quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Como Santo André referência do modo petista de governar se transformou em um antro da direita?

Eleições 2020 - PT não elege prefeito de capitais pela 1ª vez desde a redemocratização 

Assim como Porto Alegre, Santos e outras cidades brasileiras..

O que aconteceu? como aconteceu? Importante que estudos acadêmicos sobre isso sejam realizados, até porque este processo pode estar sendo gestado aqui no nordeste. E as razões podem ser encontrados por fora e por dentro do campo politico da esquerda.

“Na reorganização do neoliberalismo, a extrema-direita apresentou um projeto. E as esquerdas?” Entrevista com Ricardo Antunes 

Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República e seus primeiros dias de mandato deixam claro que sua agenda política é uma radicalização daquela executada por Temer. Na primeira entrevista de 2019, o Correio da Cidadania conversou com o sociólogo do trabalho Ricardo Antunes, que acaba de publicar O privilégio da servidão – o novo proletariado de serviços na era digital (Editora Boitempo), e faz uma dura análise do atual estágio político e ideológico sobre os setores que deveriam fazer o contraponto ao projeto de uma direita de evidentes traços autoritários e excludentes.

Na conversa, Antunes aponta para o caminho de destruição total do mundo do trabalho ofertado pelo novo governo, o que mal foi disfarçado em sua campanha eleitoral. E constata que apesar da forte votação o PT já não tem condições de liderar as lutas sociais no Brasil. “O partido terá de abdicar de qualquer hegemonismo nas esquerdas. Poderá ser um partido de centro-esquerda parlamentar, capaz de votar contra projetos que ataquem direitos do mundo do trabalho e setores vulneráveis da população. Mas nem com isso devemos ter ilusões. Que ninguém espere que o parlamento seja a barreira contra a tragédia anunciada de Bolsonaro”.  

Tal como aponta em seu livro, Antunes afirma reiteradamente as novas facetas dos movimentos que se opõem ao capitalismo e suas políticas econômicas, reorganizadas em escala global. “Precisamos de organização social e política autônoma, de base e classe, formada com espírito anticapitalista, coisa que o PT no poder ajudou a obliterar. As esquerdas sociais precisam jogar sua energia na combinação das lutas de resistência em todos os espaços possíveis com a busca de um projeto autônomo de emancipação social e política. O calendário das oposições não pode mais ser o calendário das eleições”. 

Sobre este reordenamento mundial, o sociólogo explica: “estamos num período de tripé devastador: hegemonia profundamente destrutiva do capital financeiro, uma pragmática neoliberal que não tem mais nenhum limite e uma reestruturação produtiva do capital que por sinal é permanente. O mundo informacional-digital sob comando do capital financeiro sabe que não pode eliminar o trabalho definitivamente. Mas sabe que pode depauperá-lo e só remunerar quando um trabalho for realizado, sem descanso, férias, fim de semana, nada. Por isso chamo tais trabalhadores e trabalhadoras de novos proletários da era digital”. 

No entanto, é enfático em afirmar que tal modelo de capitalismo inevitavelmente produzirá uma grande massa de rebelados, dado o rebaixamento das condições de vida e enorme concentração de renda que garantirá a seus donos.  A entrevista é de Gabriel Brito, publicada por Correio da Cidadania, 11-01-2019.

Eis a entrevista.








Da memória! Santo André e outras cidades do ABC

Recomendação do professor Romero Venâncio: "A rebeldia do trabalho". Um estudo sobre as greves do ABC paulista entre 1978/1980... Trabalho de pesquisa, análise e memória. Um momento histórico desse Brasil significativo. Além do livro do Ricardo Antunes, vale destacar três filmes: "O ABC da greve" (Leon Hirszman), "Linha de Montagem" (Renato Tapajós) - dois filmes de época. E um filme para encontrar os operários anônimos que construíram e fizeram as greves e  o destino deles hoje em dia: "Peões" de Eduardo Coutinho. Uma forma de reconhecermos a memória operária deste Brasil  das mais importantes ainda hoje. 







NEOLIBERALISMO, CINEMA & MUNDO DO TRABALHO. PARA ENTENDER UM BRASIL CONTEMPORÂNEO
Romero Venâncio (UFS)
Chega a ser surpreendente como o livro do Pe. José Comblin ainda hoje passa despercebido ou foi invisibilizado em amplos setores da esquerda brasileira. A direita (católica ou não) jamais lerá Comblin por razões ideológicas óbvias. Trata-se de "O Neoliberalismo - ideologia dominante na virada do século" (editora vozes, 1999). O livro é composto de cinco capítulos:
- O neoliberlismo no centro
- o neoliberalismo na América Latina
- As ideologias conexas
- Crítica ao neoliberalismo
- Alternativas.
Comblin foi um dos primeiros a chamar a atenção para a relação umbilical entre a religião cristã e a ideologia neoliberal. Na América latina e EUA uma grande parte do cristianismo (católico e protestante) aderiu tranquilamente e consciente as ideias neoliberais. Para Comblin, o "neoconservadorismo" se casa perfeitamente com um neoliberalismo religioso (alertava o padre em 1999!!!). Parece que num certo brasil escutar o padre/pastor errado é uma sina. Paciência.
O livro do Comblin é uma obra teórica e analítica de um momento predominante na cultura brasileira (e mundial). Mas o cinema brasileiro da passagem do século XX para o XXI também pautou as políticas neoliberais e nosso encalacramento enquanto esquerda(s).
Demarco um breve período do cinema brasileiro entre 1999 a 2005. Pelo menos, em alguns filmes vai se consolidando uma visão crítica e sem concessões do que está acontecendo no país. Destaco três cineastas e quatro filmes apenas (obviamente, teria bem mais). Sérgio Bianchi, Ugo Giorgetti e João Jardim... Penso em filmes como: "Cronicamente inviável" (2000) e "Quanto vale ou é por quilo" (2005) ambos de Bianchi. "O príncipe" (2002) de Giorgetti e "Pro dia nascer feliz" (2005) de João Jardim. Nestes filmes vistos hoje (2023) com a distância de um tempo que só conseguiu piorar o que foi tematizado nos filmes... Do mundo do trabalho à educação, a desintegração do país foi ocorrendo (com alguns momentos de alívio e politicas assistencias que fizeram os mais pobres suportarem a tragédia!!) paulatinamente e em forma  intermitente. De uma imensa população de rua até os trabalhos "uberizados" vividos na carne por uma juventude quase desesperada até o "egoísmo" doentio de uma classe média branca delirando com seus fetiches e as de sempre classes dominantes com seu chicote clássico de prontidão, caminhamos enquanto "Nação". Ou não? 
Um ensaio de fôlego voltou nos dias atuais apenas para comprovar onde chegamos e como chegamos. Publicado em 2001, o texto do filósofo Paulo Arantes, intitulado: "A fratura brasileira do mundo: visões do laboratório brasileiro da mundialização". Republicado em 2023 nos faz pensar como entramos no século XXI com a bagagem calibrada pelo neoliberalismo. Assim abre o filósofo o ensaio: "Um dos mitos fundadores de uma nacionalidade periférica como o Brasil é o do encontro marcado com o futuro. Tudo se passa como se desde sempre a história corresse a nosso favor." - quando na verdade, nosso passado sempre nos faz ver o contrário do que (ironicamente) destaca o filósofo da USP.
O livro do pe. Comblin, o ensaio de Paulo Arantes e os 04 filmes citados podem nos ajudara entender como chegamos até aqui e de que maneira chegamos (quais políticas econômicas e sociais foram feitas).






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