terça-feira, 28 de março de 2023

É preciso um basta: relatório de Daniel Cara recomendou estratégias para evitar atentados em escolas

Fonte:
 
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/e-preciso-um-basta-relatorio-de-daniel-cara-recomendou-estrategias-para-evitar-atentados-em-escolas/

Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados manhã desta segunda-feira (27) na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo.

Uma das professoras morreu, Elisabete Tenreiro, 71 anos, teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário, da USP.

As cenas são de filme de horror. O que fazer? Como impedir esses atentados, cada vez mais comuns?

Um relatório encaminhado ao grupo de transição da área de educação do governo Lula recomendou estratégias para evitar essa barbárie que vem se repetindo. 

O documento foi organizado por Daniel Cara, professor da FE/USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Sugere a formação continuada de professores sobre o extremismo de direita e como enfrentá-lo. Há maneiras de identificar alterações de comportamentos nos jovens, como interesse incomum por assuntos violentos e atitudes agressivas, recusa de falar com professoras e gestoras mulheres, uso de expressões discriminatórios e exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos.

O material foi elaborado após ataques a tiros em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixaram 4 mortos e 13 feridos no final de novembro.

Depois disso, três adolescentes foram baleados na Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral (CE).

De acordo com o levantamento da equipe de Cara, esses atentatos começaram na primeira década dos anos 2000 no Brasil e, desde então, foram dezesseis ocorrências — quatro apenas no segundo semestre de 2022, com 35 mortos e 72 feridos.

O contexto é da escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e a falta de controle e criminalização desses discursos e prática, fortemente relacionados a gênero e orientação sexual. Os alvos de cooptação desse discurso são majoritariamente brancos e heterossexuais, que têm as mulheres como alvos preferenciais.

“É importante não tratar como ‘terrorismo’ todos os casos de cooptação de adolescentes pelo extremismo de direita, pois ao focalizar exclusivamente na prevenção de atentados, exclui-se a possibilidade de prevenir que adolescentes sejam cooptados por grupos e discursos de extrema-direita que não necessariamente incentivam o cometimento de atos terroristas”, diz o relatório.

“Contudo, é inegável que as violências nas escolas – um fenômeno que contempla inúmeras expressões – colabora com a emergência do extremismo de direita e a consequente cooptação de adolescentes e jovens”.

O poder público deve fomentar o combate à desinformação nas salas de aula por meio de uma educação crítica. Nesse sentido, aponta prejuízo na redução gradativa da presença de conteúdos de disciplinas das ciências humanas e sociais aplicadas, como geografia, história, filosofia e sociologia.

Essa defasagem foi agravada com a implementação da Reforma do Ensino Médio e a instituição de itinerários formativos muitas vezes desligados a essas áreas de conhecimento.

O material sugere ainda a criação de leis que proíbam a criação e fechem as centenas de academias e institutos militares mirins, que ofertam cursos militares para crianças e adolescentes e colocam crianças, a partir de 5 anos de idade, para manusear, quando não armas de verdades, réplicas destas.



NOTA DE PESAR

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação lamenta profundamente a tragédia ocorrida na manhã de hoje, 27 de março de 2023, que resultou na morte de uma professora e de dois professores e um aluno esfaqueado, na Escola da Rede Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. O agressor, que já foi detido, é um adolescente de 13 anos.

➡️ LEIA EM PDF E NO SITE DA CAMPANHA: https://campanha.org.br/noticias/2023/03/27/nota-de-pesar-sobre-a-a-tragedia-ocorrida-na-escola-estadual-thomazia-montoro/

Brasil, 27 de março de 2023.

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação lamenta profundamente a tragédia ocorrida na manhã de hoje, 27 de março de 2023, que resultou na morte de uma professora e de dois professores e um aluno esfaqueado, na Escola da Rede Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. O agressor, que já foi detido, é um adolescente de 13 anos.

Toda vez que algo assim acontece, surgem nos meios de comunicação narrativas sobre a falta de segurança e a violência nas escolas, mas não se coloca em discussão questões mais profundas e que precisam ser problematizadas se nosso objetivo é cessar com a onda de violência cada vez mais frequentes nos ambientes escolares.

A violência contra as escolas é reflexo de um conjunto de problemas estruturais na sociedade brasileira que têm sido amplificados por comportamentos e atitudes diametralmente opostos à construção de uma cultura de paz. Tragédias como a de hoje, não são um caso isolado e, infelizmente, se somam aos 16 ataques ocorridos em escolas desde os anos 2000, de acordo com o relatório "Ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental", elaborado por 11 pesquisadoras e ativistas dedicadas à educação pública e à prevenção do extremismo de direita no Brasil.

É importante ressaltar que o aumento de ideias e comportamentos fascistas, de extrema direita entre a população, de uma cultura de ódio, xenofobia e intolerância em suas mais variadas formas, contribuem diretamente para um cenário propício a atitudes cada vez mais violentas na sociedade, seja nas escolas, ou fora delas. Programas como a educação militarizada, via Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, um projeto contra a gestão democrática e contrária aos princípios que garantem o direito à Educação, transformando a escola em um espaço violento, opressor, que coíbe o pensamento crítico, a autonomia e a cultura da paz. Aliada a esse modelo educacional extremamente retrógrado e autoritário, soma-se a política bélica propagada nos últimos quatro anos, pelo governo Bolsonaro, que promovia o armamento da população, contrariamente aos avanços em termos de políticas de segurança pública.

O debate sobre a violência nas escolas não pode se limitar à segurança pública, os ataques que vem ocorrendo no Brasil e os contextos em que se inserem precisam, necessariamente, ser objeto de nossa reflexão e ação, passando obrigatoriamente pelo debate sobre o fim da militarização das escolas, do desarmamento da sociedade, da ausência do Estado na promoção de uma cultura de paz, de políticas públicas da saúde mental para sua população e, fundamentalmente, é preciso uma resposta firme contra ações e discursos fascistas.

A Campanha se solidariza com os familiares, amigos, trabalhadores das instituições de ensino, profissionais da educação, estudantes e suas famílias neste momento de dor, e conclama toda a sociedade a refletir criticamente sobre o impacto negativo da disseminação da intolerância e de ações extremistas para o aumento da violência contra as escolas e contra a sociedade como um todo.

Campanha Nacional pelo Direito à Educação


https://www.youtube.com/watch?v=iR5pIufPtN8



2 comentários:

Anônimo disse...

O Congresso brasileiro está tomado por políticos delinquentes, que dia a dia reforçam este pensamento reacionário, irresponsável, inconsequente, medonho, pautando as suas falas repugnantes na ignorância, na misoginia, no racismo e toda forma de preconceito, e não acontece absolutamente nada em relação a isso! Nenhuma ação, nenhuma atitude que os responsabilize pela desgraça permanentemente propagada! E, assim, seguimos comandados por esta horda de canalhas, eleitos graças à delinquência, à estupidez de grande parte desta nossa tosca sociedade! Enquanto as instituições seguirem passando pano pra estes deletérios desprezíveis, mais preocupados em trabalhar contra o País, não haverá luz no fim do túnel que evite tragédias como esta que só aumentam no Brasil! Todos responsáveis: Judiciário, classe política, jornalistas - os tais formadores de opinião -, eleitores, todos!! Esse estudante é só mais uma vítima desta sociedade doente!

AÇÃO CULTURAL disse...

Totalmente de acordo! Um desafio que faz parte da definição do que queremos seguir, barbárie neoliberal e neofascista ou radicalização da democracia...