BRIGADEIRO EXPLICA O QUE AS FORÇAS TÊM CONTRA LULA
Os ecos do Orvil em 2021, o livro secreto da ditadura
Guilherme Peters/Agência Pública
Documentos inéditos indicam que, mesmo com veto de José Sarney, os ideais do Orvil foram divulgados dentro das instituições militares e reverberam no discurso bolsonarista
30 de agosto de 2021 - 12:00 - Lucas Pedretti
Orvil foi desenvolvido entre 1985 e 1988 e proibido de circular . No entanto, o CIE disseminou seus ideais em relatórios entre 1989 e 1991. O Exército afirmou que os documentos a partir de 1991 foram destruídos
No início de 1989, o chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, mudou o formato dos Relatórios Periódicos Mensais (RPM) do órgão para a “difusão de conhecimentos destinados ao seu público interno”. Com alterações na diagramação, na linguagem e na distribuição, o militar tentava ampliar a influência dos chamados RPMs na formação da tropa. Era um tempo de transformações no país, e o Exército se estruturava para o novo momento: a redemocratização.
Após mais de duas décadas de ditadura militar (1964-1985), o Brasil vivia sob a vigência da chamada Constituição Cidadã. Aprovada em outubro de 1988, a nova Carta Magna vinha com a promessa de aprofundamento da democracia, ampliação dos direitos sociais e respeito aos direitos humanos. Mas para o CIE as mudanças não eram positivas, ao menos segundo os informes RPMs obtidos pela Agência Pública que vão de fevereiro de 1989 a julho de 1991.
Esses informes são parte de um conjunto de RPMs do CIE, alguns deles inéditos, e transferidos para o Arquivo Nacional junto ao acervo do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).
No RPM de dezembro de 1989, por exemplo, a Nova República seria caracterizada como um “regime de permissividade política e social sem precedentes”, o que abriria espaço para uma nova “tentativa de tomada do poder” pelas esquerdas. Como consta nesses documentos, foi ampliando a disseminação dos RPMs que o CIE buscou melhor preparar os oficiais da força para enfrentar a nova ameaça.
O material indica que a principal influência do general Avellar Coutinho ao elaborar os relatórios de inteligência do Exército, já na vigência do regime democrático, era o Orvil, um projeto secreto do CIE desenvolvido entre 1985 e 1988.
A história do Orvil se tornou pública desde que o jornalista Lucas Figueiredo, autor de Olho por olho: os livros secretos da ditadura, revelou sua existência em 2007. O documento de pouco menos de mil páginas, cujo nome oficial é “As tentativas de tomada do poder”, sempre circulou entre militares da reserva que haviam integrado a estrutura repressiva da ditadura. Foi a fonte de inspiração para livros escritos por esses militares, como por exemplo Rompendo o silêncio, publicado em 1987 pelo único militar reconhecido pela Justiça brasileira como torturador, Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Os relatórios inéditos do CIE, que podem ser lidos abaixo, apontam para um capítulo ainda desconhecido desta história, revelado agora. Os documentos analisados indicam que os ideais do Orvil – que significa livro ao contrário – não circularam apenas entre pequenos núcleos de militares da reserva. Eles foram disseminados, de forma oficial, dentro da instituição.
Leia a reportagem completa no site da agência pública
https://apublica.org/2021/08/os-ecos-do-orvil-em-2021-o-livro-secreto-da-ditadura/
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