Zezito de Oliveira (*)
Minha primeira reação a noticia da morte do grande poeta,
jornalista, escritor e agente cultural, ocorrida nesta madrugada do dia 07/07/2020.
Essa gratidão tem uma razão coletiva mais ampla, por toda a obra
produzida ao longo dos anos e pelo jeito como encarava a vida. A vida que lhe
quer bem, titulo do seu último livro. Daqui até a eternidade, lembrando Cazuza.
Em termos de razão pessoal, deixo a lembrança do encontro e acolhida que tive de Amaral Cavalcante nos idos de 1987, quando jovem agitador cultural no Bairro Améica, apresentei-lhe a proposta de patrocínio a Semana de Arte do Bairro América, inspirado no
modelo do Festival de Arte de São Cristóvão e do Encontro Cultural de Laranjeiras,
proposta aprovada e realizada nos anos de 1987 e 1988. Um sucesso!
As razões para a não continuidade deveu-se a uma postura que tínhamos
na época, os dirigentes da Associação dos Moradores do Bairro América (AMABA), de
aproximação com o pensamento e práticas da esquerda “basista” e “igrejeira” ,a qual naquele momento
era muito próximo ao Partidos dos Trabalhadores (PT) .
E a despeito de posições progressistas de Amaral Cavalcante a frente da Fundação Estadual de Cultura (FUNDESC), o governador de então, Antônio Carlos Valadares, integrava os quadros do Partido da Frente Liberal (PFL), equivalente ao DEM hoje em dia,
E além disso, no ano de 1987, acontecia a implosão da chamada Aliança Democrática, formada pela união do PFL com o PMDB , isso a partir da intervenção na
Prefeitura de Aracaju, o que levou a provocar afastamente de Jackson Barreto, então prefeito de Aracaju, acusado de corrupção.
O que também trouxe dificuldades para a AMABA obter patrocínio e apoio do governo do estado e da prefeitura, como ocorrido nos anos iniciais de retorno do lento, tardio e difícil processo
democrático.
Nestes primeiros anos pós 1985, ano de eleições diretas em Aracaju e nas outras capitais, pós 20 anos de ditadura civil-militar, ainda conseguimos fazer importantes
parceria no campo cultural com a Prefeitura Municipal de
Aracaju, a despeito das disputas do campo progressista, dividido com a aliança
de comunistas e socialistas independentes com Jackson Barreto de um lado, e
petistas correndo por fora, do outro lado.
Em anos recentes, na entrada
do Cine Vitória tive oportunidade de lembrar e agradecer a Amaral Cavalcante pelo acolhimento inicial a proposta da Semana de Arte.
Em 1989 começamos a contar com o apoio de agências internacionais de cooperação, Coordenadoria Ecumênica de Servico (CESE) e Visão Mundial, diante disso, podemos ficar distantes das disputas politicas de nossa provincia quanto a obtençãó de patrocinio e realização de parcerias. Isso de 1989 a 1996, ano em que a turma do PC do B que integrava a AMABA assume a direção da organização.
No decorrer do tempo, por meio
do facebook, pude acompanhar Amaral Cavalcante em muitas postagens curtindo e comentando. Em
alguns casos, principalmente nos primeiros tempos, ele também fez o mesmo com
relação a algumas postagens que publiquei.
Lembro de ter entrado em contato com a excelente página dos Jornalistas
Livres, por sugestão do Amaral
Cavalcante, que me marcou nesse sentido.
E finalmente, por mais de uma
vez, comentei em algumas de suas crônicas "faicebuquianas", ratificando a importância de serem
publicadas em livro, sem precisar abrir mão das redes sociais, inicialmente
ele objetou em função do alcance que os seus escritos alcançavam no facebook.
Respondi que os dois caminhos podem seguir paralelos, pois., se de um lado com as redes sociais podemos alcançar mais pessoas, de outro lado as publicações "somem" , já que ficamos com dificuldades para acessar depois de algum tempo, além de ficarem misturadas em um turbilhão de informação.
Daí, outros amigos, admiradores e leitores também manifestaram-se
assim, antes, concomitante e depois do que escrevi algumas vezes e então
tivemos o lançamento do livro “ A vida me quer bem”, cujos detalhes podem ser
conferidos nas reportagens abaixo.
No dia da noite de lançamento do livro de Amaral Cavalcante, embora convidado diretamente pelo autor, não pude participar, porque quinta-feira, era o único dia da semana em que ministrava algumas aulas em uma escola no interior de Sergipe.
Mas estamos aí, não adquiri o livro e até lembrei recentemente de
fazer isso, agora na quarentena. Um tempo bom para ler um livro, aqui lembrando uma canção de Djavan.
E para ficar com o pensamento ligado nas pessoas e nas situações que
podem nos levantar, animar, alegrar, que pode nos fazer conhecer o nosso lugar,
o nosso papel. Em especial nestes tempos de tempestade dentro da noite escura.
Com certeza, quando um tempo novo de reconstrução for favorável, for propicio, a leitura agora, de
autores como Amaral Cavalcante tem uma contribuição muito importante a
oferecer.
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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
O natal cultural da AMABA - Associação dos Moradores e Amigos do Bairro América.
(*) Licenciado em História (UFS); especialista em Arte-Educação (FSLF); professor de História na rede pública de ensino; agente/produtor/assessor de iniciativas culturais de base comunitária. Contato: zezitodeoliveira@gmail.com
E na reportagem acima, um detalhe. Por que não misturou João Gilberto com Cataluzes, Lula Ribeiro e etc.? Sergipanidade "please"...
Para saber mais sobre Amaral Cavalcante.
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