Com registros de operação em pelo menos 13 cidades do estado, a quadrilha contratava atores para fazer um teatro de rua, com a intenção de influenciar o voto.
Os próprios criminosos chamavam o golpe de "teatro invisível". Caracterizados de moradores locais, atores e atrizes abordavam as pessoas na rua e espalhavam informações falsas que favoreciam o político que os contratou, ou desfavoreciam os opositores.
O coordenador de cada grupo recebia R$ 5 mil pelo serviço, e os atores improvisados, chamados de "agentes de ação", R$ 2.500. Eles participavam de ensaios em galpões e salas de aula.
Segundo as investigações da PF, Roberto Pinto dos Santos e Bernard Rodrigues Soares, que foram presos nesta semana, comandavam a organização criminosa desde 2016.
Os dois aparecem em um vídeo de 2022, ao lado do deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), atual candidato a prefeito de São João de Meriti (RJ). Na gravação, Valdecy diz que eles foram os responsáveis por fazê-lo um dos políticos mais votados do estado.
A Polícia Federal teve acesso a um arquivo chamado "Valdecy campanha teatro", que registra um gasto total de R$ 55 mil por grupo. Os relatórios listam quantas pessoas foram abordadas e até quantas tinham sido convencidas a trocar de voto.
Entre as notícias inventadas pela quadrilha, está uma reportagem falsificada do g1 que ligaria o deputado estadual Leo Vieira (Republicanos) ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Leo Vieira é adversário de Valdecy da Saúde na disputa pela Prefeitura de São João de Meriti.
A organização criminosa também é suspeita de desviar dinheiro público. Áudios mostram que integrantes do grupo mantinham cargos comissionados em diferentes prefeituras (ouça na reportagem acima).
Presos na operação
Na quinta-feira (12), o juiz Bruno Ruliere determinou quatro prisões: além de Roberto e Bernard, os chefes do grupo, também foram detidos os supervisores André Luiz Chaves da Silva e Ricardo Henriques Patrício Barbosa.
A defesa de Roberto e Bernard negou a participação dos dois em atos de propagação de notícias falsas.
A advogada de Ricardo não quis comentar a prisão. E o Fantástico procurou o advogado de André Luiz, mas ele não respondeu.
A Polícia Federal do Rio de Janeiro e a Divisão de Repressão a Crimes Eleitorais cumpriram ainda 15 mandados de busca e apreensão.
Valdecy da Saúde (PL) informou, em nota, que não é investigado no inquérito e disse que não possui relação com os fatos.
Léo Vieira (Republicanos) disse que acredita no trabalho da Polícia Federal e do Poder Judiciário para garantir a transparência e integridade das eleições.
Agora, a investigação quer identificar os atores e descobrir quem contratou a organização criminosa. A Justiça Eleitoral pode cassar as candidaturas antes do primeiro turno, no dia 6 de outubro.
Ouça/assista o vídeo da reportagem aqui
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