A seguir, duas cartilhas, elaboradas, uma, em 2007,
no Recife, a 14 anos do início da experiência; outra, em Jaboatão dos
Guararapes, em 2013, 20 anos depois. Entre a experiência inicial no Recife, em
outubro de 1993, e sua retomada, em janeiro de 2001, aconteceu a rica
experiência levada a cabo no Cabo de Santo Agostinho, de julho de 1997 a
dezembro de 2000, a qual representa a “idade de ouro” da Animação Cultural,
merecendo um registro à parte. Cremos que a leitura comparativa das duas
cartilhas ajudam a perceber bem o caminho que vem sendo percorrido por esta
experiência de Animação Cultural, sua evolução, seu crescimento orgânico,
coerente com as intuições originais. ´Parece uma árvore que de raízes
consistentes tem haurido seiva essencial, capaz de garantir-lhe identidade e
fecundidade, através de ramificações ricas de flores e de frutos, que bem
mereceriam, pelo menos, um olhar de simpatia do poder público e de todos e
todas que lidam com educação, e se preocupam em propiciar a nossa Juventude,
tantas vezes relegada ao abandono ou à vesga e opaca repressão, uma
oportunidade carregada de esperança, promessa de vida em plenitude.
A CARTILHA DE 2007 – Recife
SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO, ESPORTE E LAZER
DIRETORIA DE ENSINO
gerência de animação cultural – gac
Animação cultural
Uma experiência de inclusão social de
adolescentes e jovens
Com Você, a nossa Cartilha!
I – Lá onde a Cultura da Vida acontece
II –
Você está entrando nesta história...
III – Arte, Jogo e Brincadeira a serviço da Cultura
da Vida e da Paz...
IV – Começar bem: meio caminho andado!
V – E agora, haja
animação!
VI
–Colônia de Férias, um jeito novo de passar férias
VII – A articulação dos Estudantes
VIII – Núcleo de
Animação Cultural
IX- Animadores do FALE, Coordenadores
X – A Formação continuada
XI – Em que pode dar essa história
Bibliografia
ANEXOS
1 – Adolescentes, quem
são?
2 – Juventude e
Felicidade
3 – Animação Cultural
4 – Os Dez Mandamentos
do(a) AC
5 – Canções da
Caminhada
Com
Você, a nossa Cartilha!
Ela fala do cotidiano
da nossa experiência
de Animação
Cultural...
Ela fala de
uma linda e significativa história...
Ela fala das
nossas compreensões, dos nossos sonhos, das nossas propostas, da nossa
organização...
E traz, de
quebra, poemas e canções
que brotaram
da caminhada da gente e do povo...
Nada de complicado,
mas,
certamente, algo gostoso de se saber;
para alguns e
para algumas, talvez novo, surpreendente!
O importante é
que você se sinta convidado
a entrar nesta
história, a participar deste mutirão,
a
comprometer-se com esta causa: A Cultura da Vida!
Sim, porque
esses adolescentes, essas jovens,
são gente que
tem o direito de viver e ser feliz...
Um tempo
imenso para não fazer nada...
e dependendo
de um olhar compreensivo e amigo,
de uma mão
estendida, quem sabe,
da sua mão
companheira,
vai poder dar
passos interessantes
na direção da
dignidade e da solidariedade,
da cidadania,
da felicidade!
Mais do que
com os olhos,
leia estas
páginas com o coração,
pois, como bem diz o Pequeno Príncipe:
Só se vê bem
com o coração!
Gerência de Animação Cultural – GAC
Dezembro/2007
I – Lá onde a Cultura da Vida acontece...
A garra daqueles adolescentes... a vontade de
aprender!
<
Mas eu contava com a vontade de aprender, a determinação e garra
daqueles adolescentes: foram eles que enfrentaram todos os desafios, junto
comigo.
No começo, ensaiávamos na frente do banheiro e sem som, durante mais
ou menos dois meses. E eles junto comigo. Eu pensei até em pedir para trocar de
escola, mas, vendo todo aquele apoio dos garotos e aquela vontade de aprender
que eles têm, eu decidi enfrentar aqueles desafios, e, junto com eles,
conquistar o nosso espaço na escola.
A partir da primeira apresentação que fizemos na escola, a Diretora já
foi vendo o grupo com outros olhos. Passou a nos apoiar mais. Entraram mais
garotos e, daí em diante, eu e os garotos fomos vencendo os desafios que
apareciam.
Da metade de outubro de 2005 em diante, nós não ensaiamos mais na
frente do banheiro; usamos som em todos os encontros; temos total apoio da
Direção da escola; temos até o apoio de Dona Maria, que nos ajuda sempre que
precisamos.
Hoje, nós só temos que agradecer a Deus por todas as conquistas:
conseguimos conquistar o nosso lugar na escola; animo um Grupo bom, que me dá
orgulho; estou com 39 adolescentes, cuja maioria está comigo desde o começo.
Considero o GC que eu animo um Grupo vencedor, de muita garra e união!
Estou feliz com o Grupo e com as nossa conquistas, até hoje.>>
Recife, 12 de julho de 2006
Lourival
Santos, AC/Dança
EM Aderbal Galvão – RPA 3
Apesar das dificuldades...
<
Esse Programa visa fazer com que
adolescentes e jovens possam se identificar enquanto seres socialmente ativos,
dentro de uma proposta de melhoria de qualidade de vida, utilizando-se a magia
da Arte: a Arte que cria, transforma, expressa e até liberta! Liberta das
amarras impostas por um padrão social equivocado, que aprisiona as reações
realmente significativas que brotam da alma e do natural.
Apesar das dificuldades enfrentadas, em
todo os sentidos, principalmente, de ordem material, nós conseguimos sempre
ultrapassá-las. Nosso figurino, por exemplo, é feito (costurado e bordado) por
mim e pelos integrantes do Grupo Cultural (GC). Ensino-lhes as partes simples
das costuras e toda a parte de adereços e decorações.
A escola (...) é pequena demais e não
possuía local adequado para a realização de nenhum tipo de encontro que não
fossem as aulas da Educação Formal, pois as salas quase não comportam a
quantidade de alunos que a escola possui. Enfim, quando comecei os encontros,
os fazia na frente da porta de entrada da escola, numa pequena área, fugindo do
sol, para que nenhum dos componentes do GC adoecesse, pois era verão e o sol castigava
pra valer. Infelizmente, a quadra da escola não era coberta e o piso era tão
quente que fazia bolhas na planta do pé.
Começou a chover... Quando alguma
professora faltava, aproveitávamos a sala para a realização dos encontros de
forma mais confortável.
Houve um período em que fizemos os encontros na sala de computação. Foi uma
beleza, já que a sala é bem espaçosa e até climatizada, mas nossa alegria durou
pouco: a sala passou por reformas, em vista de melhoramentos para os
equipamentos nela existentes.
Só realmente aos sábados, é que temos a escola totalmente
disponibilizada para a realização de nossas atividades culturais.
A princípio, a Direção mostrou-se reticente quanto à aceitação do PAC
na escola, mas, com o passar do tempo, a sua opinião se modificou. Compreendi,
então, o porquê de sua atitude: a falta, talvez, de compromisso de alguns ACs
que passaram pela escola...
Hoje, a EM Professor Nilo Pereira pode alcançar lugar de destaque
entre as escolas em que o PAC acontece, e até conseguimos um espaço só nosso
para a realização dos encontros de Animação Cultural.
A Diretora autorizou a construção de um pequeno, mas confortável
galpão coberto, na parte externa da escola, cuja inauguração simbólica fomos
nós que fizemos (...). Foi muito legal! Essa inauguração foi, justamente, com o
ensaio da quadrilha que estávamos preparando para os festejos juninos.
No presente momento, tudo se encaminha de maneira satisfatória, tanto
para a escola, como para a Ger6encia de Animação Cultural (GAC), como para mim.
Recife, 13 de junho de 2006
Daciana Elvira Silva
Laurentino -
AC/Dança – EM Nilo Pereira – RPA 3
Um tempo forte para fazer a “Cultura”
acontecer...
<
No primeiro dia, trabalhei somente conscientização: reunião só com os
pais (...). Foram abordadas questões como violência, higiene pessoal,
convivência familiar, uso de drogas e resistência dos familiares à participação
dos filhos em atividades culturais de resgate de valores.
Fiz dinâmicas de reflexo, com brincadeiras que estimulam o desejo de
aprender Capoeira. O envolvimento deles com instrumentos da capoeira ajudou
muito. Dinâmica de Capoeira com aulas para crianças: pega capoeira, caranguejo,
aulas de palmas, ginga, golpes, esquiva.
Torneios e resistência física para maiores foram feitos no segundo dia
e no terceiro. Sempre, o espírito de competitividade falava mais alto para os
maiores. A questão da merenda facilitou também o interesse, tendo em vista que
muitos não têm condições de uma refeição de valores calóricos importantes para
2 horas de aulas energéticas com brincadeira de Capoeira.
Que me lembre, no quarto dia, chegaram alunos rebeldes da comunidade,
mas passaram mal, no meio da aula, devido à alimentação fraca em casa. Abordei
muito a higiene deles e fiquei horrorizado com depoimentos do dia-a-dia deles,
naquela comunidade, sobre estupros que teriam feito com alunos no colégio,
sobre a importância da escola naquele ambiente, as satisfações e insatisfações.
Passei, nos últimos dias, momentos delicados, pois estava, a todo momento,
intervindo dentro da aula dos menores e maiores, a violência à flor da pele.
Levo comigo a certeza de que somos capazes de mudar o dia-a-dia desses
jovens e crianças, nem que seja por aqueles momentos tão pequenos. Uma luz no
fim do túnel sempre vai existir para esses excluídos. A ressocialização é
importante.
(...)
Tenho dentro de mim um sentimento de angústia por saber que nem todos
irão se salvar dessa violência que assola nosso estado.
Muitos perguntavam quando eu iria voltar, pois se envolveram de uma
forma recíproca. Mas têm em vista o uso da arte para fazer o mal. Sofro por
saber que nem todos têm uma alimentação saudável, nem todos têm uma mãe para
dar carinho, um pai para aconselhar, quase todos têm envolvimento com drogas e
estruturas familiares comprometidas por álcool, drogas e crimes.
Acho que a salvação daquela comunidade é a escola e Ana Paula, a
dirigente, pois se envolve diretamente com a comunidade e com familiares, com
visitas periódicas às residências.
Tento compreender algumas coisas que vivi nestes dias ali dentro, mas
foi muito bom para minha mente, pois gerou uma satisfação pessoal muito grande
em poder ajudar.>>
Relatório “Colônia de Férias, janeiro 2006”
Marcelo Furtado – AC/Capoeira
EM Inês
Soares de Lima – RPA-6
Lances de férias... re-percussão!
