Retratos de Abril é uma viagem em redor do 25 de Abril. À escuta dos sons da época, tenta fixar aquele tempo histórico. Encontra militares e políticos mas, também, a sociedade civil que se opôs ao Estado Novo e lutou pela liberdade. Dos generais e capitães aos líderes políticos; de escritores e poetas a advogados, médicos e professores universitários.
Retratos de Abril revela uma sociedade que, afinal, não era a preto e branco.
Em 25 episódios é contada a História dos protagonistas que, há 50 anos, estavam prontos a construir a democracia.
(Antena 1 — Primeiro encontro da canção portuguesa. Realização de António Macedo e Viriato Teles. Produção de António Santos. | 30 Mar, 2014: http://www.rtp.pt/play/p337/e148979/a... )A última grande manifestação cultural de massas do tempo da ditadura aconteceu em Lisboa, a 29 de Março de 1974. Na véspera, Marcello Caetano dirigiu aos telespectadores mais uma (a última) das suas «Conversas em Família» [1]. À noite, o Coliseu dos Recreios abriu as portas para o primeiro e o mais histórico dos encontros ao vivo da música portuguesa.
Organizado pela Casa da Imprensa, marcou de forma inequívoca o fim próximo do regime. José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Fausto, José Jorge Letria, Carlos Paredes, Fernando Tordo, José Barata-Moura, Ary dos Santos e Vitorino são os nomes principais da ”festa”, autorizados depois de algumas diligências nada simples por parte da Casa da Imprensa.
Com a lotação esgotada desde muitos dias antes, o Coliseu transforma-se num imenso coro de cinco mil vozes dispostas a cantar bem alto o outro lado da realidade permitida. Há agentes da PIDE por todo o lado, ninguém o ignora.
O espetáculo tarda a começar porque Adriano não tinha enviado os textos ao “exame prévio” da Censura. A situação acabará por resolver-se graças a dois censores “casualmente” de serviço na plateia do Coliseu que, ali mesmo, decidem quais os temas que podem ou não ser ouvidos. Quando finalmente tem início o “desfile”, é uma apoteose. Primeiro com alguns equívocos, como aconteceu durante a primeira parte da atuação de José Carlos Ary dos Santos, recebido com uma chuvada de apupos por parte do público. Mas a força da sua poesia impôs-se e quando debitou «SARL, SARL, a pança do patrão não lhe cabe na pele» já ninguém tinha dúvidas de que aquele homem era efectivamente dos nossos...
Depois, foi o grande coro colectivo, a culminar com os cinco mil espectadores, de pé, a entoar os versos de «Grândola, Vila Morena», ironicamente a única canção de Zeca a passar integralmente as malhas da Censura. E é o seu grande impacto na noite de 29 de Março que determinará a sua escolha para senha do Movimento das Forças Armadas, na noite de 24 para 25 de Abril.
______________________ [1] «Conversas em Família» era a designação das intervenções televisivas que Marcello Caetano realizava regularmente. Tratava-se de discursos previamente escritos, mas lidos como se fossem improvisados. Para esse efeito, a RTP comprou o seu primeiro teleponto. ______________________ Viriato Teles, As Voltas de um Andarilho – Fragmentos da vida e obra de José Afonso, 2.ª edição, Lisboa, Assírio & Alvim, 2009, pp.134-135. ____________________________________________________ Carta da Casa da Imprensa a contestar a intenção de se proibirem as atuações de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira: http://tributozecaafonso.blogspot.pt/...
Relatório dos agentes fiscais da Censura: http://entreasbrumasdamemoria.blogspo...
Uma noite cantada que fez história: http://www.publico.pt/culturaipsilon/...
Há 40 anos, em 29 de Março de 1974, um concerto premonitório, no Coliseu de Lisboa, terminou com a canção «Grândola» cantada em uníssono: http://irenepimentel.blogspot.pt/2014...
Grândola, Vila Morena - o porquê da canção de Abril: http://laranjeira.com/artigos/070330-...
Nenhum comentário:
Postar um comentário