domingo, 14 de abril de 2024

MATERIALISMO CRISTÃO & ROTEIRO DA PÁSCOA (PÃO e PAZ). TERCEIRO DOMINGO - Chico Alencar & José Soares

 



(Breve reflexão para cristãos ou não)
Nesse 3o domingo da Páscoa, proclama-se o "materialismo iluminado" do cristianismo, a religião do Deus feito gente, do Cristo crucificado mas ressuscitado (Lucas 24, 35-48).
Como nós hoje, os discípulos e discípulas estavam assustados, amedrontadas. Eram e são demais os perigos e inseguranças dessa vida...
Jesus chega e faz a saudação da ternura: "a Paz esteja com vocês!". Cutuca a dúvida e o espanto do/as amigo/as, que temiam fantasmas: "sou eu mesmo, de carne e ossos, vejam minhas feridas, toquem em mim!". Nosso Mestre é um Deus encarnado.
Seu amor é caloroso! Quer mãos e abraços apertados, quer corpos que se encontrem - e não que se destruam, em agressões, exploração, genocídios e guerras. Ou se fechem em egos vaidosos.
Esse Jesus redivivo não vem para nos condenar e diminuir, mas para "abrir nossa inteligência"!
Por fim, humaníssimo, pede algo para comer. E se alimenta com um peixe assado. Comunhão na partilha, que "sacia nossa fome de pão e de beleza" (frei Betto).
Marcelo Barros, irmão beneditino, me ensina que o peixe era o símbolo dos primeiros cristãos, antes da cruz. Nas catacumbas, desenhavam peixinhos como sinal da sua fé, em meio às perseguições do Império Romano. Peixe escreve-se ICTIS, as iniciais em grego de "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador". Os esbirros do poder não entendiam. Toda repressão é burra.
Peixe é um símbolo forte. Na tradição judaica, representa também o banquete do fim dos tempos, que saciará a todos.
Ontem e hoje, peixe evoca, além do alimento, a vida que vem da água. E, frente aos mistérios dos mares e rios, o desafio de "inventar inventar o cais e saber a vez de se lançar" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos).
Alimentados, cumpramos nossa missão: lancemo-nos ao mar de amar!
(C.A.)


NA LÓGICA DE JESUS o pão e a paz devem nortear a vida da comunidade. Somos seguidores e seguidoras de um homem que foi assassinado e ressuscitou: "Verdadeiramente este homem era o filho de Deus" (Marcos 15,39). Seguir é dispor-se a caminhar com o Senhor sem impor condição, mesmo que a dor nos pés e na consciência revele a nossa fragilidade. O texto de Lucas 24,35-48, finaliza o caminho com a dupla de Emaús e adentra na vida de todo grupo e podemos meditar o seguinte: a) O dom da Paz. Jesus ressuscitado insiste em desejar a paz para os homens e mulheres que o seguiam. Domingo passado ele o fez em três momentos: João 20,19.21.26, destacando o verdadeiro dom que o grupo necessitava. E mais do que isso, a paz é o caminho que Jesus ressuscitado abre para sua Igreja (ecclesia) superar os conflitos pessoais e coletivos. Nada de pensar em descanso e acomodar a vida com nossas tarefas costumeiras. Nada de correr dos conflitos existentes no caminho, pois a paz nos impulsiona para disputar com aqueles e aquelas que desejam enterrar a justiça. Sem a paz o mal vence, a miséria se espalha, o desânimo se apodera do grupo e a missão entra no estágio da UTI. Só com a paz do ressuscitado poderemos vencer nossa paralisia espiritual e o medo de arriscar na luta pela liberdade. "Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: A paz esteja convosco" (Lucas 24,36). Na estrada de Emaus e em nossas estradas, chegou a hora de lutar pela vida e descobrir que não é a coragem o contrário do medo, mas a esperança. A paz esteja com vocês ou seja, que a esperança nunca morra no meio de vós! b) O peixe e o pão. Na vida de nossas comunidades ainda convivemos com muita mentira e desânimo. Lucas não quer apresentar Jesus como se fosse um taumaturgo ou curador de estrada, preocupado com a vida de um punhado de homens/mulheres amedrontados. Lucas insiste na PERCEPÇÃO de que é a PARTILHA QUE SINALIZA E ATUALIZA A PRESENÇA DO SENHOR. Tem pão e tem peixe? Tem alimento com fartura, então o ressuscitado está no meio de nós, caso contrário a comunidade será uma farsa. Vejamos o texto: "Tendes aqui alguma coisa para comer? Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e comeu diante deles" (Lucas 24,41b-42). O ato de comer aponta para os discípulos e discípulas que o Senhor está vivo, vivo, vivo e passa por eles para reanimar a proposta do reino. O ato de comer sinaliza que ele esta pronto para relacionar-se com eles e dizer-lhes que a comunidade será autêntica quando todos e todas comerem o peixe e o pão, sinal do reino neste mundo. Pe. José Soares - Vigário da Paróquia São Pedro Pescador (Aracaju).

Emaús - Pe. Reginaldo Veloso





Caminho de Emaús · Silvestre Kuhlmann








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