A BOCA MALDITA DE ROBERTO JEFFERSON E A BOCA DE FUMO DE DICRÓ

Abilio Neto

E se de repente a vida te vira pelo avesso, não reclame porque talvez descubras que o avesso é o teu lado certo. Faz tempo que li uma frase de conteúdo parecido em algum livro ou lugar que agora não me lembro, mas desde então a incorporei ao meu viver. 

Esta terrível pandemia tem nos ensinado muito: ficamos mais próximos de quem estávamos distantes e, às vezes, ficamos mais distantes de quem nos pareciam tão próximos. Como dizia Roberto em uma de suas canções, são “coisas da vida, choque de opiniões”. 

Depois de quatro meses confinado, perdi o medo de morrer com falta de ar. Dizem que é terrível, mas sedado ninguém sente nada. Assim, comecei a sair para padaria, farmácia, supermercado e loja de artigos sexuais (risos). Esta última estava fechada e me deixou uma dúvida: será que na pandemia o povo não está podendo? Isso é assunto para ser perguntado ao ex-deputado mensaleiro e consultor de putaria, Roberto Jefferson. 

A nossa secretária do lar que inicialmente foi afastada, depois gozou férias e voltou ao batente até porque cuida de um lar de idosos. Na hora que vou tomar meu café, ela já está com o rádio da cozinha ligado numa estação que reproduz o programa “No colo de Jesus e de Maria”, do padre Marcelo Rossi. Sem querer, mas querendo, presto bem atenção nas falas desse religioso para agora afirmar com toda convicção: nunca vi um padre tão imbecil em toda minha vida. Pode até ser santo, mas que é imbecil, isso é. 

E nem sei se Jesus gosta daquelas baboseiras que ele faz. E isso vem de longe: desde o tempo em que Xuxa tinha programa infantil na TV Globo. Naquele tempo, o padre já dava pulinhos e balançava as mãos para cima ao cantar suas músicas, como se estivesse dançando axé. Vem daí a minha cisma com ele. 

Vontade danada de frequentar um bar daquele que tivesse um forró sacana ou um pagode safado. Para nossa tristeza, Genival Lacerda teve um AVC em plena pandemia e quase passa para o lado dos justos, porém para nosso alívio está se recuperando. 

Saí à procura de um pagode safado para ver se me alegrava mais. E aí encontrei um vídeo inédito de Dicró, falecido em 2012, cantando um pedaço da letra do pagode A BOCA, que depois foi gravado por ele com a letra completa. Ele estava feliz com o povo num lugar que tinha cerveja, alegria e gente que não pensava em morrer tão cedo.  

Dizem que Deus coloca algumas almas bem próximas de alguns querubins que não são assim tão inocentes que é justamente para elas se lembrarem dos seus bons momentos na terra. Eu acho que Dicró se tornou íntimo de alguns querubins!