sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

O planeta na dimensão fisica perde Alberto Ruz Buenfil. Um importante intelectual e ativista do movimento altermundista

 Uma bela canção de dois grandes artistas amazônidas, Nilson Chaves e Vital Lima,  traz em um de seus  versos "O tempo foi quem me deu amigos e este amor que não me sai". Gosto de lembrar estes versos e a canção quando estou na presença de alguns (as) amigos (as) ou lembrando deles (as)  ausentes ou distantes, como Alberto Ruz, que conheci quando desembarcou no ano de 2007 nestas terras que foram um dia dos povos liderados pelos bravos caciques Serigy, Aperipê, Surubim, Pacatuba e tantos outros.

Sobre como conheci Alberto Ruz, Verônica Sacta sua companheira na Caravana Arco Iris por La Paz, Dom Nelson e muitos outros (as) da mesma Caravana, deixo detalhes para outro momento, embora conste no link abaixo, um relato que escrevi para o Overmundo sobre a primeira apresentação pública da Caravana em Aracaju.

A Caravana Arcoiris Espalhando Alegria e Paz.

No mais,  a lamentar não termos podido ir ao México visitar Alberto Ruz na ecoaldeia ou ecovila Huehuecoyotl, fundada por ele e outros companheiros (as) no ano de 1982. Convite feito a mim e a Irene mais de uma vez.

Ontem em nosso encontro celebrativo do advento fizemos memória de Alberto Ruz e da passagem dele na vida de nossa família,  e Irene lembrou de Alberto Ruz e Verônica Sacta ter sido celebrante de nosso primeiro casamento religioso, neste caso em ritual xamânico. Lembrou da viagem que Irene e Raoni, este com apenas sete anos,  fizeram com a Caravana até Belém rumo ao Fórum Social Mundial, onde foi realizada o nosso casamento, na aldeia da paz instalada na UFRA - Universidade Federal Rural da Amazônia

Os presentes foram contemplados  com o livro  de Alberto Ruz, HAY TANTO CAMINOS (1996-2002). Este livro conta a jornada da Caravana Arco Iris desde o Mexico, pessando por outros países da América do Sul, chegando ao Brasil onde encontra o Programa Cultura Viva - Pontos de Cultura. E foi como Pontão de Cultura que nossos caminhos se cruzaram em Aracaju, no meu caso como diretor do Complexo Cultural "O Gonzagão" e Irene como secretária do referido equipamento cultural, ela cedida pela Prefeitura de Aracaju.  

Dos três anos em que permaneci como diretor do Gonzagão, 2007 a 2009, Alberto Ruz, Verônica Sacta e outros guerreiros e guerreiras do arco iris, durante quase um ano permaneceram morando e realizando ações culturais e de participação/mobilização social,  Já Irene permaneceu por quase um ano e meio realizando ações na gestão administrativa e apoio a produção de eventos. Foram os melhores anos da gestão.

Logo que soube do falecimento de Alberto Ruz publiquei de imediato na página do caravaneiro Rafael Dom Gentileza o qual trouxe a informação em primeira mão, ao menos para Irene e para mim. 

Um salve grande pela vida de nuestro hermano e pelo motivo do caminho de nossas jornadas de vida terem se cruzado..Ahoooooo...


Página de Alberto Ruz no facebook

Hoy, 07 de dezembro de 2023,  recordamos a nuestro querido maestro Alberto Ruz Buenfil "Coyote" con sonrisas y gratitud por cada momento compartido. Celebrando su legado como un recordatorio alegre de que, a pesar del vacío que deja en nuestros corazones su partida, su espíritu vibrante vive en cada uno de nosotros y en cada ecoacción que emprendamos.

Que su alegría contagiosa y su dedicación a la naturaleza sigan inspirándonos a todos sus guerreros del Arcoíris 🐺🌈✨ In Lak'ech Alberto "Coyote" GRACIAS!!!

