Num dia como hoje, 17 de setembro, há exatamente 52 anos, no interior da Bahia, era assassinado à tiros CARLOS LAMARCA, militar desertor e guerrilheiro brasileiro, considerado em certo momento o inimigo número um do regime. Coincidentemente, outro "Carlos" também era perseguido pelas forças de repressão na época: Carlos Marighela. A diferença era que Marighela era um civil, enquanto que Lamarca vinha do meio militar, onde entrou bastante cedo. Sua ficha militar revelava que era um ótimo atirador e que fora o 46° numa turma de 57 aspirantes da Academia Militar dos Agulhas Negras, a escola de formação de oficiais do Exército brasileiro. Lamarca chegou a atingir a patente de capitão do Exército.
Um momento marcante de sua formação foi em 1962, quando foi enviado para integrar as forças de paz da ONU na região de Gaza (Palestina), de onde voltou 18 meses depois. Uma experiência que marcou sua vida e sensibilizou o jovem contra as injustiças sociais. Em 1967, foi promovido a capitão e, dois anos depois, já militante da organização que daria origem à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organizou um grupo de militares do 4º Regimento de Infantaria para desertarem daquela unidade
A vida de Lamarca mudaria radicalmente na noite de 24 de janeiro de 1969, quando levou numa kombi levando consigo 63 fuzis e metralhadoras leves do quartel de Quitaúna, em Osasco, que deveriam servir para a luta armada contra a ditadura. A partir daquele momento, Lamarca era considerado um desertor e inimigo Nº 1 dos seus próprios pares de coturno.
Em setembro de 1968, Lamarca se encontrou com Carlos Marighella, um dos líderes da guerrilha no Brasil, e com sua ajuda conseguiu enviar a mulher e os filhos para Cuba, onde eles estariam seguros, onde viveram por dez anos. Em 1959, ele havia se casado secretamente com Maria Pavan, sua irmã de criação, que já esperava o primeiro filho do casal. Na VPR, conheceu Iara Iavelberg, por quem se apaixonou imediatamente. Os dois passaram a viver juntos em diversos aparelhos pelo país. As cartas de amor que trocaram nesse período são conhecidas, assim como o famoso diário do guerrilheiro, com textos dirigidos a ela.
Lamarca passou a viver escondido. Por ter experiência militar, era considerado um "quadro" – como eram chamados os que aderiam à luta armada, muito importante e acabou liderando um campo de treinamento da VPR, que reunia em maioria jovens dispostos a aprender tiro e técnicas de guerrilha com a ideia de iniciar um foco de rebelião em algum lugar do interior do Brasil.
Dentre suas ações contra a ditadura, está o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, em 1970, que resultou na libertação de 70 presos políticos dos porões da ditadura, além de vários assaltos a bancos para financiar as ações do grupo armado. Viveu quase um ano clandestino em São Paulo, participando de ações de guerrilha urbana, até se instalar no Vale do Ribeira, com um reduzido grupo de militantes, para realizar treinamentos militares.
O local foi descoberto pelos órgãos de segurança em abril de 1970 e cercado por tropas do Exército e da Polícia Militar. Uma gigantesca operação de cerco se prolongou por 41 dias, mas, após dois choques armados, o pequeno grupo guerrilheiro, sob a liderança do capitão rebelde, conseguiu escapar rumo a São Paulo. Em março de 1971, seis meses antes de sua morte, desligou-se da VPR para se integrar ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que o deslocou para o sertão da Bahia, no município de Brotas de Macaúbas, com a finalidade de estabelecer uma base da organização naquela região.
Em 17 de setembro de 1971, Lamarca foi fuzilado por integrantes da “Operação Pajuçara”, em Ipupiara, no interior da Bahia. Essa operação, iniciada em agosto de 1971, entrou para a história como uma das mais violentas, sobretudo em Buritis, que se tornou à época um verdadeiro campo de concentração, com torturas e assassinatos em praça pública, diante da população. Lamarca tinha 34 anos quando foi assassinado.
Mais de 30 anos depois, em 2007, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu a patente de coronel do Exército a Carlos Lamarca e o status de perseguidos políticos à sua primeira esposa, Maria Pavan Lamarca, e a seus dois filhos, que passaram a ter direito a pensão e indenização. Em 2010, entretanto, acatando ação do Clube Militar, a juíza Cláudia Maria Pereira Bastos Neiva suspendeu a decisão da Comissão de Anistia. A questão continua indefinida.
Em 1980, Emiliano José e Oldack Miranda escreveram a biografia “Lamarca: o capitão da guerrilha”. E em 1994 o diretor Sérgio Rezende lançou o filme Lamarca, baseado no livro. A saga de Lamarca mostra que nem todos os militares colaboraram com o regime militar instaurado em 1964. Em seus escritos, Lamarca terminava sempre com a frase: “Ousar lutar, ousar vencer”.
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🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo🖋️ professor e historiador.
📖 Créditos do texto 🖱️ Sites Memórias da Ditadura e Aventuras na História.
👉 Para saber mais sobre Iara Iavelberg, companheira de Lamarca que também foi executada pelas forças da repressão, acesse:
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