureza é um dos fundamentos mais fortes da nação.
Sonhei que nossos governos iriam corrigir esse erro tecnocrático, essa visão burocrática.
Afinal de contas, a região metropolitana só pode ser bem compreendida a partir do conhecimento do terreno físico, ecológico, social, econômico e cultural.
A erosão de tudo que é belo e significativo na natureza, na sociedade e particularmente na cultura segue de forma acelerada. E, a cada grande projeto empresarial e governamental, movidos pela usura e a monetização desenfreada de todos os bens simbólicos e naturais, sem consciência dessa nossa grandeza cultural singular, representa perda de grandeza, de qualidade de vida e de oportunidades.
O que deveria ser o ponto de partida, o estágio seminal do planejamento e de todas as políticas públicas, inclusive do nosso desenvolvimento econômico, não são consideradas e quando aparecem, é como um adereço, externo ao núcleo de considerandos e referentes.
Conversei com Maria Brandão na época do governo Lídice e ela já tinha, fazia tempo, textos sobre esse erro.
https://www.youtube.com/watch?v=MezlseRQ1KQ&t=5s
https://www.youtube.com/watch?v=lf2m_YJb76Y
https://www.youtube.com/watch?v=eIMLc-Xo-PY
https://www.youtube.com/watch?v=Ayv1WGtU14Y
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Comentários recebido no whatsapp
O CAPITALISMO transforma as instituições e pessoas. O turismo mercenário chegou na Bahia, em Recife você ainda é tratado como gente, na Bahia você é mercadoria.
Já tive a experiência por duas vezes e não voltei mais lá.
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Como tudo tem passado tão despercebido e perigosamente entre nós. Realmente!!
Como diz o Chico: "tem que distrair para entregar"
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