Célio Turino

Alberto Ruz, El Coyote, meu amigo-irmão, faleceu nessa data, na ecovila de Huehuecoyetl, deserto de Morelos, no México. Dediquei um capítulo de meu livro, POR TODOS OS CAMINHOS, à história de Alberto, el caravanero. Nos conhecemos.em 2005, quando ele é sua companheira, Veronica Sacta, lideravam uma Caravana de arte, cultura e transformação social por toda a América Latina. Levavam mensagens de um novo mundo seguindo o chamado do colibri. Daí nascia a Caravana Arco Iris-Cultura Viva por la paz. Como um Pontão de Cultura permaneceram por mais de dois anos no Brasil e visitaram mais de uma centena de Pontos de Cultura, disseminado conhecimentos e utopias. Vá em paz, querido amigo subcomandante coiote! 

Para saber mais sobre Alberto  AQUI 

Consejo de Visiones - Guardianes de la Tierra

 · Nesta madrugada, o nosso avô Alberto Ruz Buenfil embarcou na sua última viagem com a caravana celeste em seu corpo arco-íris, com destino ao coração do universo, levando consigo uma oração de união e reconciliação por La Paz nesta Terra, neste tempo.

Neste momento, Alberto está batendo o grande rio de estrelas e galáxias, vendo as paisagens mais maravilhosas que jamais imaginou (e como viu muitas).

Alberto viverá para sempre na memória e no caminho das flores e cantos que deixou com seu passo no coração de todos nós para que continue esta oração e este trabalho para toda a humanidade.

Obrigado, obrigado, obrigado

Por todas as nossas relações e gerações seguintes.



P.S.: Como o Overmundo atualmente demora para abrir e às vezes nem abre, trago para cá o texto.. Quem abrir poderá ter acesso a algumas belas fotos dos meses iniciais da Caravana Arco Iris por La Paz em  Aracaju e Sergipe. 

A Caravana Arcoiris Espalhando Alegria e Paz


Cerimônia Ecumênica de Tradição Indigena no dia 02 de Março
1
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
24/3/2007 · 106 · 12



A Caravana Arcoiris Por La Paz, formada por 25 artistas e ativistas altermundistas de diversas nacionalidades, tendo se originado no México no ano de 1996 e percorrido milhares de quilômetros de nuestra América, busca através da arte, da educação ambiental e da espitirualidade de tradição indígena, chamar a atenção das pessoas para a necessidade de (re) construirmos o paraíso que herdamos a partir da compreensão de que a vida é um todo indivisível e que a fragmentação, o isolamento e a mercantilização são as fontes da destruição e do sofrimento que nos impedem de viver e desfrutar a terra como um jardim de mil delícias.


Depois de ter tido a felicidade de ler, em 2006, um dos cartazes da Caravana afixado na sede da Rede Sergipe de Cultura, fui contagiado pela alegre expectativa de poder conhecer todo o grupo. No cartaz, se resumiam os objetivos do projeto: Fortalecer redes, grupos e movimentos biorregionais. Oferecer oficinas e cursos nas áreas, de alimentação saudável, permacultura, ecovilas, eco-educação para crianças e jovens, eco-feminismo, intercâmbio de conhecimentos das culturas indígenas e suas cerimônias, saúde e terapias holísticas, teatro, música, artes circenses, danças circulares, tomada de decisões por consenso e resoluções de conflitos para grupos.

As atividades da Caravana foram iniciadas com uma reunião com representantes de pontos de cultura e outras entidades e grupos culturais que escolheram alguns temas prioritários para palestras, vivências e oficinas.

O inicio dos trabalhos aconteceu com uma cerimônia ecumênica que rememora alguns cantos e rituais de diversos povos nativos desde o Canadá até a Patagônia, permeando, inclusive, a tradição dos nossos pataxós do sul da Bahia, incorporando também cantos e danças dos terreiros. Neste caso, a concha do Centro de Criatividade, lugar em que estava sendo realizada a atividade, tem tudo a ver, porque é um local de remanescentes de quilombos, alguns dos quais estiveram presentes (integrantes da ong Criliber , e alguns moradores da comunidade) com canto, dança e percussão.

Essa forma de interagir com os conhecimentos da população local esteve presente em todo o momento da realização das oficinas e vivências. No caso das danças circulares, por exemplo, os focalizadores da Caravana, em muitos momentos, convidaram aqueles que conheciam os passos das danças e folguedos sergipanos para compartilhar conhecimentos.