Era o segundo dia do II Encontro de Férias do FALE,
no Pedro Augusto.
No final da manhã, parei para apreciar, por um instante,
a turma da oficina de Percussão.
Eram uns 20 oficinandos,
adolescentes e jovens, garotos e garotas,
acompanhados por 2 oficineiros,
que sugeriam ritmos diferentes
a serem exercitados pelos oficinandos.
À medida que vinha uma sugestão de coisa diferente,
senti falta de alguma informação
sobre a origem de tal ou qual ritmo,
Minha curiosidade: imaginava que por trás de alguns deles,
deveria haver alguma história...
quem sabe, até algum valor humano a ser realçado...
E é tão bom quando, em tudo o que a gente faz,
encontrar algum sentido maior para a nossa vida.
Mas fui olhando, olhando... ouvindo, escutando...
deixando tudo, tudo mesmo,
movimentos, batidas, posturas, semblantes...
em mim repercutir.
Como os instrumentos e seus tocadores dialogavam entre si,
sem palavras!
Percebi que havia todo um linguajar,
ao mesmo tempo, variado e articulado,
com alternâncias surpreendentes,
mas que aconteciam, não por acaso ou a esmo,
muito pelo contrário,
com perfeito entendimento dos momentos e dos modos,
onde a originalidade de cada indivíduo podia se expressar,
com total criatividade,
mas, ao mesmo tempo, em perfeita sintonia com o conjunto.
E era, então, uma ruidosa harmonia dos mais variados batuques,
tudo com tempo certo para começar e para terminar,
sem faltar nem sobrar uma mínima batida.
Quanta articulação, quanta disciplina,
quanto sentido de conjunto!
Uma máquina complexa, mas bem azeitada e engrenada, funcionando a todo
o vapor.
Imaginei, então, que por aí deveriam estar se passando
coisas da mais alta importância:
temperamentos diferentes que se harmonizavam,
caracteres que se amoldavam,
gente que se construía por dentro,
no embate e no encontro com os demais,
afirmando-se em identidade e comunhão,
em originalidade e cooperação.
Os rostos, de modo geral, se assomavam sérios,
mas não sisudos.
Transpareciam, sim, o maior empenho,
a mais cuidadosa atenção,
a consciência da importância do papel de cada um
e do que o coletivo era chamado a produzir.
“Estavam ligados”!
Reginaldo Veloso, Assessor da GAC
fevereiro de 2006
Com certeza, uma avaliação: Foi bonito! Foi
demais!
Sim, uma avaliação, por escrito, de um
adolescente que participou de certa oficina no II Encontro de Férias do FALE.
Estava lá, pregada num painel, na sala da oficina:
<<Oi! O dia de hoje foi ótimo. Gostei muito. Foi
demais.
Bom, eu escolhi a oficina de “Capoeira” porque eu
me inspiro na capoeira. Acho um ensino de vida e da Raça (brasileira). e é
muito bonito.
Daniel José (Capoeirista)
Escola Municipal Ma. Sampaio de Lucena>>
Para
você refletir:
-
Você já participou de experiências parecidas às que
acima acabam de ser relatadas?...
-
Que impressão lhe causaram os relatos acima
feitos?... O que mais chamou sua atenção?...
-
Como você imagina um Grupo Cultural?...
-
Como você se imagina enquanto Animador ou Animadora
Cultural?
-
Que tal a experiência de “Colônia de Férias”?... Faz
você sonhar com alguma coisa?...
-
E a experiência de Núcleo de Animação Cultural
sugere alguma coisa para você?...
II – Você está entrando
nesta história...
Ø Ao perceber-se que a desocupação de um imenso
contingente de adolescentes e jovens, atendidos durante poucas horas pela
escola, e nem sempre da forma mais interessante, representava um perigoso vazio cultural...
Ø Ao constatar-se o óbvio, isto é, que quando se tem
um tempo imenso para fazer nada, corre-se o risco de fazer tudo quanto não
presta, pois, com já diziam os antigos, “a
ociosidade é mãe de todos os vícios”...
Ø Ao deparar-se com a onda de criminalidade que
arrastava muitas vezes para a morte tanta gente jovem, envolvida com drogas,
narcotráfico e prostituição... concluiu-se que
Ø urgia ir ao encontro dessa gente, antes que o pior
acontecesse...
Ø urgia oferecer-lhes alternativas saudáveis e
prazerosas de utilização do seu tempo ocioso...
Ø urgia criar espaços e oportunidades, antes de tudo,
para os próprios alunos e alunas de nossas escolas poderem cultivar–se como
pessoas dignas, criativas e responsáveis, contribuindo positivamente para o bem
comum, a começar pela escola...
Ø urgia oferecer à instituição escolar novas
referências, que valessem como inspiração para um esforço de renovação da
prática do ensino, capaz de aproximá-lo mais do jeito de ser e das necessidades
vitais do seu público-alvo...
Ø urgia convocar gente para este inadiável mutirão
cultural...
A Secretaria de Educação de então, Prof. Edla
Soares, convoca, primeiro, uma equipe de pessoas[1] com experiência e conhecimentos na área de
juventude para formular uma proposta...
Em seguida, através do, então, Departamento de
Atividades Culturais e Desportivas – DACD, convoca jovens de todas as
Universidades sediadas na Região Metropolitana do Recife para esta tarefa.
O Projeto de Animação Cultural “Juventude em
Movimento” JEM, iniciado no mês de outubro de 1993, como experiência
piloto, nos morros do Ibura, RPA 6[2], no ano seguinte se
amplia para outras RPAs, onde havia escolas com as 4 últimas séries do Ensino
Fundamental ou Ensino Médio...
Por todo canto, nessas escolas, pela ação dedicada
e criativa desses Animadores e Animadoras Culturais, vão se formando Grupos
Culturais, que utilizam as mais diversas linguagens da Arte, do
Teatro, Música, Canto Coral, Percussão,Desenho e Pintura, Dança, Capoeira, dos Jogos
e Brincadeiras Populares etc., como
ponto de partida para um rico processo cultural de recriação das pessoas, da
escola e da sociedade.
E não é demais acrescentar que os próprios jovens universitários, são dos mais
beneficiados por esta experiência: uma dimensão de realidade e humanidade dá
nova profundidade e amplitude à sua formação.
A partir do ano 2001, então, com o apoio da nova
gestão, a qual, ao planejar-se em termos de ação por uma vida melhor para a cidade, prioriza a educação e a juventude, por decisão da Secretária de Educação, mais uma vez, a
Prof. Edla Soares, o Projeto de Animação Cultural toma novo impulso e
amplitude: passa a integrar todos os segmentos do DACD num único Programa de Animação Cultural, o PAC.
A proposta é a mesma de 1993, mas há uma nova
compreensão, uma nova consciência: o que no começo era enxergado simplesmente
como atendimento emergencial a uma urgência
da conjuntura, agora é compreendido de maneira mais clara e profunda,
sob a ótica do direito: Oferecer a
esta gente espaços e oportunidades de realização pessoal e social, é um direito
que urge ser reconhecido, respeitado e permanentemente satisfeito, é uma prioridade,
em termos de política pública de
juventude.
-
auto-estima,
-
relacionamento colaborativo e solidário,
-
enraizamento e identificação cultural,
-
preocupação com o meio ambiente,
-
exercício efetivo da cidadania...
Eis, então, os 5
eixos em torno dos quais gira o Programa, desde o seu nascedouro. Com mais
este sinal de compreensão e abertura: a Comunidade
do entorno de cada escola será levada em conta, tanto porque adolescentes e
jovens, mesmo não estudando nesta escola, poderão participar das atividades
culturais aí desenvolvidas, poderão integrar os Grupos Culturais aí formados,
como porque, Grupos já existentes na comunidade, animados por Voluntários e Voluntárias da própria Comunidade, poderão contar com os amplos
espaços da escola para melhor e mais comodamente desenvolverem suas atividades.
E o melhor disso tudo é que mudam as gestões e o
PAC só faz se afirmar, crescer, ampliar-se. Desde 2005 que estamos de nova
Secretária de Educação e de nova Diretora de Ensino, respectivamente, as professoras Malu
Alessio e Estér Calland. A credibilidade de nossa proposta e do nosso fazer
cotidiano veio casar perfeitamente com a simpatia e efetivo apoio de ambas, propiciando, assim avanços
significativos e novo entusiasmo em todos nós que fazemos este original
Programa.
A prioridade
inicial, adolescentes e jovens (1993), volta com toda a ênfase: em 32 escolas onde se dão
o 3º e 4º ciclos, além de um(A) AC do FALE, que assume o papel de
Coordenador(a) de Núcleo, temos uma equipe de 3 ou mais ACs das Linguagens de
maior interesse de cada escola: são 88 ACs.
Nas 05 Escolas de tempo integral, contamos com 42 ACs, que desenvolvem
atividades lúdicas e artísticas, nos horários alternativos aos das aulas das
disciplinas curriculares. Em 42 Escolas
de 1º e 2º Ciclos, estão lotados 62 ACs, que animam atividades com crianças. Um
total significativo de 227 Animadores e Animadoras Culturais.
Os Grupos Culturais do PAC, além das verdadeiras
apoteoses que têm sido, de fato, a experiência das Mostras Culturais, têm
dado uma contribuição marcante, em eventos maiores promovidos pela
Secretaria de Educação, Esporte e Lazer, ao longo do ano, oportunidades em que
se evidencia a importância do Programa, como ação educativa complementar de
longo e profundo alcance, se afirma a auto-estima de crianças, adolescentes e
jovens, bem como de suas próprias famílias e comunidades, o espírito de participação e colaboração se
fortalece, a identidade cultural se afirma, o empoderamento cidadão avança.
Para você refletir...
-
Deu para
entender melhor do que se trata?...
-
Seu
sonho cresceu ou encolheu?...
-
Você se
sente com disposição para dar continuidade a esta história ou se sentiu
acuado(a)?...
-
O que
está mesmo em questão: a vida desta gente jovem?... A sua vida?... Como
assim?...
III – Arte,
Jogo e Brincadeira a serviço da Cultura da Vida e da Paz...
A Arte,
algum tipo de Arte,
qualquer uma das linguagens artísticas,
pode ser o ponto convergente de interesses,
o ponto de encontro, o “mote” da animação...
O Jogo, a brincadeira, qualquer jogo ou brincadeira,
poderá cumprir o mesmo papel...
Quando a gente diz “mote”,
Não se entenda, simplesmente, “pretexto”, “ "isca” ou “anzol”,
para “pegar” a turma... Não!
O que a gente quer dizer é que a Arte, o fazer artístico,
já é, por si mesmo, uma experiência profundamente educativa,
onde as pessoas se organizam interiormente,
aguçam seu olhar frente a pessoas ou objetos,
realidades ou acontecimentos,
para captar-lhes a essência
e expressá-la com criativa genialidade,
com beleza de formas e força de expressão...
