terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Mensagem de um padre ao presidente Lula: sobre a vitória da "porrada da beleza" ante a feiúra golpista

 Gegê Natalino


Nas três missas dominicais comuniquei à paróquia que segunda (09/01), pela manhã, partiria à Brasília para a posse da valente Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial. 

Na parte da tarde, como um golpe, assisti pela televisão o espetáculo monstruoso da destruição golpista. Sou do tempo em que os antigos diziam: "isso é feio, meu filho!".

 Nesta breve mensagem não quero me deter no horror e no ultraje amplamente reprovados pelo Brasil e pelo mundo. 

Quero sim dizer que ainda que a sede dos Três Poderes terminasse em cinzas, o que não seria impossível, considerando a fúria insana dos vândalos/terroristas/golpistas (presentes e ausentes), ainda assim Brasília/Brasil seria reconstruído pelo poder da imagem da posse presidencial. 

A imagem re-ligou o Brasil consigo mesmo. Estou falando numa re-ligacão no plano da alma profunda, irremediavelmente religiosa, segundo Jung. 

Numa leitura simbólica, o ultrajante ataque planejado e executado no domingo seguinte à posse (08/01/23) não se dirigiu apenas contra à democracia e ao patrimônio público (o que é gravíssimo e criminoso), mas, sobretudo, à alma, a alma do mundo, que só repousa e goza diante do belo. 

Então, assistimos sim, atônitos e desconcertados, o ataque da feiúra sobre o belo - sobre a boniteza jamais vista de uma rampa viva que se tornou subida/elevação para os desprezados e subaltenizados da história (indígenas, negros, catadoras, pessoa com deficiência, mulheres, etc).

A inaudita  beleza do dia primeiro de janeiro de 2023 se tornou insuportável aos olhos sem alma dos profetas da ditadura, da destruição e da morte. 

Brasília não foi apenas brutalmente atacada; foi também profanada. 

A beleza de Branca de Neve foi vista como ofensa à feiúra da rainha má, assim como a beleza de Oxum foi lida como ultraje à fealdade racista-colonial.

Porque creio no poder da imagem, creio que o que foi apresentado aos olhos do mundo no dia primeiro seja infinitamente superior à imagem da destruição golpista. 

Também creio que o Brasil será reconstruído (e reconhecido) pela imagem constelada na posse presidencial.

"Uma imagem fala mais que mil palavras", assegura o mitólogo, Joseph Campbell.

Uma imagem pode ter força revolucionária. 

Um povo privado de beleza pode ser tão ou mais carente que um povo privado de pão.

Creio, pois, que a força da beleza, com a fúria que lhe é própria,  seja capaz de reconstruir a vida, reconstruir Brasília, reconstruir o Brasil, reconstruir a Terra!

Estou falando da "fúria da beleza" da poeta Elisa Lucinda. 

Considerando o conflitos das imagens (posse versus vandalismo), digo:

Luis Inácio Lula da Silva, nosso presidente, nenhum poder de destruição do mundo será superior à "violenta" beleza de sua posse. 

A beleza quando é grande, verdadeira e pura  se torna uma ofensa à feiúra que vagueia como alma penada.

Nas urnas, o Brasil optou pelo bom, pelo justo e pelo belo - optou pela democracia: "democracia para sempre!".

Desse modo, certamente, escolheremos para guiar nossas almas e nossa pátria a imagem do dia primeiro, gravada e eternizadas em nossas retinas cidadãs. 

Só o que é violentamente belo nos interessa: o Brasil feliz de novo!

Que imagem você vai escolher pra fazer valer a vida?

Os terroristas/golpistas se desesperam diante de uma obra de arte. Imagino o pavor que tiveram ao verem uma  obra de Di Cavalcanti. 

Diria em canto e encanto Maria Bethânia: "você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona. Não tem alma. Você é o oco, do oco, do oco...".

É mais fácil reconstruir a sede dos Três Poderes que embelezar gente sem alma; gente dezumanizada. A cadela resistência, que também subiu a rampa (e qualquer cão), goza de superior grandeza! E mais baixeza de alma tem os que planejaram, os  que financiaram e os que facilitaram. E os que aplaudiram e aplaudem. É possível que alguns estejam bem perto de nós. 

Alertou Tolstói: "Há quem passe pelo bosque é só veja lenha para a fogueira". 

Por fim, para falar da vitória da imagem da posse presidencial (a subida da rampa e a entrega da faixa, em especial) ante qualquer imagem de destruição terrorista/golpista, tomo de empréstimo as palavras de Elisa Lucinda:

"Me tirou a roupa, o rumo, o prumo

E me pôs à mesa 

É a porrada da beleza!"

E digo ainda, através da boca da poeta: 

"Sabe como é?

Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!".

Conforme a canção: 

"No novo tempo, apesar dos perigos, da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta... Pra que a nossa esperança seja mais que vingança..."

O povo sabe que de um mal, Deus sempre tira um bem. Certamente, o Brasil sairá mais forte, mais inteiro, mais atento, mais democrático e mais belo... E muito mais verde e amarelo.

Como um credo, repito as palavras de E. Lucinda: "É da vocação da vida a beleza e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la, com nossos minúsculos gestos ratos...".

Na linha do ministro Sílvio Almeida, também digo: a democracia existe e é valiosa para nós! "Democracia para sempre!". É sobre isso...

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Já tinha isso em mente quando li o texto do Pe. Gegê.. E ele soube captar com maestria, um sentimento que não é só meu, como de muita gente. Sem dúvida, este 8 de setembro mostrou a nossa pior cara, a nossa pior parte. Porém, tivemos antes no dia da posse em 01 de Janeiro, a nossa melhor cara, a nossa melhor pARTE.. Lembrando Dostoiveski - A beleza salvará o mundo. Além da foto de posse (acima), o festival do futuro sinalizou nessa direção....

Zezito de Oliveira

4 comentários:

Anônimo disse...

Que beleza de texto! Como diz o escritor a beleza vem da alma, dos olhos que admiram-na.
Não podemos nos fixar no feio, corremos o risco de ficarmos com a alma tão feia quanto o "feio"!
Obrigada!

AÇÃO CULTURAL disse...

Valeu! Volte sempre e compartilhe bastante esse texto....

Anônimo disse...

'8 de SETEMBRO "????? Lindo texto

AÇÃO CULTURAL disse...

Para compreender será preciso ler o texto novamente..