Como na música de Milton Nascimento “O artista dever ir onde o povo está” a Caravana foi ao encontro dos moradores do entorno do Centro de Criatividade e apresentou uma sessão de vídeos sobre quilombos dentro da comunidade da maloca e participou de alguns encontros com dirigentes dos setores de cultura, comunicação e gênero do MST para organizar algumas atividades em aliança e se integrar à Marcha do Dia Mundial das Mulheres que o movimento liderou em Aracaju em conjunto com outras organizações sociais.

Segundo Verônica “guacamaya”, articuladora/relações públicas da Caravana, a marcha foi muito linda. E evidentemente como nos outros anos, não poderia deixar de ser um protesto contra o modelo econômico vigente que privilegia a especulação financeira em detrimento das políticas sociais.
Foi também uma afirmação da necessidade de se buscar a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o que me fez lembrar um apelo que publiquei no jornal Cinform, em setembro de 1999, cujo titulo era “Fome de Pão e Fome de Beleza”.

O texto propunha unir essas duas dimensões essenciais da vida humana - a dimensão artistico/cultural, feminina, e a dimensão da luta social, masculina - as quais dificilmente caminham juntas: “Motivos para protestar não faltam: terra para plantar, emprego e salários decentes, educação pública de qualidade, casa para quem precisa de moradia, melhor atendimento a saúde etc... Ainda bem que nos restam alguns hectares de florestas não destruídos, alguns rios não poluídos, alguns belos espécimes da fauna e da flora (não sei até quando), algumas belas expressões da cultura popular (...). Por isso, os ativistas sociais precisam urgentemente re(conhecer), valorizar, promover, apoiar (...) aquilo que nós produzimos de melhor em termos de expressões artísticas/culturais, e defender o que ainda resta de nossa rica biodiversidade. Foi isso que faltou para o Grito dos Excluídos ser ainda melhor – um pouco da arte do circo, do teatro de rua, os índios xocós e dança religiosa “toré”, os blocos afros, os atabaques, o rap e a dança de rua, o repente e as músicas de Luís Gonzaga (...)Concluindo, concordamos com o Fora FHC (principalmente por causa da política econômica e por causa da falta de sensibilidade com o drama da violência e da fome) e o Fora FMI (mentor da política econômica em vigor), acrescento também: Fora a Mesmice, a Chatice e a Falta de Criatividade. E como os estudantes franceses em maio de 1968: “A Imaginação no Poder”.

O final da programação oficial se deu no dia 10 de Março, com uma mostra artística e festa multicultural com os artistas e educadores da Caravana e com os de Sergipe. Estes, por sua vez, interagiram participando de oficinas, vivências e palestras durante a semana em que a Caravana se instalou no Centro de Criatividade.

Na semana em que a Caravana esteve entre nós, experimentamos a felicidade do mundo que queremos para nós e para nossos descendentes. E para a realização disso é preciso respeito e diálogo com as diferenças, mas sem esquecer da necessidade da luta contra a desigualdade e contra todo tipo de opressão.

Por ultimo, não poderia deixar de registrar o meu contentamento com a participação de pessoas que convivem em mundos separados e distantes, embora busquem a “felicidade geral da nação”, como os artistas, ativistas dos movimentos sociais e Ongs e participantes de grupos holísticos. Lembro-me da urgência do casamento do céu com a terra, do sol com a lua. Ah! Como precisamos tanto integrar a arte, as lutas sociais e as diversas formas de expressão da espiritualidade.

Enfim, vale deixar um agradecimento para o Ministro Gilberto Gil, que tem a compreensão do que escrevi acima e por isso apóia o trabalho da Caravana através do Programa Cultura Viva, para o diretor e colegas do Centro de Criatividade, que fizeram o melhor para que aquela unidade da Secretaria de Estado da Cultura pudesse cumprir o papel para a qual a maioria dos sergipanos sinalizaram quando escolheram o nome de Marcelo Déda para governador deste estado, e a colaboração voluntária de Marcos, da Ong Ação Cultural, que ajudou a Caravana de diversas formas.