Dá para imaginar o tanto de concentração
da mente e do coração
que tudo isso exige?...
Dá para perceber o tanto de autodisciplina
e de capacidade de administrar os próprios talentos
tudo isso supõe?...
E o Jogo, a Brincadeira, a experiência lúdica, por sua vez,
cumpre o mesmo papel:
São pessoas que se encontram pra realizar algo juntas...
Cada jogo, cada brincadeira tem suas regras...
Quando observadas, a experiência de jogar, de brincar
obtém o resultado esperado,
os participantes se sentem realizados, a coisa aconteceu...
Ao contrário, quando alguém ou alguns burlam as regras
e “embolam o meio de campo”...há um sentimento de revolta,
de frustração e descontentamento...
E cada tipo de jogo, cada tipo de brincadeira
leva os participantes a vivenciarem, simbolicamente,
certos valores,
expressarem coisas boas e positivas,
como lealdade, companheirismo, cuidado com
os demais,
bondade de sentimentos e atitudes,
e até beleza artística, por exemplo,
quando envolve elementos coreográficos, musicais
etc.
Em geral, os jogos e brincadeiras são
parábolas
Da vida em
sociedade,
evelando, simbolicamente, seus valores e
anti-valores...
Surgiram em determinados contextos
sócio-culturais,
que seria interessante, até, pesquisar e
analisar,
para se perceber com maior profundidade seus
significados...
Deu para notar, também aqui,
o tanto de eficácia educativa que jogos e
brincadeiras podem ter,
especialmente, na vida de gente,
em acelerado processo de desenvolvimento
físico e psíquico?...
Artes, Jogos e Brincadeiras são “mote”, sim,
porque são capazes, imediatamente de mover,
de cativar, de seduzir, de arrastar, de
juntar,
de movimentar mentes e corações,
de desencadear energias e despertar
talentos,
de provocar atitudes generosas e espírito de iniciativa,
de criar beleza e produzir bondade,
de sentir-se vivo, criativo, protagonista,
ou, então, de confrontar-se com os próprios
limites,
fragilidades e vícios,
como oportunidade de re-criação do próprio
ser
individual e coletivamente...
E, para além da própria experiência
artística e lúdica,
uma oficina de arte, uma experiência de
jogar e brincar
é, sem dúvida, uma excelente oportunidade de
encontro,
que enseja ricas experiências de partilha e
comunhão.
Conversas,
antes de tudo, sobre o que se passa na
própria experiência de exercitar algum tipo de arte,
de jogar determinado jogo ou brincar de tal ou qual brincadeira:
-
primeiro, os próprios valores ou anti-valores que
certa maneira de praticar certo tipo de arte ou de jogo ou brincadeira, por si
mesmo já provocam, estimulam e
revelam...
-
tudo isso podendo ser relacionado com realidades e desafios do cotidiano das
pessoas envolvidas...
-
e até servindo para se avaliar o sentido da vida
ou a visão de mundo que cada um, cada uma cultiva...
Toda essa dinâmica, porém, é bom que ocorra
da maneira mais natural possível,
sem precisar de “forçar a barra”, sem sentimento de “obrigação” ou
necessidade de “mostrar serviço”,
mas muito mais como fruto da atenção que se dá às pessoas,
do cuidado de não perder a oportunidade de ajudar
esses adolescentes a alargarem seus horizontes,
prazer de atiçar neles e nelas a centelha da curiosidade,
a consciência de responsabilidade social, de cidadania,
a chama da solidariedade, a tocha do sonho maior:
um mundo diferente, onde só reine a beleza e paz!
Claro que, no correr da carruagem, dada a oportunidade,
todo tipo de tema do interesse desses adolescentes e jovens,
quer sugeridos pelo Animador ou Animadora,
ou espontaneamente colocados pelos garotos e garotas,
ao sabor dessas conversas,
por ocasião das atividades artísticas e lúdicas,
bem que podem ser abordados
e se tornarem um ponto de partida, um “gancho”,
para a aquisição de novas informações,
um ponto de arranque para novas compreensões,
o crescimento da consciência crítica
e o desenvolvimento de uma prática militante..
A “onda”
do momento, tudo quanto rola na mídia,
idéias ou iniciativas de um ou de outro,
datas do calendário escolar,
aniversários dos integrantes do Grupo,
passeios ecológicos, excursões culturais,
visitas a museus, a teatros, cinemas ou mostras de arte,
participação em festas e festivais,
participação em mobilizações e atos públicos,
acontecimentos maiores, que estão na boca do povo,
tudo, enfim, que vai pintando na vida dessa gente...
desde que caia no gosto e interesse
deles e delas,
poderá tornar-se ensejo
para eles e elas se cultivarem como pessoas
e cultivarem o mundo, cultivarem a vida,
a felicidade, a paz.
Ora, se a gente reconhece que a Arte, o Jogo, a Brincadeira
são o mote, isto é, o motor de todo este processo,
é preciso reconhecer, por isso mesmo, que
este processo será tanto mais rico
quanto mais se caprichar na busca da qualidade artística
ou da perfeição lúdica...
Exercer bem determinada linguagem artística,
o melhor que se puder...
jogar bem determinado jogo, fazer bem determinada brincadeira, o
melhor possível...
é condição imprescindível para se conseguir o melhor resultado
em termos de educação das pessoas envolvidas.
E nessa busca da qualidade, da perfeição,
os que parecem menos talentosos, mais devagar,
menos capazes,
serão vistos, sempre e a todo momento,
por ele Animador, por ela Animadora,
não como estorvo a ser descartado,
mas, muito pelo contrário, como prioridade.
E não só por ele ou ela, enquanto educador(a).
É todo o Grupo Cultural por ele ou ela orientado,
que aprenderá a assumir essa prioridade,
que dará essa atenção, que terá esse cuidado
para com quem chega com maior dificuldade...
Todos terão a oportunidade de crescer e se desenvolver...
Um ou outro, quem sabe, irá se surpreender
com potencialidades que jamais pensara possuir,
ou que jamais pensara que um
outro tivesse,
de forma que cada um, cada uma,
dentro dos seus limites e possibilidades,
poderá contribuir para a realização de atividades
ou obras comuns,
todos poderão ter o seu lugar, o seu papel no esforço coletivo
e se alegrar com o fruto da colaboração de todos e todas.
A arte das artes será, então, montar este quebra-cabeça
da presença e participação de todos,
cada um podendo ocupar seu lugar, com sua originalidade,
e compor com o conjunto dentro da sua possibilidade...
E a obra de arte mais bela,
a brincadeira mais gostosa e animada serão aquelas
em que cada um, cada uma poderá participar, no seu limite,
sem correr o risco de ser descartado, excluído ou deixado pra lá.
Para refletir:
-
Que importância educativa você percebe no
processo artístico?...
-
Que importância educativa você percebe na
experiência de jogar e brincar?...
-
Como você se imagina e sente, enquanto
Animador(a) Cultural de tal ou qual linguagem?...
-
Como pensa dar conta da sua tarefa enquanto
educador(a)?...
-
IV – Começar bem: meio caminho andado!
Se, de repente, você resolveu entrar nessa
história,
abraçar esta causa, assumir esta
responsabilidade,
é importante começar bem, começar do
comecinho...
Primeiro, é preciso tomar pé no bairro
em que a escola está situada, a comunidade
do entorno...
É um bairro já urbanizado, onde os
problemas
de saneamento básico, de iluminação pública,
de habitação e transporte estão
suficientemente resolvidos?...
É uma favela, onde tudo deixa demais a
desejar?...
O que se comenta a respeito deste
bairro?...
O que o próprio povo do lugar acha do seu
habitat?...
Quais as coisas boas
de que o pessoal fala com gosto e se
orgulha?...
Quais os problemas maiores
que são motivo de queixa ou até de vergonha
da população?...
E você vai saber disso tudo como?...
Mas você não acha que tudo isso, de algum
modo, repercute
na vida da garotada com quem você pretende
se encontrar?...
Seu trabalho de “animação cultural”,
do jeito que a gente entende,
poderá prescindir do conhecimento desse
contexto
em que a escola e o cotidiano desses
garotos e garotas se situa?...
Por uma questão de responsabilidade e
cuidado com as pessoas, você irá
encontrando o jeito de inteirar-se de tudo isso...
Com certeza, umas boas caminhadas pelo
bairro ajudarão.
Ao mesmo tempo, você vai precisar bem de
tomar pé
no ambiente escolar...
Do portão de entrada à sala da Direção,
passando pelas salas de aula, pela cozinha
e pelos sanitários, pelos espaços de lazer e pelos jardins ou hortas,
há muitos detalhes que importa observar...
É o que a gente costuma chamar de infra-estrutura...
O que existe e o que falta?...
O que está bem e o que deixa a desejar?...
Mas há, sobretudo, as pessoas:
Do vigia, que te recebe ao portão,
à Diretora ou Diretor que te encara com
maior ou menor simpatia e entusiasmo,
da merendeira ou faxineira aos professores
e professoras,
há uma porção de gente com quem você irá
cruzando
pelo pátio ou pelos corredores, ao longo da
semana,
cada qual com seu jeito de ser, sua função,
sua maneira de encarar e tratar a garotada,
as famílias, o bairro,
seu ponto de vista sobre a proposta do
PAC...
É o que a gente chama o quadro funcional
da escola...
Como ir contatando e conhecendo cada umas
dessa figuras que,
de uma maneira ou de outra, estão na
jogada,
e cujas atitudes e iniciativas,
necessariamente repercutem
no dia-a-dia dos adolescentes?...
Cada AC tem seu jeito de chegar,
de ir caminhando com as pessoas...
fazendo amizade e conquistando confiança...
Mas há sobretudo essa garotada irrequieta e
buliçosa,
agressiva e ruidosa,
que em sala de aula desafia a paciência e
competência
dos mestres e mestras,
e, fora, nos momentos de recreação, grita,
corre, ri e chora,
pinta e borda, fazendo estremecer as
paredes
e sacudindo mentes e corações dos que deles
cuidam...
Eles e elas são seu público-alvo!
E você vai fazer como para chegar a eles e
elas,
começar um relacionamento, fazer amizade,
conquistar a confiança
e, finalmente, conseguir sua atenção para
proposta do PAC?...
Um tempo para se conhecer, para se saber
quem é quem
e o que se quer...
Como programá-lo e agendá-lo?...
Poderia haver uma mobilização inicial,
um tempo de divulgar a proposta,
motivar e juntar a turma...
Uma faixa, em local estratégico?...
Um cartaz na entrada de cada sala?...
Um mural gostosamente ilustrado,
com editorial, artigos,
entrevistas,palavras de ordem?...
Daria para pensar num evento,
tipo: lançamento ou relançamento do PAC?...
