Gilmar Fraga - GZH republicado por Chico Alencar
O Centrão - aglomeração poderosa de partidos ditos "pragmáticos" - está pleiteando cargos no governo. Sua "credencial" mais recente é ter sido sustentáculo de Bolsonaro...Súbita conversão, no 7º mês do governo Lula, ao programa mudancista que o elegeu, em outubro? Propostas substantivas para alguns Ministérios que reivindicam, como o da Saúde e o do Desenvolvimento Social, e para a Caixa Econômica Federal, Correios e outras estatais?
Nada disso. É a repetição da velha toada do toma lá dá cá: votos no Parlamento, só com cargos no governo. Severino Cavalcanti (PP) - lembram dele? - presidente da Câmara afastado por cobrar propina do concessionário do restaurante da Casa - foi explicito quanto à Petrobras: "quero aquela diretoria que fura poço e acha petróleo".
Não se trata da alta política, com suas disputas saudáveis de projetos, visão de mundo e programas para o país: é a pequena política fisiológica. Politicagem de negócios, de interesses menores. Porta de entrada dos palácios da corrupção sistêmica.
Resta saber quanto o governo Lula vai ceder. E quanto isto comprometerá - pois certamente comprometerá - a implementação de programas que buscam enfrentar o problema crucial do Brasil: a desigualdade social.
Raymundo Faoro, no clássico Os Donos do Poder (de 1958), diz em "A viagem redonda", seu último capítulo: "o poder - a soberania nominalmente popular - tem donos que não emanam da nação, da sociedade, da plebe pobre (...) O chefe é um gestor de negócios, não um mandatário (...) A eleição, mesmo formalmente livre, lhe reserva (ao povo) a escolha entre opções que ele não formulou".
O imperativo da "governabilidade" - com maioria parlamentar - é forte e parece não haver disposição para mobilizar a população contra os bastidores da velha política. Este é o único antídoto contra as garras do clientelismo e da privataria sobre o interesse público.
Estou elaborando uma PEC (emenda constitucional) que estabelece as eleições para os legislativos APÓS a escolha do Executivo. Assim, o povo decidirá com clareza se quer dar maioria ao eleito(a) para o governo ou quer lhe deixar refém da oposição.
Até lá, cumpre ao Parlamento o seu papel de fiscalizar. Com o Centrão ocupando espaços de poder, a atenção tem que estar redobrada. E a cobrança por traansparência e nenhum recuo no programa vitorioso em outubro também.
Começam a surgir sinais positivos na governança do país, no que se refere a políticas sociais, controle da inflação, meio ambiente, saúde, educação.
Não podemos aceitar nenhum retrocesso! Precisamos avançar mais! Centrão não é "freio de arrumação". É "marcha a ré" mesmo.
Em frente!
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