E em especial, “Gracias a La Vida” e a alguns companheiros (as) com os quais outrora compartilhei momentos semelhantes aos que vivi nesses dias, como: Simão, Álvaro, Ivete, Síria, Luiza de Marilac e Marcelo Veloso, do Centro Nordestino de Animação Popular do Recife; Garotos/Garotas e Educadores Sociais do Projeto Reculturarte, nos idos de 1989 a 1996 no Bairro América, em Aracaju; Kaká Werá, educador, escritor e pajé, natural de São Paulo; Alcino Ferreira e o chileno Clemente Lizana (in memoriam) da equipe Habeas Corpus do Recife; Zé Vicente, artista, ecologista, mistico - gerado no ventre das comunidades eclesiais de base do Ceará; William Valle, mestre focalizador de danças circulares de Belo Horizonte; Irene, natural do Pará, minha amada, cúmplice dos sonhos e projetos da construção de um novo homem e de uma nova mulher - sementes para outro mundo, - e Marcelo Barros, monge beneditino e escritor do mosteiro da Anunciação do Senhor em Goiás, que participa de cerimônias inter-religiosas como a realizada no primeiro dia e em outros momentos da Caravana em Sergipe e que tem feito um importante trabalho de critica aos fundamentalismos e fanatismo religioso que tantas desgraças vêm causando à vida de milhões de pessoas.

A Lenda dos Guerreiros do Arco-Íris
                                                                              Povos Navajo, Hopi, Ojibwe, Cree, Anishinabe, Lakota
Nas tradições nativas americanas, o arco-íris ocupa simbolicamente um lugar especial

Ande em uma trilha de arco-íris; caminhe em uma trilha de música, e tudo sobre você será beleza. Existe uma saída de cada névoa escura, através de uma trilha de arco-íris.

―Navajo Song

Certamente, é um símbolo do Espírito e da união dos povos:

Como nativos americanos, acreditamos que o arco-íris é um sinal do Espírito em todas as coisas. É um sinal da união de todas as pessoas, como uma grande família. A unidade de toda a humanidade, muitas tribos e povos, é essencial.

―Thomas Banyacya, falecido porta-voz dos

anciãos tradicionais Hopi de Hotevilla
 
As profecias nativas dizem que pessoas mestiças e brancas que deixavam o cabelo crescer e usavam miçangas viriam aos curandeiros nativos e pediriam orientação … As profecias dizem que eles voltariam como o povo arco-íris em corpos de cores diferentes: vermelho, branco, amarelo e preto. Os mais velhos disseram que voltariam e se uniriam para ajudar a restaurar o equilíbrio da Terra.

A história desses guerreiros do arco-íris é contada por muitas pessoas de muitas maneiras diferentes. Sentimos que estamos no tempo em que os Guerreiros do Arco-íris estão surgindo. (…) Então é um momento em que temos que reconhecer que somos todos seres humanos no mesmo planeta e é dessa unidade que os Guerreiros Arco-Íris tratam.

―Sun Bear, professor e autor ojibwe
 
Um bom resumo das diferentes lendas dos Guerreiros do Arco-íris é encontrado no livro de Steven McFadden Legend of the Rainbow Warriors, escrito em 1987. Nele, McFadden afirma que essas lendas foram transmitidas por gerações e gerações por “visionários” nativos americanos.

Pessoas de pele clara sairão do mar do leste em enormes canoas movidas por enormes asas brancas (…). As pessoas que descem desses barcos também serão como pássaros (…). Um de seus pés será como o de uma pomba, o outro como o de uma águia. O pé da pomba representará uma bela e nova religião de amor e bondade, e o pé da águia representará força, tecnologia e poder. O pé afiado da águia dominará (…) eles agarrarão as Nações Vermelhas com seus pés de águia, explorando e escravizando-as.

Depois de oferecer resistência a essas garras, os índios aparentemente perderiam o espírito e seriam conduzidos a pequenos enclaves estéreis. Seu mundo seria assim por muitos anos: pobreza, sofrimento, desrespeito. Então, com o tempo, o mundo ficaria doente. Por causa da ganância implacável, a Terra ficaria cheia de líquidos e metais mortais, o ar ficaria contaminado com fumaça e cinzas, e até mesmo das chuvas (…) despencariam gotas de veneno. Os pássaros cairiam do ar mortos. Os peixes virariam de barriga para cima nas águas. As florestas começariam a murchar. Um buraco se abriria no céu. As guerras circundariam o globo. O tempo mudaria loucamente. Haveria um caos crescente (…) no mundo.