De que constaria?... Como organizá-lo?...
Com quem se contaria?...
Se tudo isso já foi feito antes,
porque o PAC já existe aí há mais tempo,
é o caso de você se reunir com o Núcleo
e ver com a turma como iniciar seu trabalho
de animação...
É possível que um pouco de tudo quanto foi
sugerido antes
possa acontecer, especialmente,em função da
sua atuação.
E como marcar e realizar os primeiros
encontros?...
Não importa qual seja a linguagem que você
irá trabalhar,
as dinâmicas,
as brincadeiras, as danças circulares
poderão cumprir um papel bem interessante
no sentido de integrar as pessoas,
fazer aflorar interesses e idéias,
e fluir a comunicação entre todos e todas,
ajudando a superar a timidez, os bloqueios,
criando o gosto de se encontrar e
participar...
Para
refletir:
-
Você já
fez alguma experiência de planejamento?...
-
O que
foi dito e sugerido acima lhe parece fácil... difícil... maneiro... custoso...
desafiante... apaixonante?...
-
Tem
idéia de quem poderá ajudá-lo(a), dar-lhe uma mão?... Com quem conversar...
trocar “figurinhas”?...
V – E agora, haja animação!
À medida que vai se formando um Grupo Cultural,
vai-se precisar de garantir e programar
um acompanhamento
permanente
feito de presença fiel, de atenção a cada
um, a cada uma,
ao Grupo,
com sensibilidade e muita presença de espírito,
muita lucidez e muito jogo de cintura,
muita capacidade de adaptação e de
improviso...
Vai-se precisar de alguém antenado, todo o
tempo,
capaz de ler nas entrelinhas,
e, por trás de cada expressão facial, de
cada gesto,
de cada palavra ou atitude, de cada
silêncio ou impasse,
perceber desafios e pedidos de socorro...
Mediante oportunos questionamentos, então,
“puxar” pela turma, botar o pessoal pra pensar,
para usar a própria cabeça,
desenvolver o espírito de observação e a
consciência crítica,
a atenção e o cuidado de um para com o
outro,
e o espírito de iniciativa, criatividade e
colaboração,
a capacidade de organização, de trabalhar
em equipe,
o gosto de decidir, assumir e realizar...
Aqui e acolá, pode ser oportuna uma
informação,
uma motivação a mais,
uma palavra que venha a complementar dados,
esclarecer duvidas ou precisar conceitos e
compreensões,
uma palavra amiga que ajude a superar
incertezas,
a vencer medos ou vacilações...
O Animador, a Animadora Cultural, no meio
da turma,
é alguém capaz de insuflar “ânimo”
numa gente, tantas vezes e por tantas
razões, desacreditada, desencantada, desalentada, desmotivada,
ou, simplesmente, revoltada,
sem endereço positivo para a sua
agressividade...
O Animador, a Animadora Cultural, é,
sobretudo,
despertá-la para a fé na vida,
o gosto de “viver e não ter a vergonha de
ser feliz”...
O Animador, a Animadora Cultural
é alguém capaz de atear, no coração de cada
adolescente,
a chama do sonho maior,
que se torna combustível a impulsioná-lo
em busca da Terra Prometida, do Paraíso
Perdido,
o Mundo diferente pelo qual anseiam os corações
dos que “têm fome e sede de justiça”.
O Animador, a Animadora Cultural,
precisa, então, antes de tudo,
conscientizar-se
da sua importância, da grandeza da sua
missão,
do tamanho e alcance do seu compromisso!
Precisa preparar-se cuidadosa e continuamente
para exercer bem o seu papel
e prestar um serviço de qualidade
a esta gente de tantas maneiras excluída
e por tantos fatores desqualificada,
tão sedenta de apoio e oportunidade,
que só está à espera de um olhar confiante,
de uma mão firme, de uma palavra lúcida e
amiga,
de um toque de graça.
Do(a) AC
se espera uma grande capacidade de
improviso,
Mas, no PAC, improvisar não é simplesmente
improvisar,
não é fazer ou dizer “o que me dá na
telha”...
Improvisar com responsabilidade,
supõe sensibilidade, cuidado, atenção,
ser bom observador, ter olhar e ouvidos,
o tempo todo, atentos, ligados:
¨
capacidade de perceber
os sinais que a qualquer momento
apontam...
¨
capacidade de ler nas entrelinhas,
de decifrar os semblantes, as expressões, verbais
ou não,
¨
capacidade de
ajudá-los a acolher os apelos que a
realidade, os acontecimentos do seu dia-a-dia colocam, aqui e agora...
¨
capacidade de
ajudá-los, com agilidade de questionamento, com um toque provocador ou
estimulante,
a encontrar respostas para os desafios, aqui e agora...
Presença de espírito, com certeza,
para não perder nenhuma oportunidade,
mas com conhecimento de causa,
isto é, sabendo o quê e por quê vai dizer,
o quê e por quê perguntar,
o quê e por quê apoiar e estimular...
o quê e por quê sugerir.
Uma capacidade de improvisar que não se
improvisa,
que supõe uma acurada e permanente preparação:
¨
equipar-se de
conhecimentos atualizados sobre tudo quanto tem a ver com a realidade e a vida
de adolescentes e jovens...
¨
pesquisar, ler, a
respeito de educação, de animação cultural, da sua linguagem artística ou
lúdica...
¨
estar antenado, o
tempo todo, com o que se passa no mundo e repercute, de uma forma ou de outra,
direta ou indiretamente, na vida dessa gente...
¨
estar por dentro,
especialmente, da vida da escola, do seu projeto político-pedagógico, da vida
da comunidade do entorno, da vida das famílias...
Observação, estudo, entrosamento, tudo isso, enfim,
é que nos dá a capacidade de improvisar bem
e fazer de todo lance
uma oportunidade de educação e crescimento,
um ponto de partida para a tarefa de
animação cultural.
E essa capacidade pedagógica,
esse jeito feliz de lidar com pessoas,
situações,
momentos e repentes
é que vai fazer, pouco a pouco, desabrochar
o novo:
¨
uma nova compreensão
de si, dos outros, do mundo...
¨
um novo gosto de viver
e conviver...
¨
um novo jeito de ser,
individual e coletivo...
¨
uma nova atitude, uma
nova iniciativa, um novo passo na direção de uma vida diferente, de um outro
mundo...
Enfim, só é capaz de improvisar bem,
isto é, responsavelmente, sensatamente,
acertadamente, eficazmente, educativamente,
quem se prepara continuamente pro que der e
vier,
até para perceber do que não é capaz por si
mesmo,
as ajudas, colaborações e assessorias
que, oportunamente, vai precisar buscar e
aonde buscá-las.
Mas sobre uma coisa é preciso insistir
sempre:
a atenção
à vida!
Este é o grande segredo do nosso sucesso,
a base da nossa formação continuada,
o ponto de arranque da nossa tarefa de
animação cultural.
Uma atenção que não se limita
a observar cada pessoa, cada gesto,
cada palavra, cada coisa que acontece,
cada passo que se dá,
mas que tem o cuidado de registrar por escrito,
tudo isso.
A gente não pode dispensar-se de um
fichário,
ou de um caderno de acompanhamento,
nosso Caderno de Bordo!
Afinal de contas,
essa nossa experiência educativa
Não deixa de ser uma “viagem”,
uma aventura cheia de riscos, de lances
surpreendentes,
de descobertas gostosas, de altos e baixos,
de acertos e mancadas...
Um caminho que vai se fazendo ao sabor da
vida...
Poderíamos dizer que este Caderno de Bordo
é o nosso “manual”!
Nele, você vai anotando, dia após dia,
semana após semana,
tudo quanto nesta experiência vai chamando
a sua atenção,
tudo quanto é, por alguma razão,
significativo:
Ø coisas positivas,
que brilham como sinais de vida, de mundo novo, e precisam ser
apoiadas, incentivadas, ressaltadas e divulgadas...
Ø coisas negativas,
que nos preocupam e desafiam, que demandam uma análise mais séria e profunda
que nos permita identificar a natureza e as raízes do mal...
Ø coisas que nos encantam
ou nos intrigam, que nos deixam
realizados ou encabulados, que nos confirmam em nossas certezas e opções ou nos
provocam dúvidas e questionamentos, que nos obrigam, quem sabe, a inverter
rumos e prioridades...
Ø necessidades que vão emergindo, no caminho mesmo que vamos
fazendo com esta gente irrequieta, curiosa e sedenta, carregada de tantos
problemas, marcada por tantas carências e taras...
E o ótimo é quando você consegue ilustrar cada lance
com palavras
e depoimentos escritos
dos próprios adolescentes e jovens...
Sobretudo depois de acontecimentos,
atividades ou ações mais importantes do
Grupo Cultural.
Conseguir que eles e elas façam seus
relatos,
façam sua avaliação, digam, por escrito, o
que acharam,
o que lhes pareceu mais importante,
do que gostaram e do que não,
façam suas críticas ou dêem suas sugestões,
será de um valor imenso.
E será sobre tudo isso que você vai
debruçar-se...
Aliás, esse é o sentindo mesmo do verbo refletir,
curvar-se sobre... com a mente e o coração.
Com esse caderno em mãos, com essas
anotações,
com sua reflexão,
é que você chega para a reunião do seu Núcleo de Animação
Cultural...
Para
refletir:
-
O
tamanho da tarefa o empolga ou espanta?...
-
Você já
tinha o hábito de refletir sistematicamente sobre a vida, a sua vida, a vida do
povo?... Como assim?...
-
Você já
vem de alguma experiência de educação que tem alguma coisa de parecido?...
Qual?...
-
Ao
encarar a proposta, por qual aspecto ou tarefa você se sente mais
desafiado(a)?...
-
Você
sente que vai precisar mais do quê?...
VI –
Colônia de Férias, um jeito diferente de passar férias
A Colônia de Férias
é o tempo
forte do processo de Animação Cultural.
Acontece nas férias do mês de janeiro ou no
recesso de julho.
É, ao mesmo tempo, ponto de chegada e de
partida.
Por dispor-se, então, de todo o espaço
e de todo o tempo, na escola,
é uma oportunidade privilegiada:
ao longo de 15 dias, estudantes que,
durante o semestre passado, em seus Grupos
Culturais,
viveram experiências significativas e gostosas
de relacionamento e criatividade,
de construção coletiva e de festa,
chegam agora para encontrar-se, bem mais à
vontade,
em oficinas e debates, capazes de
proporcionar-lhes
novos e interessantes aprendizados,
novas e importantes compreensões...
Para refletir:
-
Você já passou férias assim, ou foi, por acaso, oficineiro num em
algum programa de Colônia de Férias?...
-
Que importância percebeu ou imagina haver numa tal experiência para
estes(as) adolescentes e jovens?...
