Para Daniel Cara, o uso de meios tecnológicos é benéfico para a sociedade, porém, o uso indevido da tecnologia interrompe o percurso natural de diversos fatores, dentre eles o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo.
O uso de celulares no ambiente escolar está se tornando cada vez mais comum. Essa prática pode levar não apenas ao prejuízo na concentração dos estudantes, mas também na diminuição da sua criatividade. O Ministério da Educação está finalizando os preparativos para divulgar, em outubro, um projeto de lei com o objetivo de proibir o uso de celulares em escolas públicas e privadas do Brasil. Sobre esse assunto, o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da USP, comenta.
“Precisa regulamentar, sem dúvida nenhuma. É interessante observar que essa regulamentação, inclusive, tem desafios específicos para cada etapa de escolarização, é muito mais fácil realizar essa tarefa. No ensino fundamental, lamento dizer, também na educação infantil, infelizmente têm pais e mães que acabam cedendo e dando celulares para crianças na educação infantil de 5 anos, 6 anos, o que é de fato um absurdo, têm crianças que estão levando celulares para a escola, na pré-escola. No Ensino Médio, até nos anos finais do Ensino Fundamental, isso já fica mais complicado. Essa vai ter que ser uma regulamentação sensível e que traz também desafios para a gestão da escola”, afirma.
O professor também apresenta a dificuldade dessa implementação de medidas. Os aparelhos estão mais equipados com tecnologia, o que aumenta seu valor agregado. Daniel Cara fala a respeito dos empecilhos em relação à proibição do uso de telefones celulares nas escolas brasileiras e mundiais. O docente ainda afirma que o melhor caminho para combater o uso excessivo de telas é a conscientização, no entanto, essas medidas não estão se mostrando efetivas.
Linhas de estudos
Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, concluiu que o excesso de tecnologia leva a prejuízos na comunicação entre crianças e jovens, problemas no sono, atrasos no desenvolvimento cognitivo, entre outros problemas. Daniel Cara desenvolve a ideia da importância do uso de métodos tradicionais de ensino e comenta o impacto das inteligências artificiais nos estudos.
“Tem duas linhas científicas de análise, uma linha que vai dizer que a utilização das telas traz um prejuízo enorme ao aprendizado dos estudantes por vários fatores. O principal deles é que as telas não são nem tão problemáticas quanto o exercício de digitação. O ser humano tem três estratégias de memorização que foram desenvolvidas ao longo da história, uma delas é bem recente, que é a escrita. A escrita, quando ela é desenvolvida, é a que gera a maior capacidade de memorização. A audição é muito inferior à leitura. Primeiro a escrita, depois vem a leitura, depois vem a audição, em termos de capacidade de memorização”, disserta. “As telas e a digitação coíbem todas elas. A escrita, para ter de fato uma memorização forte, ela tem que ser feita à mão. É assim que se desenvolve a maior capacidade de memorização. Então esse é um ponto. A utilização das tecnologias reduz a capacidade cognitiva das gerações. E pela primeira vez nós estamos verificando uma queda de capacidade cognitiva da atual geração.”
Daniel Cara - Foto: Foto: Geraldo Magela/Agência Senado/Wikimedia Commons/CC BY 2.0
Prejuízos do uso indevido da tecnologia
O uso de meios tecnológicos é, sim, benéfico para a sociedade, porém, o uso indevido da tecnologia interrompe o percurso natural de diversos fatores, dentre eles o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo. O pesquisador ressalta os malefícios desse uso inadequado de celulares. “A tecnologia deveria ser um caminho para aguçar a curiosidade e ela está matando a curiosidade. Teria que ser um caminho para uma elaboração mais estrutural do conhecimento. Então, por exemplo, para um estudante universitário ou para um estudante de Ensino Médio, de Ensino Fundamental, para melhorar, elaborar melhor as pesquisas e tem servido para não elaborar, mas para produzir os textos, o que é um equívoco, porque a gente perde a autoria “, ressalta.
Daniel acredita que as tecnologias estão sendo mal utilizadas e estão atrapalhando o próprio desenvolvimento da humanidade em termos de ter capacidade de resolver problemas e que isso reflete no atraso da solução de problemas emergentes, como a qualidade de vida da população de São Paulo. O professor conclui explicando que a tecnologia tem que ser um suporte, um meio e não o fim de uma produção intelectual.
*Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado
E a suspensão do celular em sala de aula não pode gerar crise de ansiedade em muitos alunos ?
Essa foi a indagação que recebi em um grupo misto no whatsapp quando compartilhei a matéria acima. A resposta que dei é que a preocupação procede, porém a discussão precisa ir mais a fundo e colocada na mesma cesta ou balaio da crítica as campanha contra as drogas não permitidas por lei.
