Chico Alencar
José Celso Martinez Corrêa é impar, singular, brilhante. Excelente, extraordinário, excelso. Presente! Eu o conheci nas suas peças, quando ele se misturava à plateia, no grande ágape final – uma “orgia” teatral, um “paraíso” terrenal e breve.
Para o Zé, o teatro era a eternidade corporal aqui e agora. Oficina da divina criação, contra toda forma de opressão. “Andorra”, “Pequenos burgueses”, “Roda Viva”, “O Rei da Vela”, “Mistérios gozosos”, “Os sertões”, “Galileu Galilei”, “Na selva das cidades”...
Zé Celso sempre dizia "não adianta resistir. O importante é reexistir". E assim ele se foi, de repente, absurdamente, para se reinventar em outra existência. Destruído pelo fogo que mata mas que, diria ele, também aquece, acrisola: das cinzas à ressurreição.
Zé dormia, relaxado. Imagino esse “incendiário” generoso sonhando (ou melhor, tendo pesadelo) com fogo lambendo no seu quarto, no repouso do guerreiro. Zé se sentindo na porta do inferno de Dante. E, ao ler o aviso “Vós, que aqui entrais, abandonai toda esperança”, reagindo, rebelde: “Essa vocês nunca vão me tirar, porra!”
Zé Excelso, para sempre!
Foto: Michel Filho / Agência O Globo
Tom Zé
Jesus e seus ajudantes mais próximos tinham providenciado um piso de relva bem macia no pórtico da entrada do paraíso. Guizos em cordão florido, coroas douradas, música solene.
Com semblante preocupado, disse aos ajudantes: "Providenciem a bandeira a meio pau".
Quando ouviram falar em bandeira a meio pau... Aí os anjos ficaram realmente espantados.
"Mas, Senhor, é o Zé Celso que está vindo aí. Aquele diretor de teatro maldito que vivia blasfemando a torto e a direito!!!"
Jesus respondeu, com voz lenta de tanta impaciência: "Com perdão da palavra, seu ignorante. Vocês não sabem que ele trabalhou por mim o tempo todo de sua santa vida?"
O REI DA VELA
O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade, direção de José Celso Martinez Corrêa, com assistência de direção de Frei Betto e, no elenco, Dina Sfat, Etty Fraser, Othon Bastos, Renato Borghi e outros.
Estreou em setembro de 1967, no Teatro Oficina da Rua Jaceguai, em São Paulo. Espetáculo emblemático do movimento tropicalista, dedicado a Glauber Rocha, satiriza a ópera, os filmes da Atlântida e a comédia de costumes, com base num texto de Oswald de Andrade datado de 1933. A peça problematizava a relação palco-plateia, fazendo com que o público participasse ativamente na criação cênica. O Rei da Vela foi exibido na Europa e posteriormente filmado. https://memoriasdaditadura.org.br/pecas/o-rei-da-vela/
Texto da peça O REI DA VELA - https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4135364/mod_resource/content/1/TEXTO%20DA%20PE%C3%87A%20O%20REI%20DA%20VELA%20DE%20OSWALD%20DE%20ANDRADE.pdf
Arte de Lígia Barin
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