sexta-feira, 14 de julho de 2023

Assumir o Concílio Vaticano II para realizar a conversão sinodal da Igreja

 https://www.youtube.com/watch?v=SvhWeR-Las4

Padre Leonardo Dall'Osto


Padre José Soares

Logo após o Vaticano II pensávamos que a Igreja seria pacificadora e samaritana. A estratégia de Roncalli e Montini foi espetacular mas ela encontrou muitos obstáculos fora e dentro da própria Igreja. Algumas questões merecem ser pontuadas: 

a) Igreja que dialoga e não impõe. O tempo da cristandade havia passado e os reclames da sociedade pedia uma igreja que ouvisse, escutasse e perdoasse.

A revolução cubana de 1959, reacendeu a lâmpada da disputa capaz de levar à terceira guerra mundial. A ilha do Caribe passou a ser vista como a sede do comunismo nestas terras indígenas e era insuportável tal ideia para os americanos. 

Roncalli não condenou ninguém e preferiu dialogar a ponto de receber a filha de Kruschev numa audiência - espetacular.

Para que condenar? As nuvens do amor não foram associadas ao Concílio? Para que tanta rigidez? Porque tanto medo se Jesus pregou tanto a esperança? (Romanos 5,5). Nossa Igreja esqueceu o Concílio e parece que muitos e muitas gostam mesmo é do poder e do autoritarismo. Por isso, melhor é sepultar o Vaticano II. 

b) Igreja que serve. O tamanho do serviço está de acordo com a largueza de cada comunidade ECLESIAL. Ora, Paulo afirma que "um só é o Espírito" (Efésios 4,4). Ele anima a todos e todas e cada comunidade deve buscar o seu caminho no serviço desinteressado. Ir ao encontro dos pobres e sofredores sem restrição e colaborar na construção da justiça e da paz. Deve buscar: como assim? Se não facilitar aos leigos/leigas o protagonismo, a Igreja ficará sempre nas mãos do clero e a missão não deslanchará. Acostumado a receber o povo nas igrejas e celebrar - o clero precisa atualizar sua missão com urgência - muitos sentem dificuldade no pontificado de Francisco e ainda não entenderam a proposta do Papa. Foi ele que alinhavou o documento da Conferência de Aparecida em 2007 e o caminho é sair, colocar-se como Igreja servidora e não servida e mergulhada em aliança com os poderosos desse mundo.

Muitos tentaram dizer que a evasão dos fiéis foi culpa da TdL e que a Igreja no Brasil estava muito ligada a política. Qual partido? Como assim? Bom ler a GAUDIUM et SPES n.1 e 6. Na missão de cuidar das dores dos homens/mulheres de hoje a Igreja deve ter uma palavra profética e que possa politicamente influenciar o tecido social sem ufanismo e sem arrogância.

PARTE II - Igreja do martírio. Este traço que acompanhou a vida de tantos homens e mulheres durante a história, continua forte e sem trégua. O sangue de Jesus Cristo continua rolando pelas ruas, pelos muros e praças de nossa civilização fragilizada e secularizada. Os modos de matar são diferentes e diversos e seguem caminhos bem mascarados na atualidade. O Papa tem falado sobre "a terceira guerra mundial por pedaços": isto não é martírio? Crianças assassinadas, mulheres violentadas, religiosos e religiosas sendo exterminados em vários lugares não é martírio? A fome que dizima a população de rua não é sinal de martírio? Os pedaços da violência formam o xadrez da indiferença e de uma doença nazi-fascista que se alegra com a dor e a morte dos pobres e sofredores de toda espécie. Urge um grito de basta nessa barbárie.

A igreja tem o que a dizer? Ela pode sinalizar alguma coisa para os crentes e não crentes? O caminho está no evangelho e no pontificado de Francisco. Quando mostrou-se continuador do Vaticano II, ele mesmo tornou-se mártir de sua escolha. Quando canonizou Dom Oscar Romero  - um grande bispo, místico, pastor e guia do povo de El Salvador, assassinado em 24/3/1980 - no dia 14 de outubro de 2018, Francisco sinalizou que fora da Europa existem santos e santas e que o mundo precisa olhar com mais acuidade para América Latina, Central e Caribe, com os olhos do respeito e não da exploração. 

A Igreja tem muito a comunicar e quando une o traço samaritano ao traço da santidade, ela consegue expressar a sua infinita vocação de ser sacramento e seguidora de Jesus de Nazaré, o Deus que amou e cuidou dos últimos e por isso, foi executado na cruz. Cuidemos de uma Igreja mais solidária e menos triunfalista.


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