VII
- A articulação dos(as) Estudantes
Muito importante, como instância de
representação,
de articulação, de consulta, de prática da
democracia,
de exercício da cidadania
é o Fórum
de Acesso Livre dos Estudantes (FALE),
coordenado e secretariado pelos próprios
estudantes.
Este Fórum merece cuidado especial
dos Animadores e Animadoras Culturais,
ciosos da importância maior que o mesmo
tem,
no processo de educação para a Cidadania.
O FALE valerá como caixa de ressonância
de tudo quanto acontece na escola,
e, portanto, do que se passa com o PAC
também...
Importante é que os Animadores e Animadoras
consigam desencadear, em cada escola,
um processo democrático de escolha
desses representantes,
levando em conta critérios como o de faixa
etária e de gênero,
para que seja assegurada uma verdadeira e
equilibrada representatividade.
E os(as) estudantes escolhidos pelos colegas,
não integrariam, naturalmente, antes de
tudo,
o próprio Núcleo de Animação Cultural da
escola?...
Nas escolas de 3º e 4º ciclos, o(a)
Coordenador(a) do Núcleo é, também, o (a) Animador(a) do FALE,
aquele(a) que se encarrega, especialmente,
de interessar os(as) demais colegas
por essa instância básica de educação
para a prática da democracia,
para o exercício efetivo da cidadania...
bem como, de acompanhar e subsidiar
os(as) estudantes escolhidos como
Representantes
da escola no Fórum, ou em outras instâncias
de representação.
Um momento muito especial e importante
desta experiência
é o Encontro de Férias do FALE.
Nas férias de janeiro e no recesso de
julho,
enquanto acontece em todas as escolas da
Rede
a Colônia de Férias,
durante dois ou três dias, acontece o
Encontro do FALE:
de cada escola onde funcionam os 2 últimos
ciclos do EF
ou o Ensino Médio,
uma dezena de estudantes,
os Representantes do FALE e seus convidados
têm a oportunidade especial
de participar de uma experiência
intensiva:
em Oficinas
de diversas linguagens,
esses(as) adolescentes e jovens são
instigados
tanto a um aprendizado mais intenso e
exigente
das técnicas próprias de cada
linguagem
quanto a uma reflexão mais profunda
dos temas juvenis...
saindo desta experiência com uma vibração
maior,
uma consciência mais clara e profunda,
uma competência mais aprimorada,
que os faz capazes de se tornarem agentes multiplicadores,
desta mesma experiência em suas respectivas
escolas.
Para refletir:
-
Que importância você percebe no FALE?...
-
Como contribuir para que em seu GC cresça o gosto de debater sobre
direitos e deveres relativos à vida dos(as) adolescentes e jovens, à vida da
escola e da comunidade, o gosto de participar de ações e lutas?...
-
O que e como fazer para que se desenvolva em cada GC a preocupação com
se fazer representar no FALE e em outras instâncias onde os direitos de
crianças, adolescentes e jovens são debatidos?
-
Como construir, com os(as) integrantes do GC, critérios de escolha e
de atuação de seus representantes?...
-
Já participou de um Encontro do FALE como jovem ou como oficineiro?...
-
Que importância você percebe num tal encontro, tanto para a vida
pessoal dos(as) participantes, quanto para a participação deles(delas),
posteriormente, na vida da escola?...
VIII
- Núcleo de Animação Cultural - NAC
Em cada escola
onde o Programa de Animação Cultural
acontece,
é importante e necessário que se forme
um Núcleo de Animação Cultural,
que dê conta de pensar e encaminhar, em
conjunto,
o processo de animação cultural na escola.
Esta é também, juntamente com o próprio GC,
a primeira
instância de formação continuada
dos Animadores e Animadoras Culturais.
O Núcleo deve ser uma das primeiras
conquistas
dos Animadores e Animadoras Culturais:
conseguir que representantes
de cada um dos segmentos da vida escolar
(estudantes, representantes do FALE,
direção, professores, funcionários, voluntários, pais e mães + os Animadores e
Animadoras Culturais)
consigam agendar, de tempos em tempos, mas
regularmente,
um encontro, uma reunião,
·
para a troca de
experiência, de pontos de vista, de informações e sugestões
·
para avaliar e
planejar o processo de Animação Cultural... acertar os próximos passos... os
apoios e colaborações entre todos e todas...
·
compreender melhor o
que se passa na vida dos adolescentes e jovens...
·
definir as questões
que demandam análise mais acurada, estudo mais profundo, com ajuda, quem sabe,
de leituras ou até mesmo de assessoria especializada...
·
planejar ações
integradas, eventos, intervenções culturais em que todas as linguagens
interagem: eventos, campanhas etc.
Em função da organização, da vida e atuação
do Núcleo,
é que surge a figura do(a) Coordenador(a)
do Núcleo.
E esta tarefa é assumida pelos(as)
Animadores(as) do
Fórum de Acesso Livre dos Estudantes,
o FALE.
O Coordenador, então,
além de cuidar da existência e atuação
deste Fórum,
assume, em cada escola de 3º e 4º Ciclos,
a tarefa de articular, organizar e
dinamizar permanentemente
o Núcleo de Animação Cultural.
Para refletir:
-
Como você está encarando e desempenhando sua tarefa
de AC, na escola: como um trabalho de equipe, integrado,,, como ação de um
coletivo?... Ou será que você age por própria conta, isoladamente,
individualisticamente?...
-
Que importância poderá ter para seu trabalho pessoal
uma experiência de Núcleo, de atuar em equipe, de maneira integrada e
coletiva?...
-
Que força e significado poderia ter uma intervenção
em conjunto dos vários grupos Culturais, na vida da escola e da comunidade?...
-
Como se organizar em Núcleo, quais os primeiros
passos a dar?...
IX - Animadores(as) do
FALE, coordenadores(as) do Núcleo
O bom seria que vocês se entendessem e atuassem
como Animadores(as) de Animadores(as)...
E que, ao mesmo tempo, não perdessem de vista o próprio FALE.
Aliás, vocês só serão chamados, com razão, de ANIMADORES(AS) DO
FALE, se o próprio Fórum de Acesso Livre dos Estudantes existir, de
direito e de fato.
E assim, o papel múltiplo e específico de vocês poderia ser assim
compreendido e exercido:
1.
Alguém que, em cada escola, cuida de ver como
cada AC que atua na escola, está dando conta da sua tarefa... Não, como fiscal
ou vigia, mas como companheiro(a) que quer estar junto para fortalecer a
experiência do PAC e garantir que a garotada seja bem atendida (fidelidade
do(a) AC a seu Grupo Cultural, pontualidade, competência técnica e
pedagógica...);
2.
Alguém que articula e anima o NÚCLEO DE
ANIMAÇÃO CULTURAL, como espaço de convivência amigável, de companheirismo, de
reflexão, avaliação e planejamento;
3.
Alguém que, continuamente, chama a atenção
dos(as) colegas para cada um dos 5 Eixos do PAC e para a dimensão
educativa da atuação do(a) AC, que tem, nos 5 Eixos, suas cinco metas
essenciais;
4.
Alguém que incentiva os(as) colegas, sobretudo,
para o cultivo, em cada Grupo Cultural, em cada atividade, do espírito de Cidadania:
a consciência de direitos e deveres, o gosto pela participação na construção do
bem comum, na vida da escola, do bairro, da cidade, inclusive, o interesse em
escolher seus representantes para o FALE, para o OP e todas as instâncias de
participação democrática, na escola e fora;
5.
Alguém que reúne, especialmente, os garotos e
garotas escolhidos como Representantes às diversas instâncias de
representação (veja acima), para ajudá-los e subsidiá-los na sua missão e
tarefa de representar, tarefa esta de mão dupla, do GC para o Fórum, as
instâncias de gestão da escola, o OP etc. e vice-versa;
6.
Alguém que incentiva oportunamente a realização
de ações integradas, na escola e na comunidade, levando em conta o
cultivo dos 5 eixos do PAC, e, muito especialmente, a dimensão de Cidadania:
oportunas e regulares intervenções culturais, como eventos e campanhas de
várias modalidades etc.
7.
Tudo isso supõe vocês sejam alguém que tem clareza
sobre a natureza, os objetivos e a metodologia do PAC, e um conhecimento e
traquejo quanto à Dinâmica de Grupo, que lhe dê condições de articular e
assessorar todas pessoas envolvidas, especialmente, os(as) próprios(as) ACs;
8.
Tudo isso supõe, igualmente, que vocês se
dediquem a esta tarefa de modo exemplar, sendo uma referência para os
seus companheiros e companheiras.
Para refletir:
-
Você, Animador(a) do FALE, qual a compreensão que
você tem do seu papel na escola?...
-
Como está desempenhando ou pensa desempenhar a
tarefa de incentivar a representação dos estudantes?...
-
O que mais o(a) desafia?...
-
Do que mais sente falta, no exercício desta
tarefa de Animador do FALE?...
-
Como está desempenhando ou pensa desempenhar a
tarefa de organizar e animar o Núcleo?...
-
O que mais o(a) desafia?...
-
Do que mais sente falta, no exercício desta
tarefa de Coordenador do Núcleo?...
X -
A formação continuada
Se alguém perguntasse pela escola, pelo ”curso do PAC”,
você responderia sem titubear, é a Vida!
E o manual,
outro não poderia ser senão,
seu Caderno
de Bordo!
Sua classe, instância primeira de aprendizado coletivo:
o Grupo Cultural que você acompanha e anima
“ensinando e aprendendo uma nova lição”;
seu apoio pedagógico, o Núcleo de Animação Cultural, o NAC!
E baseado em todas estas anotações e toda
esta reflexão
é que você produzirá todos os meses o seu Relatório Mensal.
Sobre os Relatórios Mensais
dos Animadores e Animadoras Culturais,
cada Coordenador de Linguagem se
debruçará,
para deles extrair os indicativos
que nortearão o planejamento geral
do Programa de Animação Cultural,
especialmente os rumos do processo de formação continuada.
A Formação Continuada,
embasamento substancial de todo este
processo,
consiste, então, ordinariamente,
-
de um Seminário, de 20 horas, no início de
cada semestre;
-
de um Encontro Geral, de 04 horas, na 1ª
terça-feira de cada mês;
-
de Oficinas de Linguagem de 4 horas, na 2ª
e 3ª terças-feiras do mês, de acordo com
a opção de cada AC;
-
de um Encontro de
Intercâmbio entre Linguagens, na 4ª terça-feira da cada mês;
-
e quando ocorre, em
determinados meses, uma 5ª terça-feira, de acordo com alguma necessidade
emergente, ou alguma sugestão oportuna, se organizará algum tipo de atividade
formativa especial.
Mas seria importante
que você tivesse bem claras e assumisse com toda a responsabilidade três
coisas que parecem elementares e imprescindíveis, no seu processo de
formação e na sua atuação como AC:
-
O hábito de escutar
as pessoas, especialmente o seu GC, registrar o que se passa na
experiência e refletir sobre isso...
