(Breve reflexão para crentes ou não)
Nesse último domingo de setembro ecoa, em milhares de comunidades de fé, mais uma parábola de Jesus (Mt, 20, v. 1 a 16).
Mateus 20
A parábola dos trabalhadores na vinha
1 Porque o Reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha.
2 E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha.
3 E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça.
4 E disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram.
5 Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo.
6 E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia?
7 Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha e recebereis o que for justo.
8 E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos derradeiros até aos primeiros.
9 E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um;
10 vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas, do mesmo modo, receberam um dinheiro cada um.
11 E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família,
12 dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia.
13 Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajustaste tu comigo um dinheiro?
14 Toma o que é teu e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti.
15 Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?
16 Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.
O pedido dos filhos de Zebedeu
17 E, subindo Jesus a Jerusalém, chamou à parte os seus doze discípulos e, no caminho, disse-lhes:
18 Eis que vamos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e condená-lo-ão à morte.
19 E o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará.
20 Então, se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o e fazendo-lhe um pedido.
O Mestre, pedagógico, compara o Reino de Amor, Justiça e Plenitude, aspiração de todo ser humano, a uma vinha cujo dono vai contratando trabalhadores para o cultivo.
Ele combina o pagamento e os camponeses vão chegando em diferentes horários para a jornada.
Ao fim do dia, os primeiros percebem que receberam o mesmo que os desempregados chamados por último.
Claro que os que "ralaram" o dia inteiro, "na fadiga e no calor", reclamaram.
Mas o dono da vinha disse a um deles: "amigo, não estou sendo injusto, pois paguei o acordado. É meu direito dar aos que chegaram por último a mesma coisa. Está com inveja porque fui bom?".
E Jesus, na contramão do pensamento dominante (da época e de hoje), conclui: "os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos".
Ele falava de um Deus generoso, que acolhe a tod@s. E chacoalha as hierarquias: tem predileção pelos deserdados, abandonados, esquecidos, invisibilizados.
Ele falava, e segue nos alertando, sobre os excluídos da (des)ordem injusta, os largados nas praças sem trabalho e sem direitos, o(a)s discriminados de todo jeito.
E dá a eles, na parábola, condições de dignidade e sobrevivência, para escândalo dos que se julgavam melhores, com privilégios na Terra e cadeira cativa no Céu...
Esta passagem é um chamamento para que olhemos à nossa volta, e não para o próprio umbigo. Para que superemos a "religiosidade de mercado", tacanha, egoísta, da salvação individual. Ou a prática - que o capitalismo estimula - de só cuidarmos dos nossos próprios interesses. Para percebermos a alteridade, a diversidade do semelhante, e sua condição inaceitável de marginalização - que atinge povos, segmentos e pessoas, a multidão dos "últimos".
Ao ler essa parábola, que intrigou os discípulos, lembrei de uma canção de Gilberto Gil, "Copo Vazio":
É sempre bom lembrar
que um copo vazio
está cheio de ar
É sempre bom lembrar
que o ar sombrio de um rosto
está cheio de um ar vazio
vazio daquilo que no ar do copo
ocupa um lugar
É sempre bom lembrar
guardar de cor
que o ar vazio de um rosto sombrio
está cheio de dor
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa uma metade da verdade
a verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, o todo poderoso Amor!
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