Dessa maneira, o fato do uso do celular pode se tornar uma droga por causa do excesso, não pode repetir o mesmo erro das campanha “diga não as drogas”, porque, mais do que dizer NÃO , dizer SIM, mas SIM a que?
Se o NÃO ao celular em sala de aula, assim como o NÃO ao uso de substâncias entorpecentes, não vir acompanhado de um SIM a uma boa escola no sentindo mais amplo, não haverá tanto progresso e evolução.
Por outro lado, uma possível crise de ansiedade gerada pela proibição do celular na escola, e outros tipos de problema por indisciplina e desmotivação , decorrente dessa e de outras causas, não serão resolvidos ou atenuados , se todas as escolas da periferia não disporem de quadra de esportes, assim como de bibliotecas, e não arremedo disso, com pequenas saletas contendo livros, mesas e cadeiras, algumas inseridas dentro de salas de aula, isoladas ou não, com paredes de madeira.
Outra situação a que estamos acostumados é não termos auditórios ou mini-auditório na maioria das escolas, assim, não é fácil, quando precisamos exibir um filme ou realizar ensaios e apresentações de dança, teatro, poesia , palestras e etc., o que leva a desânimo e redução de iniciativas desse tipo. E, se fazemos isso em sala de aula, no caso da exibição de filmes, enfrentamos uma série de transtornos, como a iluminação e demora para ligar e desligar os equipamentos e se for em mais de uma turma, trabalho redobrado. Ufa!
Por último, muitas escolas, apesar de disporem de áreas verdes, não contam com assessoramento técnico, nem das secretarias de educação ou do MEC, e nem de um apoio para instalação da infraestrutura mínima necessário para poder realizar um plano de arborização, o que inclui a criação de hortas e de locais com quiosque e outros equipamentos, a fim de favorecer a convivência, bem como a criação e fortalecimentos de laços e vínculos de amizade.
Em termos históricos, para fundamentar ao que afirmamos acima, além da experiência vivenciada, e não apenas por quem escreve esse pequeno artigo de opinião, tivemos as experiências estruturantes das Escolas Parque, na Bahia e no Rio de Janeiro, iniciativa de Anisio Teixeira nas décadas de 1920 até 1950. O sistema de ensino vocacional em São Paulo, iniciativa coordenado por Maria Nildes Mascelani na década de 1960 em São Paulo. Os Cieps, no Rio de Janeiro, iniciativa de Darcy Ribeiro e Brizola nos anos 1980. E por último nos anos 2000 a construção dos Ceus em São Paulo , iniciativa da prefeita Marta Suplicy.
Mas, que governo progressista é esse? Que não discute com educadores e sociedade um projeto maior de educação e de país , o que inclui essa questão do celular na escola, mas não apenas com medidas proibicionista.
Enquanto isso, a direita neoliberal avança com o projeto de educação pensado s implementado pelas fundações empresariais em sistema de parceria público-privado, buscando reforçar a hegemonia do pensamento que coloca a economia acima da dignidade das pessoas A politica de juros altos do banco central serve como um bom exemplo.
Enquanto isso a extrema-direita avança com uma série de propostas de leis no parlamento voltados ao retrocesso civilizatório, aqui incluindo em especial as chamada escolas cívico-militares e que prossegue, mesmo com a decisão positiva do atual governo federal que retirou o endosso legal e institucional a este programa. Porém, mais é preciso, rm especial pelo legado da educação progressista em nosso país e pela derrota que a direita neoliberal e neofascista quer impor a nossa tradição progressista no campo da educação e da cultura. E estão avançando.... Para reforçar o enfrentamento a isso, comecemos conhecendo melhor essa tradição progressista da educação em nosso país...
Zezito de Oliveira
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Educadores apoiam possível restrição ao uso de celulares nas escolas
Governo deverá propor medidas sobre o tema em outubro
Muitos têm manifestado verdadeiras crises de abstinência quando afastados de seus celulares", relatou a pedagoga e psicóloga Marina RampazzoProfessores e orientadores educacionais avaliam como positiva a possibilidade de o Ministério da Educação atuar para banir o uso de celular nas escolas públicas e privadas do país. Prevista para ser apresentada em outubro, essa e outras propostas podem ser adotadas com o objetivo de conter os prejuízos do uso excessivo de telas na infância e na adolescência.
Recentemente, o ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu essa ideia durante uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Na oportunidade, ele citou algumas pesquisas indicando que o uso dessas tecnologias, além de comprometer aprendizado e desempenho dos alunos, impactaria também a saúde mental de professores.
