Tenho dois amigos padres nos extremos do país. O do Rio Grande do Sul, disse-me que nunca viram em terras gaúchas, chover tantos metros cúbicos de água por metro quadrado. O da Amazónia, mostrou-me fotos arrasadoras da extrema seca que estão passando. Dois fenómenos, a mesma origem! O mundo dos homens, ainda não quis entender, que independentemente do seu entendimento ou não, 2023 foi o ano mais quente em 123.000 anos! A COP 28, realizada em Dubai nos Emirados Árabes Unidos, é no mínimo, usando termos adequados a este espaço, inusitada! (Para os mais distraídos o termo significa "Conferência das Partes", onde as "partes" são os países que assinaram o acordo climático original da ONU em 1992).
O presidente-executivo da empresa petrolífera estatal, Sultan Al Jaber, assumiu a presidência desse encontro! Conflito de interesses, é o mínimo que podemos dizer neste momento. Porém, a enorme presença de executivos vindos das empresas mundiais de combustíveis fósseis, que em vários casos ultrapassou o das comitivas de alguns países, é escandaloso. Assustador! Como já referiu al Gore em várias ocasiões, estamos tentando avançar, usando mecanismos e engrenagens de retrocesso! O descrédito em torno da Cop 28 é tremendamente contraproducente e prejudicial, para um mundo que precisa urgentemente virar a chave das energias usadas. Sabe-se, que apesar da demanda de petróleo talvez atingir o máximo durante esta década, e, portanto, possivelmente uma decadência em termos de futuro, não teremos grandes novidades até 2050. Isso será trágico para o planeta Terra. Estamos num patamar de emissão de gases três vezes maior do que seria tolerável para o aumento de 2° na temperatura.
O negacionismo tem se tornado neste século, a maior pedra no sapato, deixando um rastro de destruição na questão das vacinas e agora marcando sobremaneira as atitudes em relação às mudanças climáticas.
Os subsídios aos combustíveis fósseis abocanham cerca de sete por cento do PIB mundial! Enquanto isso, os números correlacionados à energia renovável, são irrisórios. Fontes renováveis como solar, eólica e geotérmica, por exemplo, juntas correspondem a apenas 2,5% da matriz energética mundial. Nenhuma conferência realizada em países árabes, terá moral para nos convencer do contrário! A maioria dos países ricos não tem o arrojo necessário para pôr um fim a este descalabro autofágico.
O Brasil contribui apenas com 3% da poluição mundial, e disso, 75% não tem nada a ver com o setor de petróleo. O epicentro do problema brasileiro é outro e os leitores sabem qual. Por aqui, o percentual do uso de biocombustíveis é altíssimo comparado com os países ricos e a energia elétrica constitui nossa segunda grande matriz no momento. Essa matriz brasileira é 61% hidráulica. Somando lenha e carvão vegetal, hidráulica, derivados de cana, eólica e solar e outras renováveis, nossas renováveis totalizam 47,4%, quase metade da nossa matriz energética. Já temos cerca de 3 milhões de pontos de energia solar no Brasil estamos crescendo.
Precisamos urgente, quebrar patentes de energia renovável e dar recursos para os países pobres. Alguém me disse um dia, que o grande problema era o dinheiro e que simultaneamente seria a solução! Para as questões climáticas, não tenho dúvidas! Os países de maior pegada ecológica devem abrir as algibeiras imediatamente. Estando em Portugal, vi com o orgulho, que o meu minúsculo país vai doar cinco milhões de euros, o que é uma quantia avultada comparada com outros maiores e mais poluidores!
Por fim, acredito piamente que o Planeta Terra já viveu sem o homem e poderá muito bem viver após ele! E que a terra, “não pertence ao homem, mas o homem é que pertence à terra”, como bem referiu o rei Charles! Compete-nos a nós, cuidarmos da “Casa Comum”, como a tem chamado o Papa Francisco.
Pe Manuel Joaquim R. dos Santos
Arquidiocese de Londrina
Dez. 23
Nenhum comentário:
Postar um comentário