Quando essas coisas começarem a acontecer, as nações indígenas ficarão impotentes. Mas então a Luz viria do Oriente e os nativos voltariam a encontrar sua força, seu orgulho e sua sabedoria. O mesmo aconteceria com muitos de seus irmãos e irmãs de outras nações –brancos, amarelos e negros– que sentiriam fortemente o chamado do Espírito. Eles entenderiam o fato básico de que é a Terra que nos dá a água, comida, roupas, abrigo e beleza necessários para o círculo da vida. Essas almas despertas se encontrariam e, juntas, ensinariam todas as pessoas do mundo a terem respeito pela Mãe Terra, que fez todos os seres humanos. O respeito prevaleceria.

Sob o símbolo do arco-íris todas as raças e religiões se uniriam para espalhar a grande sabedoria de viver em harmonia umas com as outras e com todas as criações do mundo – e assim o Elo Sagrado seria restaurado. Aqueles que ensinarão este caminho serão os Guerreiros do Arco-Íris, mas eles não farão mal a ninguém. Usando apenas meios pacíficos, e tornando-se exemplos de vida correta, depois de uma grande luta, eles acabarão com a destruição e profanação da Terra.

As tarefas dos Guerreiros do Arco-íris serão muitas e grandes. Haverá montanhas de ignorância a serem conquistadas e eles enfrentarão preconceito e ódio. Eles devem ser dedicados, inabaláveis ​​em sua força e ter coração forte. Eles encontrarão corações e mentes dispostos a seguí-los nesta estrada de cura. A paz e a abundância reinarão então durante uma longa e alegre Idade de Ouro.

Mas existe uma versão da lenda que tem uma relação muito próxima com as histórias e contos tradicionais. Esta é a versão do Povo Cree, transmitida pela escritora descendente de Cherokee Lelanie Fuller-Anderson em 2011. A versão Cree da lenda diz:

Havia uma senhora idosa, da tribo ‘Cree’, chamada ‘Olhos de Fogo’, que profetizou que um dia, por causa da ganância do homem branco ou Yo-ne-gis, chegaria um tempo, quando os peixes morreriam nos riachos, os pássaros cairiam do ar, as águas se enegreceriam e as árvores não existiriam mais, a humanidade como a conhecemos quase deixaria de existir.

Chegaria um tempo em que os “guardiões da lenda, histórias, rituais culturais e mitos, e todos os Antigos Costumes Tribais” seriam necessários para restaurar nossa saúde. Eles seriam a chave para a sobrevivência da humanidade, eles seriam os ‘OS GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS.’ (…) todos os povos de todas as tribos formariam um Novo Mundo de Justiça, Paz, Liberdade e reconhecimento do Grande Espírito.

(…)

‘OS GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS’ mostrariam aos povos (…)

como tornar a Terra (…) bela de novo. Esses Guerreiros dariam às pessoas princípios ou regras a seguir para novamente percorrer um caminho certo conectado com o mundo. Esses princípios seriam os das Antigas Tribos. ‘OS GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS’ ensinariam ao povo as antigas práticas de Unidade, Amor e Compreensão. Eles ensinariam a harmonia entre as pessoas em todos os quatro cantos da Terra.

(…)

Seus filhos mais uma vez poderiam correr livremente e desfrutar dos tesouros da Natureza e a Mãe Terra. Livres do medo de toxinas e destruição, causado pelo Yo-ne-gi e suas práticas de ganância.

Os rios voltariam a correr límpidos, as florestas seriam abundantes e belas, as populações de animais e pássaros se recuperariam. Os poderes das plantas e animais seriam novamente respeitados e a conservação de tudo o que é belo se tornaria um modo de vida.