-
Sua participação em
algum Movimento Social, especialmente, em algum Movimento ligado à Cultura,
à Juventude...
-
Sua preocupação
permanente com a informação, a leitura a respeito de tudo quanto
tem a ver com seu trabalho de Animação Cultural, as questões pedagógicas
de fundo, a prática didática e educativa da sua linguagem...
Para refletir:
-
Como desempenhar sua tarefa de animador(a) junto ao
GC, de tal maneira que ela seja, realmente, um momento de formação, de
aprendizado, antes de tudo para você mesmo?...
-
Qual o primeiro cuidado, a primeira atitude de
qualquer educador?...
-
O que fazer para que o ato de registrar por escrito
sua experiência se torne, de fato, um hábito, uma postura de educador que se
educa, e não apenas algo aleatório, que só acontece aqui e acolá?...
-
Você se deu conta de que as manhãs das terças-feiras
são todas o tempo sagrado da Formação Continuada no PAC?
-
Não será importante agendá-las todas pro resto do
ano?...
-
Que importância você percebe nos três indicativos
que são apontados acima como elementares para a sua formação?...
-
Já vem dando conta disso ou vai precisar de
organizar para fazê-lo acontecer?...
XI – Em que poderá dar essa história?...
Num horizonte não muito distante,
já é possível vislumbrar o surgimento de um
amplo
Movimento Juvenil,
desafio maior ao qual todo este processo
começa a responder,
sabendo-se que, do seio do PAC,
brotou o Fórum das Juventudes do Recife,
e poderá se fortalecer o processo de
criação de um futuro
Conselho Municipal de
Juventude,
passo decisivo para a formulação de
políticas públicas de
juventude.
Não custa nada sonhar
e investir na realização deste sonho
maior,
antes de tudo, alimentando-o na mente e no
coração
dos adolescentes e jovens,
participantes dos Grupos Culturais do
PAC.
Para refletir:
-
Você está se dando conta do alcance da sua intervenção educativa?...
-
Como se sente diante do desafio e da “missão”?...
Bibliografia
Para quem quer aprofundar questões básicas
da Animação Cultural...
BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Rio de Janeiro, Vozes, 2001.
BARON, Dan. Alfabetização Cultural, a luta íntima por uma nova
humanidade. São Paulo. Alfarrábio, 2004.
FREIRE, Paulo e FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta.
Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo, Paz e Terra,
1996
VELOSO, Reginaldo. Juventude em Movimento, um Projeto para a Vida.
Recife, PCR, 1996
ANEXOS
ANEXO 1
Adolescentes...
Adolescentes... seu público alvo!
Antes
de tudo, eles e elas! E são muitos e diferentes, cada um, cada uma, com sua
história pessoal, sua compreensão de si próprio, de si própria, da vida e do
mundo... cada qual com sua identidade...
v
Estudantes de 3º e 4º ciclos de escolas públicas...
Têm em comum o fato de ser gente em transição, em crise, em busca de definição,
não mais crianças e ainda não adultos... gente irrequieta, com a mente povoada
de sonhos e desejos... muita sede de afirmação e muita insegurança... gente sem
experiência, mas querendo fazê-las todas... muita rebeldia, mas, igualmente,
muita carência de proteção e apoio... com este agravante, de provir de meios
empobrecidos da periferia da cidade... gente que a escola ocupa apenas poucas
horas por dia, durante a semana, e nem sempre da maneira mais interessante...
gente que fica à mercê da desocupação, do desgaste da ociosidade, das muitas
tentações e frustrações do consumismo e de toda onda devastadora, que neste mar
agitado se levanta... gente sem projeto de vida, sem perspectiva, sem futuro...
que está aí pro que der e vier, para nada ou para o pior...
v Normalmente
encarados como “problema”, esse talvez
seja seu maior problema! Bem que poderiam ser encarados como parceiros, em
busca de soluções... gente merecedora de confiança... digna de chances e
oportunidades, de apoio e incentivo... A partir daí, quem sabe, passariam a ser
“solução”, antes de tudo para si mesmos, para si mesmas, e para o ambiente onde
vivem... Antes de tudo e acima de qualquer coisa, gente que merece e precisa
ser escutada
e levada a sério.
Por obra e graça de pessoas que vieram a seu
encontro e com eles e elas começaram a dialogar, a fazer espaço para uma
confiante partilha de anseios e interesses, a provocar uma busca coletiva de
caminhos, a discussão de propostas, a tomada de decisões, a realização de
coisas que a todos pareceram interessantes, essa gente passou a vivenciar uma
experiência diferente, uma coisa nova e boa... Passaram a se organizar em grupos... a fazer cultura... se tornaram grupos culturais!
Na verdade, só estavam à espera de uma mãozinha, de
um toque de graça para chegar a esta gostosa consciência
¨
da sua dignidade, do
valor de cada um, de cada uma, como pessoa humana, aquilo que hoje se costuma
chamar de auto-estima...
¨
da importância maior
de ser um coletivo, desenvolvendo um novo estilo de relações interpessoais, o
espírito de companheirismo e equipe, de tolerância e respeito às diferenças, de colaboração
e solidariedade...
¨
dos valores da cultura
local, da importância da identidade
cultural, pela descoberta ou reconhecimento feliz de suas raízes, do rico
legado cultural das gerações que os antecederam...
¨
da importância da preservação ambiental, do cuidado com a
Natureza e com tudo que torna o meio ambiente mais saudável, bonito e gostoso
de se viver...
¨
da importância do
exercício permanente e efetivo da Cidadania,
a consciência de direitos e deveres, o gosto da participação, o cuidado efetivo
com seu bairro, sua cidade, seu pedaço...
¨
e, finalmente, da
importância de articular-se e organizar-se
como Núcleo, em sua escola, e em Fóruns e Redes, capazes de
fortalecer e ampliar sua prática, seus sonhos e sua capacidade de conquista e
realização.
Adolescente, é quem?
quer o quê?...
Coletivo
JEM (Recife) - R.Veloso
Ele, Ela,
Adolescente!
Essa gente que oscila
entre a criança que foi e o adulto que almeja ser...:
Novos sonhos, muitos sonhos, grandes sonhos, loucos sonhos!
Muita vontade de caminhar,
para muitos lugares, ao mesmo tempo,
de preferência sem precisar de por os pés no chão,
ou então, embarcar na primeira onda...
O gosto da experiência, por fazer,
em todos os campos da vida, sobretudo do amor!
O prurido da novidade, do embalo, do agito!
O gosto da aventura, da ousadia,
mas um não saber bem como se haver, como fazer, para onde ir...
Aversão pela Autoridade feita de ordens e de não,
de aparências e incoerências, de hipocrisia!
Busca de proteção, sobretudo, de alguém que escute com atenção,
de alguém que, com sinceridade, estenda a mão.
O impulso de criar,
não importa o quê, nem como,
e uma impaciência, muitas vezes, demolidora.
A necessidade de mostrar quem é, o que pensa, o que quer, o que pode,
de medir forças e botar pra quebrar!
A sede de companhia, de amizade,
de companheiros, de companheiras, de amigos, de amigas,
porque, sozinho, sozinha, não dá pra ser feliz!
adolescente, no mundo dos “sem”
Coletivo JEM (Recife) - R.Veloso
Sem trabalho, sem escola,
sem comida, sem saúde,
sem um lar, sem proteção,
sem rumo, sem orientação,
sem o que fazer, sem como viver, sem poder ser,
sem lazer...
prejudicado, prejudicada, desde o ventre da mãe,
maltratado, maltratada, desde o nascer...
traumatizado, traumatizada pelos gritos e maldições,
pelos maus agouros e mal-aventuranças de tantas bocas, “sagradas”
bocas...
sem oportunidades, sem perspectivas, sem futuro...
atiçado, atiçada, agredido, agredida pelas vitrines,
pela moda, pelos outdoors, pela mídia...
mas, apesar dos pesares,
capazes de dar a volta por cima,
de romper o cerco, de dar o troco,
de criar o novo, a Vida, como Deus, do nada, do “SEM”!
Nem que seja a “Galera”,
como espaço de livre expressão e criação,
de se fazer sentir, de dar o seu recado,
de não passar pela vida sem ter
vivido e sem ser notado, sem ser notada...
de ser protagonista, dono, dona, do seu destino...
de ser Ator, Atriz, da Divina Comédia da Vida!
ANEXO 2
Juventude e Felicidade
Por
causa da felicidade pensamos pautas, organizamos agendas, descentralizamos
funções e partilhamos conhecimentos para “em tudo amar e servir”.
Por
causa da felicidade nos envolvemos na defesa dos direitos humanos e no
exercício de construir políticas públicas e práticas emancipatórias para que
adolescentes e jovens sejam sujeitos e protagonistas de suas ações.
Por
causa da felicidade queremos viver e amar todas essas diferenças. Num mundo
plural de diversidade e originalidade. Espaço para todas as identidades e
fantasias. De mulheres e homens. De juventude revolucionária e contestadora. De
todas as “tribos” e de todas as cores.
Por
causa da felicidade construiremos espaços de comunhão e participação. Queremos
novas estruturas de poder. Poder serviço e mais cidadania para todo o povo. Espaços
mais humanos e transparentes, menos representativos e mais participativos. (... ...)
Por
causa da felicidade fazemos arte, pintamos muros, escrevemos poemas,
dramatizamos e dançamos nas festas de nossa gente, trazendo para o centro da
roda as culturas oprimidas.
Por
causa da felicidade abraçamos as causas do povo e nos abraçamos. Enfrentamos o
medo e o risco da solidão dos incompreendidos e perseguidos por causa da
justiça.
É
por causa da felicidade que trabalhamos coletivamente. Os frutos que colhemos
são resultados da comunhão e partilha de muitas inteligências e corações. São
expr4ssões da amizade e cumplicidade de muita história e memória construída em
mutirão.
Por
causa da felicidade juntamos pessoas, grupos para somar e tecer Redes de solidariedade
em defesa da vida.
Nas
praças, ruas e avenidas, nas escolas e universidades, nas igrejas e governos,
dançamos ciranda para celebrar e gritar que “a juventude quer viver”!
Rezende
Bruno de Avelar
Coordenador
da Casa da Juventude Pe. Burnier
Goiânia – GO
in INFORMATIVO Nº 185,
nov/2007
ANEXO 3
Animação Cultural
Começando
de trás pra frente, o que seria cultura?...
Cultura é o resultado do verbo “cultivar”. São
todas as formas e expressões do permanente e universal cultivo da vida. São as
respostas que cada grupo humano, no seu afã de viver e ser feliz, dá aos
desafios todos do seu existir nesta terra. Respostas coletivas, de seres
humanos, enquanto seres inter-dependentes, seres de relação e comunhão:
·
Tem a ver com passado: é tradição!
