domingo, 29 de setembro de 2024

IGREJA, ELEIÇÃO E CONTRADIÇÃO? Pe. José Soares - Aracaju e Pe. Paulo Sérgio Bezerra - São Paulo

 Contradição e Eleição (2024) - Parte 1

Vamos abordar algumas questões no que tange ao pleito de 2024. Dizem os sábios - nesse tema sobre a eleição no Brasil - que cada pleito é único e que sem grupo não se consegue êxito nem para o parlamento - vereador - e muito menos para o majoritário - prefeito e prefeita - nos nossos municípios.

CADA eleição é uma realidade e estamos vivenciando tempos nublados e escuros em Aracaju e alhures. Estamos num tempo complexo e com pouca saída para os grupos de esquerda. É só pegar o link do TRE para perceber os partidos e os nomes que compõem as chapas majoritárias em Sergipe. Muita contradição e arranjos sem perspectiva para confundir ainda mais a fraca opção dos eleitores/as. 

A PERGUNTA necessária: onde estão as bases do PT e de outras agremiações? Cadê a formação política e cidadã que há muito ajudou essa cidade a avançar nas políticas públicas? Aracaju é um "marasmo" que dá desgosto. Poucas ideias de relevo são apresentadas nos programas partidários e a esquerda definhando e patinando nos seus erros e na sua incapacidade de ler os sinais da história. Na verdade, o que avançamos socialmente entre 2002 até 2016 - podemos até considerar o início do Plano Real e discutir a questão no próximo texto - regredimos na formação e na postura política e agora agonizaremos como cidade e grupos que acreditam na força das pessoas e não do mercado. Nada de novo estamos vendo e o coronelismo que antes imperava nas praias e rincões de Sergipe, hoje é a marca de todos e todas que põem candidaturas sem rumo e que frustram as expectativas de um povo sem direção e sem história.

ELEIÇÃO e contradição em Sergipe será o foco em 2024 e quem viver, verá e saberá contar a seus filhos, filhas e netos/as. BASTA!

Obs. No próximo texto, o que tem a Igreja para dizer sobre o tema? AGUARDEM.

P. José Soares 

Vigário na S. Pedro Pescador.

Contradição e eleição (2024) - Parte II:

No ano 2000, a cidade de Aracaju viu, acompanhou e conheceu um fenômeno nas urnas para a prefeitura da capital: Marcelo Déda Chagas (in memorian), com cerca de 120.000 votos no primeiro turno, superou José Almeida Lima e outros adversários naquela circunstância.

O TEMPO era outro e as políticas públicas com destaque para o orçamento participativo, fez da sua administração um lugar de profunda esperança para o povo das periferias. O tempo passou e a pergunta que se faz oportuna é está: o que houve com o PT e com Aracaju? Retrocedeu ou mudou de rumo? VAMOS RECORDAR que na época, a relação institucional com a Igreja era - com dados claros e bem precisos - frágil e sem muita aproximação. Pode-se classificar como respeitosa e com característica de um laicismo* bem arraigado. Marcelo Déda, sempre foi coerente com suas ideias e vislumbrava o poder civil sem cortes de privilégios e de proximidade com o poder religioso. Foi um tempo de muita desconfiança e a relação institucional de um lado e de outro, passava a ideia clara de distância consumada. Cremos que todo esse histórico, acabaria fortalecendo a política do clientelismo – no sentido de jogo partidário – que nos dias atuais está se confirmando. O que aconteceu com a Igreja nesses últimos vinte anos?  Tem algo para dizer a capital de Sergipe no tema das eleições? Se tem, o que tem dito? Sinceramente, nada a declarar.

(*Laicismo: aqui podemos chamar de o sistema que nega o papel da religião dentro do estado).

O PERFIL DA IGREJA TEM SIDO de muita omissão no que tange a dimensão sócio-transformadora que sempre foi uma coluna das Diretrizes da CNBB desde os anos de mil novecentos e noventa. Apontar candidatos não é sua missão, mas formar os fiéis para compreender os sinais dos tempos deveria ser uma constante e por aqui não aconteceu. Perdeu o trem da história e não aprendeu aqui na capital com o Concílio Vaticano II que diz: “faz-se mister que os leigos assumam a renovação da ordem temporal como sua função própria e nela operem de maneira direta e definida, guiados pela luz do Evangelho e pela Igreja, e levados pela caridade cristã” (Decreto Apostolicam Actuositatem, n. 7,E). Com o quadro atual bem nebuloso é possível mudança de caminho?

Se o pontificado do Papa fosse ouvido todos os dias, a Igreja presente nas dioceses – chamada de Igreja Particular com seus pastores e o povo de Deus - não deixaria de meditar sobre isso: “A política é acima de tudo a arte do encontro. Certamente, este encontro é vivido acolhendo o outro e aceitando sua diferença, num diálogo respeitoso” (acessar site do Vaticano e encontrará a fonte de onde tiramos o texto).  Notemos que a legitimidade do Papa vai além do fato de ser o chefe político do Estado do Vaticano e adentra no seio da nossa sociedade. A Igreja em Aracaju dirá o que para os fiéis? Seguirá o Papa? E como prova cabal da pouca incisão na sociedade, podemos apontar o que segue: todos e todas que se candidatam ao poder legislativo e que são próximos a grupos eclesiais, pastorais e símiles, não são bem avaliados e vivem à mercê de campanhas pífias e que não lhes dá direito a mandato algum. A relação do católico com a política é frágil e distante da encíclica Laudato Si, promulgada pelo Papa em 2015. A relação dos possíveis "candidatos/as da Igreja" - lugar para os leigos e leigas mostrarem a força de sua missão batismal - com o eleitor é fraco e tudo indica que em 2024 teremos mais uma eleição de penúria o que nos fará em breve pagar caro diante de temas tão complexos como a privatização da DESO, o desemprego, a "quase privatização" do ensino, a invasão de áreas de mangue em Aracaju, a ausência de creches para famílias de baixa renda e o pouco trato com a Doutrina Social da IGREJA que é pouco conhecida e poderia ser norteadora de muitos ditames para a sociedade que é secularizada mas que nunca aboliu o sagrado de seu alcance. O que virá após essas eleições? Sinceramente, o quadro é obscuro e, por isso, vamos teimar e tentar manter a esperança (Romanos 5,5).

P. José Soares de Jesus.

Vigário Paroquial na S. Pedro Pescador.

A parte III será publicada nesta semana




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