quinta-feira, 18 de abril de 2024

MENSAGEM DA CNBB AO POVO BRASILEIRO" - uma nota - Romero Venâncio

 

Acabo de ler a breve mensagem assinada pelos Bispos católicos brasileiros em reunião na 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de 10 a 19 de abril, em Aparecida-SP. Uma mensagem importante, mas que se perde naquilo que as últimas gestões da CNBB se especializaram em fazer/escrever: ficar em generalidades abstratas sem um mínimo de profecia. Ninguém de bom senso seria contra os termos genéricos utilizados na mensagem, como ninguém poderia ser contra todos e todas tomarem água diariamente. 

Como não há muito o que dizer e temos muito, mas muito por fazer na atual conjuntura desse país, destaco um paragrafo importante por citações de palavras-geradoras e que pode ajudar numa reflexão. E dois "esquecimentos" lamentáveis.

O paragrafo que merece destaque na atual conjuntura do Brasil:

"Acompanhamos com dor o crescimento do crime, das milícias, do narcotráfico, da violência nas cidades e no campo, do bullying, do vandalismo, do racismo, do feminicídio, do tráfico humano e da exploração sexual de crianças, adolescentes e vulneráveis; a realidade dos migrantes, do povo em situação de rua, da população encarcerada nos desafia profundamente; a corrupção, o nepotismo e o tráfico de influência violentam o país. Necessitamos construir a paz que nasce da justiça (cf. Isaías 32,17)."

Acredito ser o ponto mais alto da mensagem em termos de apontar algo concreto e vivenciado nesse Brasil em transe. As palavras ficam apenas na dimensão simbólica e para sabermos o que combater... Transformar estas palavras em práxis pastoral, será outra coisa. Ou, na atual conjuntura do clero brasileiro, poderá ficar como letra morta. Mas ainda acredito ser importante por percebermos que a CNBB procura um diálogo crítico com esse "mundo moderno" e suas contradições.

Dois silêncios gritantes. Sobre o 8 de janeiro de de 2023... Lembremos: naquele domingo em 8 de janeiro de 2023 o Brasil foi surpreendido por um ataque, quando autonomeados patriotas invadiram e vandalizaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de um frustrado golpe de estado. Nas "barbas da CNBB". Lembro este "esquecimento" porque na mesma mensagem temos a palavra democracia em sentido positivo. 

O segundo silêncio: Não lembrar os 60 anos do golpe de 1964 e convidar os católicos para um grito só: ditadura nunca mais! Os bispos da CNBB devem conhecer uma produção da própria Igreja Católica numa outra encarnação, o clássico: "Brasil, nunca mais". Deveria, inclusive, na mensagem ter uma menção honrosa a Dom Paulo Evaristo Arns, "padroeiro dos torturados e ofendidos". Uma breve leitura ou re-leitura para os mais velhos dos bispos, levaria a uma reflexão necessária sobre o que ocorreu nos porões da ditadura entre 1964 a 1985. 

Uma coisa podemos ler nas entrelinhas da mensagem: uma Igreja dividida, com medo, "pisando em ovos" e no muro. Num país cada vez mais dividido por uma assombrosa nuvem fascista que vem cobrindo este país. Assim como em 1964, a sombra atual pode sobrar para a Igreja também. Os senhores bispos sabem e são atingidos em várias situações por uma extrema direita virulenta e monetizada. Direita este dentro da própria Igreja Católica. Paciência.

"...Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavra, não fique em aplauso.

Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem..."

Dom Helder Câmara

Lembro o saudoso Arcebispo de Olinda e Recife no final por ser ele um dos fundadores da CNBB e figura histórica deste Brasil contemporâneo. Faz uma falta enorme na Igreja e no Brasil.

Romero Venâncio (UFS)

Para ler a mensagem da CNBB, clique aqui e aqui



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