É raiz, é legado, é herança que lhes dá firmeza e identidade.
·
Tem a ver com presente:
é tarefa! É continuidade,
atualidade, criatividade, mudança.
·
Tem a ver com futuro:
é sonho! É projeção, é busca
permanente de superação, é querer sempre mais.
E esse cultivar feito de Tradição, de Tarefa e de
Sonho se verifica em todas as dimensões do existir humano:
·
é a cultura do TER e tem a ver com Economia e
com Ecologia, com cultivar a terra,
produzir bens, partilhar riquezas, desfrutar de tudo, cuidar do ambiente,
preservar a Natureza, garantir a continuidade da Vida.
·
É a cultura do PODER e tem a ver com Política,
com exercício efetivo da Cidadania, a
arte de cuidar bem da cidade, de ordenar da melhor maneira a convivência entre
homens e mulheres, para que a todos, a cada um, a cada uma, sejam asseguradas
as melhores condições de Vida.
·
É a cultura do SABER e tem a ver com informação e formação, com Ciência e Sabedoria, com Tecnologia
e Filosofia, com Operacionalidade e Espiritualidade, com Realidade, Ação, Luta, Poesia e Fé, com as
Artes todas e com Mitos e com Ritos, com Religião,
Brincadeira e Festa, as coisas
mais sublimes que dão sentido e sabor à Vida.
E animação?...
Tem a
ver com ânimo e sugere ação,
movimento, dinamismo... Mas tem a ver, sobretudo, com a raiz latina ânima: interioridade, profundidade do
ser, razões, valores, motivações, visão de mundo...
Trata-se, então de quê?... De servir a essa causa
maior que é cultivar a vida, em
todas as suas dimensões.
Como?...
Ajudando as pessoas a gostarem de si e da vida, a descobrirem suas
potencialidade e sua dignidade... a se entreolharem com olhos de bem-querer, de
companheirismo e solidariedade... a descobrirem suas raízes, sua História, e
apreciarem as tradições da sua terra e curtirem o gosto pelo seu pedaço,
a sua identidade cultural... a se encantarem com a Natureza e se
preocuparem com seu meio ambiente... a se assumirem como gente
responsável pela sua Cidade, como cidadãos e cidadãs, dotados de espírito de
iniciativa e participação... incentivando-os à tarefa cultural de dar
continuidade ao processo criativo, que vem dos séculos, buscando respostas
atualizadas para os desafios de hoje, para os novos apelos, a fim de que a Vida
cresça, floresça e frutifique sempre... Atiçando sua fantasia e despertando-as
para novos horizontes, para que o sonho continue sempre a borbulhar,
como fonte inesgotável de Vida e de Cultura.
Só assim, criando espaços e oportunidades para que toda a gente,
especialmente a juventude, adquira este novo ânimo, esta alma nova, é que
conseguiremos resgatar a auto-estima das pessoas e construir uma sociedade em
PAZ!
Reginaldo
Veloso, Assessor da GAC
ANEXO 4
Os Dez Mandamentos do(a) Animador(a) Cultural
1. Dedicar-se,
antes de tudo, à formação de Grupos Culturais de crianças,
adolescentes e jovens, da própria Escola e da Comunidade do entorno, com
sensibilidade e um jeito amigo de ser, com espírito de iniciativa, ousadia e
persistência, com autonomia, senso de organização e compromisso, com liderança
e criatividade;
2. Ter domínio
suficiente da linguagem artística e/ou lúdica pela qual optou, capacitando-se
permanentemente para desenvolver, com o Grupo Cultural que anima, as
atividades próprias da linguagem, como oportunidade prazerosa e
instrumento educativo eficaz;
3. Contribuir
para que a Escola esteja efetivamente integrada à Comunidade, e a
Comunidade assuma seu papel na Escola;
4. Fomentar,
entre os(as) integrantes dos GCs, o cultivo dos 5 Eixos do PAC, como
dimensões permanentes e transversais de todo o processo educativo, não
importa quais sejam as atividades desenvolvidas, ou de que linguagem forem;
5. Estimular
a tomada de consciência da própria dignidade e valor, alimentar, entre os
integrantes do GC, o gosto consigo mesmo(a), promover a cultura da
auto-estima;
6. Incentivar,
entre os(as) integrantes dos GCs, o cultivo de relações amistosas, do espírito
de tolerância, da convivência respeitosa com os(as) diferentes, do espírito de
companheirismo e colaboração, com atenção especial para a inclusão daqueles e
daquelas que têm mais dificuldade de expressar, de se relacionar ou de
conviver, promovendo, assim, a cultura da solidariedade;
7. Estimular,
entre os participantes do GC, o gosto pelas suas raízes culturais, o cultivo
das tradições do seu povo, o prazer pelas “coisas nossas”, a cultura da
identidade cultural;
8. Incentivar
o gosto pelo seu do Meio Ambiente, o amor e o cuidado para com a Natureza, a
busca incessante de condições ambientais que garantam melhor qualidade de vida,
a cultura da preservação ambiental;
9. Fomentar
a consciência de direitos e deveres, o gosto pela vida em sociedade, o prazer
pela participação na busca coletiva do Bem Comum, o engajamento político, a cultura
da cidadania.
10. Ser uma
pessoa articulada, capaz de refletir, planejar e avaliar seu trabalho juntamente
com os(as) demais ACs e representantes dos vários segmentos da Escola e da
Comunidade, organizados em Núcleo de Animação Cultural.
Foi não foi, faz bem reler um texto como este, construído a muitas
mãos, a partir de quase 15 anos de experiência... E como se fosse um espelho,
um referencial inspirador... E de lambuja, o...
Cordel do Animador encantado
Ouvi dizer, outro dia,
E ainda guardo o recado,
Que a verdadeira esperança
É sonhar, mesmo acordado,
Acreditar que outro mundo,
Por um milagre profundo,
Pode ser edificado.
Mas esse mundo sonhado,
Que foi meu sonho insistente,
Começa no coração,
No interior da gente,
Lá onde as inspirações,
As fortes motivações
Nos fazem ser diferente.
Para tanto é mais que urgente
Convocar, de todo canto,
Gente que tem, na cabeça
E no coração, o encanto:
A arte de animar,
De a Vida cultivar,
Como o que há de mais santo!
Animação, no entanto,
Supõe que venha a pessoa
De uma experiência em grupo
Que pareça coisa boa,
Ensaio de educação,
pois educar é a missão
Que entre nós mais ressoa.
Tem que ser alguém que voa
Das artes pelos espaços,
Que tem traquejo em alguma
Das linguagens, seu pedaço,
Que faz arte com atenção
Como meio de inclusão
Pra quem nunca teve abraço.
Fazendo da arte um laço,
Forma o Grupo Cultural,
Que se junta com prazer
E interesse social:
Escola e Comunidade,
Seu campo de atividade,
Transformar, seu ideal!
Que mais se espera do tal?
Que seja um cara avisado,
Que sabe o momento certo
De ver o Grupo alertado,
Crescendo em consciência crítica
E aprendendo a política
Do bem comum combinado.
Por ele o Grupo animado,
Cultiva arte e alegria,
Mas nada de oba-oba
No seu rico dia-a-dia,
Tudo aí é dinamismo,
juvenil protagonismo,
Criativa autonomia!
E toda essa folia
Acontece com respeito
Às múltiplas diferenças
Que aporta cada sujeito,
Pois é a diversidade
Que enriquece a humanidade,
Se não houver preconceito!
Um Grupo assim satisfeito,
Cultiva as cinco sementes:
O querer bem a si próprio,
Aos colegas, a sua gente,
Suas raízes culturais,
Suas riquezas naturais,
Cidadania consciente.
Pra tudo isso ir à frente,
Algo não pode faltar:
Um trabalho de equipe,
Um Núcleo organizar,
Onde se pensa e avalia,
Se planeja o dia-a-dia,
Em conjunto a caminhar.
Mas não pode descuidar
De registrar essa vida
De Grupo que faz Cultura,
Como ponto de partida
De contínua formação,
Pois muita reflexão
De Animador é pedida.
E assim já de partida,
Querido Animador,
Seja sensível e aberto,
Com todo humano calor,
Às idéias, sugestões,
Mudanças, transformações,
Que o farão muito maior.
Adote o que for melhor
Para o Grupo progredir,
Métodos qualitativos,
Gente nova a produzir,
Adquira tudo quanto
Faz da linguagem um encanto
E o mundo novo surgir!
Com carinho, Reginaldo Veloso,
assessor
ANEXO 5 - Canções da caminhada
Para quem quer dar um toque de poesia e graça, de
melodia e ritmo, na caminhada para a “Terra Prometida”...
Reginaldo Veloso
Minha galera é a Galera da Fraternidade,
meu tempero é a fé, é o amor-liberdade!
É a fé, é o amor-liberdade!
O meu assunto é a Vida, é a Vida, é a Vida!
Caretice, aceitar essa vida-sem-vida!
Aceitar essa vida-sem-vida!
Já é hora de a gente mudar, desse jeito não dá pra ficar!
É preciso muita criatividade!
Arregace as mangas com muita vontade!
Vamos investir nessa da felicidade!
Ser feliz é o destino da Humanidade!...
Nós vamos nessa do chapa Joãozinho Trinta:
a Cultura é beleza que encanta e que agita!
É beleza que encanta e que agita!
O meu samba não vai te enganar, eu só canto pra vida mudar!
Você traz muita coisa e não pode perder!
Vamos nessa galera botar pra valer!
Cada um tem um gosto e um jeito de ser!
É preciso juntar, fazer tudo render!...
A gente vai nessa do Índio e da Ecologia!
Salve o verde, a beleza da geografia!
A beleza da geografia!
Não morreu Chico Mendes em vão, ressuscita em você, meu irmão!
É preciso muita, mas muita coragem!
Se guardar pra si mesmo é uma grande bobagem!1
Pois, no fim, quem dá a vida é quem leva vantagem!
É a Galera de Cristo partindo em viagem!...
GALERA GERAL[7]
R.
Veloso
1. Sou Menino-Moço, sou!
Sou
Menina-Moça, sou!
Sou a
vida chegando e pedindo passagem.
Sou o
sonho, a esperança e a miragem!...
Sou protesto e mudança e coragem!
Sou protesto e mudança e coragem!
Sou protesto e mudança e coragem!
2. Sou botão que se abre, sou!
Eu sou
flor que se cheira, sou!
Passarinho
que canta, eu sou diabo, eu sou santo.
Tua
igreja eu enfeito e te espanto!...
Eu te inspiro e confundo e me encanto!
Eu te inspiro e confundo e me encanto!
Eu te inspiro e confundo e me encanto!
3. Sou forró, sou pagode, sou!
Eu sou
funk e sou reggae, sou!
