À beira de o Estado de Sergipe completar 200 anos de emancipação política em relação à Bahia - o que acontece nesta quarta, 8 de julho -, um dos seus filhos mais ilustres no campo das artes, o cantor e compositor Lula Ribeiro, 59 anos, toca numa ferida incômoda da sociologia sergipana: a falada baixa autoestima, a suposta propensão para a misantropia, para o pouco e ralo reconhecimento de si mesmo e sobretudo dos seus filhos notáveis.
Os sergipanos nascidos há 34 anos já não contaram com a presença física, moradeira, de Lula Ribeiro em Sergipe. Esse é o tempo que ele tem de arribado de Sergipe e que habita entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais - sobretudo no Rio, onde desenvolveu carreira, compôs, gravou os sete discos e um DVD e fez uma constelação de amigos no mundo da música e das artes que ele defende com acordes sonantes e dissonantes.
Mas ninguém pode acusar Lula Ribeiro de ter dado as costas à terra em que nasceu. Ele é mais avistado em Aracaju do que itabaianenses em feiras livres de Sergipe e de outras regiões do Brasil.
“Eu não fujo de Sergipe. Pelo contrário, estou sempre querendo encontrá-lo, mas acho até que o meu amor por minha terra não tem muita reciprocidade. Sempre fiz questão, nesses anos todos, que soubessem a minha origem”, diz Lula.
“Saí daí pois queria crescer como artista, e só por isso. Se não fosse a música, com certeza não teria saído. Viveria aí até hoje. É um lugar maravilhoso pra se morar. Mas, naquela época, era tudo muito complicado em Aracaju e não vi outra saída. Agora, se Sergipe foge de mim, ainda estou querendo saber”, reforça o cantor.
Lula Ribeiro, aliás, exibe alto o crachá da suposta falta de reciprocidade de trato e de afeto. Faz isso sem enfado do remorso ou a sanha da revanche. Mas com a sustança que só a um sergipano cabe e é consentido fazê-lo.
“Acho que o problema de Sergipe é com o sergipano. Sergipano não gosta de sergipano. Eu acho que é geral, em todas as áreas, e isso vem me incomodando cada vez mais. Precisa se fazer alguma coisa urgente, antes que toda a nossa memória seja esquecida de uma vez, pois já temos grandes nomes à beira do esquecimento. Creio até que as escolas poderiam fazer esse papel. As novas gerações precisam saber mais dos ilustres sergipanos”, teoriza.
Para Lula Ribeiro, as raízes profundas do DNA dessa suposta misantropia atingem de cheio o seu trabalho - não à concepção dele, mas ao reconhecimento, a acolhida e a exposição a Sergipe e aos sergipanos. Ele reforça que sua ação de cantor não encontra “nenhum espaço” na agenda de eventos públicos sergipanos. “E isso já me incomodou muito”, diz.
“Sei que se eu quiser cantar em Aracaju tenho que produzir, senão não faço nada por aí. Passei algum tempo sem ir a Sergipe e há seis anos, mais ou menos, através das redes sociais, pessoas que gostam do meu trabalho começaram a me questionar a razão de não fazer o projeto Lula Ribeiro Convida em Aracaju. Depois desse pedido, comecei a ter uma agenda constante de shows aí. Mas eu tenho que correr atrás para realizar, pois não sou convidado para nenhuma programação daí”, diz.
O incômodo dessa negação, para Lula Ribeiro, se agrava mais diante do fato de que ele não se nega sergipano nem sob o gelo da Sibéria. “Eu sou do mundo, moro entre o Rio e Minas há 34 anos, mas faço questão que me vejam como um sergipano de Aracaju, nordestino com muito orgulho”, diz.
E impõe um demarcador. “Mas pra isso acontecer não precisei fazer música essencialmente regional. Não preciso de nenhum tipo de subterfúgio pra reafirmar as minhas origens, que são claras e escancaradas, mesmo fazendo uma música mais universal. A minha obra não diz de onde eu vim. Eu, sim, digo”, constata.
Nesta Entrevista, Lula vai tecer impressões sobre a música feita em Sergipe, abordará a relação com seus diversos parceiros de composição, dirá do prazer de trazer a Aracaju o Projeto Lula Ribeiro Convida, reconhecerá uns três sergipanos que o recepcionam bem, revelará que sonha com um programa de rádio e TV no estilo da participação do “E aí, Lula Ribeiro”, que faz dentro do Programa Seleção Brasileira com Mário Sergio todas as sextas na Aperipê FM e reforçará o seu eterno apreço por Caetano Veloso.
Mas dirá, sobretudo, que se sente realizado com a escolha que lhe fez ser e existir numa atividade nada fácil. “Preparei-me pra isso. Saí em busca dos meus objetivos, estudei e estudo música até hoje. A música pra mim é a minha vida, não conseguiria viver sem ela”, afirma.
Luiz Carlos Cavalcante Ribeiro nasceu em Aracaju no dia 27 de outubro de 1960 - está a pouco menos de quatro meses de fazer 60 anos. Ele é filho de Luiz Gonzaga Ribeiro do Nascimento e de Francisca Cavalcante Ribeiro do Nascimento.
Lula é casado com a bailarina Suely Machado, mantenedora do Grupo de Dança Primeiro Ato, e mora atualmente no município mineiro de Brumadinho, na Grande Belo Horizonte.
Em 1979, ele foi aprovado no vestibular de Economia da Universidade Federal de Sergipe mas, já picado pela mosca azul da música, cascou fora e foi estudá-la no Conservatório de Música de Aracaju, onde trombou em conflitos entre o popular, que era seu objetivo, e erudito, que queriam lhe impor.
“Eu queria mesmo era cursar Belas Artes e não tinha aí, então por eliminação terminei fazendo Economia, que abandonei, pra estudar música no Conservatório e depois com Henrique Souza”, relembra ele.
Em 1986, depois de alguns atividades musicais em Aracaju - Florescer, seu primeiro show profissional, foi em 1982, no Teatro Atheneu -, Lula sentou praça no Rio de Janeiro.
Leia a excelente entrevista completa.. AQUI
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