Os pobres, enfermos e necessitados seriam cuidados por seus irmãos e irmãs da Terra. (…) Aqueles que demonstrassem seu amor, sabedoria e coragem e aqueles que demonstrassem que podiam e trabalhariam para o bem de todos seriam escolhidos como líderes ou chefes. (…)

As tarefas destes ‘GUERREIROS (…) são muitas e grandes. Haverá terríveis montanhas de ignorância para conquistar e eles enfrentarão preconceito e ódio. Eles devem ser dedicados, inabaláveis ​​em sua força e fortes de coração. Eles encontrarão corações e mentes dispostos que os seguirão pela estrada devolvendo à ‘Mãe Terra’ a beleza e abundância – uma vez mais.

O dia chegará, não está longe. O dia em que veremos como devemos nossa própria existência ao povo de todas as tribos “OS GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS” que mantiveram sua cultura e herança. Aqueles que mantiveram os rituais, histórias, lendas e mitos vivos. Será com esse conhecimento, o conhecimento que eles preservaram, que voltaremos mais uma vez à “harmonia” com a Natureza, com a Mãe Terra e com a humanidade. Será com esse conhecimento que encontraremos nossa ‘Chave para nossa sobrevivência’.

(…)

Sem usar o termo Guerreiros do Arco-Íris, mas oferecendo uma narrativa de eventos certamente semelhante, as Nações Anishinabe, da região dos Grandes Lagos, falam sobre a Profecia dos Sete Fogos. Esta profecia é anterior à chegada dos europeus e está registrada e espiritualmente codificada no Cinturão de Wampum dos Sete Fogos. Este é um objeto ritual e cerimonial composto de cordões de contas, que foram passados ​​de guardião para guardião por centenas de anos. O livro de Edward Benton-Banai, The Mishomis Book: The Voice of the Ojibway, 1988, fala sobre o último profeta e esta profecia diz:

O Sétimo Profeta que veio ao povo há muito tempo foi considerado diferente dos outros profetas. Este profeta foi descrito como ‘jovem e tinha uma luz estranha nos olhos’ e disse:

“Na época do Sétimo Fogo, novas pessoas surgirão. Eles irão refazer seus passos para encontrar o que foi deixado pelo caminho. Seus passos os levarão aos Anciões, a quem pedirão para guiá-los em sua jornada. Mas muitos dos Anciões terão adormecido. Eles vão despertar para este novo tempo sem nada a oferecer. Alguns dos Anciãos ficarão em silêncio porque ninguém pedirá nada a eles. O Novo Povo terá que ter cuidado ao abordar os Anciãos. A tarefa do Novo Povo não será fácil.

‘Se o Novo Povo permanecer forte em sua busca, o Tambor de Água de Midewiwin irá soar novamente. Haverá um renascimento da Nação Anishinabe e um reacender de velhas chamas. O Fogo Sagrado será aceso novamente.

‘É nesta altura que o povo de pele clara terá a opção de escolher entre dois caminhos. Se eles escolherem o caminho certo, então o Sétimo Fogo acenderá o Oitavo e último Fogo, um fogo eterno de paz, amor fraternidade e irmandade. Se a raça de pele clara fizer a escolher o caminho errado, então a destruição que eles trouxeram ao vir para este país voltará para eles e causará muito sofrimento e morte a todas as pessoas da Terra. ‘

Comentando sobre a profecia, William Commanda, portador e guardião do Cinturão de Wampum e da Profecia dos Sete Fogos, e fundador do Círculo de Todas as Nações, disse:

Na época do Sétimo Fogo, um Novo Povo surgirá. Eles irão refazer seus passos para encontrar a sabedoria que foi deixada ao lado do caminho há muito tempo. Seus passos os levarão aos anciãos, a quem pedirão para guiá-los em sua jornada. Se o Novo Povo permanecer forte em sua busca, o tambor sagrado soará novamente sua voz. Haverá um despertar do povo e o fogo sagrado será aceso novamente. Neste momento, o povo de pele clara poderá escolher entre dois caminhos. Um caminho da ganância e da tecnologia sem sabedoria ou respeito pela vida. Esse caminho representa uma corrida para a destruição. O outro caminho é a espiritualidade, um caminho mais lento que inclui o respeito por todas as coisas vivas. Se escolhermos o caminho espiritual, ainda podemos acender outro fogo, um Oitavo Fogo e começar um longo período de Paz e crescimento saudável.

A este respeito, William Commanda disse em agosto de 2002: ‘Chegou a hora de acender o Oitavo Fogo.’