Juventude
a caminho do Reino da Vida!
Eu
procuro a moeda perdida!...
Vou pra Terra que foi Prometida!
Vou pra Terra que foi Prometida!
Vou pra Terra que foi Prometida!
Yô-yô-yô-yô-yô-yô-lê-lê-lê
Yô-yô-yô-yô-yô-yô-lá-lá-lá
Eu sou mais
é o amor, quero é viver!
Eu sou
mais é o amor, quero é viver!
Eu sou
mais é o amor, quero é viver!
Yô-yô-yô-yô-yô-yô-lê-lê-lê
Yô-yô-yô-yô-yô-yô-lá-lá-lá
É a
Galera Geral que vai vencer!
É a
Galera geral que vai vencer!
É a
Galera geral que vai vencer!
*
O VENCEDOR
Los Hermanos
Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são escravos
Sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais
Ser um vencedor,
Levo a vida devagar
Pra não faltar amor
Olha você que diz que não
Vive a esconder o coração
Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa
ninguém ver
Porque será?
E eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor
Que sou capaz
Só pra viver em paz.
ABSURDO
Vanessa Da Mata
Havia tanto pra lhe contar
A natureza
Mudava a forma o estado e o lugar
Era absurdo
Havia tanto pra lhe mostrar
Era tão belo
Mas olhe agora o estrago em que está
Tapetes fartos de folhas e flores
O chão do mundo se varre aqui
Essa idéia do natural ser sujo
Do inorgânico não se faz
Destruição é reflexo do humano
Se a ambição desumana o Ser
Essa imagem de infértil deserto
Nunca pensei que chegasse aqui
Auto-destrutivos,
Falsas vitimas nocivas?
Havia tanto pra aproveitar
Sem poderio
Tantas histórias, tantos sabores
Capins dourados
Havia tanto pra respirar
Era tão fino
Naqueles rios a gente banhava
Desmatam tudo e reclamam do tempo
Que ironia conflitante ser
Desequilíbrio que alimenta as pragas
Alterado grão, alterado pão
Sujamos rios, dependemos das águas
Tanto faz os meios violentos
Luxúria é ética do perverso vivo
Morto por dinheiro
Cores, tantas cores
Tais belezas
Foram-se
Versos e estrelas
Tantas fadas que eu não vi
Falsos bens, progresso?
Com a mãe, ingratidão
Deram o galinheiro
Pra raposa vigiar
EM TUDO QUE É BELO
Jorge Vercilo
Eu ainda acredito
num futuro mais bonito,
que o novo é bem-vindo
e o amor é infinito.
eu ainda acredito
que nem tudo está perdido,
que o sorriso é sagrado
e aqui é o paraíso
e que tudo estava errado
sobre o dia do juízo.
Eu ainda acredito
no carinho invés do grito,
na doçura dos meninos
que no fundo todos somos.
Eu ainda acredito
nos heróis adormecidos,
nessa força que revolta
e nos faz ficar erguidos
cada vez que nos sentimos
derrotados e punidos.
Eu ainda acredito
que depois da tempestade
vem sempre a calmaria
e consigo a liberdade.
Eu ainda acredito
em objetos luminosos,
que há vida no universo,
outras luas, outros povos,
eu ainda acredito.
num futuro mais bonito,
que o novo é bem-vindo
e o amor é infinito.
eu ainda acredito
que nem tudo está perdido,
que o sorriso é sagrado
e aqui é o paraíso
e que tudo estava errado
sobre o dia do juízo.
Eu ainda acredito
no carinho invés do grito,
na doçura dos meninos
que no fundo todos somos.
Eu ainda acredito
nos heróis adormecidos,
nessa força que revolta
e nos faz ficar erguidos
cada vez que nos sentimos
derrotados e punidos.
Eu ainda acredito
que depois da tempestade
vem sempre a calmaria
e consigo a liberdade.
Eu ainda acredito
em objetos luminosos,
que há vida no universo,
outras luas, outros povos,
eu ainda acredito.
Eu ainda acredito
nas florestas e nos índios,
na bravura das leoas,
na alegria dos golfinhos.
Eu ainda acredito
no galope do unicórnio,
acredito em gnomos
e no vôo dos tucanos
e no canto das baleias
alegrando os oceanos.
Eu ainda acredito
na justiça lá de cima,
na verdade e na vida
como o som de uma rima.
E em tudo que é belo
e em tudo que é nobre
como as cores do arco-íris
quando a chuva se descobre
e agradece iluminada
pelo sol de ouro e cobre.
Sei, talvez eu seja visto
como ingênuo ou demagogo,
inocente ou pervertido.
um hipócrita, um louco.
No entanto eu insisto
nesta chama que consome,
eu ainda acredito
porque sofro com a fome,
porque ainda sou um homem.
nas florestas e nos índios,
na bravura das leoas,
na alegria dos golfinhos.
Eu ainda acredito
no galope do unicórnio,
acredito em gnomos
e no vôo dos tucanos
e no canto das baleias
alegrando os oceanos.
Eu ainda acredito
na justiça lá de cima,
na verdade e na vida
como o som de uma rima.
E em tudo que é belo
e em tudo que é nobre
como as cores do arco-íris
quando a chuva se descobre
e agradece iluminada
pelo sol de ouro e cobre.
Sei, talvez eu seja visto
como ingênuo ou demagogo,
inocente ou pervertido.
um hipócrita, um louco.
No entanto eu insisto
nesta chama que consome,
eu ainda acredito
porque sofro com a fome,
porque ainda sou um homem.
O DIA DE GRAÇA
L. C.
da Vila
Um dia...
Um dia, meus olhos inda hão de ver,
na luz do olhar do amanhecer,
sorrir o Dia de Graça!
Poesias brindando essa manhã feliz,
o mal cortado na raiz,
do jeito que o Mestre sonhava!
/:O não chorar e o não sofrer se
alastrando,
no céu da vida o amor vibrando,
a Paz reinando em santa paz!:/
Em cada palma de mão,
cada palmo de chão,
sementes de felicidade.
O fim de toda opressão,
o cantar com emoção:
raiou a Liberdade!
Chegou –ô – ô
o áureo tempo de Justiça,
ao esplendor do preservar a Natureza,
respeito a todos os artistas...
A porta aberta ao irmão
de qualquer chão, de qualquer raça,
o povo todo em louvação
por esse Dia de Graça!
COMIDA
Titãs
Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio BrittoBebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...
Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...
O BRASIL QUER SER UNGIDO rap de
Mente Sã TG PGD
“O caminho da felicidade é estreito,
tu tem que ser ligeiro, essa é a receita”
Thiago de Araújo Cândido – vulgo TG
Violência, eu tô cansado desse horror
Esse país ta precisando de um doutor.
Gangorra da fome e do medo,
Carrossel de vergonha e desespero.
É neguinho, não é parque de diversão
É a miséria, demagogia, corrupção.
Senhor, me mostre o caminho
Da ilha deserta, do paraíso
Que Deus abençoe a todos os fiéis
O Brasil quer ser ungido da cabeça aos pés.
Precisa de atenção, precisa de melhoras
Não fique aí parado, estão passando as horas
O povo tá sofrendo e o governo enriquecendo
Tem muita gente matando e morrendo.
Então preste atenção, não sou bandido não
Eu sou trabalhador, me tira desse camburão
Eu não mostrei o Brasil que queremos
Mas mostrei como nele vivemos.
Não precisei de falar o que eu quero
Você já viu, então me tira desse inferno
Não tem mistério, é só fazer
Nosso dinheiro estão com vocês
Chega de guerra e de massacre
Já fiz a minha ação, agora faça a sua parte.
in IBASE-PÓLIS, “Juventude Brasileira e Democracia”, relatório final,
2005, p.67
DEPENDE DE NÓS
Ivan Lins
Depende
de nós
Quem já
foi ou ainda é criança
Que
acredita ou tem esperança
Quem
faz tudo pra um mundo melhor
Depende
de nós
Que o
circo esteja armado
Que o
palhaço esteja engraçado
Que o
riso esteja no ar
Sem que
a gente precise sonhar
Que os
ventos cantem nos galhos
Que as
folhas bebam orvalhos
Que o
sol descortine mais as manhãs
Depende
de nós
Se este
mundo ainda tem jeito
Apesar
do que o homem tem feito
Se a
vida sobreviverá
CIRANDA DE TODOS
Teça Calazans - Lia de
Itamaracá
Essa ciranda não é minha só,
Ela é de todos nós, ela é de todos nós!
A melodia principal quem diz
É a primeira voz, é a primeira voz.
Pra se dançar ciranda
Juntamos mãos com mãos,
Formamos uma roda,
Cantando uma canção.
[1]
Juntamente com a Professora Edla Soares, Inalda Neves Batista (pesquisadora do
Centro Luiz Freire), Antônio Guinho (Psicólogo, professor da FAFIRE), Custódio
Amorim (SE-DACD) e Reginaldo Veloso (presbítero das CEBs no Morro da Conceição
e assessor do Movimento de Adolescentes e Crianças - MAC). Mais adiante, João
Simão Neto (Assessor da PJMP e do programa “Colônia de Férias” da Prefeitura de
Olinda), Zezo Oliveira (ator, fundador da Escola Pernambucana de Circo e
professor da Rede Municipal, ex-integrante do MAC), José Ramos (ator, professor
do SESC e da Rede Municipal), Fátima Pontes, Coordenadora da Escola
Pernambucana de Circo, professora da Rede Municipal, e outros e outras...
[2]
RPA = Região Político-Administrativa: o Município do Recife está dividido em 6
RPAs.
[3]
Por sinal, em dezembro de 1996, a Secretaria de Educação publicou uma
monografia sobre a experiência do JEM ao longo do segundo semestre de 1994,
redigida por Reginaldo Veloso, a partir de testemunhos escritos, tanto de
Animadores e Animadoras Culturais, quanto dos próprios estudantes da Rede
Municipal, participantes de Grupos Culturais suscitados pelo Projeto: Juventude em Movimento, Um Projeto para a
Vida.
[4]
Em latim, anima, raiz de “animação”,
quer dizer, o ser profundo, a interioridade, lá onde fervilham as motivações, a
mística, a espiritualidade, combustível espiritual capaz de mover o ser humano,
numa direção ou noutra.
[6] Essa canção foi composta para o lançamento da
proposta de animação cultural que levava o mesmo nome, na escola estadual Padre
João Barbosa, no Morro da Conceição, março de 1992, como gesto concreto da
Campanha da Fraternidade daquele ano, gravada em 1999 pela Paulus Editora, no
CD “Vida, o Sonho de Deus”, de Reginaldo Veloso.
[7] A canção acima foi composta para o lançamento do JEM,
outubro de 1993 e gravada em 1999, no CD “Vida o Sonho de Deus”, pela Paulus
Editora...
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