quinta-feira, 13 de julho de 2023

Um piano navega no coração da Amazônia.

 Há uma seiva na música clássica brasileira originária da floresta, mostraram Heitor Villa-Lobos e Egberto. Uma pianista quis reconectar raízes de seu instrumento e levar compositores amazônicos rio acima até os povos ribeirinhos. Virou filme

A volta do piano navegador ao rio dos Arapium

Esta é mais uma história nostálgica, uma história de retorno para casa. Mas, diferentemente da história de Ulisses, personagem central da obra de Homero, a Odisseia, quem parte e retorna anos depois à terra natal não é o herói, mas a sua imagem em forma de filme documentário registrando a aventura de Carla Ruaro e seu sonho de levar o som do piano às comunidades ribeirinhas do rio Arapiuns, no coração da Amazônia. O herói, o curumim da beirada do rio, esse permanece em casa, na sua comunidade, pescando, tomando banho, brincando de pira, ouvindo histórias de boca da noite e sonhando com o curupira, o jurupari, o boto, a Iara e os Encantados do rio e da floresta que rodeiam a sua comunidade.

2017, início do período de seca no rio Arapiuns. A pianista erudita Carla Ruaro e sua parceira de empreitada, a primeira pessoa a abraçar a ideia, Tatiana Cobbett, bailarina, cantora e compositora das melhores, a Tatá, surgem num barco e aportam na praia da comunidade ribeirinha do Curi, no rio Arapiuns, trazendo a bordo um piano. 

O nosso herói, curioso, aproxima-se lentamente. Em pouco tempo, como num passe de mágica, escapando da precisão inútil da Matemática, ele já é dezenas de curumins, incontáveis curumins que, assentados no chão de areia da praia, se deixam encantar pelo som do piano de Carla. 

Dia novo chega e é hora de visitar outros heróis nas comunidades próximas, rio acima. O documentário que resulta dessa aventura percorre o mundo: Finlândia, Itália, Inglaterra, Marrocos, sempre arrebatando prêmios nos festivais de cinema em que concorre. Cinco anos depois, Carla retorna para apresentar ao nosso herói o registro fílmico desse encontro. Desta feita, no lugar do piano, um telão, um projetor de cinema, caixas de som. Em cada tomada, a alegria de se ver e ver o irmão, o parente, o amigo na tela. Estampados no rosto do nosso herói e seus múltiplos, o encantamento, o riso. No rosto de Ruaro e Tatá, a felicidade por se verem testemunhas de tão comovente cena.

Mas agora (como de regra em toda história nostálgica), esse curumim já não é mais o mesmo: a criança que ele era se tornou adolescente, os adolescentes se tornaram jovens, os jovens se tornaram adultos, e outros curumins vieram ao mundo. A equipe de Carla também cresceu: cinegrafistas, músicos, novos parceiros, tudo para tornar o reencontro algo indelével no coração e na mente de cada um de nós.

O momento da despedida, como era de se esperar, é marcado pelo longo e apertado abraço.

Muito mais que membros do corpo, braços são como raízes da alma. Há uma diferença clara entre o aperto de mão e o abraço, dois atos humanos que marcam os encontros e as despedidas, ambos efetivados por esses ditos “membros superiores”: no aperto de mão utilizamos apenas um dos braços em sua parte mais extrema. Ele nos permite olhar o outro “olho no olho”, como que para conhecê-lo. No formalismo do aperto de mão, no encontro com o outro, vemos uma promessa de conexão. Se a promessa não se cumpre, a despedida é outro aperto de mão. Já no abraço utilizamos os dois membros completos. Com eles envolvemos o corpo do A-MIGO. Olhos fechados para indicar que não precisamos conhecê-lo mais do que já o conhecemos, que confiamos nele. No abraço restabelecemos com o outro uma conexão que nunca deixou de existir e que, malgrado tempo e distância vividos, jamais se deixou abalar. Abraços vêm sempre acompanhados de risos e lágrimas, como a regar as raízes de uma árvore plantada nos corações dos abraçantes.

Carla e sua equipe talvez partissem para registrar o reencontro com as outras comunidades, rio acima. Mas haveria fôlego para isso? Melhor voltar pra casa, recarregar as baterias e aguardar a poeira das emoções se assentar.

Por outro lado, nosso herói permanece na sua comunidade, estampando no rosto o mesmo sorriso encantador, a mesma alegria, o mesmo olhar de AD-MIRAÇÃO. De novidade, apenas a lembrança dessa aventura que decerto ficará, agora entremeando as histórias contadas à boca da noite, ao redor das fogueiras. (Texto: Eduardo Serique)

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https://www.youtube.com/watch?v=5j5aJCX2_WY&t=2s


https://www.youtube.com/watch?v=68DvL1bJgYc


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CANÇÕES


https://www.youtube.com/watch?v=1wSnvFPSE5w








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