Sem usar o termo “Guerreiros do Arco-íris”, mas intimamente relacionado a eles, há também outra profecia, a de Cavalo Louco (Crazy Horse), o líder Lakota Oglala reconhecido por sua coragem em batalha. Ele venceu, junto com Chefe Touro Sentado, o 7º Regimento de Cavalaria do General Custer na Batalha de Little Big Horn, em 1876. Diz-se que Crazy Horse também era um homem de profunda espiritualidade, algo semelhante ao que na cultura europeia eles teriam chamado de guerreiro místico. Contam (Brown, 1974; McFadden, 1989) que, quatro dias antes de ser morto por soldados do exército dos Estados Unidos, enquanto estava na prisão e desarmado, aconteceu o seguinte:

Isso foi repassado pelo Chefe Joe Chasing Horse, um parente do grande guerreiro Lakota Crazy Horse. Ele traduziu as palavras de uma avó que estava presente quando estas palavras foram ditas.

Esta é uma declaração de Crazy Horse enquanto fumava pela última vez o Cachimbo Sagrado em Paha Sapa com  Touro Sentado, quatro dias antes de ser assassinado.

Muitas dessas palavras são repetidas com frequência, mas há uma linha frequentemente omitida, a dos “jovens brancos”.

(…)

‘Ao sofrer além do sofrimento; a nação vermelha se levantará novamente e será uma bênção para um mundo doente.

‘Um mundo cheio de promessas quebradas, egoísmo e separações. ‘Um mundo ansiando por luz novamente.

“Vejo um tempo de sete gerações em que todas as cores da humanidade se reunirão sob a sagrada Árvore da Vida e toda a Terra se tornará um círculo novamente.

“Naquele dia, haverá aqueles entre os Lakota que levarão o conhecimento e a compreensão da unidade entre todos os seres vivos e os jovens brancos virão até o meu povo e pedirão por esta sabedoria.

‘Saúdo a luz dentro de seus olhos, onde todo o universo habita.’

‘Pois quando você estiver no centro dentro de você e eu estiver naquele lugar dentro de mim, seremos como um só.

Ele viu seu povo sendo conduzido para a escuridão espiritual e a pobreza, enquanto os brancos prosperavam de maneira material ao seu redor. Mas mesmo nos tempos mais sombrios, ele viu que os olhos de alguns de seu povo guardavam a luz do amanhecer e a sabedoria da Terra, que eles transmitiram a alguns de seus netos. Ele viu a chegada de automóveis e aviões e por duas vezes ele viu uma grande escuridão e ouviu gritos e explosões quando milhões morreram em duas grandes guerras mundiais.

Mas depois que a segunda grande guerra passou, ele viu chegar um tempo quando seu povo começou a despertar, não todos de uma vez, mas alguns aqui e acolá, e então mais e mais. Ele viu que eles estavam dançando na bela luz do Mundo Espiritual sob a Árvore Sagrada, mesmo enquanto ainda estavam na Terra. Então ele ficou surpreso ao ver que dançando sob aquela árvore estavam representantes de todas as raças que se tornaram irmãos, e ele percebeu que o mundo seria refeito novo novamente e em paz e harmonia, não apenas por seu povo, mas por membros de todas as raças da humanidade.

É profundamente impressionante que, para o Povo Lakota, cada geração seja contada por 20 anos. Com essas palavras sendo pronunciadas no ano da morte do Crazy Horse, ou seja, 1877, a sétima geração da qual fala o líder Lakota nos colocaria em 2017.

Adaptado por Grian A. Cutanda (2020).

Sob licença Creative Commons CC BY-NC-SA.

Fontes
 
Benton-Banai, E. (1988). The Mishomis Book – The Voice of the Ojibway. St. Paul, BC: Red School House Publishers.

Brown, V. (1974). Voices of Earth and Sky. Happy Camp, CA: Naturegraph.

Fuller-Anderson, L. (2011). Warriors of the Rainbow. Kindle Publishing

McFadden, S. (1989). Legend of the Rainbow Warriors. Nova Iorque: The Harlem Writers Guild Press.

 Associado ao texto da Carta da Terra
 
O Caminho Adiante: Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.

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