Orientadora educacional da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Marina Rampazzo explica que profissionais que trabalham com educação têm discutido muito esse assunto. “Nas conversas que temos com especialistas de diversas áreas vemos vários prejuízos causados pelo excesso do uso de telas, especialmente em crianças e adolescentes”, disse a pedagoga e psicóloga à Agência Brasil.
como vídeos e comentários postados na internet podem influenciar os interesses e comportamentos individuais
“Muitos têm manifestado verdadeiras crises de abstinência quando afastados de seus celulares", relatou a pedagoga e psicóloga Marina Rampazzo - Arquivo/EBC
Pandemia
Ela lembra que este já era um problema percebido antes da pandemia, mas que, na sequência, se intensificou muito. Segundo ela, para dar conta de todas demandas acumuladas, muitos pais e mães delegaram os cuidados de seus filhos às telas.
“A pandemia deu um poder a mais para a tela. O problema já existia, mas havia um controle maior sobre tempo, espaço, conteúdo. Na medida em que entramos em uma pandemia e todos ficaram trancados dentro de casa, famílias se viram sem outras ferramentas para o jovem dentro de casa”, disse.
Ela acrescenta que não será fácil reverter esse quadro, mas que a escola terá papel decisivo nesse desafio. “Em primeiro lugar, pelo papel social que a escola representa, pensando educação como algo integral que vai além de repassar conteúdos, atuando também no campo cognitivo, desenvolvendo todos aspectos da vida”, explicou.
De acordo com Marina, essa discussão perpassa a escola porque a socialização é a forma mais eficiente para tirar o estudante da tela. “É na escola que ele passa boa parte do seu tempo. Se fora da escola eles ficam o tempo todo no celular, dentro da escola é a oportunidade para eles se relacionarem com outras pessoas, com livros de verdade e com atividades diversas de cultura, lazer e esporte”, argumentou.
Comportamentos antissociais
Segundo a orientadora educacional Margareth Nogueira, do colégio privado Arvense, o uso excessivo de telas tem ampliado a antissociabilidade e o bullying nas escolas. “Entre os 10 e os 12 anos é muito importante que os estudantes usem o diálogo em seus três níveis de complexidade, que é o pensar, o refletir e o de consistência, com razões e contraposições a um tema”, explicou.
“Se ele não consegue entrar nesse nível, com argumentos, contra-argumentos e consensos, não há diálogo. O que vemos é que ouvir o outro tem sido, para eles, algo cada vez mais complexo. É muito importante que eles desenvolvam trocas, que se olhem olho no olho. Eles precisam de diálogo, interatividade e de troca de opiniões”, acrescentou.
Segundo ela, os celulares têm prejudicado também a visão dos estudantes. “Eles estão usando óculos cada vez mais cedo por conta do uso excessivo dessas telas”.
Vício
Outra preocupação dos educadores é com a relação viciante proporcionada pelos celulares em crianças e adolescentes.
“Muitos têm manifestado verdadeiras crises de abstinência quando afastados de seus celulares. Eles ficam mais agressivos, impacientes e intolerantes. É cada vez mais comum casos de meninos quebrando a casa inteira quando proibidos de usar o dispositivo”, relatou Marina Rampazzo.
Margareth Nogueira percebe também que, devido a esse “vício tecnológico”, os alunos têm chegado em sala mais agitados, impacientes e agressivos. “A competitividade entre eles também está mais alta, reflexo dos estímulos causados por jogos. A alimentação, a rotina e o sono estão cada vez mais prejudicados. Isso reflete diretamente no funcionamento cerebral”, disse.
“A verdade é que eles não têm maturidade nem resposta cerebral para usar o celular de forma sistemática. E, para piorar, nem sempre é possível que os adultos supervisionem de forma adequada o uso desses aparelhos”, complementou.
Suporte às novas regras
Caso se confirmem as medidas anunciadas pelo ministro, é importante que as escolas garantam uma estrutura suficiente que deem acesso aos materiais da internet considerados interessantes para uso em sala de aula. “Esse acesso deve ser por meio de ferramentas da escola, como computadores, por exemplo. Não pelos celulares dos estudantes. Todos sabemos como é difícil ter controle sobre a forma como eles usarão esses dispositivos”, argumentou Margareth.
Paralelamente, é importante que, em casa, outros estímulos independentes de telas sejam proporcionados pelas famílias “Áreas como arte, cultura, esporte e lazer podem ajudar, nesse sentido. Especialmente quando voltados à socialização”, acrescentou Marina.
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