segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

NATAL NA FAIXA DE GAZA por Frei Betto, Lusmarina Campos Garcia e Bansky.

 

Lusmarina Campos Garcia (*) - Presépio montado nesse ano na Igreja Luterana de Belém, na Cisjordânia Ocupada. Essa é a minha tradição! Essa é uma incrível representação da realidade das crianças que se nascerem, nascerão assim: entre escombros.

Frei Betto (**)

         Neste Natal, Jesus nasce em Gaza. Não na manjedoura exposta em um curral, mas entre escombros do que resta das moradias de seus habitantes. 

        Não nasce cercado de animais, e sim de bombas detonadas, balas de fuzis Tavor Ctar atiradas contra a população civil (950 tiros por minuto), granadas e gases letais. E os voos assassinos dos caças F-35.

        Jesus nasce e ignora que seus pais, que pretendiam se refugiar no Egito, foram atingidos mortalmente por uma chuva de bombas “bunker buster” jogadas pelas tropas israelenses. 

        Agora não é o rei Herodes que passa centenas de crianças ao fio da espada. É o governo sionista de Netanyahu, na ânsia de vingança e de exterminar aqueles que são considerados “animais humanos”, segundo declaração do  ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.

        Jesus e seus pais não encontraram acolhida em Belém. Tiveram que se abrigar em um curral. Do mesmo modo, famílias palestinas foram sumariamente expulsas de seus lares para dar lugar aos colonos sionistas que não reconhecem o direito de a nação palestina instituir o seu legítimo Estado. Escorraçadas, essas milhares de famílias foram confinadas nos estreitos limites de Gaza e da Cisjordânia, controladas por tropas israelenses como se fossem subumanas, sobrevivendo em condições análogas a campos de concentração a céu aberto. 

        Jesus nasce hoje sem que magos venham presentear-lhe com ouro, incenso e mirra. O que ele ganha agora são 12 mil toneladas de bombas desde 7 de outubro (33 toneladas de explosivos por quilometro quadrado), equivalente à potência de uma bomba atômica.

        Não há coro de anjos nem cânticos de glória a Deus, e sim o grito estridente de sirenas de alarme e o silvo aterrorizante de projéteis disparados pelos canhões mortíferos dos tanques Merkava.

        Jesus nasceu sob o selo da discriminação: por ser palestino, por ser filho bastardo de um casal nazareno (tanto que José quis abandonar Maria ao sabê-la grávida), por ser um sem-teto, por sua família ter ocupado a terra de uma chácara em Belém, por ser considerado blasfemo e usurpador do título de Filho de Deus. 

        Jesus, mais uma vez, é rechaçado em sua própria terra. Se seus conterrâneos são impedidos de formar seu Estado, qualquer ação de autodefesa que desencadeiem será qualificada de “terrorista”. Epíteto que jamais a grande mídia utilizou quando Menachem Begin, em 22 de julho de 1946, explodiu, em Jerusalém, o Hotel King David e matou 91 pessoas. Nem quando mais de 200 mil pessoas, todas inocentes, foram cruelmente assassinadas no maior atentado terrorista de todos os tempos – as bombas atômicas atiradas pelo governo dos EUA sobre as populações civis de Hiroshima e Nagasaki.

Sim, o Hamas rompeu a linha da “guerra justa” ao sequestrar mais de 200 pessoas, a maioria civis. Mas quem reage às “detenções administrativas” feitas pelo governo de Israel e que mantém nas prisões cerca de 5 mil pessoas sem acusações formais? 

        Jesus nasce em Gaza e, agora, já não podem matá-lo, pois haverá de ressuscitar em cada criança, em cada jovem, em cada cidadão palestino consciente de que a terra das vinhas e das oliveiras guarda em seu solo as cinzas de seus mais longínquos ancestrais.

(*) Teóloga/pastora luterana, pesquisadora em Direito da FND/UFRJ.

 (**) É escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

Utopias pós- capitalistas-revista eletrônica


Presépio feito na Igreja da Natividade em Belém, na Palestina, representando Cristo nascendo em meio aos escombros de sua terra.

Cartão de Natal de Bansky 2018  mostra muro de Israel no caminho da Sagrada Família


No desenho acima, Jesus não poderia ter nascido na cidade palestina de Belém nos dias atuais por conta de bloqueio israelense.

Abaixo desenho de Bansky 2019






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